Na adolescência, meus super heróis, por conta da rebeldia natural desse tempo, passaram a ser os anti-heróis, os autênticos representantes da revolta ao sistema e aos padrões estabelecidos.
Eles agora não demonstram mais superpoderes, não voam, têm mais perguntas do que respostas, o que ironicamente os torna mais poderosos do que os valentes de meu passado ainda recente de criança.
Mais heróis e mitológicos que nunca.
No contato com o evangelho, surgem novos referenciais de conduta, desta vez os denominados heróis da fé. Homens e mulheres como você e eu, mas cujos encontros e caminhadas de vida com Deus os tornam especiais. (Aqui, tenho que fazer um parêntese, para expressar minha angústia quando tento comparar minha vida com a deles... acho que é a angústia básica de todos os que por eles nutrem respeito e admiração. Poderíamos eu e você sermos colocados na mesma categoria que a desses grandes personagens? Duvido. Até mesmo porque, creio que a grande causadora dessa inquietação é nossa tentativa de categorizá-los, superestimando seus poderes e subestimando sua humanidade!)
Afinal, o que significa ser um herói?
Uma definição acurada seria: ser alguém que se distingue por coragem extraordinária na guerra ou diante de outro qualquer perigo; que suporta exemplarmente um destino incomum, como, por exemplo, um extremo infortúnio ou sofrimento, ou que arrisca sua vida abnegadamente pelo seu dever ou pelo próximo; personagem preeminente ou central que, por sua parte admirável em uma ação ou evento notável, é considerada um modelo de nobreza.
Invariavelmente, diante destas definições técnico-literárias de quem seria um verdadeiro herói, é impossível deixar de pensar em pessoas comuns com as quais convivemos ou temos convivido em nossas comunidades, cuja paixão por Deus e por gente nos constrange; às vezes, até incomoda. Pessoas que se candidatam a um campo missionário que não significa necessariamente uma terra distante, podendo ser, por exemplo, o campo dos descamisados urbanos, dos párias, ou até mesmo dos marginalizados no seio da própria igreja!
Esses homens e mulheres que - por tantas vezes - sentam-se ao nosso lado nas celebrações dominicais são nossos heróis contemporâneos, muito embora ignoremos essa possível menção honrosa e pública ou até mesmo suas presenças.
Mas lá estão eles, pra nos dizer - na maioria das vezes sem palavras - que a vocação para atos heróicos não é privilégio de alguns. É chamado de todos. Afinal, viver o amor até as últimas conseqüências, praticar a compaixão e a misericórdia não deixa de ser uma postura heróica. Talvez anônima, talvez quase imperceptível por nossa sociedade globalizada e tão insensível. Mas com certeza cativante, sedutora, encantadora.
Que o nosso grande Super-Herói possa inspirar-nos todos a atitudes que expressem a coragem e a ousadia de seus autênticos discípulos heróicos...
Tenho saudades da minha capa colorida.
Texto de Jorge Camargo, com o título original de "Heróis" (via Cristianismo Criativo)
Infelizmente, os herois sao o nosso reconhecimento de que falhamos como coletividade e covardemente sobrecarregamos alguem que no foge de suas responsabilidades .
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