Por Hermes C. Fernandes
Seria a Bíblia favorável ao armamento da população? E o que
diria Jesus acerca disso? Dar ao cidadão comum o direito de portar uma arma
coibirá ou estimulará ainda mais a violência?
Pasmem, mas boa parte dos que se apresentam como seguidores
de Jesus, o maior pacifista de todos os tempos, é favorável ao porte e uso de
arma de fogo por parte do cidadão comum.
Tal postura se deve em muito ao fato de que muitas das
denominações evangélicas brasileiras terem suas raízes nos Estados Unidos, país
reconhecido como o de maior distribuição per capita de armas.
Pregadores sacam versos bíblicos para defender o armamento
da população com a mesma rapidez com que pistoleiros sacavam suas armas num
duelo no velho oeste.
De todas as passagens usadas, a considerada a “bala de prata”
é, sem dúvida, a encontrada em Êxodo 22:2-3:
“Se um ladrão for achado arrombando uma casa e, sendo ferido, morrer, quem o feriu não será culpado do sangue. Se, porém, já havia sol quando tal se deu, quem o feriu será culpado do sangue; neste caso, o ladrão fará restituição total, mas, se não tiver com que pagar, será vendido por seu furto.”
Segundo eles, esta passagem autoriza o uso da arma para a
defesa da propriedade, bem como da família. O que eles parecem desconsiderar é
que tal concessão fora feita a um povo nômade em vias de se estabelecer numa
terra sem lei, onde não havia qualquer tipo de policiamento, nem código penal, nem
mesmo um governo organizado. Em outras palavras, era cada um por si. Ademais, se é para cumprir o mandamento ao pé da letra, sugiro que não usem a arma para matar, apenas para ferir, e que o façam à noite, jamais à luz do dia, e que, por fim, vendam o ladrão como escravo para pagar eventuais prejuízos.
Se a bala de prata falhar, os teólogos-pistoleiros recorrem
à que poderia ser considerada a "bala de ouro". Afinal de contas, é o próprio Jesus
que lhes dá munição. A passagem está registrada em Lucas 22:35-36:
“Então Jesus lhes perguntou:
Quando vos mandei sem bolsa, sacolas de viagem, ou sandálias, faltou-vos alguma
coisa? Responderam eles: Nada. Disse-lhes: Pois agora aquele que tiver bolsa,
tome-a, como também a sacola de viagem; e o que não tem espada, venda a sua
capa e compre uma.”
Quem ousaria contestar Jesus? Foi Ele mesmo quem, não apenas
autorizou, mas ordenou que Seus discípulos comprassem armas. Lembre-se de que a
espada era a arma mais letal daquela época, equivalente hoje a uma arma de
grosso calibre. Mas antes que cheguemos a uma conclusão precipitada, que tal
lermos o verso seguinte?
“Digo-vos que é necessário que se cumpra em mim o que está escrito: com os malfeitores foi contado...”
Numa época em que levantes populares eram frequentes, ao portar
uma arma, um judeu estava transgredindo uma lei romana e, portanto, era
considerado um malfeitor, um fora-da-lei.
Apesar de ordenar o porte de arma aos seus discípulos naquele momento específico, Jesus não autorizou o seu
uso. Pelo contrário. Quando Pedro quis dar uma de valentão, puxando da espada e
ferindo um servo do sumo-sacerdote que estava na comitiva que vinha prender seu
mestre, Jesus o repreendeu: “Guarda a tua
espada, pois todos os que usarem a espada, à espada morrerão. Ou pensas tu que
eu não poderia agora orar a meu Pai, e ele me mandaria imediatamente mais de
doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras que dizem que
assim deve acontecer?” (Mateus 26:52-54).
A razão pela qual os discípulos deveriam estar armados era a
mesma pela qual não deveriam fazer uso de suas armas: o cumprimento das
Escrituras.
Jamais foi propósito de Cristo endossar o porte, tampouco o
uso de armas, mesmo sendo para autodefesa.
