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sexta-feira, março 18, 2016

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URGENTE! LEIA ANTES DE SAIR ÀS RUAS



“As pessoas que querem fazer deste mundo um lugar pior 
não descansam, por que eu vou descansar?" Bob Marley


A queda do muro de Berlim marcou o fim de uma era caracterizada pela polarização entre duas super potências: os EUA e  a União Soviética. Lançava-se uma pá de cal na guerra fria que assombrou a civilização por décadas. Há fortes indícios de que o mundo esteja caminhando para uma nova polarização. Basta verificar as novas produções hollywoodianas que refletem bem o espírito desta época. “Batman vs Superman”, “Guerra Civil” (Capitão América vs Homem de Ferro), e tantas outras. Nem produções cristãs escapam deste espírito. Observando o cartaz do filme “Deus não está morto 2”, encontrei no subtítulo a provocante pergunta “De que lado você está?” e a imagem de uma mulher caminhando em direção a uma Corte, cercada por dois grupos:  o da esquerda (tinha que ser!) exibindo cartazes que dizem: “Deus está morto!”, “Jesus é um mito”, “Para um mundo sem atraso”, etc.; o da direita com cartazes que dizem: “Deus está vivo!”, “Deus é amor”, “Eu acredito na cruz”, etc.

De fato, Deus não está morto. Mas o que está moribundo é o bom-senso.

Se a polarização ficasse só nas telas, tudo bem. O problema é quando ela vem para as ruas, dividindo povos, provocando hostilidade entre grupos de matizes ideológicos diferentes, arruinando assim, qualquer projeto de nação. Afinal, o que seria mesmo uma nação, senão um povo reunido em torno de um propósito? Ainda que não estejam 100% de acordo, decidiram caminhar juntos, transpondo abismos, superando diferenças étnicas, religiosas, culturais, a fim de possibilitar um futuro promissor às próximas gerações. Sem que haja isso, podemos até ser um país, mas não uma nação.

A polarização só serve aos interesses de quem pretende nos enfraquecer para nos dominar ou de quem trabalhe na indústria armamentista. 

Num momento de ânimos acirrados como o que estávamos vivendo agora, precisamos de gente que leve a paz à sério, caso contrário, corremos o risco de ter nossas ruas banhadas de sangue.

Jamais me opus à liberdade de expressão. Está insatisfeito? Põe pra fora! Achou que alguma medida foi arbitrária? Exponha sua decepção. Esta é a vantagem de se viver numa democracia. Mas daí, sair ofendendo a todos os que pensam diferentemente...

No mesmo sermão em que Jesus diz ser bem-aventurado os que têm fome e sede de justiça, também diz ser bem-aventurados os pacificadores. Será que dá para ter fome e sede de justiça e ainda assim ser um pacificador? Estou convencido de que não são coisas excludentes. Por isso lemos que "o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz" (Tiago 3:18). Mas devemos redobrar os cuidados com os que preferem atear fogo! Não é à toa que entre as coisas abominadas por Deus está "o que semeia contenda entre irmãos" (Provérbios 6:19). Não importa o quão ortodoxo seja a sua teologia, se não prega a verdade em amor, não serve. 

Há coisas que precisam ser ditas, porém, na hora certa. O mesmo álcool usado para desinfetar algo, pode ser usado para provocar um incêndio. Então, nada de pôr álcool próximo de fogo!

Alguns, não satisfeitos com tal postura pacificadora, vão nos chamar de isentões. Talvez chamassem Jesus assim por não instigar os judeus contra os romanos. Talvez até desconfiassem que Ele fosse um partidário de Roma devido aos rasgados elogios feitos a um centurião por sua fé. Mas o Príncipe da Paz não estava nem aí para os comentários maliciosos.

Antes de ser recebido em Jerusalém aos brados de “hosanas”, “quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela, dizendo: Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos” (Lucas 19:41-42). Em outra ocasião exclamou: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!”(Lucas 13:34).

Quão frustrante é não conseguir fazer as pessoas verem o que se está aproximando. Quanta desgraça poderia ser evitada! Mas os que deveriam pregar a reconciliação, preferem emprestar os lábios ao ódio.

