"Então tomou Samuel uma pedra, e a pôs entre Mizpá e Sem, e chamou-lhe Ebenézer; e disse: Até aqui nos ajudou o SENHOR." 1 Samuel 7:12
Por Hermes C. Fernandes
Enquanto os filhos de Israel se voltavam para Deus em arrependimento e
adoração, os filisteus, seus inimigos, aproveitaram para atacá-los, julgando que
estivessem distraídos para se defender. E desde quando adoração é distração? Desde quando louvor é entretenimento?
Quando adoramos, em vez de nos distrairmos, estamos sim, ajustando nosso foco.
Toda adoração genuína resulta da contemplação. Inicialmente, a imagem parece
turva, desfocada. Mas à medida que nos aproximamos, a imagem difusa que temos
de Deus cede à nitidez. Vimo-nos frente a frente com Cristo, em quem temos a
imagem exata de Deus. Ele é, por assim dizer, a revelação de Deus em High
Definition. A contemplação gera adoração, que por sua vez, resulta em
transformação.
Digo com certa frequência que apesar de nosso inimigo não poder nos destruir,
ele sabe como nos distrair. Seu único trunfo é tirar nosso foco de Cristo,
distraindo-nos com as circunstâncias adversas ou com as suas propostas indecorosas.
Por isso, o escritor sagrado nos insta a que não desviemos nossos olhos do autor
e consumador de nossa fé (Hebreus 12:1).
Desesperados com a ameaça filistéia, o povo de Israel recorre a Samuel
rogando-lhe que não cessasse de orar em seu favor. Depois de oferecer sacrifício
a Deus, clamou Samuel e o Senhor imediatamente respondeu com fortes trovões,
cujos estrondos provocaram a inusitada fuga dos filisteus.
Jamais nos esqueçamos de que Deus sempre responde ao nosso clamor.
Entretanto, não devemos nutrir a expectativa de que Ele responda sempre da mesma
maneira. Às vezes, Ele responde com trovões. Outras, através de uma suave brisa.
Às vezes, Ele responde de maneira espetaculosa, outras, de maneira sutil,
discreta. Deus sabe ser recatado, quando quer. Quem somos nós para exigir que
Ele responda de um ou outro jeito?
O que não podemos é deixar de clamar. Assim como Samuel, a igreja de Cristo ocupa ao mesmo tempo a função
sacerdotal e a profética. Como profetas, nos dirigimos aos homens em nome de
Deus. Como sacerdotes, falamos a Deus em nome dos homens. Representamos os
interesses do Reino diante da sociedade humana, e os anseios humanos diante de
Deus. Por isso, não podemos deixar de clamar a Deus em favor dos homens, e
conclamar os homens para que se voltem para Deus.
Depois da vitória proporciana por Deus ao Seu povo, Samuel erige uma pedra, e
lhe põe o nome de Ebenézer, que quer dizer: Até aqui nos ajudou o Senhor. Aquela
era a maneira de garantir que um fato jamais cairia no esquecimento. Não havia
câmeras fotográfica. No futuro, quando um filho perguntasse ao pai acerca
daquela misteriosa coluna, este lhe relataria a gloriosa vitória que Deus
concedera a Seu povo.
Altares e colunas servem de marcos em nossa jornada existencial. Sempre que
nos deparamos com eles, nossa mente é remetida ao episódio por eles
representados. Deus sabe a dificuldade que temos de relembrar coisas boas, ao
passo que temos a indiscutível facilidade de guardar fatos ruins. Talvez por
isso, não há fotos de funerais em nossos álbuns de família, enquanto abundam
fotos de casamentos, formaturas, férias, etc. Precisamos de fotos para relembrar
fatos bons, mas não precisamos delas para relembrar os ruins.
Era isso que Jesus tinha em mente ao instituir a Santa Ceia. “Fazei isso
em memória de mim”, disse o Mestre. A mesa da Ceia é um altar que nos
remete à Sua morte e ressurreição. Talvez, não fosse a instituição da Ceia, Seu
sacrifício já teria caído no esquecimento.
