Por Hermes C. Fernandes
Duas igrejas. Duas posturas diferentes quanto às demandas do
mundo. Posturas que se evidenciam durante a época da festa da carne.
Encontramo-nas, de maneira metafórica, num episódio relatado por Lucas
envolvendo duas multidões que vinham de lados opostos, mas que, eventualmente,
se chocaram.
A primeira multidão era liderada por Jesus, e seguia euforicamente
na direção da cidade de Naim. Pessoas que haviam deixado tudo para seguir o
mestre da Galileia. Não se importavam com o calor escaldante da região. Nem em
passarem por alguma privação durante o
cortejo. A razão de toda a sua alegria e esperança estava personificada naquele
jovem carpinteiro.
A multidão que seguia na direção oposta era liderada por um
defunto. Enquanto a primeira entrava na cidade, a segunda a deixava. Enquanto a
primeira parecia celebrar, a segunda só fazia lamentar. E, de fato, havia
motivo para isso. Ao lado do defunto ainda moço, estava sua mãe, inconsolável,
que não fazia muito tempo perdera também o marido. Sem um arrimo para sustentá-la,
só lhe restava chorar, chorar e chorar.
Imagine o 'choque térmico' provocado pelo encontro das duas
multidões. Uns sorrindo, outros chorando. Se ao menos entendessem a razão uns
dos outros... Quem chorava, ao deparar-se com quem sorria, devia pensar: quem é
este idiota que não respeita a dor alheia? Quem celebrava, ao avistar os que
choravam, provavelmente pensava: será
que não percebeu a presença de Jesus entre nós?
Quando Jesus se viu de frente com aquela viúva, seu coração
se encheu de ternura e compaixão. Dirigindo-se a ela, disse: Não chores!
Como assim, “não chores”? Será que não viu o menino morto
que era carregado? Será que não percebeu que a partir daquele dia, ela poderia
ficar desamparada? Obviamente que a resposta a estas perguntas é um sonoro sim.
O “não chores” não soou petulante. Não foi uma ordem. Bastava observar as
feições de Jesus para perceber a doçura do seu olhar. Quase que concomitantemente,
Jesus paralisa o cortejo fúnebre, toca o esquife e diz ao morto: “Jovem, a ti te digo: Levanta-te”.
Se o jovem não o tivesse atendido, Jesus teria sido
considerado um louco varrido e talvez até fosse linchado pela multidão. Mas o
fato é que ele atendeu, levantou-se vivo e foi entregue à sua mãe. Agora, já
não havia duas multidões caminhando em direções opostas, mas uma única multidão
que se mesclara. Os que antes choravam, agora tinham uma razão para celebrar. Os
que já celebravam, agora tinham uma razão a mais para fazê-lo.
Durante esta época, muitas igrejas preferem deixar a cidade.
A alegria do mundo parece incomodá-las, pois rivaliza com sua própria alegria.
Talvez até preferissem vê-lo chorar. Elas se esquecem que essa alegria é fugaz,
e que, invariavelmente, termina em cinzas. Por trás de cada máscara e fantasia
há um ser fragilizado, que depois de trabalhar o ano inteiro, se entrega à
folia para tentar driblar o vazio que há em sua alma. Todavia, a alegria provida pelo Carnaval pode ser tudo o que ele tem. Por isso, não acho que seja sábio desdenhá-la ou desrespeitá-la, mesmo que não nos pareça possível endossá-la.
Não me atrevo a
generalizar, porém, constato que muitas dessas igrejas parecem ser guiadas por
um morto. Uma espiritualidade mórbida. Um cristianismo em estado de putrefação
e decomposição. Essa igreja é viúva. Seu marido é um Cristo que não deixou o
túmulo. Que fez da própria igreja o seu sepulcro. Por isso, não lhe resta
alternativa senão enterrar agora os seus filhos. Enterrá-los a sete palmos de
alienação para que se decomponham fora das vistas do mundo. Seus filhos parecem
destinados a serem devorados pelos vermes da religiosidade apática e performática.