Peço a Deus que levante nesses dias pessoas com a envergadura moral de Nelson Mandela e de Desmond Tutu que se deixaram usar pelo Espírito da Graça para promover a reconciliação de uma sociedade profundamente dividida pelas feridas causadas pelo Apartheid. Que Deus levante homens como Gandhi e Luther King para conduzir nosso povo pelas trilhas da paz e não do ódio. 

Sabe aquele ser humano vestido de verde amarelo? Ele não é um coxinha, mas um brasileiro que almeja um lugar melhor para criar seus filhos. Em suas veias corre um sangue tão vermelho quanto o seu.

Sabe aquele ser humano de camiseta vermelha? Ele não é um petralha, mas um brasileiro tão patriota quanto você, cujo coração é tão verde e amarelo quanto o seu.

Lembre-se de que nossa luta não é contra carne ou sangue, mas contra principados e potestades nos lugares celestiais (Efésios 6:12). Traduzindo: Jamais leve o embate para o lado pessoal. Mantenha-o no campo das ideias. Os gregos para os quais Paulo escrevia acreditavam que toda estrutura de poder estava baseada num protótipo nos lugares celestiais (eufemismo platônico para o mundo das ideias). Enquanto certas ideias não forem desarticuladas, tais estruturas se perpetuarão. No nosso caso, há uma verdadeira fortaleza de ideias que mantém nosso país refém. A corrupção que nos assola é endêmica, semelhante a um câncer cuja metástase já espalhou por todo o tecido social. Não adianta mudar os atores, porém, manter o enredo da peça. Logo, não faz sentido ficar trocando farpas entre nós. Todos almejamos mudança, mas cada um tem sua opinião sobre como ela será promovida.

Sem querer dar spoiler, tomara que este filme termine como os dois primeiros que citei acima, em que Batman e Superman se unirão para fundar a Liga da Justiça e somarão esforços para combater um inimigo em comum, e o Capitão América e o Homem de Ferro se reconciliarão para o bem de todos. Se não, o que é mesmo que vai sobrar de tudo isso?

"Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e,
derrubando o muro de separação que estava no meio, na sua
 carne desfez a inimizade." S. Paulo em Efésios 2:14-15a

quinta-feira, março 17, 2016

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Um Xeque-mate na corrupção ou na democracia?



Por Hermes C. Fernandes

O país está vivendo uma convulsão como há muito não se via. Nossas instituições estão sob fogo cruzado. O que emergirá de tudo isso? Só o tempo dirá. Mas, confesso: temo que seja o pior. Foi assim em 54, em 64 e queira Deus que tenhamos aprendido a lição para não cometermos os mesmos erros de então (tudo indica que não...).

Como num jogo de xadrez, facilmente identificamos as peças: Rei, Rainha, Bispos, Cavalos, Torres e Peões (precisa mesmo dizer que são os peões?). Mas, talvez, o que nos escapa são os jogadores. Quem são, afinal? Quem estaria por trás de cada jogada?

A renúncia de Jânio Quadros foi atribuída à pressão de forças ocultas, a quem ele denunciou como grupos e indivíduos famigerados, inclusive do exterior. Em seu curtíssimo período de governo, Jânio caiu na asneira de contrariar interesses internacionais, condenando as intervenções estrangeiras, o isolamento de Cuba por parte dos EUA, além de restabelecer laços diplomáticos com a URSS e a China.  O presidente que tinha como símbolo de campanha uma vassoura, foi varrido do cenário político nacional de maneira vergonhosa. Sua renúncia se deu um dia após o discurso de Carlos Lacerda em cadeia nacional, acusando-o de pretender dar um golpe de estado.

A mesmas forças ocultas teriam sido responsáveis pela pressão que culminou com o suicídio do maior estadista que este país já teve: Getúlio Vargas.

Quero deixar claro que não sou afeito a teorias de conspiração. Mas, fato é que o tabuleiro da política internacional está passando por modificações sensíveis e, pelo que tudo indica, chegou a vez do Brasil. Nossos verdadeiros inimigos estão de fora assistindo ao circo pegar fogo e celebrando o lucro que obterão com tudo isso.

