quarta-feira, maio 27, 2009

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Estranho amor de Deus

Fico constantemente confuso com a estranha forma como Deus escolhe seus amigos.

Deus faz algumas escolhas as quais considero muito engraçadas, ou seja, escolhas que eu não faria necessariamente. Veja, sempre pensei que Deus tinha uma casa enorme na qual as pessoas que o obedeciam poderiam morar, louvar e ter comunhão. Do lado de fora ficariam as que não o obedeciam. Eu, é claro, entraria porque sempre fiz a vontade Dele, ou pelo menos tentava fazer. Achei que minha sinceridade fosse o passe para entrar. Mas eu estava errado.

Deus disse a Moisés em Êxodo 33:19: “Diante de você farei passar toda a minha bondade, e diante de você proclamarei o meu nome: O Senhor. Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão.” Em outras palavras, Deus escolherá seus amigos e ponto final.

Isso sempre me incomodou. Sou provavelmente tão religioso quanto alguém que você já conheceu. Talvez até mais. Dou aula de religião em um curso de pós-graduação. Fico em pé diante de milhares de pessoas e falo sobre assuntos religiosos. Escrevo livros religiosos, faço seminários e programas de rádio religiosos.
Sou muito religioso.

O que me incomoda é que Deus escolhe amar pessoas que não são religiosas, ou que não são tão religiosas quanto eu. Tenho aprendido que Deus faz, de acordo com o meu julgamento, escolhas estranhas. Ele ama pessoas as quais detesto e tem misericórdia de pessoas das quais eu jamais teria. Ele move seu Espírito para além de instituições religiosas e faz amizade com pessoas de quem eu nunca seria amigo.

Whoopi Goldberg, que diz não acreditar em Deus, não é uma de minhas pessoas preferidas. Mas você assistiu ao filme Mudança de hábito? É sobre uma mulher, cantora de boate, que está fugindo de ladrões que querem matá-la. O que faz desta fuga algo único é o fato de que ela se esconde em um convento católico romano. A cantora então se veste como freira, torna-se a regente do coral e ensina as demais freiras a cantar músicas mais animadas e divertidas do que as que geralmente cantavam no convento.

O que me chama a atenção nesta história é que no início do filme a igreja do convento é velha e cheia de pessoas idosas e muito religiosas. Uma vez que a cantora/freira começa a dirigir o coral, no entanto, pessoas marginalizadas (prostitutas, viciados e outras personagens estranhas) começam a entrar na igreja, lotando-a.

Quando vi esta cena pela primeira vez, comecei a chorar (Quase nunca choro. Sou homem, entende?). Minha esposa estava comigo e seu olhar me dizia claramente: “Pare com isso! Isto é uma comédia. Você não percebe que todos no cinema estão rindo e você está chorando? Vou sentar em outro lugar e fingir que não lhe conheço.”

No entanto, eu não conseguia parar de chorar. Quando o filme acabou, questionei a Deus a respeito da minha reação peculiar e senti que a resposta dele dizia que era a ação de Deus. Ele estava falando comigo naquela cena.

Reclamei dizendo: “Mas Senhor, Whoopi Goldberg? Por que o Senhor não falou comigo através do Billy Graham ou do papa?” Não tive resposta.

Constantemente sonho que estou em casa, enfim, no céu, sentado à mesa do Senhor para a ceia de casamento do Cordeiro. Todo tipo de pessoa está presente. O clero está lá, alguns líderes da igreja e até um ou dois pastores televangelistas. Mas quando olho a minha volta, vejo aqueles que cometeram adultério no passado, vejo mentirosos e ladrões. Existem garotos e garotas de programa, cobradores de impostos e bêbados. Também vejo alguns que já foram homossexuais, viciados em sexo e ex-glutões. E, francamente, fico chocado.

Então, no meu sonho, ouço uma voz vinda do trono e palavras direcionadas a mim. É a voz Deus, que me pergunta: “O que você pensa que está fazendo aqui?”. Acho que ele está brincando comigo, mas não tenho certeza. Geralmente acordo antes de descobrir.

Costumava pensar que o amor de Deus poderia ser logicamente explicado e mensurado. Agora compreendo que o amor de Deus é muito mais profundo do que podemos tentar conceber.

Houve um tempo em que eu tinha certeza de que podia explicar e defender Deus. Descobri, no entanto, que ele está além da explicação e que não precisa de defensores. Ele estava muito bem antes de eu chegar, e ficará muito bem depois que eu for embora. Mas, por alguma razão, este grande, assustador e confuso Deus que escolhe amigos estranhos escolheu me amar. Vejo seu amor em tudo, sem exceção. A questão não é: “Onde está o amor de Deus?”, mas sim “Onde não está o amor de Deus?”.

Steve Brown é professor do Seminário Teológico Reformado em Orlando – Flórida, Estados Unidos, e pode ser ouvido em seu programa de rádio na Key Life (www.keylife.org).

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