Por Hermes C. Fernandes
Custei a acreditar na tal enquete. Achei que se tratasse de mais uma notícia falsa a se proliferar nas redes sociais. Só agora tive tempo de me inteirar e saber o motivo que levou a apresentadora do programa Encontro a suscitar a polêmica.
Tudo não passou de uma peça publicitária para divulgar a estreia de Sob Pressão, filme de Andrucha Wanddington que mostra um médico do sistema público que tem que decidir entre atender primeiro um policial ferido ou um traficante que corre risco de morte. Os convidados do programa responderam que atenderiam primeiro o criminoso dada a gravidade de seu estado.
Como num incêndio, a polêmica se espalhou rapidamente pelas redes sociais, provocando discussões acaloradas. Não pouparam nem mesmo a apresentadora, acusada de ter prestado um desserviço à causa dos direitos humanos. Infelizmente, as pessoas tendem a se pronunciarem levadas pela emoção, principalmente depois de terem sido informadas sobre o helicóptero supostamente abatido pelos traficantes durante intensa troca de tiros na Cidade de Deus, ocasionando a morte de quatro PMs.
Para um médico que paute o exercício de sua profissão pela ética exigida no juramento de Hipócrates, o que importa não é a farda, ou o fato de estar às margens da sociedade como no caso de um traficante, e sim a vida humana. O que exigirá que ele atenda primeiro a vítima que estiver em estado mais grave.
E quanto a nós que nos identificamos com os ensinamentos de Cristo? Seria a ética preconizada no evangelho menos solidária que a abraçada pelos profissionais da medicina? Se nossa ética não excede a de Hipócrates, então, não passamos de hipócritas.
A vida de um meliante tem menos valor que a de um policial? Convém salientar que a questão não era sobre quem deveria ser salvo ou não, mas quem deveria ser atendido primeiro. Se tivesse que escolher entre um e outro, acredito que o bom senso nos faria optar por salvar o policial no cumprimento de seu dever. Mas em se tratando de qual vítima deveria ser atendida primeiro (o que não impediria que a outra também fosse atendida em seguida), o critério não poderia ser outro que não fosse a gravidade de seu estado.
A postura adotada por muitos nos remete à parábola do Bom Samaritano, em que tanto um sacerdote, quanto um levita, ignoraram o sofrimento de um moribundo, por priorizarem suas tarefas religiosas em vez de a vida de um estranho vítima de um assalto. Coube a um samaritano, odiado pelos judeus, interromper sua viagem de negócio para acudi-lo.
O valor da vida humana está além das distinções étnicas, sociais, religiosas, sexistas e culturais.
Vejamos o exemplo de Jesus durante seus instantes finais na cruz. Antes de designar um dos seus discípulos para amparar sua mãe, ele dirigiu sua atenção ao ladrão que se esvaía ao seu lado. Óbvio que sua mãe era-lhe bem mais importante que aquele indivíduo que desperdiçara sua vida no crime. Todavia, em poucos minutos, ele estaria morto. Aquela era sua última chance de ouvir uma palavra de salvação que lhe trouxesse esperança. Só então, voltou-se para sua mãe e sua necessidade de amparo.
Não se trata de predileção, mas de prioridade. Há coisas que podem esperar, outras não.
muito bacana!
ResponderExcluir"A pergunta da enquete do programa do programa da Fátima Bernardes, antes de tudo, É BURRA. Tem um erro lógico bastante evidente.
ResponderExcluirQual era a pergunta? Quem SALVAR primeiro? Quais eram as opções? Traficante em estado grave ou policial levemente ferido.
A confusão da pergunta reside no fato de uma das opções invalidar a pergunta. Se o policial estiver "levemente ferido" ele não precisa ser "salvo".
Se fosse em uma prova, essa pergunta deveria ser anulada.
Desconsiderando a armadilha semântica, o fato é que as pessoas no programa se manifestaram à favor de SALVAR primeiro o traficante. E a população, COM RAZÃO, ficou furiosa.
É óbvio que o médico não pode escolher mas, num país onde até FUNK é feito para comemorar morte de policial, é compreensivo o choque. Se você, de esquerda, não entender isso logo, a popularidade de vocês entre as camadas populares, que já é pífia, vai ficar ainda menor. Povão não gosta de bandido." - Gabriel Vince
De qualquer maneira, imagine os bandidos ouvindo isso, que são vítimas da sociedade já que eles próprios sabem que fazem as vítimas... o resultado é o que vemos dia a dia, a população presa enquanto esses marginais soltos, matando e tacando o terror, graças a esse pessoal "mais humano" que se acha o supra sumo da sociedade. São cúmplices juntos com esses bandidos, assassinos... e nem percebem.