Assisti recentemente a uma produção hollywoodiana que se encaixou perfeitamente como analogia do que está acontecendo com o mundo. No terceiro filme da série “Divergente” (se ainda não assistiu, aviso: spoiler), os protagonistas resolvem transpor o muro que separava Chicago do resto do mundo. Após atravessar uma região inóspita, são resgatados por uma força aparentemente do bem e que se apresenta como sendo os guardiões responsáveis pela cidade. Eles assistiam a tudo de fora e, quando necessário, intervinham para manter a ordem numa sociedade que fora ‘preventivamente’ dividida em facções. Aos poucos, os heróis vão percebendo que os mocinhos são na verdade os bandidos que se aproveitavam da ingenuidade do povo, usando-o como cobaias num experimento social que pretendia produzir uma raça pura (alguma semelhança com o nazismo?). Quando uma pessoa era ‘resgatada’ (eufemismo para rapto), era-lhe ministrada uma vacina que a fazia esquecer-se de toda sua vida pregressa. Tal medida evitava questionamentos desnecessários e eventuais insurreições.  Deixei a sala do cinema refletindo sobre o que tem ocorrido em nosso país. Quem seria os responsáveis por sermos um povo de memória tão curta? É o fato de desconhecermos nossa própria história que nos torna tão vulneráveis à manipulação.

Em meus 46 anos, nunca vi um circo midiático como o que se armou nos últimos dias no país. É de se admirar que poucos percebam a intenção por trás disso. A mídia foi com tudo para cima do atual governo.  Algo bem parecido com que fizeram não só com Getúlio e Jânio, mas também com Juscelino e Jango. Pena que poucos se recordem disso. E não foi só no Brasil. Homens que hoje são celebrados como Nelson Mandela, Gandhi, Luther King, e, até a Madre Teresa de Calcutá, foram execrados pela mídia de seu tempo. Faça uma pesquisa. Acusaram Gandhi de ser um pedófilo. Luther King de ter um harém. Mandela de ser comunista. Madre Teresa de ser mentalmente perturbada.  

Devo confessar que a mídia nunca me fez amar ninguém. E que, portanto, jamais me fará odiar a quem quer que seja. O ódio nos cega, privando-nos do bom senso e nos tornando suscetíveis à mais sórdida manipulação. Malcolm X tinha razão ao advertir: “Se você não tomar cuidado, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas e amar as que estão oprimindo.”

Entendo e partilho da profunda indignação do povo brasileiro com toda a sujeira que está vindo à tona. Mas há que se cuidar para que isso não se torne ódio e divida famílias, amigos, igrejas e a sociedade como um todo.

Nossos verdadeiros inimigos não são os que pensam diferentemente de nós, mas os que se locupletam do fato de estarmos nos atacando mutuamente.

Sou totalmente a favor de que se investigue até a última sujeira. Mas não me convenço de que os fins justifiquem os meios. Tudo deve ser feito dentro da legalidade e sem este circo todo que visa causar instabilidade política e assim retroalimentar o ciclo do caos.

Não estou aqui para defender tal governo. Não tenho qualquer ligação com o PT, nem com qualquer outro partido de esquerda ou de direita. Se há crimes, que sejam apurados e punidos. O que não endosso é a pressão midiática para derrubar um governo com o objetivo de substituí-lo por um cuja pauta represente um retrocesso e cujo partido também esteja envolvido nos mesmos escândalos de corrupção. Como tenho dito com certa frequência, não adianta remover a prostituta para ceder o lugar ao cafetão.

Em vez de entrar na pilha de quem sempre manipulou a opinião pública, por que não saímos às ruas clamando por reforma política? Parafraseando João Batista, o machado deve ser colocado à raiz da árvore. Senão, será apenas uma poda mal feita e o mal voltará a brotar.

