quinta-feira, agosto 20, 2015

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A melhor e pior de todas as notícias



Por Hermes C. Fernandes

Fico imaginando o quanto deve ser difícil para um âncora de telejornal transmitir uma notícia triste. Recentemente, estava assistindo a um telejornal matutino, quando a âncora (uma das mais prestigiadas do Brasil) teve que dar uma notícia triste, seguida de uma alegre. Além de jornalista, ela teve que ser uma ótima atriz. Seu semblante e tonalidade de voz mudaram drasticamente, para que as notícias fossem transmitidas com credibilidade.

Somos portadores da mais importante notícia de todos os tempos: as boas-novas do Reino de Deus. Anunciamos ao Mundo que o Filho de Deus entregou Sua vida por nossos pecados, ressuscitou e está, agora mesmo, reinando soberanamente sobre toda a Criação. Não se trata de uma notícia simples de ser dada, porque envolve aspectos positivos e negativos. A Cruz de Cristo revela, ao mesmo tempo, nossa malignidade e a bondade de Deus.

Olhando para a Cruz, vemos o que a sociedade humana é capaz de fazer a alguém que só falava de amor, o mais perfeito ser que passou por este mundo. Tal notícia deveria corar nossa face de vergonha. A Cruz denuncia nosso grau de perversividade.

Mas ela também nos revela o mais elevado amor. Deus não desistiu de nós! Vejam do que Ele foi capaz para demonstrar o quanto nos ama e Se importa com nossas dores e sofrimento.

Pela Cruz, nossa dívida foi paga. Nossa comunhão com Deus foi reatada. Tem notícia melhor do que esta? Quem estaria apto a transmitir uma notícia tão poderosa e subversiva quanto esta?

Davi havia eleito Aimaás, filho do sacerdote Zadoque, para ser quem lhe traria notícias do campo de batalha (2 Sm.15:36). Quando Absalão, o filho usurpador de Davi, morreu pelas mãos de Joabe enquanto estava preso pelos cabelos em uma árvore, Aimaás se ofereceu para levar a notícia ao Rei. Porém, não era uma notícia comum. Era, ao mesmo tempo, uma boa e uma má notícia. Boa, porque o inimigo do rei morrera. Ruim, porque o tal inimigo do rei era ninguém menos que seu próprio filho.

Como transmitir esta notícia? Pelo que o texto indica, Aimaás não estava muito preocupado com isso. Pra ele, bastava dizer: “O Senhor te livrou do poder dos teus inimigos”.

Mas Joabe sabia que não era tão simples assim. Percebendo a inaptidão de Aimaás, Joabe sentenciou: “Tu não serás hoje o portador das novas. Outro dia as levarás, mas hoje não darás a nova, porque é morto o filho do rei” (2 Sm.18:20).

Somos comissionados por Deus a anunciar a Morte do Filho de Deus até que Ele venha (1 Co. 11:26). A morte de Cristo é o cerne do Evangelho. Paulo tinha consciência da seriedade disso: “Pois nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor” (1 Co.2:2-3).

Anunciar a morte do Filho do Rei deve ser encarado com a devida seriedade.

Em vez de Aimaás, Joabe preferiu comissionar um etíope anônimo. Deve ter sido uma ofensa para alguém tão importante como Aimaás, filho do sacerdote, ser preterido por um etíope.
“Disse Joabe a um etíope: Vai tu, e dize ao rei o que viste. O etíope se inclinou diante de Joabe, e saiu correndo.” 2 Samuel 18:21
Deus tem seus critérios de escolha. Ele não está preso às convenções sociais. De acordo com Paulo, “Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que ninguém se glorie perante ele” (1 Co.1:27-29).

Quando o etíope se viu comissionado, a primeira coisa que fez foi se inclinar, humilhando-se diante daquele que lhe confiou tão nobre missão. Em seguida, saiu em disparada.

Aimaás não aceitou ser preterido. Como um humilde e insignificante etíope poderia substituí-lo? E todos os anos gastos no tabernáculo? E a educação primorosa que recebera? A seu ver, tudo quanto vivera até aquele instante, preparou-o para ser portador daquela mensagem. Ele não podia deixar barato.
“Insistiu Aimaás, filho de Zadoque: Seja o que for, deixa-me também correr após o etíope. Mas Joabe respondeu: Por que correrias tu, meu filho? Não receberás nenhuma recompensa pelas notícias?” (v. 22).
A questão agora não era se seria ou não recompensado. O que o incomodava era ter sido substituído por alguém que ele considerava desqualificado. Portanto, era uma questão de honra. Olhando firmemente para Joabe, respondeu: “Seja o que for, disse Aimaás, correrei. Disse-lhe Joabe: Corre. Aimaás correu pelo caminho da planície, e passou adiante do etíope” (v. 23).

