segunda-feira, abril 20, 2009

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Além do óbvio e do conveniente

A contagem regressiva já havia começado. Em algumas horas, Jesus seria entregue aos Seus algozes. Ainda assim, Ele desejou celebrar a última festa com Seus discípulos. Não era uma festa comum. Tratava-se da mais importante celebração do povo judeu: a Páscoa.

Já havia o propósito, só faltavam os preparativos. Jesus, então, envia Pedro e João com a missão de preparar-Lhe a Páscoa.

Imbuídos da missão, eles perguntam: "Onde queres que a preparemos?" (Lc.22:9).

Não basta o propósito certo, no momento certo. Importa saber o lugar certo. É Deus quem determina o lugar que servirá de cenário para a execução de Seu propósito.

Jesus poderia simplesmente dar-lhes um endereço. Seria mais conveniente. Mas Ele não costuma ser tão óbvio. Ele prefere nos dar pistas, para que encontremos por nós mesmos o lugar escolhido.

Veja a resposta que Jesus lhes dá:

"Quando entrardes na cidade, encontrareis um homem levando um cântaro de água. Segui-o até a casa em que ele entrar" (v.10).

Não tinha um sinal melhor do que um homem carregando um balde d'água? Que tal uma estrela no céu, como a que guiou os magos?

O problema é que somos viciados em coisas extraordinárias. Queremos o espetáculo, só pra ter o que contar mais tarde. Mas nem sempre os sinais enviados por Deus são espetaculares. É preferível um sinal ordinário que nos leve direto ao ponto, do que sinal extraordinário como a estrela de Belém, que antes de nos levar ao recém-nascido, faça uma breve escala no palácio de Herodes.

Provavelmente, aquele homem era um servo, um escravo, que havia saído em busca de água para o seu senhor.

Não parecia razoável ter que seguir alguém como ele. O que ele tinha para oferecer?

O Senhor das circunstâncias é aquele que promove conexões misteriosas. Ele é o arquiteto das contingências, que promove encontros inusitados.

Se quisermos encontrar o lugar certo, peçamos a Deus que faça com que as pessoas certas cruzem nossos caminhos. Não é o que elas possam oferecer que importa, e sim aonde elas podem nos levar.

Aparentemente, aquele escravo não tinha nada a oferecer para contribuir no preparo da festa para Jesus. Mas ele era a pessoa certa, que conduziria os discípulos ao lugar determinado.

Temos que cuidar para que não nos deixemos extraviar, seguindo às pessoas erradas. Nem podemos sair em busca de pessoas por aquilo que elas tenham a oferecer. Essas devem ser amadas pelo que são, e não pelo que possuem.

Muitos acham que podem pegar carona na fama de celebridades que se convertem, achando que isso poderia trazer algum benefício ao Evangelho. A causa do Reino jamais precisou disso. Geralmente, são pessoas anônimas e humildes que são usadas por Deus, para nos conduzir aos lugares certos.

Seguindo-o, os discípulos entraram na casa onde trabalhava. Jesus os orientou: "Dizei ao dono da casa: O Mestre manda perguntar-te: Onde está o aposento em que comerei a páscoa com os meus discípulos? Então ele vos mostrará um grande cenáculo mobiliado. Fazei aí os preparativos" (vv.11-12).

Somente famílias muito ricas e importantes da sociedade tinham um grande cômodo destinado às refeições. O cenáculo não era uma sala qualquer. Era como um salão de festa, todo mobiliado com uma grande mesa e muitas cadeiras. Sempre que havia uma festa, familiares vinham de várias partes para celebrar.

Talvez, quando Pedro e João viram o lugar, se espantaram com seu tamanho, e com o número exagerado de cadeiras. Afinal, aquela ceia seria para apenas treze pessoas, contando os discípulos e Jesus. Pra quê tanto espaço? E aquelas cadeiras que ficariam vazias?

Para aqueles discípulos responsáveis pelos preparativos da Páscoa, aquele lugar lhes serviria apenas como cenário para aquela festa. Mas Jesus tinha outros planos...

Cristo via para além do horizonte imediato. Aquele cenáculo Lhe seria útil mais de uma vez.

Em Atos, somos informados que tão logo Jesus ascendera ao céu, os discípulos "subiram ao cenáculo, onde permaneciam" (Atos 1:13). Ficamos sabendo que além dos apóstolos, também estavam lá as mulheres, Maria, mãe de Jesus, e seus irmãos. Ao todo, totalizavam quase 120 pessoas! (vv.14-15).

Enquanto Pedro e João preparavam a ceia de Páscoa, eles pensavam apenas nos doze (contando com Jesus, treze). Mas Jesus já pensava nos quase 120 que ali permaneceriam à espera da Promessa do Espírito Santo.

"Cumprindo-se o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados" (2:1-2).

Repare que Jesus havia dito que o cenáculo que eles encontrariam estaria todo mobiliado. Agora, somos informados que todos os quase 120 discípulos reunidos estavam devidamente aconchegados, sentados, quando o Espírito finalmente foi derramado.

Pedro e João se preocupavam com a Páscoa. Jesus já preparava o cenário para outra festa: Pentecoste.

Deus sempre foca o futuro. Ele nunca exagera na pitada. Sua provisão abarca necessidades que ainda surgirão.

E no cenário/cenáculo provido por Deus, há lugar para todos. Ninguém precisa tomar o lugar do outro. Ele garantiu que nos prepararia lugar, e de fato, preparou.

Para encontrarmos nosso lugar, sigamos a pista certa. Lembrando que nem sempre é óbvio, ou mesmo conveniente. Deixemos que Ele escolha os canais, aqueles que carregam cântaros de água, que nos levarão ao lugar certo.

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