E mais: Independentemente de sua posição, seja ou não a favor da maneira como as coisas estão sendo conduzidas, que tal se nos uníssemos em oração pelo país? Só Deus conhece o coração dos homens e sabe realmente o que se passa nos bastidores dos palácios e nas redações da grande mídia. A gente faz conjecturas, e em nome de nossas posturas, acaba fazendo desafetos. Ninguém está 100% certo. Todos temos uma margem de erro em nossas percepções. Mas há algo que nos une: o desejo de que as coisas mudem para melhor. Opiniões e ideologias nos dividem e enfraquecem. Sentimentos e ideais nos unem e fortalecem. Então, o que estamos esperando? Em vez de ficarmos disseminando ódio, chamando de patifes e idiotas quem discorde de nosso posicionamento, vamos levantar aos céus um clamor pela nossa tão sofrida nação. Afinal, todos queremos um xeque-mate na corrupção, não na democracia. 

sábado, março 05, 2016

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Lula, a prostituta e o cafetão



Por Hermes C. Fernandes

Para início de conversa, não sou petista, nem tampouco socialista. Quem já leu meus livros ou acompanha meu blog, sabe o quanto combato a ideologização do evangelho. Todavia, vejo-me da obrigação de posicionar-me ante os últimos acontecimentos no país envolvendo a figura do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Em sua 24ª fase, a operação Lava Jato fez buscas no Instituto Lula, na casa do ex-presidente e o levou para depor numa condução coercitiva que rendeu muito debate ao longo do dia. Até o ministro do STF Marco Aurélio Mello fez contundentes críticas à decisão do juiz Sérgio Moro. Para o ministro, só se conduz coercitivamente o cidadão que resiste à ordem judicial e não comparece para depor. A ordem expedida por Moro seria um retrocesso e não um avanço. 

Para o instituto Lula, a intenção real do que classificou como "violência desencadeada" pela Força Tarefa da Operação Lava Jato era submeter o ex-presidente a um constrangimento público. O fato inconteste é que a mídia já estava devidamente avisada muito antes dos advogados de Lula serem notificados. O circo estava armado. Emitir um mandado de condução coercitiva de um cidadão brasileiro para prestar depoimento antes de intimá-lo a comparecer espontaneamente conforme prescreve o Códio de Processo Penal é um ato autoritário e fascista. O objetivo por trás disso é destruir qualquer pretensão de Lula em vir candidato a presidente em 2018. 

Não vou sair em defesa do Lula, mesmo reconhecendo o quanto fez pela população mais pobre deste país. Mas é duro ver colegas pastores comemorando e pedindo que seu rebanho aplauda na hora do Jornal Nacional uma arbitrariedade desmedida. Sinceramente, não aplaudiria uma arbitrariedade nem contra o próprio diabo. Quem celebra um ato de injustiça demonstra não ser contrário à corrupção, mas partidário de a uma oposição cega, comprometida com o favorecimento de certos setores e segmentos em detrimento de outros. Aplaudiria com veemência a isenção, o altruísmo e a justiça, ainda que não me favorecesse em absolutamente nada. Lamentavelmente, a 'elite eclesiástica' deste país é vergonhosamente reacionária, preferindo desfilar ao lado dos poderosos, desprezando o clamor dos excluídos e marginalizados.  

Aliás, eu poderia me sentir vingado ao saber dos contêineres do Lula que estão sendo investigados, depois que o contêiner com minha mudança vinda dos EUA ficou preso na operação maré vermelha deflagrada por ordem da presidente Dilma. Mas aprendi com Jesus a pensar mais nos outros do que em mim. 

É possível que o PT tenha se tornado tudo isso que a mídia está tentando nos fazer acreditar. É possível que Lula tenha traído seu idealismo. Mas quer mesmo saber? Não adianta remover a prostituta para pôr o cafetão em seu lugar. O fato é que o PT se promiscuiu em nome da governabilidade. Rendeu-se ao poder do capital. Amasiou-se do seu estuprador. Agora que a prostituta ficou velha, o cafetão busca uma mais novinha e mais rentável para ocupar o seu lugar. Quem será a bola da vez? Em breve, nas vitrines das TVs exibindo-se despudoradamente com seu discurso moralista e anti-corrupção. Já vi este filme antes... Difícil vai ser encontrar uma que já não tenha sido desvirginada por este sistema corrupto, seja por estupro ou por se deixar encantar pelo canto da sereia capitalista. A reação de Mamom, ops, do Mercado aos últimos acontecimentos só confirma o que digo aqui. O cafetão cansou-se do PT! O atual governo tornou-se brochante para os que detém a roda da economia. 