Todavia, há uma igreja que toma o caminho inverso. Que se
volta para a cidade. Que se dispõe a acolher os que choram sem se importar em
misturar-se a eles. Quem está à sua frente é ninguém menos que o Cristo de
Deus, o porta-voz da vida, o única capaz de reverter o quadro caótico em que se
encontra o mundo. Deixe que Ele toque o esquife! Para os doutores da Lei, tocar
o esquife tornava-o imundo. Mas quem disse que Jesus se importa com a higiene
religiosa? Quem toca num esquife, equivalente ao caixão dos nossos dias, também
toca num carro alegórico, num trio elétrico, numa vida arruinada pelas drogas,
num homossexual vítima de todo tipo de preconceito, numa mulata em trajes
sumários na avenida. O Jesus que está à
frente desta multidão não se deixa domesticar por convenções sociais ou ditames
religiosos. Ele toca em quem quiser, onde estiver, na data que lhe aprouver,
sem ter que se desculpar com ninguém.
* Texto baseado em
Lucas 7:11-16
Excelente!!!! É nisso que eu creio.
ResponderExcluirconcordo com o Bispo Hermes, temos que estar no meio da folia e levar a Palavra para eles, eu mesmo brinquei o carnaval a madrugada inteira e levei alguns folhetinhos com versiculo.
ResponderExcluirHoje vou cair na avenida de novo, vou torcer para minha escola de samba também, amo samba e carnaval. Parabens bispo Hermes.
Todos os cristãos catolicos e evangélicos, temos que participar do carnaval, brincar, pular, afinal o carnaval é para todos.
Parabens!!!
Esses anonimos aqui só podem estar de zoeira né? Não conseguem entender um texto simples desse e já chegam ao extremo? A vida não é 8 ou 80, o texto fala de não ignorarmos os perdidos, como muitos religiosos fazem. Se estão zoando tanto, é porque alguma coisa doeu
ExcluirMas , quando a alegria é pecaminosa , colocando em risco , ou "afundando" mais ainda as almas dessas pessoas... È para se lamentar ...
ResponderExcluirTemos o ano todo para falar do evangelho, usar essa desculpa de pregar no carnaval só se for pra justificar a conciencia de quem quer ir pro meio, bom mas cada um dará conta de si no dia do juizo!
ResponderExcluirMuito bom, mas não acho q atrás de cada máscara ou fantasia haja um ser fragilizado e de alma vazia.
ResponderExcluirPor trás da máscara e da fantasia há crentes, tementes, simplesmente gente.
É só uma festa!
Hermes está liberado também para o crente pular no carnaval cheirando o Loló? A Lança perfume?
ResponderExcluirSe está liberado pode saber que vai rolar também um baseado, a erva do capeta nê?
Que ridículo esse texto e essas pessoas que aceitaram essa barbaridade escrita.
Sinceramente, o joio está dando as ordens e ensinado a bíblia, mas a bíblia do diabo nas igrejas de hoje.
Vc é joio ou o diabo?
ExcluirUm atrapalha o que se planta e o outro espreita anônimo pelas sombras.
Se identifique fake...
ResponderExcluir"Durante esta época, muitas igrejas preferem deixar a cidade. A alegria do mundo parece incomodá-las, pois rivaliza com sua própria alegria. Talvez até preferissem vê-lo chorar. Elas se esquecem que essa alegria é fugaz, e que, invariavelmente, termina em cinzas. Por trás de cada máscara e fantasia há um ser fragilizado, que depois de trabalhar o ano inteiro, se entrega à folia para tentar driblar o vazio que há em sua alma. Todavia, a alegria provida pelo Carnaval pode ser tudo o que ele tem. Por isso, não acho que seja sábio desdenhá-la ou desrespeitá-la, mesmo que não nos pareça possível endossá-la."
