Por Hermes C. Fernandes
Saul já havia sido reprovado por Deus. Seu reino estava com os dias contados. Tudo porque se atreveu a exercer algo para o qual não estava habilitado. Em vez de esperar por Samuel, o sacerdote-profeta, Saul resolveu oferecer sacrifícios a Deus por conta própria. Talvez por ter achado que como rei, tinha o direito de fazer o que lhe desse na gana. - Por quê me submeter à liderança de um profeta, se sou unanimidade entre o meu povo?
Por causa desta ousadia, teve que ouvir dos lábios do velho profeta: "Agora, porém, não subsistirá o teu reino; o Senhor já buscou para si um homem segundo o seu coração, e já lhe ordenou que seja príncipe sobre o seu povo, porque não guardaste o que o Senhor te ordenou" (1 Sm.13:14).
Saul se tornara como uma árvore desarraigada, mas que ainda ostentava uma viçosidade passageira. Depois de ser rejeitado por Deus, ainda reinou por mais 38 anos em Israel. Davi, o homem segundo o Seu coração, escolhido por Deus para reinar em seu lugar, sequer havia nascido. Mesmo reprovado, logrou vencer várias batalhas.
Logo em seu segundo ano de reinado, Saul comprou briga com os filisteus. Os israelitas já estavam cansados da exploração que aquele povo lhe impunha. Sabendo que a qualquer momento Israel poderia se levantar contra eles, os filisteus mantiveram o monopólio da fabricação de espadas e de tudo o que fosse de ferro. Mantendo-os desarmados, não constituiriam problema maior.
O texto diz que "em toda a terra de Israel não se achava nem um ferreiro, porque os filisteus tinham dito: Para que os hebreus não façam espada nem lança. Pelo que todo o Israel tinha que descer aos filisteus a fim de amolar cada um a sua relha, a sua enxada, o seu machado e a sua foice. O custo era de dois terços de siclo pelas relhas e enxadas, e de um terço de siclo par afiar machados e aguilhões. Assim, no dia da peleja não se achou espada nem lança na mão de todo o povo que estava com Saul e com Jônatas; só Saul e seu filho Jônatas as tinham" (1 Sm.13:19-22).
Talvez por isso, Davi tenha desenvolvido a habilidade com a funda, uma arma artesanal que usava pedra como munição. Jônatas, filho de Saul, era seu herdeiro natural. Homem destemido, valente, e que não hesitava em tomar posição. Vendo que somente ele e seu pai dispunham de espadas, resolveu tomar pra si a responsabilidade, e partir sozinho contra uma guarnição filistéia, acompanhado apenas de seu escudeiro (14:1).
Não se pode cobrar de quem não tenha o recurso disponível para assumir uma responsabilidade. Porém, quem dispõe de recurso não tem o direito de se excusar. A quem muito é dado, muito é cobrado.
Jônatas teria sido um grande monarca, se não houvesse compreendido que o homem escolhido por Deus para ocupar o trono era Davi, do qual se tornou o melhor amigo. Em posse de sua espada, e consciente de sua responsabilidade, "disse Jônatas ao seu escudeiro: Vem, passemos à guarnição destes incircuncisos. Porventura operará o Senhor por nós, porque para com o Senhor nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos"(v.6).
Deus não está condicionado às nossas limitações. Seja através de muitos ou de poucos, Ele fará o que Lhe apraz. A iniciativa tomada por Jônatas foi motivada pela fé e confiança que tinha no Deus de Israel. Seu escudeiro poderia ter amarelado, e dito: Tô fora! Não vou arriscar meu pescoço com você. Mas em vez disso, sua resposta demonstrou que ele estava no mesmo espírito e propósito de Jônatas: "Faze tudo o que te aprouver. Segue; estou contigo, a tua disposição será a minha"(v.7). É imprescindível que nos façamos acompanhar de pessoas com a mesma disposição e disponibilidade.
Quando se apresentaram ante à guarnição dos filisteus, foram ridicularizados. "Vede, os hebreus já estão saindo das cavernas em que se tinham escondido. Os homens da guarnição gritaram a Jônatas e ao seu escudeiro: Subi a nós, e vos daremos uma lição" (vv.11-12). Qual foi a reação deles diante do desprezo dos inimigos? "Disse Jônatas ao seu escudeiro: Sobe atrás de mim; o Senhor os entregou nas mãos de Israel" (v.12b). Sua confiança não estava em sua habilidade como guerreiro, mas em Deus. E mais: ele não fala por si, mas por Israel, seu povo. Se sua coragem nos soa surpreendente, mais ainda é a maneira como ele os venceu.
"Então subiu Jônatas de gatinhas, e o seu escudeiro atrás dele. Os filisteus caíram diante de Jônatas, e o seu escudeiro os matava atrás dele" (v.13).
