quarta-feira, maio 07, 2008

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Defensores de que Futuro?

Até onde vai a nossa obrigação, enquanto igreja de Cristo, para com aqueles a quem temos evangelizado? Será que ela se encerra no âmbito espiritual? O fato de lhes ter anunciado a vida eterna em Cristo já é suficiente?

Tomemos por exemplo o profeta Eliseu, e sua preocupação para com o futuro de uma família a quem ele beneficiara, restituindo-lhe o filho que morrera (II Reis 8:1-15):

“Ora, Eliseu havia dito à mulher cujo filho ele restaurara à vida: Levanta-te e vai, tu e a tua família, e mora onde puderes, porque o Senhor chamou a fome, a qual virá à terra por sete anos. Levantou-se a mulher e fez conforme a palavra do homem de Deus. Foi com a sua família, e habitou na terra dos filisteus durante sete anos.”

Eliseu sentiu-se responsável pelo bem-estar e pelo futuro daquela família. De que adiantaria restituir a vida do menino, sem garantir-lhe o direito de desfrutá-la em todo o seu potencial?

“Ao cabo dos sete anos, a mulher voltou da terra dos filisteus, e saiu a clamar ao rei que lhe devolvesse a sua casa e as suas terras.”

Terminada a fome que abatera em Israel, a mulher voltou para a sua propriedade, e em uma audiência com o rei, reivindicou a restituição de seus bens.

O que mais chama a minha atenção neste texto é a maneira como Deus tece as circunstâncias para beneficiar àquela mulher e a sua família. Afinal, nada acontece por acaso. Há um Deus que é Senhor absoluto das circunstâncias, até mesmo das contingências da vida. Ele não dá ponto sem nó.

Talvez aquela mulher não pudesse compreender a razão pela qual Deus permitira que seu filho amado morresse. Afinal, Deus o havia dado sem que ela pedisse. Agora, não fazia sentido algum Deus lhe tomar o único filho.

É claro que ela ficou sobremodo agradecida e alegre quando Deus lhe restituiu o menino, porém, não podia supor a maneira como esse milagre alteraria o rumo de sua vida.

Quando aquela mulher adentrou a sala real, ela interrompeu uma conversa entre o rei e Geazi, discípulo do profeta Eliseu.

“Ora, o rei falava a Geazi, moço do homem de Deus, dizendo: Conta-me, peço-te, todas as grandes obras que Eliseu tem feito. Contando ele ao rei como Eliseu restaurara à vida um morto, a mulher cujo filho ele havia restaurado à vida clamou ao rei que lhe devolvesse a sua casa e as suas terras. Disse Geazi: Ó rei, meu senhor, esta é a mulher, e este o seu filho a quem Eliseu restaurou à vida.”

Coincidência? Não! Providência!

“O rei perguntou à mulher, e ela lhe contou a história. Então o rei lhe designou um oficial, dizendo: Faze restituir-lhe tudo o que era seu, e todas as rendas do campo desde o dia em que deixou a terra até agora.”

Que bela surpresa! Além de ter suas terras de volta, ela ainda recebeu do rei tudo o que ela deixou de colher todos aqueles anos.

Tudo por causa do testemunho que Geazi deu acerca do milagre operado por Deus na vida daquela mulher.

De fato, a repercussão de um testemunho pode abrir muitas portas.

Não há fatos isolados. Se um abismo chama outro abismo, uma bênção tem o poder de atrair outras tantas. Jamais ela poderia supor que a ressurreição de seu filho fosse impactar de tal maneira o coração daquele rei, a ponto de ele restituir-lhe todos os anos perdidos.