ResponderExcluirO malabarismo intelectual que precisa ser feito pra achar que aqueles que não querem participar do carnaval estão desdenhá-la ou desrespeitá-la, seria o mesmo que eu dizer que aqueles que pulam o carnaval estão desdenhando ou desrespeitando aqueles que "estão deixando a cidade". O Hermes fica "constatando que muitas dessas igrejas parecem ser guiadas por um morto", sem perceber quem realmente pode estar "morto".
E quem espreita nas sombras do anonimato.
ExcluirAmém! Vivamos CRISTO!! !!
ResponderExcluirExcelente texto!
ResponderExcluirMateus.7:1,2,3,4,5.
ResponderExcluirBasendo em qual interpretação bíblica, o senhor chegou a essa conclusão? O relato da viúva de naim, não pode sofrer essa anomalia.
ResponderExcluircomo sempre ...
ResponderExcluiruma péssima postura teológica.
Tei tei tei
ResponderExcluirNosss😯
ResponderExcluirDom Helder Câmara, durante sua crônica radiofônica chamada “um olhar sobre a cidade” da Rádio Olinda AM em 1 de fevereiro de 1975, fazia uma célebre orientação para que o povo católico brincasse o carnaval.
ResponderExcluirDizia ele: “Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval. Brinque, meu povo querido! Minha gente queridíssima. É verdade que na quarta-feira a luta recomeça, mas ao menos se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida!”
É incrível como as pessoas tem dificuldade em interpretar textos. Resumindo o que o Hermes quis dizer é, que em vez de ficarmos fugindo dessa festa carnal, como se nós é que fôssemos os infelizes, deveríamos era tá la sim no meio deles pra falar ainda mais do evangelho, já que na verdade o evangelho tem q ser pregado o tempo todo. Ou seja, Cristo não fugia, Ele ia onde quer q fosse, como não evitou de seguir por onde passava a marcha fúnebre como muito de nós faríamos. Em num momento eu identifiquei no texto o pastor dizendo que devemos pular carnaval, os que pensam assim estao errados também. Nós somos sal da terra e luz pro mundo, quando tivermos la devemos brilhar com a luz de Cristo e nao ofuscados. Deus não te libera 4 dias pra vc pegar de graça kkkkkk mas ele te da 365 dias pra aproveitar as oportunidades e falar do Seu amor para os que precisam!
ResponderExcluirÉ importante ressaltar que apesar desse raciocínio óbvio, a concupiscência não deve ser o carro alegórico onde Jesus esteja erguido nas alturas com "trajes sumários", pois ao tocar no esquife Jesus demonstra ser diferente de todos os outros, mesmo os que o seguiam, pois o seguiam com segundas intenções.
ResponderExcluirUm texto como esse sob a concepção de um "descomprometido" neófito o induz a participar daquilo que a bíblia diz que devemos evitar: desejos da carne.
Como reflexão inteligente sobre o que fora escrito pelo doutor Lucas é um bom texto.
Gosto de ler muitos textos de Hermes C Fernandes, mas, todavia, entretanto, contudo... fazer uma exegese de um texto deste para falar em carnaval é exagero. Até porque se eu quisesse, ao menos imaginar, qualquer sombra desta orgia atual neste texto seria forçoso demais. Quanta imaginação ou elocubraçao fantasiosa heim? Deixa eu ver ser tem outro texto edificante... tchau! Na paz.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCARNAVAL? EU NÃO CURTO!
ResponderExcluirNão curto porque é a festa das máscaras, e devemos viver na luz. Não curto, porque é a festa do nudismo e devemos viver com decência. Não curto, porque é a festa da bebedeira e devemos viver com sobriedade. Não curto, porque é uma festa carnal e devemos viver no Espírito. Não curto porque o propósito dessa festa é agradar à carne e as obras da carne conduzem à condenação. Não curto, porque é a festa que termina em cinzas, enquanto a festa de Deus, tem plenitude de vida agora e para sempre!
Hernandes Dias Lopes
Ótimo texto. Parabéns pela indubitável clareza nas linhas escritas
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