Jesus sempre se pôs ao lado das prostitutas. Mas nunca o vi sair em defesa do cafetão. Jesus era capaz de entender a lealdade das pessoas ao Estado ao pagar-lhes impostos, e até as incentivou a dar a César o que a ele convinha; porém, ao tratar com o capital, Jesus foi incisivo, apontando-o como rival de seu senhorio. "Não podeis servir a dois senhores!", advertiu. Ou serve a Deus, ou serve ao dinheiro. 

O que se fez em nome da governabilidade é abominável. Porém, mais abominável é o apoio que os cristãos dão aos cafetões, de modo que se garanta a manutenção do puteiro. É nisso que o Estado se tornou desde que rendeu-se à nefasta agenda das oligarquias brasileiras.

Bom seria se nossos líderes dessem ouvidos ao discurso de Leonardo DiCaprio ao receber seu primeiro Oscar: "Governem para o seu povo e não para as corporações!" Isso deveria ser ouvido dos lábios dos profetas. Mas estes também se venderam. Preferem jogar querosene no fogo, tornando o país ingovernável. 

Digam-me, por favor, como posso engrossar o coro puxado por Silas Malafaia, Marco Feliciano, Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha, Aécio Neves e tantos outros? Como poderia compactuar com quem desdenha das minorias e busca tão somente locupletar-se com seu discurso odioso e sectário? 

O certo a fazer seria investigar e punir igualmente a todos os que estejam envolvidos em falcatruas. Porém, alguns se revelam blindados pela mídia e pela justiça. Veja, por exemplo, o caso do Aécio, quatro vez delatado na Lava Jato. E quanto ao avião cheio de drogas? O que se fez até agora? Para debaixo de que tapete foi varrido este escandaloso caso?

O que me preocupa agora é a convocação midiática para que o povo saia às ruas no dia 13. Sempre apoiei manifestações populares espontâneas, autênticas. Mas abomino ver o povo sendo massa de manobra nas mãos desta gente inescrupulosa. Meu receio é que estore uma guerra civil neste país. Por isso, no dia 13, convocarei o povo a quem tenho o privilégio de pastorear para orar pelo Brasil. Quem quiser sair às ruas, que saia, mas guiado por sua consciência e no exercício de sua cidadania e não como "maria vai com as outras".

Oro para que Deus conceda sabedoria e serenidade à nossa presidente, mas não ao custo da firmeza com que deve enfrentar os interesses dos que a querem derrubar. 

E quanto à campanha midiática para destruir Lula, tenho a impressão de que o tiro pode sair pela culatra. Se o prenderem, ele pode vir a se tornar num mito como foi Mandela na África do Sul. Se o matarem, se tornará num mártir. Se o deixarem solto e vivo, poderá voltar à presidência em 2018 para o desespero dos que se sentem aviltados com a inserção de trinta milhões de pobres na nova classe média brasileira. 

Lula não é nenhum santo. Não tenho dúvidas quanto a isso. Mas graças a seus programas sociais, nunca se viu tantos negros nas universidades brasileiras. Nunca se deu tanta oportunidade para que os mais humildes pudessem acender socialmente. Pena que ele tenha andado tão mal acompanhado nos últimos tempos... Pena que fez tantas concessões ao capital, aos banqueiros, aos donos de canais de TV, às empreiteiras... Agora, chegou a hora disso lhe ser cobrado. Se a casa cair, que caia sobre todos e não apenas sobre os que a mídia nos faz odiar. Que o prostíbulo encerre suas atividades e em seu lugar emerja um novo jeito de se fazer política neste país. Que pau que dá em Lula, também dê em FHC. Que as regras aplicadas a quem saiu de baixo e chegou ao andar de cima, também se apliquem a quem sempre esteve lá.