Caminhemos um pouco mais pelo texto:

“Eliseu foi a Damasco, e Ben-Hadade, rei da Síria, estava doente. Quando anunciaram ao rei: O homem de Deus chegou aqui, disse ele a Hazael: Toma um presente contigo e vai encontrar-te com o homem de Deus. Por intermédio dele pergunta ao Senhor: Sararei eu desta doença? Foi Hazael a encontrar-se com ele, e levou um presente consigo, a saber, quarenta camelos carregados de tudo o que era bom de Damasco. Veio, pôs-se diante dele, e disse: Teu filho Ben-Hadade, rei da Síria, me enviou a ti para perguntar: Sararei eu desta doença? Respondeu-lhe Eliseu: Vai, e dize-lhe: Certamente sararás. Mas o Senhor me mostrou que ele morrerá. E olhou para Hazael, fitanto nele os olhos até que este se sentiu envergonhado. Então o homem de Deus chorou. Perguntou Hazael: Por que chora o meu Senhor? Respondeu ele: Porque sei o mal que hás de fazer aos filhos de Israel. Porás fogo às suas fortalezas, os seus jovens matarás à espada, os seus meninos despedaçarás, e as suas mulheres grávidas fenderás.”

Vislumbrar o futuro pode ser gratificante, mas também pode ser aterrorizador. Eliseu teve um vislumbre do futuro e ficou indignado. Aquele moço enviado pelo rei para presentear o profeta representava uma ameaça ao futuro do povo de Israel.

Embora fosse apenas um serviçal, seu destino era ser o próximo monarca da Síria. Ele mesmo retrucou o profeta, quando se viu embaraçado diante do olhar perscrutador de Eliseu:

“Como é que tu servo, que não passa de um cão, poderia fazer tão grande coisa? Respondeu Eliseu: O Senhor me mostrou que hás de ser rei da Síria.”

Os jovens seriam mortos à espada, os meninos seriam despedaçados, e as grávidas seriam partidas ao meio... Que desgraça!

Imagino o que se passou na cabeça de Eliseu. Talvez houvesse pensado até em tirar a vida daquele rapaz ali mesmo, para evitar o pior.

Interessante perceber que o texto fala de duas realidades opostas. Na primeira, um menino é restituído ao seio da família, para que seu testemunho garantisse a restauração de todos os bens perdidos durante o tempo de fome em Israel. Na segunda, um rapaz enviado como mensageiro de um rei representava um futuro ameaçador para o povo de Israel.

Dois “futuros” contrastantes.

Eliseu tinha olhos clínicos, capazes de distinguir os espíritos, os propósitos do coração, e vislumbrar o futuro.

Quantos jovens e meninos abandonados pela nossa sociedade, que vêm ao nosso encontro para trazer um recado do futuro. Aquela criança que hoje ignoramos nos sinais de trânsito, é a mesma que amanhã poderá invadir nossa casa e manter nossa família refém. Ah, se tão-somente fôssemos mais sensíveis à voz que nos vem do futuro para nos avisar.

O futuro sempre envia seus mensageiros! Alguns deles trazem mensagens de esperança, enquanto outros nos vêm para despertar nossa consciência, a fim de fazermos algo hoje e evitarmos a desgraça que pode estar em nosso caminho.

O texto termina revelando que o que Eliseu temia veio a acontecer:

“Então deixou a Eliseu, e voltou a seu senhor, o qual lhe perguntou: Que te disse Eliseu? Respondeu ele: Disse-me que certamente sararás. No dia seguinte, Hazael tomou um cobertor, molhou-o na água e o estendeu sobre o rosto do rei, de modo que este morreu. E Hazael reinou em seu lugar.”

Neste caso em particular, nada foi feito para alterar o rumo das coisas. Porém, há sempre algo que podemos fazer hoje para defender nosso futuro. Um menino que deixa as drogas e retorna à vida hoje, poderá ser a chave para a sobrevivência de toda uma família amanhã. Que possamos fazer algo agora, em vez de simplesmente ficarmos na expectativa que o pior nos acometa. Ainda que da perspectiva da eternidade o futuro já esteja pronto, para nós que vivemos do lado de cá, o futuro precisa ser construído.

Estou convencido que o papel da igreja cristã não é apenas garantir vida eterna às pessoas, mas também trabalhar para garantir o futuro deste mundo. Fomos constituídos por Deus como "defensores do futuro"!

Visite o blog: www.defensoresdofuturo.blogspot.com

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