Muito daquilo que se tem pregado acerca do fim do mundo, baseia-se no sermão profético de Jesus, registrado por Mateus, Marcos e Lucas. Uma má interpretação destes textos pode conduzir-nos a uma Escatologia pessimista, e, por conseguinte, a uma atuação insípida da igreja no mundo.
Nosso propósito neste estudo é apresentar uma interpretação mais consistente, e que condiga com a esperança que temos de um mundo melhor, transformado pelo poder do Evangelho, e submetido ao senhorio de Jesus Cristo.
De acordo com ambos os textos, Jesus estava saindo do Templo, quando os Seus discípulos, maravilhados com a estrutura daquele prédio, foram surpreendidos com a seguinte declaração:
“Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará pedra sobre pedra, que não seja derrubada.” MATEUS 24:2
Jesus não estava se referindo aos prédios, e construções de todo o mundo, mas tão-somente ao Templo e aos edifícios que compunham aquele complexo. Entretanto, muitos encontram nesta passagem uma alusão à todas as construções existentes no dia em que Jesus voltar. Isso realmente é forçar o texto, e torcer o seu sentido original. “Não vedes tudo ISTO?” perguntou o Mestre aos Seus discípulos, apontando para o prédio do Templo construído por Salomão, reconstruído por Zorobabel e reformado por Herodes. Aquela profecia teve seu cumprimento literal no ano 70 d.C., quando Tito, o general romano que posteriormente tornou-se Imperador, invadiu Jerusalém, reduzindo seu templo, e toda a cidade a escombros.
Aquela afirmação profética foi suficiente para instigar a curiosidade dos discípulos. Marcos escreve que “assentando-se ele no monte das Oliveiras, defronte do templo, Pedro, Tiago, João e André lhe perguntaram em particular: Dize-nos quando acontecerão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para cumprir-se” (Mc.13:3-4). De acordo com Mateus, eles ainda perguntaram: “Que sinal haverá da tua vinda e do fim dos tempos” (Mt.24:3).
O termo grego usado aqui e traduzido por “vinda” é parousia que significa aparição, manifestação ou revelação. Os discípulos queriam saber quando o Mestre Se revelaria ao mundo como Rei, e quando seria o fim dos tempos, ou em uma outra tradição, a consumação dos séculos, ou a plenitude dos tempos. Não está se falando aqui sobre o fim do mundo, ou a destruição do cosmos.
Muito da confusão que há em torno da exegese que se faz de alguns textos bíblicos deve-se à falta de entendimento acerca de três palavras gregas que figuram nas Escrituras, e que às vezes recebem a mesma tradução. Trata-se dos vocábulos kosmos, Oikumene e Aión. Ambos são traduzidos por mundo, porém, possuem significados distintos, que variam de acordo com o contexto em que são usadas.
Na passagem de Mateus, algumas Bíblias trazem a expressão fim do mundo. O fato é que a palavra usada neste texto é aións, que é traduzida por mundo, porém seu significado mais preciso é eras. Os discípulos já sabiam que a manifestação de Cristo como Rei deveria se dar na consumação dos aións. Esta mesma conexão entre manifestação e consumação das eras é feita pelo escritor de Hebreus. Ele escreve aos crentes dos seus dias: “Agora, na CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS, uma vez por todas SE MANIFESTOU, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb.9:26).
Paulo fala da dispensação da plenitude dos tempos. De acordo com os seus escritos, tal dispensação começou com a encarnação de Cristo, passando pelo Seu ministério terreno, e alcançando o seu ápice na Sua crucificação, ressurreição e ascensão (Veja Gl.4:4; Mc.1:15; Ef.1:10). Ele escreve aos Coríntios afirmando com convicção que para eles já havia chegado “os fins dos séculos” (1 Co.10:11). Consumação dos séculos, plenitude dos tempos, e fim dos tempos possuem o mesmo significado. Portanto, à luz disto, fica claro que para os apóstolos, a igreja primitiva estava vivendo o tempo do fim.
Não era, portanto, acerca do fim do mundo que Jesus estava falando, mas do fim daquela era, que culminaria com a queda do templo e da cidade de Jerusalém.
A partir daí, Jesus começou a expor-lhes esses sinais. Sabendo que era um assunto extremamente difícil, e ao mesmo tempo fácil de ser torcido, Jesus começa a Sua exposição exortando:
“Acautelai-vos, que ninguém vos engane. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos (...) Surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos (...) Então, se alguém vos disser: Olhai, o Cristo está aqui, ou ali, não lhes deis crédito. Pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. PRESTAI ATENÇÃO, eu vo-lo tenho predito. Portanto, se vos disserem: Olhai, ele está no deserto! Não saias; ou: Olhai, ele está no interior da casa ! não acrediteis.” MATEUS 24:4-5, 11, 23-26.
