quarta-feira, janeiro 20, 2016

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Músicas seculares nos cultos: Estaria o mundo entrando mesmo na igreja?



Por Hermes C. Fernandes

De acordo com o relato bíblico, tão logo as águas do dilúvio recuaram, Noé soltou um corvo, que ia e voltava, mas nada trazia em seu bico. Até que foi e não voltou mais. Ora, depois de tantos dias de chuva que praticamente exterminou todo ser vivo que havia na face da terra, era de se esperar que houvesse inúmeras carcaças tanto de homens quanto de animais espalhadas boiando pelo mundo afora. O corvo, que é uma ave de rapina, deve ter se banqueteado. Das vezes que voltou para a arca, estava de barriga cheia, mas de bico vazio.

Depois de algum tempo, Noé soltou uma pomba. Da primeira vez, ela voltou com o bico vazio. Mas da segunda, ela trouxe no bico um raminho de oliveira. Noé entendeu que aquilo era o sinal de que mesmo em meio a tanta podridão, a esperança voltava a germinar. Corvos se encantam com a carniça. Pombas, não.

O corvo representa nossa natureza pecaminosa que se esbalda com a sujeira deste mundo. Por isso, muitos pastores preferem manter seus corvos, quer dizer, seu povo preso na arca, isto é, na redoma da igreja. Eles sabem que se soltá-los, não voltarão mais. Mas aquele que tem a natureza regenerada representada pela pomba não se sente atraído por carniça. Ele sobrevoa este mundo fétido e traz sempre no bico um sinal de esperança.

Nem tudo está perdido, amigos. Os puros hão de perceber sinais de esperança dentro da cultura. Rastros inequívocos da graça que nos fazem apostar que um novo mundo começa a emergir diante dos nossos olhos. Enganam-se os que pensam que por estarmos cantando canções seculares nos cultos, estamos traindo nossa fé e introduzindo o mundo na igreja. Não! Estamos apenas trazendo nos lábios sinais de esperança. Oliveiras que brotam nos mais inusitados lugares, mesmo cercadas de carniça e podridão.

Agora entendo porque os magos só chegaram dois anos depois do nascimento de Jesus: para evitar cruzar com os pastores que o visitaram antes. Talvez estes, por serem judeus, se sentissem ofendidos ao verem astrólogos pagãos oferecendo ao menino presentes e adoração. Imagine agora como alguns judeus devotos devem ter se sentido quando Deus se dirigiu a Ciro, um rei pagão idólatra, chamando-o de "meu servo", "meu pastor". O mesmo se deu com Nabucodonosor que mandou construir uma estátua para ser adorada.

Como poderia Deus receber adoração de gente comprometida com o outro lado? Assim tem pensado muitos cristãos que se sentem ofendidos quando afirmo que é possível encontrar rastros da graça de Deus na obra de gente cuja biografia desafia nossos escrúpulos religiosos. Somos vaidosos demais para admitir. Isso lembra os discípulos que quiseram impedir os que faziam a obra sem ser um dos deles. Jesus respondeu: Não os impeçais. Quem não é contra nós, é por nós.

Não precisa pertencer ao clube dos santos para ser eventualmente usado por Deus. Por isso, em vez de dar uma de Satanás, apontando os erros desses cantores 'mundanos' para desqualificá-los, prefiro garimpar suas obras musicais em busca de rastros inequívocos da graça de Deus. O Deus que recebeu os presentes dos magos, certamente não se ofende com as canções de Raul Seixas.

Além do mais, altar não é aquela plataforma que usamos como púlpito, mas o ambiente de um coração humilde e grato a Deus; culto não é o que acontece durante as duas horas em que nos reunimos, mas o que ocorre ao longo da vida, quando temos a consciência da companhia de Deus e a celebramos cada vez que a vislumbramos na face do nosso semelhante. A verdadeira liturgia não são mãos erguidas ao alto, mas mãos estendidas ao próximo, não são gritos de "aleluia", mas de protesto contra toda injustiça, não são sermões que nos fazem levitar, mas que nos devolvem ao chão e nos enviam a transformar o mundo.

Permitam-me, ainda, um esclarecimento: quando cantamos músicas seculares na Reina, nosso objetivo não é atrair não cristãos ao culto. Não se trata de uma estratégia evangelística. Os que vierem, virão atraídos pela maneira como vivemos e encarnamos os ensinos de Jesus. Também não é para satisfação da nossa carne, como alguém insinuou. O objetivo é fazer com que nos sensibilizemos ante os anseios da criação tão eloquentemente expressados através da cultura e em especial da música. Como poderemos oferecer respostas a perguntas que desconhecemos? A graça que nos alcançou tem sido destilada pelo mesmo Espírito por todas as culturas humanas. Compete-nos identificar seus rastros e celebrar seus feitos.

E por fim, parafraseando Paulo, "ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso; seja John Lennon, seja Elvis, seja Renato Russo, seja Elis Regina, seja o MUNDO, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus" (1 Coríntios 3:21-23). Nada, nem ninguém, vai restringir nossa liberdade em Cristo!

