quarta-feira, janeiro 15, 2014

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Ocaso - Poema de Hermes C. Fernandes



Grão por grão a vida escoa na ampulheta
Não há nada que reverta esta sina
Quem no mundo é capaz de tal faceta?
Quando o fim a passos largos se aproxima

Se houver quem se habilite, me prometa
De pé junto, mão no peito, mão pra cima
impedir que este  gelo se derreta
e o poema vire prosa, perca a rima

Minhas gírias já entraram em desuso
Ninguém sabe o que é broto ou lambreta
Me desculpe se pareço que abuso
Alguém pode me explicar o que é treta?

Quantas páginas em branco no caderno
Mas não tenho tanta tinta na caneta
Lá se vai o meu outono!  Eis o inverno!
Vou tirar as minhas meias da gaveta

Quantos sonhos adiei a vida inteira
Aventuras que deixei para mais tarde
Já cansei de comer tudo pela beira
Em meu peito uma chama ainda arde

Quem sabe, hora dessas, de veneta
Uma chance vem bater à minha porta
Do cabide vou tirar minha jaqueta
Pé na estrada,  fé na vida é o que importa

A guitarra sei que toco sem palheta
Ver estrelas, não preciso de luneta
Sem bigode, barba ou mesmo costeleta
Sou menino, olha bem minha careta!

Dia desses joguei fora a chupeta
Falta muito pra que use uma muleta
Não me venha com este papo tarja preta
Desta vida quero mais do que gorjeta

Que ninguém metido a besta se intrometa
O passado foi somente aperitivo
Tô cansado de palpites de xereta
O banquete desta vida é estar vivo

Pois agora, com os filhos já crescidos
Eu e ela, como sempre, inquietos
Pra viver nossos planos esquecidos
Antes tarde do que nunca com os netos!


 Composto por Hermes C. Fernandes em 15/01/2013

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