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quinta-feira, setembro 01, 2016

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O impeachment do Rei Davi e o golpe parlamentar brasileiro



Por Hermes C. Fernandes

Após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o país segue dividido, mergulhado numa crise que perpassa e transcende questões econômicas e políticas. Trata-se, sobretudo, de uma crise ética. Independentemente das paixões ideológicas ou de ser favorável ou não ao que está sendo chamado mundo afora de "golpe parlamentar", ninguém deve ser ingênuo a ponto de acreditar que os 61 senadores que lançaram a pá de cal em treze anos de governo petista foram movidos pelos mais republicanos ideais. Tudo segue como dantes no quartel de Abrantes... Aos poucos, a sociedade se dará conta de que a lava-jato não passou de uma ducha na lataria de nossa jovem democracia, precocemente envelhecida, carcomida pela ferrugem da corrupção.

Espero, sinceramente, que todos tenhamos aprendido alguma lição deste lamentável episódio (lamentável sob todos os aspectos!), dentre as quais, observar melhor os candidatos a vice e as alianças feitas em nome da governabilidade. Água e óleo não se misturam! Odres velhos não resistem ao frescor de um vinho novo, nem se remenda tecido velho em roupa nova.

No texto que se segue, aponto o que considero uma importantíssima lição, tanto para quem pretende governar, quanto para quem pretende eleger seus próximos governantes. Tente reconhecer alguns dos protagonistas da atual crise política brasileira nos personagens abaixo.

As crises as quais atravessamos servem a um propósito: Revelar-nos quem é quem entre os que nos acompanham na jornada da vida. Não fossem elas, talvez ficássemos enganados por todo o tempo, cercado de gente falsa, com suas agendas secretas. Além do mais, jamais descobriríamos o valor e a lealdade de tantos outros com os quais convivemos.

Neste artigo, vamos descobrir os 7 tipos de pessoas com as quais nos deparamos num momento de crise, tendo por base um dos episódios mais complexos vividos por Davi.

Sabendo que seu filho Absalão se rebelara e conspirara contra o seu trono, Davi resolveu fugir. Aqueles foram, sem dúvida, os momentos mais tristes de seu reinado. Enquanto passava com sua comitiva, vários tipos de reação foram despertados, e que revelaram quem eram, de fato, alguns dos súditos de Davi. Muitos, vendo-o chorar, solidarizavam-se com a sua dor. O texto diz que “toda a terra chorava em alta voz, enquanto todo o povo passava” (2 Sm.15:23a).

Itai, o gaiato fiel

Uma das primeiras reações foi a de um estrangeiro chamado Itai. Vendo-o segui-lo, Davi lhe disse: “Por que irias tu também conosco? Volta, e fica-te com o rei Absalão. Tu és estrangeiro e exilado; torna a teu lugar. Ontem vieste, e te levaria eu hoje conosco a vaguear, quando eu mesmo não sei para onde vou? Volta, e leva contigo a teus irmãos. A misericórdia e a fidelidade sejam contigo” (vv.19-20).

Davi não estava preocupado em reunir um contingente numeroso para combater a rebelião do seu filho. Pelo contrário, sua preocupação era com o bem-estar dos seus súditos. Itai acabara de chegar àquelas terras. Era como se Davi estivesse dizendo: “Sai disso, Itai. Você pegou um bonde andando, entrou de gaiato. Não precisa tomar partido ao meu lado. Mal nos conhecemos. Pense no bem da sua família, e posicione-se ao lado do novo rei.”

Não creio que Davi estivesse fazendo média. Sua preocupação era sincera. O que ele não esperava era que em tão pouco tempo de convívio, já havia conquistado a confiança e a lealdade de Itai. Veja a resposta que recebeu dele: “Tão certo como vive o Senhor, e como vive o rei meu senhor, no lugar em que estiver o rei meu senhor, seja para morte seja para vida, aí certamente estará também o teu servidor” (v.21).

Quem disse que fidelidade depende do tempo de convívio? Às vezes, é de onde a gente menos espera que Deus levanta as pessoas que nos são mais leais. E de certa maneira, isso ajuda a compensar a infidelidade daqueles com quem mais contávamos.

Zadoque e o zelo pelo que está além de nós

Zadoque, que era o Sumo sacerdote também estava entre os que seguiam a Davi em sua fuga. Com ele foram também todos os levitas. O santuário ficou desguarnecido. Até aí, tudo bem. Davi não se incomodava em tê-los em sua companhia. Mas algo o incomodou a ponto de pedir que Zadoque retornasse a Jerusalém.
“Então disse o rei a Zadoque: Torna a levar a arca de Deus à cidade. Se eu achar graça aos olhos do Senhor, ele me fará voltar para lá, e me deixará ver a arca e a sua habitação. Mas se ele disser: Não tenho prazer em ti, então estou pronto, faça de mim como parecer bem aos seus olhos” (vv.25-26).
Davi se lembrou do dia em que a Arca da Aliança foi introduzida na cidade, e seu coração se partiu. - Não é justo levá-la dali. E toda aquela dança? E a alegria da presença do Senhor representada pela Arca? Por que privar Jerusalém de sua glória? Levem-na de volta! Jerusalém é o seu lugar. Quem sabe um dia Deus me restitua o trono e lá a reencontre?