- Ok, Aimaás. Você venceu! Se quer ir, vá!

- Deixa comigo! Você não vai se arrepender! Ninguém melhor do que eu para cumprir esta missão.

Por causa de sua insistência, Joabe fez uma concessão.

Comissão x Concessão

Enquanto o etíope tinha uma comissão, Aimaás recebera uma concessão. Ser comissionado é receber uma missão, um propósito. Já a concessão é uma permissão.

Cabe aqui uma reflexão acerca das atividades com as quais estamos envolvidos em nosso dia-a-dia. Estaríamos nelas por comissão ou por concessão? Se fomos comissionados, nossa trabalho nos proporcionará prazer. Mas se entramos em algo apenas por uma concessão divina, sem termos sido vocacionados para aquilo, aos poucos o prazer se transformará em enfado.

Nossa existência precisa servir a um propósito, que nos servirá de motivação até o cumprimento de nossa missão.

Até hoje, os etíopes são famosos por sua habilidade atlética. Muitos dos campeões olímpicos de atletismo são etíopes. Imagino que para alcançar e ultrapassar aquele atleta africano, Aimaás deve ter se esforçado ao máximo. Ele tinha que provar pra todo mundo, inclusive para si mesmo, que era capaz de dar conta daquela missão.

Para ele, tudo não passava de uma competição. Era isso que o estimulava a correr.

Ele sequer teve tempo de pensar em como daria aquela notícia ao Rei Davi.
“Davi estava assentado entre as duas portas, e a sentinela subiu ao terraço da porta junto ao muro e, levantando os olhos, viu um homem que corria só. Gritou a sentinela, e o disse ao rei. O rei respondeu: Se vem só, deve trazer boas notícias. E o mensageiro aproximava-se cada vez mais. Então a sentinela viu outro homem que corria, e gritou ao porteiro, e disse: Olha, lá vem outro homem correndo só. Disse o rei: Também esse traz boas notícias” (vv.24-26).
Davi estava apreensivo. Que notícia o rei esperava receber?

Só havia duas hipóteses:

• Seu filho vive! Portanto, seu reino ainda está ameaçado.

• Seu reino já não sofre qualquer ameaça. Seus inimigos foram liquidados! Portanto, seu filho está morto.
“Disse a sentinela: Vejo o correr do primeiro, que parece ser o correr de Aimaás, filho de Zadoque. Disse o rei: Este é homem de bem, e virá com boas novas” (v.27).
Pelo jeito, Aimaás tinha uma maneira característica de correr que o distinguia dos demais. De longe foi reconhecido pela sentinela. O rei respirou fundo e disse: Se é Aimaás, a notícia deve ser boa. Ele não viria me trazer más notícias. Ele é um garoto educado entre os sacerdotes. Joabe não o enviaria com notícias ruins. Ademais, quem se atreveria a correr sozinho para dar uma notícia ruim? Qualquer mensageiro sabia que seu pescoço estava em jogo. Se o rei não gostasse do que ouvisse, poderia ordenar a sua execução ali mesmo.

Convém recordar que Jesus orientou aos Seus discípulos a irem de dois em dois. Correr sozinho não é recomendável.

Quando se viu diante do rei, Aimaás o saudou gritando: “Paz. Inclinou-se ao rei com o rosto em terra, e disse: Bendito seja o Senhor teu Deus, que entregou os homens que levantaram a mão conta o rei meu senhor” (v.28).

Repare que ele foi bem evasivo. Não quis entrar em detalhes. Talvez tenha pensado: - Deixarei o rei tirar suas próprias conclusões. Mas o rei não se deu por satisfeito com uma notícia tão genérica.
“Perguntou o rei: Vai bem o jovem Absalão? Respondeu Aimaás: Vi um grande alvoroço, quando Joabe mandou o servo do rei, e a mim, teu servo, porém não sei o que era” (v.29).
Covarde! Cadê o valente que se sentiu desonrado por ter sido preterido por um etíope? Por que não diz o que foi enviado a dizer? Por que esconde o jogo?

O que Aimaás queria era apenas fazer uma média com o rei.

Há muitos Aimaás em nossos dias. Gente preocupada em resguardar sua posição, em ser vista, elogiada, mas que não cumpre cabalmente a sua missão. Já nos tempos de Paulo verificamos o mesmo fenômeno. O apóstolo denuncia aqueles que “pregam a Cristo por inveja e porfia”, que “anunciam a Cristo por contenda, não sinceramente” (Fp.1:15,17).