Segue abaixo uma das mais brilhantes composições de Chico Buarque, visceralmente interpretada por Letícia Sabatella, que ilustra bem a atual condição do PT no governo da nação. Caso não se lembre, a Geni retratada na letra desta canção era a prostituta que fora bem tratada pelos burgueses enquanto lhes foi útil, mas após cumprir sua função, voltou a ser desprezada como antes.


sexta-feira, março 13, 2015

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Eu sairia às ruas dia 15 se...



Se a reivindicação fosse por uma reforma política ampla que acabasse com o financiamento de campanhas políticas por parte de empresas, principalmente as que participam de licitações públicas.

Se fosse para demonstrar minha insatisfação com todo tipo de corrupção e não apenas a que envolva membros de um partido em particular.

Se fosse para reclamar dos serviços públicos sucateados devido ao agressivo lobby feito por deputados eleitos para defender os interesses das operadores dos planos de saúde e dos donos de estabelecimentos de ensino privados. 

Se não tivessem o objetivo de derrubar um governo democraticamente eleito.

Se não fossem claramente estimuladas pela grande mídia que apoiou o golpe militar em 64 e sempre perseguiu governos com apelo popular.

Se não tivessem o apoio de lideranças evangélicas eticamente comprometidas.

Se a corrupção houvesse começado em 2002.

Se não percebesse os interesses inconfessáveis por trás da privatização da Petrobrás.

Se acreditasse que a privatização provocaria preços mais baixos para o consumidor. O que não aconteceu, por exemplo, com a telefonia cujos preços estão entre os mais caros do mundo.

Se concordasse que programas sociais como o Bolsa Família fossem apenas esmolas em vez de terem ajudado a tirar da miséria trinta e seis milhões de pessoas.

Se achasse que o sistema de cotas fosse sinônimo de incompetência.

Se acreditasse que a democratização da mídia fosse o mesmo que censura.

Se defendesse que direitos humanos não passam de muleta para marginal.

Se concordasse que bandido bom é bandido morto.

Se achasse que todo sem teto é um vagabundo e todo sem terra um terrorista.

Se não acreditasse que homossexuais tenham os mesmos direitos que qualquer heterossexual.

Se não defendesse a laicidade do Estado.

Se houvesse me esquecido das manchetes dos jornais dos anos 90, quando o PSDB estava no governo.

Se conseguisse me esquecer dos 170% de aumento da gasolina durante a gestão de FHC. 

Se as manifestações fossem legitimamente populares, espontâneas, e não orquestradas por empresas multinacionais,  partidos com reserva moral zero e a grande mídia para impedir o avanço de programas sociais que permitiram que as camadas mais pobres da sociedade finalmente se tornassem protagonistas de sua própria história.  

Só por isso, não sairei às ruas dia 15.

E não... desta vez o gigante não acordou, ele só está sonâmbulo.

Hermes C. Fernandes, 13/03/2015

quinta-feira, março 05, 2015

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O que penso sobre o impeachment de Dilma

“Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque são dele a sabedoria e a força. Ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis; é ele quem dá a sabedoria aos sábios e o entendimento aos entendidos. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz.” Daniel 2:20-22


Por Hermes C. Fernandes

Sempre estimulei manifestações populares legítimas. Fiz coro com os que pediam “Diretas Já” , com os que pediam o fim da corrupção em Junho de 2013, mas recuso-me a engrossar o coro dos que pedem o impeachment da presidente Dilma Rousseff, assim como não pintei a cara para pedir o impeachment de Collor, mesmo me opondo às medidas tomadas por seu governo.

Muitos dos “caras pintadas” dos anos 90, hoje lustram suas caras com óleo de peroba.

Um dos critérios que uso para decidir se participo ou não de um movimento é identificar quem está com a batuta em mãos. Não quero estar entre os que são regidos por interesses secretos inconfessáveis.

Pena que nosso povo tenha tão pouca noção de história.

