quarta-feira, setembro 13, 2006

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O Pecado Inaugural e o Inconsciente Coletivo
Por Hermes C. Fernandes

As Escrituras afirmam que “por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm.5:12). Adão inaugurou uma era entre os homens: a era da morte. Ele foi a porta de entrada do mais infectante vírus de que se tem notícia: o pecado.

Por causa da rebelião original, todos os homens herdaram de seus primeiros pais a tendência ao pecado.

O chamado ‘pecado original’ tornou-se, numa linguagem psicológica, um poderoso arquétipo, que tem assombrado o Inconsciente Coletivo. Carl Gustav Jung, o grande psicólogo suíço, chama esse arquétipo de “a sombra”. Segundo ele, este lado sombrio e obscuro da natureza humana é responsável pelo aparecimento, na consciência e no comportamento, de pensamentos, sentimentos e ações desagradáveis e socialmente reprováveis.

De acordo com a teoria junguiana, o inconsciente coletivo é uma espécie de depósito, onde são armazenados traços de memória herdados do passado ancestral do homem. Os componentes estruturais do inconsciente coletivo são chamados por vários nomes: arquétipos, dominantes, imagens primordais, imagos, padrões comportamento.

Se cada inconsciente individual é semelhante a um porão particular, onde acumulamos nosso lixo psicológico, o inconsciente coletivo pode ser comparado a um lixão, um depósito de lixo comunitário.

Podemos ainda comparar o inconsciente individual à memória de um computador doméstico. Tudo o que foi armazenado, pode ser acessado a qualquer momento. Já o inconsciente coletivo é como a Internet. Tá tudo ali, basta só acessar.

Adão foi responsável pelo arquétipo primordial. Ele inaugurou o grande depósito de lixo da humanidade. Cada ser humano que por aqui passou, só fez aumentar a montanha de detritos.

Não somos culpados pelo pecado de Adão, como alguns religiosos apregoam. Somos culpados por nossos próprios pecados. O fato é que o pecado de Adão comprometeu toda a raça. Segundo Paulo, “pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores” (Rm.5:19a).
O pecado de Adão tornou-se o pecado inaugural, tornando-se o arquétipo matriz. A partir daí, toda a raça adâmica seria refém dessa matrix[1]. Paulo chama esses arquétipos de “fortalezas espirituais”, construídas a partir de raciocínios e altivez contrários à verdade de Deus.
Jesus, o segundo Adão, recapitulou em Sua vida terrena, todas as etapas vividas pela humanidade, e por não ter incorrido no mesmo erro de Adão, lançou a pedra fundamental de uma nova humanidade. A obediência de Cristo, descrita com maestria em Filipenses 2, erigiu um novo arquétipo, sobre o qual é construída a Igreja de Cristo, embrião do Novo Mundo. “Assim pela obediência de um muitos serão feitos justos” (v.19b). Por isso, Paulo exortou aos filipenses, a que apresentassem “o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus” (Fp.2:5a).

Ora, se há uma nova humanidade em formação, ramos da Videira Verdadeira, participantes de Sua seiva, logo, há também um novo inconsciente coletivo, onde novos arquétipos estão sendo erigidos.

Em sua visão, registrada no livro de Apocalipse, João descreve a nova humanidade de forma alegórica, como a Nova Jerusalém. Entre as várias características da cidade celestial, João diz que “a praça da cidade era de ouro puro, como vidro transparente” (Ap.21:21b). Ora, a praça é um lugar público, onde as pessoas se encontram, e desenvolvem laços sociais. A praça diz respeito àquilo que nos é comum. Creio tratar-se do novo inconsciente coletivo. Em vez de ser um depósito de lixo, que deve ser mantido fora do olhar de todos, a praça é de ouro puro, semelhante a vidro transparente. O que acontece abaixo do solo não precisa ser escondido. Todos sabem sobre o quê estão andando.

[1] A palavra “matrix” usada como título de um filme significa literalmente “matriz”. O pecado tornou-se a “matrix” do qual todos já nascemos reféns.

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