quinta-feira, dezembro 11, 2008

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Retrospectiva 2008 e Perspectiva 2009

Praticamente todos os canais de TV promovem em sua programação de fim de ano uma retrospectiva dos principais fatos que marcaram o ano que se encerra.

Pena que a maioria dos fatos não é nada animadora. Tragédias, chacinas, cataclismos naturais, corrupção do poder público, são alguns exemplos de notícias que permeiam as retrospectivas jornalísticas do ano.

Haveria algum sentido subjacente nesse mosaico de notícias? Alguma mensagem subliminar que a divindade intenta nos enviar?

Como cristãos, nosso desafio é interpretar os fatos em busca daquilo que Deus deseja nos dizer. Afinal, nem uma folha cai da árvore, sem que haja a permissão de Deus.

É fácil identificar a presença de Deus nos episódios felizes que a vida proporciona. Quem não consegue enxergar Deus no nascimento de uma criança? E quanto aos episódios infelizes? Poderíamos identificá-lO também lá?

O sábio Salomão nos desafia a reconhecê-lO em todos os nossos caminhos (Pv.3:6).

Estamos sempre buscando um sentido, um significado para as coisas que nos acontecem. Não nos damos por satisfeitos em assistir à trama da vida sem entender o seu enredo.

E a busca por sentido nada mais é do que a busca por Deus.

Onde está Deus?

Onde Ele estava quando a menina Isabela Nardoni foi jogada pela janela pelos próprios pais? Onde Ele estava quando a menina Eloá foi brutalmente assassinada pelo namorado? Onde Ele estava quando o Estado de Santa Catarina era engolido pela fúria das águas?

Alguns preferem deixar Deus de fora disso tudo. Se aceitasse esta possibilidade, seríamos deístas em vez de teístas. Deus seria apenas um expectador da história, que mesmo com o estômago embrulhado pelas cenas que vê, nada poderia fazer para alterar seu enredo.

O Deus da Bíblia não é um mero expectador. Ele é o Senhor das circunstâncias. Se não for assim, a vida simplesmente não tem qualquer sentido. Tudo é contingente.

Somos como crianças que vasculham o céu, buscando na forma das nuvens alguma silhueta familiar. Às vezes vemos a figura de uma pomba, e logo, pensamos em paz. Outras vezes vemos a figura de um cão, e pensamos na amizade. Estamos sempre fazendo conexões entre figuras e valores. Não há como evitar. É isso que nos faz humanos.

Saberíamos distinguir a figura divina no mosaico dos fatos que nos aconteceram neste ano que termina? Como reconhecê-lO em todos os nossos caminhos?

Acho que sei quem pode nos dar uma boa dica! Ninguém menos que Paulo, o apóstolo prisioneiro.

Ao escrever para os cristãos de Filipos, Paulo faz uma releitura dos principais fatos que lhe acometeram naqueles dias:

“E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior avanço do evangelho” (Fp.1:12).

Que “coisas” foram essas? Será que Paulo havia ganhado na loteria? Ou conseguira um bom emprego no fórum romano? Não! Paulo fora preso, acusado injustamente de sedição. E em vez de assumir uma postura de vítima diante dos irmãos, ele busca reanimá-los, apresentando um propósito para que aquilo lhe acontecera. Ele não está muito preocupado em apresentar “porquês”, e sim “pra quês”. Talvez não houvesse uma razão plausível, mas havia um propósito divino.

Ele prossegue: “Muitos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas cadeias, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor” (v.14).

Nosso problema é que achamos que somos o centro do Universo, e por conta disso, temos a impressão de que tudo conspira contra nós. Mas quando enxergamos as coisas sob outra perspectiva, percebendo que tudo o que acontece visa o bem comum, chegamos à mesma conclusão a que chegou Paulo: “Todas as coisas cooperam em conjunto para aqueles que amam a Deus, e que são chamados segundo o seu propósito” (Rm.8:28).

Desta perspectiva, Paulo percebeu o bem que sua prisão injusta estava produzindo na vida de outros. Por causa do ânimo redobrado de muitos irmãos, o evangelho estava avançando.

É claro que havia efeitos colaterais indesejáveis. Enquanto alguns recobravam ânimo estimulados pelo exemplo de Paulo, outros se aproveitavam para pregar a Cristo por motivos sórdidos, tais como inveja e porfia. “Mas que importa?”, conclui o apóstolo, “contanto que Cristo, de qualquer modo, seja anunciado, ou por pretexto ou de verdade” (v.18).

Temos que perder a mentalidade de vítima, e enxergarmos o propósito de Deus até nas injustiças que sofremos. E quantos aos “efeitos colaterais”, deixemos que Deus cuide disso, como melhor Lhe convier.

Não se pode mudar o passado, mas pode-se fazer uma releitura em busca de um sentido que faça jus aos propósitos de Deus.

Pode ser difícil encontrar Deus na fúria das águas que varreram Santa Catarina. Mas pode-se encontrá-lO na solidariedade que tal tragédia despertou no coração de milhões de brasileiros. Pode ser difícil encontrar Deus no tiro que tirou a vida da Eloá, mas pode-se encontrá-lO no gesto da família ao doar seus órgãos e, com isso, estimular milhares a fazer o mesmo.

Perspectivas

Mas quanto ao futuro? Qual deve ser nossa postura? O que será que ele nos reserva?

Paulo responde: “A minha ardente expectativa e esperança é de...” (v.20).

Todos temos o direito de ter expectativas e esperança quanto ao futuro. Entretanto, a maioria nutre expectativas concernentes à aquisição de bens materiais, ou à realização profissional ou ministerial. Mas qual deveria ser nossa “ardente expectativa” quanto à nossa postura diante da vida?

Deixe que Paulo conclua seu pensamento: “A minha ardente expectativa e esperança é de em nada ser confundido, mas ter muita coragem para que agora e sempre, Cristo seja engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte” (v.20).

Em 2009 tudo pode acontecer. Há um leque quase infinito de possibilidades. Por isso não me impressiono com as prognosticações dos adivinhos, que geralmente são generalizações. Quem não sabe, por exemplo, que no próximo ano vai morrer alguém famoso? Quem não sabe que haverá atentados terroristas? Ou que o mundo vai enfrentar uma grande crise financeira? Afirmar isso é “chover no molhado”.

Prefiro manter a expectativa da surpresa. Por isso Deus não tem interesse de nos revelar o futuro em minúcias. Ele não quer estragar a surpresa.

Nem sei se estarei vivo no fim do próximo ano. Em vez de expectativas de realizações, nossa ardente expectativa deve girar em torno de nossa postura diante da vida. Haja o que houver, não quero ser confundido. Quero continuar enxergando Deus em todas as coisas. Quero enfrentar a vida de peito aberto, com coragem e ousadia, “agora e sempre”. A única coisa de que eu faço a mais absoluta questão, é que Cristo seja engrandecido no enredo da minha vida, seja pela vida ou pela morte. Afinal de contas, para mim o viver é Cristo!

Não importa o que o futuro nos reserva, e sim a maneira como nos portaremos diante do que vier. No dizer de Paulo, "o que é mais importante" é portar-se "dignamente conforme o evangelho de Cristo" (v.27). Isso é que faz toda a diferença.

E o que não entendermos agora, quando chegarmos à eternidade, e a fita for rebobinada, finalmente entenderemos, e glorificaremos o nome d’Aquele que nos conduziu na empoeirada estrada da existência.

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