segunda-feira, abril 25, 2016

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O Cristo Patrono de Torturadores e Espertalhões



Por Hermes C. Fernandes

Nasceu no Palácio de Herodes em Jerusalém, centro do poder judaico. Veio para o que era seu, e os seus o receberam, e com muitas pompas! 

Aos doze anos já discutia novas rotas comerciais e estratégias de conquista com os conselheiros reais. Seu primeiro milagre aconteceu num pomposo casamento na realeza. Transformou a água em suco de caju, não por haver faltado bebida na festa, mas apenas para dar uma gorjeta do seu poder. Poderia tê-la transformada em vinho, vodca, ou até Whisky, se quisesse. Mas preferiu não escandalizar a ala mais conservadora e fundamentalista dos religiosos.

Aos 30 anos, foi batizado na piscina da cobertura do palácio, por um dos profetas-gurus badalados da época. Enquanto descia às águas, viu-se uma águia, símbolo de conquista, sobrevoar sua cabeça, e uma voz que bradou de algum lugar: Este é o cara! Vai e arrasa!

Saiu dali e foi para uma região praiana tirar quarenta dias de férias antecipadas. Não precisou ser tentado em nada, pois nunca se negou bem algum. Transformou pedras em pizza, só para se divertir. E ainda fez malabarismo no pináculo do templo, para tirar uma onda com os sacerdotes. No final das férias, subiu num monte bem alto, avistou os reinos deste mundo e disse para si mesmo: Tudo isso me darei!

Quando abordado por algum gentio, do tipo daquele centurião que tinha um servo enfermo, dizia-lhe: Dá um tempo! Não vim para vocês, seus impuros, idólatras e ignorantes. E mais: Nunca vi tanta petulância! Onde já se viu? Pedir por um serviçal! Além de gentio, é burro!

Ao deparar-se com um cobrador de impostos desonesto, que subira numa árvore só para lhe ver, disse-lhe: Como é que é, meu irmão, vamos ou não vamos dividir esta grana? Desce logo, que tô com pressa! E manda preparar a banheira com sais minerais do Mar Morto, porque hoje vou me hospedar na suíte de sua casa.

Ao ser tocado por uma mulher hemorrágica, esbravejou: Tira essa louca daqui! Não sabe que a Lei proíbe qualquer aproximação de uma pessoa em seu estado? Imunda!

Por onde passava, seus discípulos estendiam um cordão de isolamento, para que leprosos, morféticos, cegos, endemoninhados, e todo tipo de gente asquerosa não ousassem se aproximar do rei da cocada preta.

Diferente era o trato que dispensava aos fariseus e religiosos da época. 

Em sua versão da parábola do bom samaritano, quem socorria o moribundo era o sacerdote, que sem hesitar, tentava extorquir-lhe uma gratificação. O samaritano era o assaltante, que negou-se a dividir a grana com o levita. 

- Venham a mim, todos os que querem alguma vantagem da religião. Vocês serão cabeça e não cauda. Comerão o melhor da terra! Unam-se a mim, e lhes farei milionários. Aprendam comigo, que sou malandro e esperto de coração. Espertos são os que riem da desgraça alheia. Espertos são os que gostam de ver o circo pegar fogo. Espertos são os que têm fome e sede de sucesso. Eu saciarei seu ego!

Quando procurado por um jovem rico, disse-lhe, sem o menor pudor: Topa uma sociedade? Vai ter um lugar especial no meu reino, garoto...

E quando entrou em Jerusalém montado naquele exuberante corcel branco 0 km? Foi tremendo! Não teve pra ninguém!

No episódio em que queriam executar uma mulher flagrada em adultério, ele foi o que lançou a primeira pedra. Sua política com os pecadores era de tolerância zero. Chegou até a dizer: Tortura quero, não misericórdia! Pecador bom, é pecador morto! E se alguém quiser se compadecer, leva pra casa!

Ao visitar o templo, não disfarçou o orgulho com o que viu ali. Fez questão de sair de mesa em mesa recolhendo a décima parte do que fora obtido com o lucro das vendas dos animais para o sacrifício e o ágio cobrado no câmbio. Criticava duramente os publicanos, as prostitutas, os homossexuais, mas com os fariseus e religiosos sobravam elogios.  

Uma vez entrou num prostíbulo clandestino munido de chicote. Achavam até que ele curtia uma onda sadomasoquista. Mas ele saiu expulsando prostitutas e cafetões aos gritos: Seus porcos! Ousam transformar minha zona numa casa de mãe Joana!

Cruz? Que cruz? Tá doido? Cruz é pra gente como Jesus, aquele nazareno nascido numa manjedoura. Dizia frequentemente: Eu vim para ter vida, e vida com abundância. Quem quiser vir após mim, passa tudo o que tem pra minha conta, e me siga. Ou tudo ou nada! Ou dá ou desce!

Revolucionário? Que nada! Graças a um conchavo político feito às escuras com o Império Romano, garantiu para si a sucessão de Herodes.

Ao descobrir que um dos seus asseclas o estava traindo, sem dó nem piedade, mandou enforcá-lo. Quem ousou negá-lo teve sua língua decepada. 

Ao morrer, farto de dias, confiou seu legado a um grupo de discípulos seletos, que juraram que sua mensagem jamais seria esquecida, e que ao longo dos séculos, sempre haveria quem a promovesse em sua própria geração. Partiu ordenando que cada um dos seus discípulos lhe beijasse os pés, em sinal de submissão. E que aprendessem a se servir uns dos outros, e se aproveitarem dos poderes constituídos, sem jamais criticá-los ou censurá-los.

Promessa feita, promessa cumprida.

Basta ligar a TV, o rádio, ou mesmo acessar a internet, para se dar conta de quantos dos seus discípulos ainda dão eco à sua voz. Alguns deles se reuniram e formaram bancadas parlamentares com o único intuito de expandir a mensagem de desamor de seu mestre.

5 comentários:

  1. Linda historia que conta tudo e nos faz pensar. Boa muito...muito boa.

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  2. Anônimo10:40 AM

    Sempre quis congregar com vocês!!!! tem projeto para a Reina aqui em goias??? kkkkkk Parabéns pelo texto!

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  3. Põe pra refletir...profundo.

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  4. Retrato (Im)perfeito do "cristo midiático."

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