Por Hermes C. Fernandes
Cansei de me perder por aí! Já fiquei perdido nas ruas de São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Phoenix, Washington, Nova York, e pasmem, na minha própria cidade, o Rio de Janeiro. Em Phoenix, Arizona, perdi um voo por não conseguir encontrar a entrada para o Aeroporto. Em Nova York, víamos o hotel em que estávamos hospedados, mas não conseguíamos achar o acesso a ele. Em Washington, quase fomos assaltados, quando paramos para usar um telefone público tarde da noite em busca de auxílio. Mas de todas essas experiências terríveis, nenhuma foi semelhante à vez em que eu e minha família ficamos perdidos em Miami à procura do Aeroporto. Fomos parar dentro de um gueto assustador. Meus filhos e minha esposa ficaram apavorados.
Mas agora, meus problemas acabaram!
Neste último Natal ganhei um presente inusitado: um GPS! Aquela santo aparelinho que nos ajuda a encontrar endereços sem nos perder. Vou aposentar o mapa que levo dentro do carro. Já não vou precisar de consultar o google em busca de direção. O GPS vai me levar a qualquer lugar.
Resolvi testar o aparelho alcançar destinos já conhecidos por mim. Resultado: confusão! Algumas vezes o GPS me indica caminhos diferentes daqueles que eu estou acostumado. E pior: alguns deles são estradas com pedágios. Ainda que mais rápidos para chegar ao destino, teria que desembolsar uma graninha.
O GPS diz: Entrar a direita. Eu digo: Desculpe-me, mas tenho ideia melhor. Depois que o desobedeço, ele recalcula os dados recebidos por satélite e me faz nova sugestão. Eu disse sugestão? Sim, sugestão! Não se trata de uma ordem. Sigo se achar que é o melhor caminho. Tenho a opção de contrariar a máquina.
Mas quando se trata da direção dada pelo Espírito Santo? Seria isso uma sugestão ou uma ordem?
O Espírito Santo nos equipa com uma espécie de GPS espiritual. Seria um GPES (sigla para “Guiados pelo Espírito Santo”). É Paulo quem afirma que todos "os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”(Rm. 8:14).
É claro que nem sempre estamos dispostos a obedecer à orientação do Espírito Santo. Às vezes achamos que temos um caminho melhor, e por isso, nos desviamos. Mas mesmo assim, Ele não desiste de nós. Ele sempre “recalcula” e nos oferece nova direção para que saiamos do labirinto em que nos metemos.
Veja o compromisso assumido por Deus:
“Quer te desvies para a direita, quer te desvies para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão a palavra que sera dita atrás de ti: Este é o caminho; andai nele” (Isaías 30:21).
Lembra de Jonas, o profeta relutante? Achou que tinha uma idéia melhor e rebelou-se contra a ordem de Deus. Deu no que deu... Acabou se metendo em apuros. Porém Deus não desistiu dele, nem tampouco da população de Nínive. Enviou um grande peixe para tragasse o profeta indigesto e o vomitasse na praia próximo do lugar para onde ele deveria ter ido.
Todo homem que se converte a Cristo está “sob nova direção”. O timão do barco é abandonado, os remos aposentados, e velas são içadas. A partir daí, passa a seguir ao sabor dos ventos do Espírito.
Foi o que sucedeu com Paulo, que desde o início de sua caminhada cristã, ouviu de Jesus a exortação: “Dura coisa é recalcitrar contra os aguilhões”. Em outras palavras, quem se rebela contra a direção de Deus acaba se metendo em enrascada.
Quem é dirigido pelo Espírito às vezes toma decisões que parecem contrariar o bom senso. Quem deixaria uma igreja forte, bem alicerçada, para ir para uma cidade onde só teria problemas? Somente quem é guiado por fé, e não por vista, por amor, e não por conveniência.