Somente quem tem uma consciência iluminada pelo Espírito pensaria assim: Rejeitaram a mim, mas não a Deus. Então, que fiquem com a Arca do Senhor! Eu não tenho o monopólio da graça de Deus. A mensagem é mais importante do que eu. A fidelidade ao Senhor está acima da lealdade a mim.

Aitofel, o instigador

O texto prossegue:
“Mas Davi seguiu pela encosta das Oliveiras, subindo e chorando; tinha a cabeça coberta, e caminhava com os pés descalços. Todo o povo que ia com ele tinha a cabeça coberta, e subia chorando sem cessar. Então fizeram saber a Davi, dizendo: Aitofel está entre os que conspiram com Absalão. Pelo que disse Davi: Ó Senhor, torna o conselho de Aitofel em loucura!” (vv.30-31).
Absalão era apenas uma massa de manobra nas mãos de Aitofel. Foi ele quem o incentivou a rebelar-se contra seu próprio pai.

Há pessoas que se introduzem no ministério, nas igrejas, na política ou em outros ambientes como verdadeiras representantes do inferno, que com palavras bajuladoras cativam a confiança dos néscios, e depois, os fazem insurgir contra sua liderança. Aitofel era um jogador de xadrez, estrategista, que escolhia bem as palavras. Absalão era só mais uma peça em seu tabuleiro. Toda crise tem seu Aitofel, o que trabalha por trás dos bastidores, manipulando as coisas a seu favor.

Husai, confiança à toda prova

A caravana de Davi prosseguia...
“Chegando Davi ao cume, onde se costumava adorar a Deus, Husai, o arquita, veio encontrar-se com ele, com o manto rasgado e terra sobre a cabeça. Disse-lhe Davi: Se fores comigo, ser-me-ás pesado. Porém se voltares para a cidade, e disseres a Absalão: Eu serei, ó rei, teu servo, como fui antes servo de teu pai assim agora serei teu servo, dissipar-me-ás então o conselho de Aitofel” (v.34).
Que voto de confiança Davi depositou em Husai! – Você será os meus olhos e ouvidos em Jerusalém! E mais: Você será minha boca para dissipar os maus conselhos que Aitofel tem dado ao meu filho Absalão. E se Husai resolvesse trocar de lado? Era um risco que Davi teria que correr, para tentar salvar seu filho daquela rebelião estúpida. Que bom que há sempre pessoas com as quais podemos contar em qualquer situação, cuja lealdade está acima das contingências.

O texto diz: “Assim Husai, AMIGO DE DAVI, veio para a cidade, e Absalão entrou em Jerusalém”(37). De fato, não fosse a atuação de Husai ao desbaratar um conselho de Aitofel, aquela conspiração teria tomado outros rumos.

Há que se tomar cuidado com os oportunistas de plantão. Há pessoas que sabem como tirar proveito de uma crise. Este era o caso de Ziba, que apareceu na hora certa, no lugar certo, mas a com a motivação errada. Ziba era servo de Saul. Quando Davi, por amor de Jônatas, resolveu que acolheria em seu palácio a Mefibosete, o neto deficiente de Saul, colocou-o aos cuidados de Ziba. Naquele momento, Ziba aceitou passivamente (confira em 2 Sm.9:1-11). Mas agora chegara a oportunidade de Ziba tirar algum proveito da situação, e revertê-la em seu favor. Ele se cansara de administrar o que pertencia a seu senhor. Era hora de assumir o controle e ser dono do próprio nariz. Chega de submissão! Na mente de Ziba, chegara a hora de deixar de ser cauda, para ser cabeça.
“Tendo Davi passado um pouco além do cume, ali estava Ziba, o moço de Mefibosete, esperando para encontrar-se com ele, com um par de jumentos albardados, e sobre eles duzentos pães, cem cachos de passas, e cem de frutas de verão e um odre de vinho. Perguntou o rei a Ziba: Que pretendes com isto? Respondeu Ziba: Os jumentos são para a casa do rei. Para se montarem neles, e o pão e as frutas de verão para os moços comerem, e o vinho para os cansados no deserto beberem. Então perguntou o rei: Onde está o filho de teu senhor? Respondeu-lhe Ziba: Ficou em Jerusalém, porque pensa: Hoje a casa de Israel me restituirá o reino do meu pai. Então disse o rei a Ziba: Tudo o que pertencia a Mefibosete é teu. Disse Ziba: Inclino-me humildemente, e ache mercê aos teus olhos, ó rei meu senhor” (16:1-4).
Ora, aquilo não passava de uma calúnia. Mefibosete era um moço aleijado, filho de Jônatas, e portanto, herdeiro natural do trono deixado por Saul. Mas ele jamais almejou ocupá-lo. Ele sequer se sentia digno de comer à mesa do rei ao lado dos seus filhos! Ziba conseguiu o que queria. Numa manobra extraiu dos lábios de Davi o que queria ouvir. Agora tudo o que pertencia a Mefibosete passou a ser dele. É claro que Davi se precipitou. Mas ele não tinha tempo de ouvir a outra parte. Sua cabeça estava a mil. E a seu ver, não era justo que Mefibosete o abandonasse justamente naquela hora. Porém, a história não termina aqui. Mais adiante veremos a conclusão.