Este “filme” é um remake do mesmo já vivido mais de uma vez por nosso sofrido país no último século. Em 1945, Getúlio Vargas foi deposto pelas Forças Armadas. Cinco anos depois, Getúlio foi eleito com 43% dos votos. Foi nessa fase que ele implantou a ELETROBRAS e criou a PETROBRAS. A oposição (PSD e UDN) insistia com a ideia do impeachment/golpe. Lacerda acusava o governo Vargas de corrupção e convocava as forças armadas ao golpe. Faltando um ano para encerrar seu mandato, Vargas não suportou a pressão e acabou suicidando. O Vargas amado pelo povo e odiado pelas elites, hoje é celebrado por todos.

Abaixo, a reprodução do segundo parágrafo de sua carta testamento:
“A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma.”
Perceba que Vargas identifica quem regia a funesta sinfonia golpista. E pela primeira vez, ainda em seu nascedouro, a Petrobrás estava no cerne da crise política.

Nem Juscelino Kubitschek, vencedor do pleito seguinte, escapou de tentativas frustradas de golpe. Posteriormente, JK foi cassado e exilado. Morreu em 1976 num acidente automobilístico que ainda levanta suspeita.

Em 1964 aconteceu o golpe que manteria os militares no governo até 1985. Somente em 1989 o Brasil voltou às urnas para eleger diretamente seu presidente. E isso, graças a homens como Ulisses Guimarães, que morreu na queda de um helicóptero e cujo corpo jamais foi encontrado.

Foram vinte e um anos de ditadura, em que generais se revezavam no poder, impondo uma agenda responsável por uma lacuna histórica caracterizada por atraso educacional, cultural e estrutural. Quem quer que se atrevesse a discordar ideologicamente do governo, corria o risco de ser banido da sociedade, quer por exílio, como foram alguns de nossos artistas e intelectuais, quer por desaparecimento, como aconteceu com alguns padres e pastores cujos discursos eram considerados subversivos.

Toda besta apocalíptica precisa de um falso profeta para legitimá-la. A grande mídia encabeçada pela Globo da família Marinho exerceu cabalmente este papel. Foi ela quem atribuiu o título de “Caçador de Marajás” a um candidato desconhecido vindo de Alagoas, transformando-o num fenômeno eleitoral. A mesma mídia que o elegeu, depois o derrubou, estimulando, através de uma série de TV, manifestações pedindo seu impeachment. E não pensem que foi por lesar a população ao congelar o que tinha guardado nos bancos. Não! A verdade é que a insatisfação da Globo com o Collor se deu por ele haver renovado a concessão da Record recém adquirida por Edir Macedo, contrariando assim um pedido pessoal de Roberto Marinho. A Globo conseguiu o que queria. Ironicamente, “Anos Rebeldes”, uma série inspirada na luta dos jovens contra a ditadura militar da qual ela mesma foi cúmplice, motivou a juventude alienada dos anos 90 a pedir a cabeça do primeiro presidente eleito democraticamente em 25 anos.

Recentemente, Collor foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal por falta de provas no processo em que era acusado de chefiar um esquema de propina para facilitar licitações. O ex-presidente e atual senador usou a tribuna do Senado para celebrar sua absolvição e desabafou: “Quem vai me devolver o que me foi tomado?”

Apesar de ter péssimas lembranças da Era Collor, não acho que ele deveria ter sofrido um impeachment. Da mesma maneira como não acho que um eventual impeachment da atual presidente vai reverter o quadro de crise em que o país está mergulhado. O fato é que a vitória de Aécio estava dada como certa. A suspeita morte do candidato Eduardo Campos abriu caminho para isso. Porém, o tiro saiu pela culatra.  Não foi o que se poderia chamar de uma vitória esmagadora, mas esmagou a pretensão de muitos em se apoderar de um dos motivos de maior orgulho do país atualmente: o Pré-Sal. A luta pelo petróleo que estava no centro do debate político nos anos 50, segue central agora. O que deveria ser uma bênção para o nosso país, pode vir a se tornar numa verdadeira maldição, capaz de descambar numa guerra civil. Foi com a intenção de amortecer o desgaste causado por uma eventual privatização que FHC propôs transformar Petrobrás em Petrobrax. Foi feita, então, uma dura campanha midiática para transformar o motivo de orgulho em motivo de vergonha nacional. A diferença é que antes a campanha colocava em xeque a competência da empresa, agora coloca sob judice sua idoneidade. Mas o objetivo é o mesmo: vendê-la como fizeram com outras estatais.