Devido à dominação romana, havia por parte dos judeus uma grande expectativa em torno da aparição de um Messias que os conduzisse à liberdade política, e restabelecesse o trono de Davi. Para eles, o Messias ( ou Cristo ) deveria ser um homem arrogante, forte, carismático, e revolucionário. Pelo fato de Jesus não demonstrar nenhum tipo de arrogância, ou pretensão política, muitos não conseguiam enxergar n'Ele o Messias prometido por Deus através dos profetas.
Jesus sabia que naqueles turbulentos anos que precederiam a queda de Jerusalém, muitos oportunistas se fariam passar pelo Cristo esperado por Israel. E de fato, pouco depois de Sua ascensão, muitos “cristos” surgiram no cenário judaico. Bastaria-nos o testemunho de João acerca disso, para comprovarmos tal fato. Verifique o que diz o apóstolo:
“Filhinhos, esta é a última hora; e como ouvistes que vem o anticristo, já muitos anticristos têm surgido, pelo que conhecemos que é a última hora (...) Amados, não creias em todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus, porque já muitos falsos profetas têm surgido no mundo (...) todo espírito que não confessa a Jesus não é de Deus. Este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e AGORA já está no mundo.” I JOÃO 2:18; 4:1,3.
O que João queria dizer com “última hora”? Se ele desejava afirmar que aquela era a última hora que antecedia o fim do mundo, da maneira como é concebido atualmente, teremos que admitir que ele estava redondamente enganado. Quase dois mil anos se passaram, e o mundo ainda não acabou ! Se aquela era a última hora, então, estamos vivendo o último segundo do mundo.
Porém, sabemos que ele estava falando acerca da última hora daquela era, que terminaria com a queda de Jerusalém. Era, de fato, o fim daquele aión. A chamada plenitude dos tempos havia chegado aos seus momentos derradeiros. Mais um pouco, e o velho tabernáculo se sucumbiria, dando lugar ao Tabernáculo de Deus com os homens, a Igreja (Veja Hebreus 9:8-9).
Por que João tinha tanta certeza que aquela era a última hora? Por causa das palavras que Jesus lhes havia dito no sermão profético. Aqueles falsos cristos ( chamados por João de anticristos ) já estavam nas ruas de Jerusalém enganando a muitos. A diferença entre os anticristos e os falsos profetas era que os primeiros tinham pretensões políticas, enquanto que os outros ludibriavam as pessoas através de uma falsa religiosidade.
Somente no livro de Atos encontramos três falsos cristos: Teudas (5:36), Judas da Galiléia (5:37) e um tal egípcio (21:38). Este último, de acordo com o relato do historiador judeu Flavio Josefo, conduziu ao deserto cerca de trinta mil homens ( dentre os quais quatro mil eram assassinos ), prometendo-lhes liberdade, sinais da parte de Deus e fim do domínio romano. Depois de reunir uma grande multidão de revoltosos, marchou contra Jerusalém, com o fim de expulsar de lá os romanos e de se apoderar da cidade, estabelecendo lá o seu trono. Mas Félix partiu contra ele, com tropas romanas e um grande número de outros judeus, dizimando os que seguiam o falso cristo. Já Teudas persuadiu uma grande multidão a segui-lo até às margens do rio Jordão, afirmando que haveria de dividi-lo como fez Elias. Josefo diz em seus relatos históricos que ao tempo do reinado de Nero foram tão numerosos os falsos profetas e cristos que quase todos os dias pelo menos um deles era morto.
Lucas também nos fala de Simão, o Mago, que persuadiu os habitantes de Samaria de que era “o grande Poder de Deus” (At.8:9-10).
De fato, aquela era a última hora, o fim da era da Lei, e o início da era do Reino dos céus.
No continuação deste estudo, abordaremos os sinais apontados por Jesus, dentre eles, os cataclismos como terremotos, maremotos, e outros.
Hermes, observando o texto do restante de Mateus 24 (após o versículo 2, até o fim) a ideia que ele passa é que Jesus está falando dom fim dos tempos, e não do fim de uma era próxima ali dos dias de Jesus, como você defende.
ResponderExcluirJesus fala, na verdade de mais de uma era? Onde está esta divisão no texto?