Um dia de fúria

A caravana prosseguiu em sua jornada, deixando para trás a cidade amada de Jerusalém.
“Tendo o rei Davi chegado a Baurim, dali saiu um homem da linhagem da casa de Saul, cujo nome era Simei, filho de Gera. E, saindo, ia amaldiçoando. Atirava pedras contra Davi e todos os seus servos (...) Amaldiçoando-o, dizia Simei: Sai, sai, homem de sangue, homem de Belial! O Senhor te deu agora a paga de todo o sangue da casa de Saul, em cujo lugar tens reinado. O Senhor entregou o reino na mão de Absalão, teu filho. Tu estás na desgraça, porque és homem de sangue” (vv.5-8).
Se há gente que se aproveita pra tirar vantagem, também há os que aproveitam pra colocar pra fora toda a sua raiva e descontentamento. Surpreendente foi a reação de Davi neste episódio. Um dos seus resolveu comprar a briga e pediu a Davi permissão para arrancar a cabeça de Simei. Veja a resposta que recebeu:
“Então disse Davi a Abisai, e a todos os seus servos: Meu filho, que saiu das minhas entranhas, procura tirar-me a vida. Quanto mais ainda esse benjamita? Deixai-o, que amaldiçoe, pois o Senhor lhe ordenou. Porventura o Senhor olhará para a minha aflição, e me pagará com bem a maldição deste dia” (vv.11-12).
Aquele dia era para Davi o que Paulo chamou de “o dia mal”. Há ‘maldições’ que duram apenas um dia, e que são permitidas por Deus, mas que em longo prazo resultam em bênçãos maiores, acima de qualquer comparação. E aquele foi um dia longo, muito longo. O texto sugere que Simei passou todo o tempo acompanhando a caravana de Davi, amaldiçoando-o e apedrejando-o. Bastava um sinal por parte do rei, e sua cabeça voaria longe. Mas o rei preferiu sofrer calado.

O Caminho de volta

Depois que Absalão foi derrotado, Davi fez o caminho inverso, e retornando a Jerusalém, reassumiu o trono. Enquanto caminhava em direção a Jerusalém, o povo saiu-lhe novamente ao encontro. Só que agora a situação era bem diferente. Em vez de tristeza, havia alegria no ar, ainda que o coração de Davi estivesse em profundo luto pela morte de seu filho amado. Era chegada a hora do acerto de contas. Aquele mesmo Simei que acompanhou a caravana de Davi, apedrejando-o e amaldiçoando-o, agora saiu novamente ao seu encontro.
“Apressou-se Simei, filho de Gera, benjamita, que era de Baurim, e desceu com os homens de Judá a encontrar-se com o rei Davi. Com ele mil homens de Benjamim, como também Ziba, servo da casa de Saul, seus quinze filhos e seus vinte servos com ele. Desceram apressadamente ao Jordão onde estava o rei, e o atravessaram para fazer passar a casa do rei, e para fazer o que aprouvesse a ele” (2 Sm.19:16-18a).
Por que será que estavam com tanta pressa? Por que se misturaram aos homens de Judá? Certamente, tanto Simei quanto Ziba estavam com o coração na mão. Seus erros teriam que ser consertados, antes que fosse tarde demais. Davi voltara ao poder!

Simei tomou a frente de todos, prostrou-se diante do rei, e lhe disse: “Não me imputes, senhor, a minha culpa, e não te lembres do que tão perversamente fez teu servo, no dia em que o rei meu senhor saiu de Jerusalém. Não o conserves, ó rei, no coração. Pois eu, teu servo, deveras confesso que pequei, mas hoje SOU O PRIMEIRO, de toda a casa de José, a descer ao encontro do rei meu senhor” (vv.19-20).

