Por Hermes C. Fernandes
Estou profundamente indignado e envergonhado. Como alguém pode identificar-se
como seguidor do maior pacifista que já existiu e ainda assim ser capaz de
agredir um adepto de outro credo? Como um povo que um dia foi duramente perseguido, pode agora se prestar a perseguir a outros? Onde foi parar a principal mensagem de Jesus, o amor?
Uma criança de apenas 11 anos, que poderia ser minha filha, foi alvo da
intolerância e agressão por parte de um grupo que ostentava bíblias e gritava
frases como “Vocês vão para o inferno!” e “Está repreendido em nome de Jesus!”
Se ficasse só na gritaria, ninguém sairia machucado. Mas um deles teve a infeliz ideia de arremessar uma pedra na direção do grupo de candomblecistas que acabara
de deixar uma festa no centro que frequenta. A pedra ricocheteou ao bater num
poste e acabou atingindo a cabeça da menina, que começou a sangrar. O crime
ocorreu no bairro de Vila da Penha, subúrbio carioca.
Que Bíblia esses “irmãos” estão lendo? Ou melhor, o que eles estão ouvindo do
púlpito da igreja onde frequentam?
Piores do que aqueles que lançaram a pedra são os que armaram suas almas,
munindo-as de discursos odiosos travestidos de piedade religiosa.
Peço a Deus que poupe o Brasil de passar pelo mesmo que a Irlanda do Norte
por três décadas seguidas. De um lado, católicos fervorosos, do outro, protestantes.
Resultado: milhares de mortos. O mais famoso episódio desse conflito histórico aconteceu no dia 20 de janeiro de 1972, quando catorze manifestantes católicos
morreram na cidade de Derry, num incidente que ficou conhecido como Domingo
Sangrento (episódio que inspirou a canção “Sunday Bloody Sunday” do U2). Até o
ano 2000, mais de 3.600 pessoas haviam sido mortas de ambos os lados.
Recuso-me a crer que nosso país tenha tal vocação. Sempre fomos um povo cordato, de convívio amistoso. Fatos como este, ainda que isolados, deveriam nos estarrecer. Mas, parece que estamos começando a nos acostumar. E o pior é quando sinalizamos com uma bandeira branca, pedindo que os religiosos aprendam a arte da coexistência respeitosa, somos acusados por irmãos da mesma fé de estarmos aderindo ao ecumenismo (o que para alguns setores da igreja protestante é a heresia das heresias).
Não precisamos concordar com os dogmas da religião alheia para respeitarmos
os seus adeptos. Todas tem em comum o fato de buscarem sentido na existência. O
próprio Paulo, o apóstolo dos gentios, disse que Deus permitiu que cada povo o
buscasse como quem está tateando na escuridão. Respeitá-los não significa abrir
mão do que cremos, nem relativizar o papel único de Cristo como Salvador dos
homens.
Cada cultura e tradição espiritual traz traços da graça comum. O Criador não
nos deixou entregues à própria sorte, mas deu testemunho de Si mesmo e do Seu
amor através de cada elemento da criação. Creio que não preciso citar as
passagens bíblicas que comprovam isso.
Se insistirmos na intolerância, ela poderá nos custar a tão cara liberdade de
culto que prezamos. Se não queremos ser importunados em nosso momento de culto,
não queiramos calar os tambores dos terreiros, nem os sinos das catedrais.
Nosso papel como discípulos de Jesus não é atacar o credo alheio, mas amar
incondicionalmente aos adeptos de qualquer expressão religiosa. Antes de pregar com palavras, a gente deve pregar com gestos. Como dizia Francisco de Assis, pregue em todo o tempo, e se precisar, use palavras.
Antes de acusá-los de possessão demoníaca, deveríamos exorcizar os demônios
do preconceito que assombram nossas próprias almas. Antes de acusá-los de
idolatria, deveríamos nos livrar de nossos ídolos secretos, dentre os quais,
nosso apego ao dinheiro. Antes de acusá-los de bruxaria, deveríamos abdicar da
presunção de que podemos manipular a vontade de Deus a nosso favor através de
ofertas e correntes.
Ora, se temos todos telhados de vidro, não seria melhor que fôssemos mais
compassivos uns com os outros? O diálogo sempre funciona melhor do que o embate.
Mãos estendidas costumam ser mais eficazes que dedos apontados.
Aproveito este post para lançar uma campanha: Intolerância Zero. Se você não
quer ver uma “guerra santa” instalada em nosso país, ajude-nos a divulgar com as
hashtags #intolerânciazero e a #euescolhiamar.
Também aproveito para, em nome dos cristãos conscientes, rogar o perdão da
menina atingida pela pedra. Que o bálsamo do amor de Deus possa cicatrizar, não
apenas a ferida aberta em sua cabeça, mas, sobretudo, a ferida que lhe abrimos
na alma.
Tem havido no Brasil atual uma enxurrada de promessas de supostos direitos em quantidade e irresponsável. Cada grupo tem lutado pelo seu lado. Resultado: as supostas reparações e correções artificiais de aparentes injustiças servem apenas a tensionar a população, a colocar-nos uns contra os outros, a dividir para conquistar, enfim.
ResponderExcluirSeguindo a máxima do “dividir para conquistar” (atribuída ora a Júlio César, ora a Napoleão), muito estão fazendo isto no Brasil. E a igreja evangélica tem caído como um patinho nessa.
Putz! Cadê os 343 comentadores da postagem anterior???!!!
ResponderExcluirrssss
ExcluirCade o povo homofóbico comentando aqui??????????
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