sábado, agosto 29, 2009

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Aprendendo com as Estações 2 - O Inverno

O Inverno é a estação menos colorida, quando o azul do céu dá lugar ao cinza, o canto dos pássaros é substituído pelo ruído do vento gélido que sopra por entre os galhos nus das árvores, cujas folhagens caíram no Outono.

Inverno é tempo de frio, muito frio. Tempo que aproxima as pessoas, para que se aqueçam mutuamente. Tempo de aprendermos a depender mais uns dos outros. Afinal de contas, “um só como se aquentará?” (Ecl.4:11).

Durante essa estação, as pessoas são mais propensas a andar abraçadas, dormir juntinhas; tudo para se proteger do frio.

O frio também pede que nos agasalhemos. E dependendo de sua intensidade, quanto mais roupa, melhor.

Ninguém, por mais durão que seja, está disposto a enfrentar as baixas temperaturas de peito aberto, e corpo exposto.

O frio dissipa as energias vitais, e nos torna mais vulneráveis ao ataque de vírus, razão pela qual tanta gente fica resfriada durante essa estação.

Para manter a energia em nosso corpo, precisamos nos proteger do frio. E uma das maneiras de fazê-lo é nos agasalhando. E não basta um simples casaco. Às vezes precisamos de toca, luvas, roupas íntimas de material mais denso, e etc.

O apóstolo Paulo recomenda que, como eleitos de Deus, santos e amados, nos revistamos de “compaixão, de benignidade, de humildade, de mansidão, de longanimidade”. E que, além disso, devemos suportar uns aos outros, perdoando-nos mutuamente. E sobre tudo, devemos nos revestir de amor (Col.3:12-14).

Sem todo esse “cobertor”, torna-se impossível mantermos uma vida de comunhão com nossos semelhantes, de maneira que nos aqueçamos mutuamente durante os dias de inverno espiritual. Esta cobertura que Paulo nos propõe em Colossenses encontra paralelo com a Armadura de Deus, da qual devemos nos revestir para resistirmos no dia mal (Ef.6). Precisamos estar protegidos de cima a baixo. Nenhuma parte de nossa vida pode ficar exposta ao frio. E depois de todas as providências (meias grossas, tocas, luvas, camisetas por baixo da camisa, etc), devemos tomar nosso sobretudo: o amor.

Durante a estação do Inverno, várias espécies de animais, principalmente de pássaros, migram para regiões mais quentes.

Eles não possuem bússola, nem mapas, mas sabem exatamente que caminho tomar, tanto na ida, quanto na volta.

Tal fenômeno nos remete ao fato de que, como cidadãos do Reino, somos peregrinos na Terra. Estamos em constante Êxodo. Somos verdadeiramente hebreus (caminhantes, cruzadores de fronteiras).

Não é debalde que somos chamados de filhos de Abraão, o primeiro Hebreu. A Escritura afirma que ele, “pela fé peregrinou na terra da promessa, como em terra alheia” (Hb.11:9). Observe: embora a terra fosse dele por herança, ele não se apegava a ela. Era dele, mas como se fosse alheia. Tal deve ser nossa relação com tudo desse mundo. Paulo diz que tudo é nosso (1 Co.3:21-23), porém, recomenda na mesma epístola, que os que têm, devem agir como se nada possuíssem (7:30).


Não há qualquer problema em desfrutarmos das coisas deste mundo. O problema é quando estabelecemos uma relação de posse com elas. Toda relação de posse é recíproca. Isto é, aquilo que dizemos possuir, na verdade nos possui. Por isso, temos que estar livres, leves e soltos, como os pássaros que migram durante o Inverno, sem levar nada em suas patas. Ou alguém já viu um pássaro voando com bagagem?

A migração em massa de animais (principalmente pássaros) durante essa estação também pode representar nosso retorno à Fonte Primeva, Deus. É tempo de nos arrependermos, e alçarmos vôo na direção do sol, do Sol da Justiça.

Outros animais, como ursos, hibernam nesse período, reduzindo grandemente sua atividade metabólica. Hibernar é entregar-se a um sono profundo, enquanto o corpo se alimenta das reservas de energia contidas na gordura acumulada.