12 comentários:

  1. As pessoas ainda tem dificuldade de cantar porque gostam de determinada canção. Se sentem em pecado quando cantam outra música qquer que não faça parte do rito "igrejil". Há bem pouco tempo eu ouvia enfaticamente que bateria na igreja era pecado. Que bater palmas (igreja batista tradicional) não era bem visto por Deus por perturbar a ordem. Ouvi muito que dança sem se expressar com gestos podia, tbem perturbava a ordem do culto. Logo eu que amava a dança. Dançava Xuxa na minha casa mas não podia, Xuxa era do demônio, tinha pacto com diabo. Nem cremar os mortos podia, tinha que voltar ao pó, como está escrito. Decidi então pensar mais em "se teu coração não te condena..." e em "examine - se o homem a si mesmo" do que deixar que pessoas ditassem como devo viver. Não fui rebelde e nem pretendo ser. Apenas pretendo seguir a Cristo deixando pesos que não são meus e pegando a cada dia só o peso da minha cruz. E nesse caso, ouvir Tom, Roberto, Tim, Maria Betânia, seja lá o que for, não fazem parte do peso da minha cruz.

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  2. A vontade de aparecer na midia é tanta que faz de tudo pra conquistar isso !

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    1. Anônimo1:15 PM

      Ja assistiu o filme Besouro Vetde.é tipo.

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  3. Concordo com tudo que disse sobre a liberdade que temos. Acredito que o gospel nada mais é que um produto famigerado de mamon... Mas, sobretudo, acredito que precisamos rever nossos conceitos sobre o que convém ou não, se abrir mão da liberdade é sinal de amor ou apenas tolice...

    Falo um pouco sobre isso aqui nesse texto que escrevi, se puder, dê uma olhada, é exatamente o que penso sobre os "mundanos" que nos abençoam...

    Secular, Mundano ou Gospel? Posso ou não posso? - http://walterhcsilva.blogspot.com.br/2013/12/secular-mundano-ou-gospel-posso-ou-nao.html

    Fiquem na Paz...

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  4. Paz! Desde que comecei a frequentar igreja eu me perguntava o que era música do mundo. Afinal de contas existe música em outro mundo que não esse aqui? Agora que existe música boa e ruim é fato. E se não for composta por um Cristão, a música não presta? Tem tanta música entoada nos púlpitos compostas por cristãos que são horríveis não só do ponto de vista da letra mas harmônica e melodicamente também são muito ruins. Também existem músicas cristãs que são lindas na letra e ricas harmonicamente. Já que tudo foi criado por meio Dele, pra Ele e por Ele, logo, música só pode ser música. Não importa quem fez mas sim o que ela transmite. Tem muita música boa nesse mundo composta por cristãos e não cristãos. A graça é tudo em todos. A graça é provisão de um Deus livre que criou tudo. O Reino de Deus não é um monopólio das igrejas e achar que só quem escuta música de crente é que está no caminho certo é um erro. Ao contrário: isso é manipulação. O vento de Deus sopra onde quer. Há rastros da graça em milhares de músicas erroneamente conjecturadas e colocadas do outro lado do muro da separação sob o rótulo de seculares. Qd o negócio é bom aí resolvemos a equação com o "Você adora, a Som Livre toca"! E está tudo certo. Mas, espera aí... Isto não é secular não? Achei que só as gravadoras evangélicas é que podiam gravar músicas de evangélicos. Não? Na minha época de moleque até na "boquinha da garrafa" evangélico existia. Era um hit do "mundo" que fora "santificado" com o rótulo "gospel" Isso podia... Parei por aqui. Spurgeon já dizia que não há sacro e nem profano para quem é de Cristo. São os olhos a lâmpada... Abraço, Fabio

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  5. Anônimo5:00 PM

    Eu prefiro ouvir as músicas dos conjuntos mundanos do que ouvir algumas músicas gospel.
    Pelo menos os caras falam o que vive, e os conjuntos gospel não fala a Verdade e não vive na Verdade do evangelho só grana $$$$.

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  6. A bíblia diz onde está seu tesouro está o seu coração ajunteis tesouros nos céus, ouvir uma poesia em forma de música escrita por um não cristão tudo bem só q se alimentar disso não. Nosso alimento deve ser baseado na palavra de Deus

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  7. Anônimo11:08 AM

    Luciano alimentar música gospel que a maioria dos conjuntos gospel são patrocinados pela Rede Globo a Som Livre pode?
    Sabendo nós que a Rede Globo é altamente Satânica, tem ritual satânico o que vc acha disso.
    O negocio é grana meu caro, é $$$$, tem um cantor aí que disse que era cristão e cantava música gospel, ele disse que começou canta música gospel porque dava muito $$$, e depois que ele ficou rico contando música gospel, ele se desviou e voltou para cantar música secular, e disse publicamente, fiquei rico em cima dos trouxas crentes.
    Esse cantor lobo vestido de ovelha era muito famoso no meio " evangélico ". não vou falar o nome dele por questão de ética, mas algumas pessoas já sabem que ele é, o nome dele começa com a letra T, ele cantava direto no program do rau Gil e do faustão da Rede Globo.
    Meu caro, com certeza temos que aplica em nossa vida é a Palavra de Deus constantemente, mas muitos conjuntos do mundo estão dando melhor testemunho de vida que muitos crente por aí.
    Vc esqueceu que o evangelho de hoje nas igrejas, é nada mais que prosperidade, avareza, cobiça, ir para cruz e ser crucificado com Cristo, ninguém quer essa e a Verdade.