Paulo estava partindo da região onde o seu ministério mais prosperou. Pra evitar maiores constrangimentos, preferiu não ir a Éfeso, mas pedir que os líderes que ele instituiu lá viessem a Mileto ao seu encontro para a despedida. Ninguém lograva entender sua decisão. Em vez de tentar expor razões convincentes, Paulo limitou a dizer:
“E agora, compelido pelo Espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que lá me há de acontecer. Somente sei o que o Espírito Santo de cidade em cidade me revela, dizendo que me esperam prisões e tribulações. Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (Atos 20:22-24).
Quem se atreveria a questionar uma decisão chancelada e provocada pelo Espírito Santo? Só lhes restou chorar e despedir-se do apóstolo com a triste notícia de que aquela era última vez que viam sua face.
A cidade de Tiro foi uma das escalas feitas por Paulo e sua comitiva em direção a Jerusalém. Lá Paulo teria uma surpresa que tentou evitar em Éfeso. Veja o relato de Lucas:
“Achando os discípulos, ficamos ali sete dias. E eles pelo Espírito diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém. Havendo passado ali aqueles dias, saímos e seguimos nosso caminho. Acompanharam-nos todos os discípulos, com suas mulheres e filhos até for a da cidade, e na praia, ajoelhamo-nos e oramos” (Atos 21:4-5).
Espera aí! Que história é essa? Não foi o Espírito quem compeliu Paulo a empreender aquela viagem? Então, como os discípulos de Mileto poderiam dizer pelo mesmo Espírito que Paulo não subisse a Jerusalém? Teria o Espírito Santo mudado de idéia? Absolutamente, não. Tanto que Paulo sequer reconsiderou sua decisão. Mesmo com a chegada de Ágabo, conceituado profeta da Judéia, que profetizou de maneira dramática que Paulo seria preso em Jerusalém (At.21:11). Seus companheiros fizeram de tudo para dissuadi-lo. Lucas relata:
“Ouvindo nós isto (a profecia de Ágabo), rogamos-lhe, tanto nós como os que eram daquele lugar, que não subisse a Jerusalém” (v.12, grifo meu).
A profecia de Ágabo não continha novidade alguma para Paulo. O próprio Espírito Santo já o havia revelado que o que o esperava em Jerusalém eram “prisões e tribulações”. Sabe o que ele respondeu aos irmãos de Mileto e a seus companheiros de viagem?
“Mas Paulo respondeu: Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração? Eu estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (v.13). Lucas, então, complementa: “Como não podíamos persuadi-lo, dissemos: Faça-se a vontade do Senhor” (v.14).
Quem é compelido pelo Espírito não se deixa dissuadir por ninguém!
O que ninguém pode duvidar é que a tentativa daqueles irmãos em dissuadi-lo fosse motivada por amor. É aqui que as coisas começam a se encaixar.
Como conciliar o texto que diz que Paulo estava compelido pelo Espírito, com o texto que diz que aqueles irmãos tentavam dissuadi-lo pelo mesmo Espírito?
Teremos que distinguir entre a compulsão gerada pelo Espírito e a compaixão gerada pelo mesmo Espírito em nossos corações. Uma vez que aqueles irmãos estavam tomados de compaixão por Paulo, querendo assim impedir que ele sofresse em Jerusalém, podemos creditar tal sentimento ao Espírito Santo. Não que o Espírito estivesse direcionando aquela compaixão de maneira particular. Eles que estavam focando o sentimento gerado pelo Espírito para aquela situação, provocando assim uma colisão entre a compulsão do Espírito que conduzia Paulo e a compaixão do Espírito neles gerada.
Paulo não os repreendeu, pois percebeu que seus sentimentos eram nobres, diferentes daqueles que habitaram Pedro quando este tentou dissuadir a Jesus de entregar-Se às autoridades para ser crucificado. Nesse caso em particular, Jesus repreendeu-o, dizendo: “Pra trás de mim, Satanás!”