Imagine que humilhação para aqueles vinte guerreiros filisteus serem vencidos por um homem engatinhando Jônatas parecia uma bola de boliche derrubando os pinos, enquanto seu escudeiro liquidava a fatura. Embora tivesse uma espada, não foi nela que ele confiou, preferindo deixá-la a cargo de seu companheiro de batalha. Nossa confiança deve estar invariavelmente na graça capacitadora de Deus. Os recursos de que dispomos nos exigem uma postura de responsabilidade, porém, não devemos depender deles, mas d'Aquele que no-los confiou.
De repente o jogo virou. Os temíveis filisteus agora temiam por sua própria vida. "Houve tremor no arraial, no campo e em todo o povo; a guarnição e os saqueadores tremeram de medo. A terra também tremeu, e houve grande pânico" (v.15). Geralmente, quando um grande exército marchava, a terra parecia tremer sob os seus pés. Mas agora, era apenas um homem engatinhando... Mas um homem cuja confiança estava em Deus e não em si mesmo. Tanto que sequer chegou a usar sua espada, repassando-a ao seu escudeiro. Sua arma foi os joelhos.
De longe, Saul percebeu que algo estava acontecendo. Que tumulto era aquele?
"Olharam as sentinelas de Saul em Gibeá de Benjamim, e viram que a multidão se dissolvia, fugindo para cá e para lá. Disse então Saul ao povo que estava com ele: Ora, contai e vede quem é que saiu dentre nós. Contaram, e viram que nem Jônatas nem o seu escudeiro estavam ali" (vv.16-17).
Confuso, sem saber ao certo o que fazer, Saul manda trazer a Arca da Aliança, mas antes que o Sacerdote consultasse a Deus, "o alvoroço que havia no arraial dos filisteus crescia mais e mais, pelo que disse Saul ao Sacerdote: Retira a mão" (v.19). Era como se Saul dissesse ao sacerdote: Deixa pra lá! Não há tempo a perder consultando o Senhor.
"Então Saul e todo o povo que estava com ele se ajuntaram, e vieram à peleja. Encontraram os filisteus em grande tumulto, uns lutando contra os outros" (v.20).
Não havia qualquer necessidade de que Saul se envolvesse naquela batalha. Era Deus quem estava pelejando por Israel, mesmo estando descontente com o seu rei. Vendo a vitória que Jônatas obtinha sobre os filisteus, os hebreus que já haviam se aliado aos inimigos tomaram coragem e trocaram de lado, juntando-se novamente às fileiras de Israel. Aqueles que estavam escondidos nas cavernas da região montanhosa, também se encorajaram e perseguiram de perto os filisteus que fugiam (vv.21-22). E assim, "o Senhor livrou a Israel naquele dia" (v.23). Tudo porque aquele que tinha a espada tomou pra si a responsabilidade e agiu. Numa só tacada, Jônatas conseguiu o que o seu pai jamais conseguira: Unir Israel.
Líder não é quem manda, quem dá ordens, mas quem inspira, desafia e encoraja. Não é quem tem a coroa na cabeça, mas quem tem a espada na mão. Não é quem assiste à batalha de camarote, do alto de seu trono inatingível, mas quem sai à frente dos seus soldados. Tomando uma analogia dos desfiles de Carnaval, líder é como a comissão de frente, sendo os primeiros a serem avaliados por seu desempenho.
Não perca a continuação desta reflexão amanhã sob o título "O Bloco dos Lambuzados pela Graça".
* Publicado originalmente em 9 de nov de 2009.
Oiii, a paz, vim ajudar na divulgação da subversão do Reino e estou levando a sua caixinha lin-me para o meu blog!!!
ResponderExcluirAbraços, tenha uma ótima semana!!!
Olá pr. Hermes, parabens pelos sempre ótimos escritos. Deus vos abençoe em vosso sério ministério.É uma honra está em seu blog e tê-lo no meu.
ResponderExcluirJoelson Gomes
http://gracaplena.blogspot.com
Querido Hermes, Graça e Paz!
ResponderExcluirSou de Juiz de Fora, membro da Primeira Presbiteriana de Juiz de Fora(MG).Fiquei surpreso com a qualidade do seu Blog. Sei que Deus tem lhe usado de forma tremenda nesse ministério!
É provável que já tenha recebido algumas críticas, o que vem de encontro com a normalidade quando falamos muitas verdades.
Temos algo em comum; sou músico e radialista! Desejo conhecer mais do seu ministério, já que no primeiro contato, me identifiquei com suas colocações de base bíblica. Quero se possível, ter o prazer de aprender um pouco mais com você!
Deixo aqui meu email pessoal:canallivivo@bol.com.br
Que o Senhor continue derramando de porções sobrenaturais em sua vida!
Seu agora seguidor, Francisco Canalli.