Aimaás estava tão preocupado com sua performance como atleta, em chegar primeiro que o etíope, que não se preocupou em dar a notícia com precisão. É melhor chegar em segundo, mas cumprir a missão, do que chegar em primeiro e deixar a desejar.

O texto diz que Davi ordenou que Aimaás se colocasse ao seu lado, enquanto esperava a chegada do outro mensageiro. A mesma coisa se sucede à igreja, quando perde a credibilidade e sua mensagem deixa de ser pertinente. Ela é posta de lado do processo histórico. Deixa de ser protagonista para ser expectadora.

Enquanto Aimaás se colocava ao lado de Davi achando que cumprira sua missão, “chegou o etíope, e disse: Ouve, senhor meu rei, a boa notícia. Hoje o Senhor te livrou do poder de todos os que se levantaram contra ti. Perguntou o rei ao etíope: Vai bem o jovem Absalão? Respondeu o etíope: Sejam como aquele jovem os inimigos do rei meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para te fazerem mal. Então o rei, profundamente comovido, subiu à sala que estava por cima da porta, e chorou: E andando, dizia: Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!” (vv.31-33).

A coragem que faltou em Aimaás, sobrou no etíope.

Ainda que perdesse a vida, pelo menos cumprira a sua missão. É com gente assim que a causa do reino necessita. "Homens que já expuseram as suas vidas pelo de nosso Senhor Jesus Cristo" (At.15:26); que amem mais sua missão do que sua própria existência (At.20:24).

A notícia que trazia ao rei era tanto boa, quanto ruim, pois anunciava, ao mesmo tempo, a derrota dos inimigos do rei, e a morte de seu filho. O etíope foi sábio ao partilhá-la. Soube usar as palavras de maneira tal, que o rei não lhe fez mal algum. Qual foi a reação de Davi? Ele se angustiou, e andando de um lado para o outro, sentiu-se culpado pelo triste destino que teve seu filho.

E qual tem sido a reação do Mundo à nossa mensagem? Tem havido arrependimento? As pessoas se sentem culpadas por haver morrido o Filho do Rei? Elas se sentem responsabilizadas pela Cruz? Sentem que foram seus pecados que expuseram o Filho de Deus ao vitupério? Ora, se não houver arrependimento, tristeza, vergonha, culpa, também não haverá conversão.

O objetivo de nossa mensagem não é fazer com que as pessoas se sintam bem consigo mesmas, mas despertá-las em sua consciência, para que se convertam a Deus. Como disse Paulo: "A tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação" (2 Co.7:10a).

Assim como Absalão, Cristo foi morto em uma árvore, levantado entre o céu e a terra, não por haver se rebelado como ele, mas por obediência ao Pai, a fim de que nossos pecados fossem devidamente tratados e perdoados. Quando olhamos para Cruz e vemos nossa maldade exposta, nos arrependemos. E quando vemos a bondade de Deus, nos convertemos.

Publicado originalmente em 27/03/2009

Um comentário:

  1. Missionário Luiz10:24 AM

    Hermes, o irmão citou de 2 Co 7.10a, mas, diz muita coisa na continuação deste versículo: Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.
    Aqui, o apóstolo Paulo identifica dois tipos de tristeza.
    1- Há a tristeza autêntica, causada pelo pecado, que leva ao arrependimento.
    Consiste numa mudança de atitude, que nos leva a voltar-se contra o
    pecado, e para Deus.; esse tipo de arrependimento leva à salvação. Para Paulo, o arrependimento do pecado e a fé em Jesus Cristo são responsabilidades humanas quanto à salvação, ver Mt 3.2.
    2- Em contraste, os que não se arrependem de seus pecados, se entristecem, e caem em depressão na sua vida repetidamente devido às consequências do seu pecado; tal tristeza conduz á morte e à
    condenação eternas, ver Mt 13.42,50; 25.30; Rm 6.23.
    Mas, em 2 Coríntios 7.6a,7 diz que Deus consola os abatidos e arrependidos dos seus pecados.
    Faz parte da natureza de Deus consolar os deprimidos e abatidos,uma vez que Ele é o Deus das misericórdias e da consolação, ver 2 Co 1.3. Na realidade, quanto mais somos afligidos, tanto maior será o consolo
    e a presença de Jesus Cristo em nossa vida.
    Note, neste versículo 7.6a, que foi através de tito que Deus consolou Paulo.
    Devemos sempre ser sensíveis à orientação do Espírito Santo, quanto Ele nos dirigir para consolar e animar uma pessoa necessitada.
    Jesus Cristo está voltando, prepara-te para encontrar com seu Senhor!
    Diga não! Para o mundo e seu prazeres infernais, e santifiquem suas vidas na Palavra de Deus, ela é sua vida.
    Maranata Jesus Cristo de Nazaré.

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