Hibernar pode representar nosso descanso em Deus, quando nos colocamos inteiramente à mercê de Sua vontade, sem nos preocupar com mais nada.

Geralmente, esses animais procuram tocas ou cavernas, onde possam manter-se aquecidos.
Além de estarmos revestidos de amor, buscando proximidade com nossos semelhantes, de que outra maneira poderemos nos proteger da frieza espiritual deste mundo?

Paulo afirma que há um esconderijo disponível para todos nós. Que não apenas nos provê calor, mas também nos provê lugar de descanso: “Pois morrestes, e a vossa vida está oculta com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória” (Col.3:3-4).

Cristo é o Esconderijo do Altíssimo, do qual fala Davi em seu famoso Salmo 91. É o único lugar seguro em todo o Universo. Somente n’ Ele encontramos descanso para a nossa alma, independente da estação em que estivermos.

N’Ele, tornamo-nos inacessíveis. Nenhum dardo maligno pode nos atingir. À semelhança do urso enquanto hiberna, podemos descansar sem receio de sermos pegos por seus predadores.

Se o Outono é tempo de queda, o Inverno representa o tempo de morte e sepultamento. As folhas caídas já se decompõem, e preparam o solo para receber e agasalhar as sementes que nele serão depositadas.

Só pode experimentar o poder da ressurreição, quem houver passado pela cruz. Assim como o Inverno é o curso necessário para que se alcance a Primavera, e posteriormente, o Verão.

Em 2 Coríntios 4:10-11 lemos: “Levando sempre por toda a parte o morrer do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos; e assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal.”

A vida de Cristo está oculta em nós, assim como nós estamos ocultos n’Ele. Para que esta vida se manifeste (o equivalente ao desabrochar das flores na Primavera), é imprescindível que levemos sempre, por toda a parte, o morrer de Cristo. Trata-se do equivalente ao que Jesus disse: temos que tomar nossa Cruz dia após dia, e segui-lo. Não há alternativa. Sem que nosso ego seja crucificado diariamente, jamais manifestaremos a vida de Cristo em nosso corpo mortal.

O mais bem-sucedido dos apóstolos declarou com veemência: “Estou crucificado com Cristo, e já não vivo, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl.2:20). Portanto, qualquer de suas realizações deveria ser creditada a Cristo, e não ao seu desempenho pessoal.

A vida em Cristo não é uma vida de tentativas, mas de desistência. Enquanto não desistirmos de alcançar um nível de retidão por conta própria, estaremos fadados ao fracasso e à frustração. Somente quando nos rendemos, depomos nossas armas carnais, e nos consideramos mortos com Cristo, é que Cristo passa a viver através de nós a vida que jamais poderíamos viver por nós mesmos.

Não se trata de tentar perdoar a quem nos ofende, mas de deixar que Cristo flua Seu perdão através de nós.

O Inverno também é a estação do armazenamento. Todos conhecem a fábula da cigarra e da formiga. Enquanto uma se divertia, cantarolando e tocando sua guitarra, a outra tratava de armazenar comida para o Inverno.

Todos estão preocupados em aproveitar o máximo que a vida tem pra dar. A maioria age como a cigarra da estória infantil. Porém, se quisermos desfrutar de vida eterna, temos que aprender a abrir mão da vida hoje. Deixar de viver para nós mesmos, para viver para Deus e para o nosso semelhante.

Isso também é morrer.

Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo que se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só. Mas se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, mas quem odeia a sua vida neste mundo, guardá-la-á para a vida eterna” (Jo.12:24-25).

Gastar nossa vida hoje em função de um bem maior, é o mesmo que armazená-la para a vida eterna. Mas tentar poupá-la hoje, vivendo-a em função de nosso aprazimento, é o mesmo que desperdiçá-la por completo.

Negar-se a morrer para o seu "eu", é o mesmo que preferir uma vida de ostracismo e esterilidade espiritual. O preço de manter intacto o nosso ego é a solidão. E nada pior que solidão para se enfrentar as noites longas e frias do Inverno.

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