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  8. Olá Hermes, bom dia!
    Li o texto e de acordo com as premissas apresentadas é coerente, mas não compreendi as premissas. Vc diz que o corvo representa a nossa natureza pecaminosa e a pomba representa a nossa natureza regenerada. De onde vem isso? Realmente é isso que está escrito no relato do dilúvio!? Eu li e não encontrei e não entendi isso!?
    O nosso objetivo, como discípulo, é cumprir o mandamento de Jesus de pregar o evangelho da salvação à todos os homens e eu, na minha ignorância, mesmo vendo os rastros de graça que estão por toda parte, pois Deus é bondoso e misericordioso em nos comunicar isso, honestamente não consigo ver conexão entre obedecer esse mandamento e procurar rastros de graça na música secular e fazer um evento só pra isso, atendendo a pedidos.
    Um abraço e que Deus continue te abençoando!

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  9. Anônimo4:26 PM

    Foi desta forma que surgiu varias outra religião destorcendo a palavra, rastro de graçã rsrs piada hein

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  10. Olá, a paz! Desculpem o comentário grande, mas esse assunto é complexo hehe Antes de tecer algum comentário, gostaria de dizer que acredito nos "sinais de esperança dentro da cultura". Meu objetivo não é polarizar. A bíblia diz para "analisar todas as coisas e reter o que é bom" (1 Tessalonicenses 5:21), mas os artistas citados teriam tão poucas coisas boas para retermos que não acho que justificam utilizá-los, poderiam ter sido usado outros. "O Deus que recebeu os presentes dos magos, certamente não se ofende com as canções de Raul Seixas." Eu que passei a infância ouvindo Raul Seixas nos vinis do meu pai, sei que ele fala que "o diabo é o pai do rock, foi ele mesmo que me deu o toque". Acha mesmo que Deus não se ofende com isso? Sem contar o passado esotérico de Raul Seixas, que nessa questão não vou nem entrar. Ou então "Imagine" de John Lennon, que nos convida a imaginar nada além de céu acima de nós, ou seja, nenhum deus. Ainda que Renato Russo tenha usado a bíblia para compor Monte Castelo, até a Lady Gaga já disse que "Deus não comete erros"(da música Born this Way) e depois em outra música, que estava apaixonada por Judas. Eu seria incoerente ao dizer que acho que como cristãos devemos nos trancar em uma bolha, pois eu mesma leio literatura não-cristã e assisto a filmes não cristãos, mas eu os vejo com senso crítico, não os utilizo como devocional ou adoração a Deus. Mas ainda assim eu não leria "50 tons de cinza" pois mesmo tentando reter o que é bom, nada há de bom que eu consiga aproveitar como cristã. Como líderes e pastores, as pessoas deveriam ser muito criteriosas com o que oferecem de alimento para as ovelhas, pois elas confiam cegamente no alimento que lhes e oferecido nos púlpitos. Se queremos utilizar algo secular, seja música, literatura, filmes, que seja com muuuuito critério. Acho que usar deliberadamente desse recurso dá uma margem enorme de deixar, por exemplo, um recém convertido confuso. O risco em errarmos a mão é muito grande, e se até com artistas ditos cristãos não há garantia de nada (como o Fabio pontuou em seu comentário: Tem tanta música entoada nos púlpitos compostas por cristãos que são horríveis") que dirá das músicas seculares? Sobre a adoração a Deus com músicas seculares, um dia me disseram que não há problema em pegar uma música consagrada no terreiro e cantar para Deus; mas imagine um homem compôr uma música para a amante, e depois resolver cantar para a esposa? Por mais graciosa que ela seja, "não há sacro nem profano", mas duvido que ela se sentiria honrada ou lisonjeada. Sim, Jesus recebeu os presentes de pagãos, mas estes prepararam os presentes pensando em Jesus, e não "esse presente é pra Sheeva, mas já que Jesus está no caminho a gente deixa pra ele". Um músico cristão inevitavelmente terá que utilizar músicas seculares para aprender a tocar, e aí penso que é o que é o algo de útil a se reter, que é a técnica. Eu não ouço música secular, até porque muito da música cristã já está em pé de igualdade técnica da música secular. Então a saída, ao meu ver, não é nem proibir o secular, e nem mergulhar nele, mas em incentivarmos a produção de música (e também filmes, literatura, etc.) dentro do âmbito cristão, de boa qualidade, que honre a Deus, etc. Até que chegue um dia que será pouco necessário garimparmos a cultura secular, e assim oferecermos algo que não cause indigestão em ovelha, ou falta de honra a Deus, ou dor nos ouvidos de quem não é cristão, ou escândalo aos mais fracos na fé.

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