Paulo, o apóstolo dos gentios, declara que “embora vivendo como seres humanos, não
lutamos segundo os padrões deste mundo. Pois as armas da nossa guerra não são
terrenas, mas poderosas em Deus para destruir fortalezas! Destruímos vãs
filosofias e a arrogância que tentam levar as pessoas para longe do
conhecimento de Deus, e dominamos todo o pensamento carnal, para torna-lo
obediente a Cristo...” (2 Coríntios 10:3-5 NVI). Em Romanos 13:12, ele diz
que “a noite é passada, e o dia é chegado”,
razão pela qual devemos rejeitar “as
obras das trevas” e nos vestir “das
armas da luz.” O arsenal de que dispomos é infinitamente mais eficiente do
que qualquer armamento bélico. A única espada que devemos empunhar é a espada
do Espírito que é a Palavra de Deus (Efésios 6). O resto, deixemos por conta
das autoridades constituídas para prover nossa segurança. Se as políticas de
segurança pública estão falhando, façamos uso de outra arma legítima e poderosa:
o voto.
Armar a população não vai resolver o problema, mas poderá
agravá-lo substancialmente.
Nos Estados Unidos, por exemplo, pode-se comprar armas de
fogo em supermercados como o Walmart. Não é á toa que, vire e mexe, ocorrem
tiroteios em escolas e faculdades. Imagine o povo latino, passional como é,
tendo acesso às armas facilitado. Imagine alguém que numa briga de trânsito, em
vez de contentar-se em xingar, resolve recorrer à arma guardada em seu
porta-luvas.
O deputado Peninha (PMDB-SC), integrante das bancadas
"da Bíblia" e "da Bala" é autor de um projeto de lei que
pretende aumentar a circulação e o uso de armas no país. Recentemente, o
parlamentar fez um post assustador, com a imagem de um revólver em cima de uma
Bíblia com a seguinte legenda: "Bandido bom é bandido morto". Quanto
cristianismo numa única imagem!
Onde é que foi parar o “não matarás”? Como conseguiram suprimir os mandamentos de
Jesus de que devemos amar nossos inimigos, oferecer a outra face, abençoar os
que nos perseguem?
Alguns argumentam que enquanto a população for mantida
desarmada, os bandidos farão a festa. Então, em vez de desarmar a bandidagem, a
saída é armar o restante do povo? Vamos apagar fogo com fogo? Como garantir que
os bandidos se inibiriam diante de uma população armada? Se eles não se inibem
nem diante de policiais exaustivamente treinados para combate-los, por que se
inibiriam diante de um chefe de família qualquer? Talvez isso fizesse com que
mudassem a abordagem e já chegassem atirando, antes que pudesse haver uma
reação.
O que nossa sociedade precisa é de desarmar seu espírito,
de modo que possa entender que ninguém nasce bandido. O crime é resultado da
injustiça predominante na sociedade. Onde há menos injustiça social, o índice
de criminalidade é menor.
Em vez de munir a população com extintores para apagar o
incêndio, não seria melhor impedir que o incêndio acontecesse? Medidas
preventivas costumam ser mais efetivas do que paliativos usados para remediar.
Por essas e outras que digo não ao armamento. Que a
espada esteja nas mãos de quem possua competência para manejá-la e não nas mãos
de qualquer um que possa machucar a inocentes e a si mesmo.
Sinceramente cada vez que leio o hermes sinto mais nojo deste evangelho que ele criou
ResponderExcluirPastor lixo sabotador do cristianismo. Sinais de desonestidade intelectual e psicopatia avançada. Um filisteu oportunista. Nao existe civilizaçao cristã e a liberdade humana sem uma populaçao totalmente armada. A arma de fogo em todas as maos elimina os abusos da força e da corrupçao, so deixando a RAZAO e a negociaçao justa como meios de receber bens e serviços.
ResponderExcluirEu me sinto como o povo no AT ... Um país sem um governo organizado ... Então eu tenho sim motivos pra ter uma arma .
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