Primeiro, quero deixar claro que não pretendo ser advogado de Deus. Ele não precisa de defesa humana.
Antes disso, pretendo apenas estimular a reflexão em um momento de tanta dor como este, em que centenas de famílias choram a perda de alguém em um trágico acidente aéreo.
Sempre que acontece alguma tragédia, esta questão volta a ser debatida nos mais diversos ambientes, seja na sala de aula de uma universidade, numa igreja, ou em um bar na esquina.
De um lado, há os que chegam ao extremo de negar a soberania divina, por acreditar que um Deus que fosse ao mesmo tempo Todo-Poderoso e Todo-Amoroso, jamais consentiria com uma tragédia como essa.
Do outro lado, há os que se arrogam advogados de Deus, afirmando que se Deus permitiu tal coisa, é porque não havia um único justo naquela aeronave.
Ambos os extremos são danosos à saúde espiritual.
Afinal de contas, onde Deus estava?
Será que foi um descuido da providência?
Ou sera que Deus não se importa com a dor humana?
Deus estava onde sempre esteve.
Ele não é uma espécie de voyeur celestial, que só faz assistir enquanto a trama humana se desenrola. O deus dos deístas é apenas uma caricatura muito mal acabada do Deus revelado nas Escrituras cristãs.
Parafraseando o slogan de um antigo comercial de TV, não basta ser Deus, tem que participar. E Ele, definitivamente, participa da história, tanto em seus momentos de glória, quanto naqueles nos quais O acusamos de passividade.
Basta que haja uma tragédia dessa proporção, que logo nos esquecemos de tantos momentos maravilhosos que Sua inefável graça nos tem concedido.
Enquanto aquele avião caía, sem que ninguém soubesse, senão os que nele estavam, milhares de crianças estavam nascendo em todo mundo.
Onde estava Deus? Nos corredores das maternidades, congratulando-se com os pais, enquanto nasciam seus rebentos.
Onde estava Deus? Nos quartos onde casais apaixonados se amavam ardentemente.
Onde estava Deus? Nos lugares onde havia razões para que Suas criaturas queridas pudessem celebrar.
Mas não apenas aí. Ele também estava sob as marquises, confortando os desabrigados. Estava também na companhia daqueles que velavam o corpo de um ente querido que se foi. Ao lado da mãe que abortara acidentalmente o bebê que tanto aguardava. Atrás das grades, apaziguando a consciência de quem fora preso injustamente, e trazendo arrendimento a quem cometera um crime.
E finalmente, Ele também estava lá, dentro daquele avião, participando da dor e do desespero daquela gente.
Ora, se Ele Se importa tanto, por que não impediu?
Não sei. Mas sem querer parecer piegas, creio firmemente que para tudo há um propósito.
De uma forma ou de outra, somos todos filhos da tragédia.
Não fosse os horrores da primeira guerra mundial, meus bisavós não teriam se mudado para o Brasil, meus pais jamais teriam se conhecido, e eu não estaria aqui digitando esta reflexão.
Ele é o arquiteto das contingências. E por mais difícil que seja compreender tal coisa, devemos, no mínimo, manter a reverência, em vez de murmurar e blasfemar contra a Sua santidade. Reflitamos sobre as sábias palavras encontradas no Salmo 139: "Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim, elevado demais para que possa atingir. Para onde me irei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer nas profundezas a minha cama, tu ali também estás. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, ainda ali a tua mão meguiará e a tua destra me susterá (...) Todos os dias que foram ordenados para mim, no teu livro foram escritos quando nenhum deles havia ainda. Quão preciosos me são, ó Deus, os teus pensamentos! Quão vasta é a soma deles!" (vv.6-10,16b-17).
Embora Deus seja perfeito, vivemos em um mundo imperfeito, afetado pelo pecado, pela ganância, pela corrupção. Portanto, antes de querer julgar a Deus, ou mesmo defendê-lO, olhemos para a Cruz, e encontremos nela a presença de um Deus que Se importa tanto com a dor humana, que fez questão de experimentá-la a fim de conosco Se solidarizar.
E fitemos nossos olhos no porvir, onde, graças ao Seu sacrifício vicário, já não haverá dor, nem lágrimas, nem morte. Enquanto não chega esse dia, sigamos a recomendação bíblica, chorando com os que choram, e oferecendo-lhes nossos ombros e nosso amor.
* Charge do Lute no jornal Hoje em Dia (via Pavablog)
quase dei nota 10, apenas a questão do propósito tenho minhas inquietações, embora como vc tb não sei...
ResponderExcluiranonimo não para não se expor e simplesmnete porque não consigo realizar com sucesso as outras opções,rs...
carlos neca