Escrevendo aos Filipenses, Paulo diz:
“Portanto, se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensando a mesma coisa.” (Fp.2:1-2).
Estes “entranháveis afetos e compaixões” precisam ser bem direcionados, para que não haja confusão. Não basta ser tomado por tais sentimentos despertados pelo Espírito, se não nos dispusermos a ter “o mesmo modo de pensar”, submetendo-nos à direção do Espírito. Poderíamos dizer que somos motivados por amor, mas dirigidos por fé (certeza gerada pelo Espírito).
Todos os que fomos regenerados n’Ele, fomos batizados em Seu amor. Se pudermos poupar nossos amados de algum sofrimento, o faremos sem o menor constrangimento. Porém, não podemos alterar o curso determinado por Deus. Não podemos nadar contra a correnteza do Espírito.
Veja o que Paulo diz aos Romanos acerca disso:
“Ora, a esperança não traz confusão, porque o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Romanos 5:5).
A esperança é o que nos vislumbrar o futuro que se insinua no horizonte. Ela é como aquela luneta usada pelo navegador quando diz "terra à vista!" O amor é o oceano do Espírito no qual navegamos. Mas é a fé a vela que se deixa inflar pelos ventos do Espírito. Navegar no oceano do amor sem içar as velas da fé é correr o risco de ficar à deriva. Não é em vão que Paulo diz que a fé opera pelo amor.
Portanto, que este amor que está profusamente derramado em nossos corações seja uma força impulsionadora (motivadora), que nos instigue a estimular os irmãos às boas obras, mesmo que isso não lhes poupe de algum sofrimento.
Nada conseguia frear o apóstolo dos gentios. Ele era compelido pelo Espírito, e impelido pelo amor. Não o amor próprio, mas o amor à causa que antes ele combatera, e que agora estava disposto a defendê-la ao preço da própria vida.
“A minha ardente expectativa e esperança é de em nada ser confundido, mas ter muita coragem para que agora e sempre, Cristo seja engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte.” (Fp.1:20).
A prova de que Paulo estava certo em sua resolução de ir a Jerusalém pode ser encontrada em Atos 23:11, onde o próprio Jesus aparece para ele, e lhe diz:
“Na noite seguinte, apresentando-se-lhe o Senhor, disse: Paulo, tem bom ânimo! Como de mim testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma.”
Estas palavras lhe abriram uma perspectiva inimaginável. Até aquele momento, Jerusalém parecia ser o seu ponto final. Porém agora, ele sabia que era apenas mais uma escala de sua jornada que culminaria em Roma, onde daria testemunho da graça de Deus perante o homem mais poderoso da terra, César.
Que sejamos guiados por este GPES, e jamais permitamos que coisa alguma nos afaste dos desígnios de Deus.
* Postado originalmente em 06/01/2010
Olá Hermes. Já entendi sua 'confusão'.. rsrs
ResponderExcluirMas qria saber se o Reverendo já está seguindo o nosso blog, espero que sim.
Abraços e muito bom o seu texto!
Deus vos abençõe!
Muito legal! Compartilho com vc dessa capacidade de me perder. E o pior: Não gosto de pedir informação.rsrsrsrs. Minha esposa quase me trucida...
ResponderExcluirPois bem, se o profeta Jonas tivesse um GPES por certo economizaria ao peixe do seu desconforto digestório.
Um abraço!
Quem, como Paulo, é convocado a deixar-se guiar pelo Espírito Santo, deve renunciar ao MEDO que é uma instituição diabólica e lançar-se ante a Plenitude Divina Trinitária. Esta tem poder para anular as incursões malignas e sublimar a liberdade sobre os grilhões que oprimem o espírito humano.
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ResponderExcluirmuito boa a comparação do gps isto nos ensina a deixar o espirito a nos guiar em tudo que fizermos e em todas as decisões que tomarmos.
foi escelente a menssagem. obrigado bispo hermes