Sempre que se levantava uma coluna memorial, dava-se-lhe um nome. Foi assim
com Jacó, que usou a pedra que usou como travesseiro para erigir uma coluna, e a
chamou de Betel (Gn.28:18-19; 35:14-15). Samuel deu àquela pedra o nome de
Ebenézer. Não foi um nome escolhido aleatoriamente. Seu significado é profundo e
merece que nos debrucemos nele pelas próximas linhas.
A quem temos creditado nossas vitórias? Será que as temos deixados cair no
esquecimento? Para dizer “até aqui nos ajudou o Senhor”, devemos nos comprometer
em trazer sempre à lembrança aquilo que nos traz esperança (Lm. 3:21). De vez em
quando, convidemos nossa alma para uma conferência, e busquemos persuadi-la a
bendizer ao Senhor e a não esquecer-se de nenhum dos Seus benefícios (Sl.
103:2).
Afirmar que até aqui foi o Senhor que nos ajudou é um gesto de humildade e confiança.
Porém, há outros tipos de posturas que divergem radicalmente desta, e que tem sido adotada por muitos que se dizem seguidores do Nazareno. Vejamos
algumas delas:
* Até aqui eu ajudei ao Senhor - Haveria presunção maior que
esta? Desde quando Deus carece de nossa ajuda? Toda vez que o homem se acha no
direito de dar uma mãozinha pra Deus, ele acaba estragando tudo. Veja o que
aconteceu com Abraão, que por sugestão de Sara, sua mulher, quis ajudar o Senhor
a cumprir Sua promessa, e deu no que deu. Nossos improvisos geram Ismael. Mas só
a provisão de Deus nos traz Isaque.
* Até que enfim nos ajudou o Senhor – Adotamos tal postura
quando nos esquecemos de todas as intervenções de Deus em nossa vida,
considerando apenas a última. Ora, se nos esquecemos das anteriores,
eventualmente nos esqueceremos também desta, tão logo nos vejamos numa outra
situação adversa. Samuel considerou todas as manifestações da graça divina desde
a formação do povo de Israel. O mesmo Deus que operara aquele livramento, jamais
ausentou-Se da história, mesmo quando agiu de maneira discreta e silenciosa.
Temos o costume de eleger certas experiências como divisores de água em nossa
jornada. A impressão é que Deus só começou a obrar em nossas vidas a partir
daquele ponto específico. A verdade é que Deus tem nos conduzido mesmo quando
vivíamos na ignorância. Devemos levar a sério a admoestação de que devemos
reconhecê-Lo em TODOS os nossos caminhos (Pv.3:6). Ele já atuava em nosso favor
mesmo antes de nascermos, conforme lemos no Salmo 139.
* O Senhor nos ajudou somente até aqui, agora é por nossa conta –
Ora, quem nos trouxe até aqui, nos conduzirá até lá. O “até aqui” não
pode ser confundido com sendo a finalização do processo. O “aqui” é apenas um
estágio pelo qual devemos passar antes de chegarmos à próxima etapa. Lembre-se
que a promessa de Deus é que seríamos conduzidos por Seu Espírito de glória em
glória, até à glória derradeira (2 Co.3:18). Como disse Paulo, Aquele que em nós
começou a boa obra, em quem Se incumbirá de terminá-la até o prazo de entrega
predeterminado pelo Pai (Fp.1:6). E para que o prazo seja cumprido, Ele mesmo
prometeu caminhar conosco até a consumação do século (Mt.28:20).
O supremo propósito de Deus para conosco é tornar-nos cada vez mais
semelhantes Àquele que é a expressão exata do Seu Ser. Enquanto esta obra não
estiver finalizada, Ele não descansará. Teimosia é que não lhe falta. E assim,
todos manifestaremos a fisionomia do Pai Celestial em Alta Resolução.
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