As mesmas forças que pressionaram os militares a tomarem o poder em 1964, voltam à cena. Os Estados Unidos não se deram por satisfeitos ao serem preteridos na partilha de uma das maiores reservas de petróleo do mundo. A maior parte ficou com a China, candidata à nova potência mundial.

Corrupção sempre houve. Não começou com o PT, nem mesmo com o PSDB. Começou desde que os portugueses tentaram aliciar os índios em troca de apetrechos. Todavia, a mídia parece estar engajada em incutir na cabeça da sociedade brasileira que isso é invenção do Lula e de sua corja. Enquanto nos distraímos com um escândalo boi-de-piranha que envolve dois bilhões de reais, uma boiada inteira passa incólume: vinte bilhões de sonegação através do HSBC. E antes que me esqueça, quase a metade dos nomes da desonrosa lista do ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, estava ligada às campanhas de Aécio ou Marina Silva. As empreiteiras pegas na Operação Lava Jato doaram quase meio bilhão de reais aos políticos e aos partidos com as maiores bancadas no Congresso, o que inclui os de oposição, como PSDB e DEM.

Como se não bastasse toda a mobilização por parte da mídia, líderes evangélicos proeminentes resolvem tomar partido pró-impeachment. Ora, se não estamos satisfeitos com o governo, vamos dar a resposta nas urnas. Muitos destes líderes foram contrários aos protestos de 2013. Santa conveniência, Batman! Eles deveriam convocar o povo para orar pelas autoridades e não para serem cúmplices de um golpe. Mais triste ainda é ver pastores de renome pedindo a volta dos militares ao poder. Tal postura me remete aos israelitas que pediram o impeachment de Moisés e o retorno ao Egito.

Devo confessar minha insatisfação com o atual governo. O PT parece estar pedindo por tudo isso, fornecendo munição para os que almejam o poder a qualquer custo. Mas o que mais me chama a atenção é que o PT está fazendo justamente o que era esperado do outro candidato. Aliás, era para que os aecistas estivessem comemorando. Aumentar a taxa Selic, cortar investimento nas áreas sociais, e outras medidas conservadoras não coadunam com a proposta que foi apresentada durante a campanha. Digamos, então, que o time do PT está fazendo gol contra. Antes de pedir a substituição do técnico, que tal nos lembrar dos gols anteriores que tanto favoreceram as camadas mais necessitadas da sociedade? E mais: que tal esperar o fim do jogo quando o placar estiver definido? Com o jogo em andamento, a gente substitui jogadores, não o treinador. Espero que a dona Dilma aprenda com os próprios erros e saia da retranca. Para virar o jogo é preciso estar na ofensiva. Não é  hora de ficar deprimida, choramingando pelos cantos do palácio do Planalto. É hora de mostrar a que veio. Afinal de contas, ela está respaldada por mais da metade dos votos no último pleito. 

No próximo dia 15, uma multidão deverá sair às ruas para pedir o impeachment de Dilma, que sequer aparece citada na operação Lava Jato. Será que vão pedir também o impeachment do senador Aécio Neves, cuja campanha recebeu doações das mesmas empreiteiras? Dois pesos, duas medidas. Mais uma vez o povo será peão no tabuleiro das jogadas políticas que visam o poder e o lucro a todo custo. 

Se torço pelo atual governo? Claro que sim! Ainda que não tenha sido a minha opção na hora do voto. Torcer por seu sucesso é torcer pelo Brasil. O resto a gente resolve nas próximas eleições. Só não quero ser cúmplice de uma injustiça histórica como a que levou os militares ao poder e submergiu o país em mais de vinte anos de censura e atraso. Caso discorde do que expus aqui, espero que ainda me considere seu irmão em Cristo. Mas espero que não discorde da admoestação apostólica:“Exorto, pois, antes de tudo que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de graças por todos os homens, pelos reis, e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (1 Tm. 2:1-2). Portanto, oremos.