Isso que eu chamo de diplomacia! A mais diplomática hipocrisia. Mesmo tendo razão para vingar-se, Davi preferiu poupar a vida de Simei. Porém, lá na frente, em seu leito de morte, ao aconselhar a seu sucessor Salomão, Davi recomendou: “E lembra-te, contigo está Simei, filho de Gera, filho de Benjamim, de Baurim, que me maldisse com maldição atroz, no dia em que eu ia a Maanaim. Quando ele saiu a encontrar-se comigo junto ao Jordão, eu pelo Senhor lhe jurei, dizendo que não mataria à espada. Mas agora não o tenha por inocente. És homem sábio, e bem saberás o que lhe há de fazer” (1 Reis 2:8-9a). Embora tivesse sofrido calado todas as calúnias e maldições proferidas pelos lábios cruéis de Simei, Davi quis poupar seu filho Salomão. – Cuidado com Simei! Ele não merece sua confiança! Eu o poupei, mas ele não te poupará, e se tiver oportunidade, tentará destruir o seu reino.

O que fez Salomão? Mandou chamá-lo e ordenou: “Edifica-te uma casa em Jerusalém, e habita aí, e daí não saias, nem para uma nem para outra parte. No dia em que saíres e passares o Vale do Cedrom, saibas que certamente serás morte; o teu sangue será sobre a tua cabeça. Simei disse ao rei: Boa é essa palavra. Como tenho dito o rei meu Senhor, assim fará o teu servo. E Simei habitou em Jerusalém muitos dias” (1 Reis 2:36-38). Simei era como uma maçã podre, que poderia colocar todo um cesto a perder. Era importante que Salomão o mantivesse sempre à vista, e não permitisse que sua influência nefasta se estendesse para além dos muros de Jerusalém.

Há pessoas que imaginam ter escapado do juízo de Deus, por terem sido poupados num determinado episódio. É claro que Deus perdoa, mas isso não significa que Ele nos isente de colher os frutos de nossa rebelião. Tudo o que homem semear, isso também ceifará. Não crer nisso é o mesmo que zombar de Deus.

Simei escapou da morte no dia em que Davi retomou o trono. Mas teve sua liberdade restringida aos limites de Jerusalém. Três anos se passaram, e um dia Simei deixou os limites da cidade em busca de dois de seus servos que haviam fugido para Gate. Quando Salomão soube isso, mandou chamá-lo e lhe disse:
“Não te conjurei pelo Senhor e não te protestei, dizendo: No dia em que saíres para uma outra parte, sabe de certo que serás morto? E me disseste: Boa é essa palavra que ouvi. Por que, pois, não guardaste o juramento do Senhor, nem a ordem que te dei? Disse mais o rei a Simei: Bem sabes toda a maldade que o teu coração reconhece que fizeste a Davi, meu pai. Agora o Senhor fará recair a tua maldade sobre a tua cabeça” (vv.42-43).
Quantos ministérios são frutos de divisões, de mentiras, de calúnias? Por conta disso, sua expansão está comprometida, até que reconheçam seu erro e se arrependam. Deus jamais endossaria algo começado tendo mentiras e rebelião como base. Ele até dá corda, como fez com Simei, mas um dia, a prestação de contas virá. E desse dia, ninguém será poupado.


Teremos que prestar contas de tudo o que dissemos, de cada pedra que atiramos, de cada atitude que tomamos, de cada injustiça que cometemos.

Voltemos ao texto que narra o retorno de Davi a Jerusalém. De repente, quem sai ao seu encontro? Mefibosete, neto de Saul. Aquele que Ziba acusara de estar conspirando contra Davi para ocupar seu trono. O texto diz que sua aparência era de alguém em grande abatimento: “Não tinha cuidado dos pés, nem feito a barba, nem lavado as vestes desde o dia em que o rei saíra até o dia em que voltou em paz. Chegando ele a Jerusalém a encontrar-se com o rei, este lhe perguntou: Por que não foste comigo, Mefibosete?” (2 Sm.19:24-25). Percebe-se que o rei ainda estava triste pela ausência de Mefibosete durante o tempo de maior crise do seu reino. Será que ele realmente havia conspirado contra Davi? Será que Ziba havia dito a verdade? Estaria ele esperando que o trono de Saul lhe fosse devolvido? “Respondeu ele: Ó rei meu senhor, o meu servo me enganou. O teu servo dizia: Albardarei um jumento, e montarei nele, e irei com o rei; pois o teu servo é coxo. Demais disto ele falsamente acusou o teu servo diante do rei meu senhor. Porém o rei meu senhor é como um anjo de Deus; faze, pois, o que bem te parecer. Toda a casa de meu pai não era senão de homens dignos de morte diante do rei meu senhor, mas puseste a teu servo entre os que comem à tua mesa. Portanto, que direito tenho de clamar ao rei?” (vv.26-28).

Eis aqui alguém que de fato entendeu o significado da palavra “Graça”. Embora Mefibosete pudesse representar uma ameaça ao trono de Davi, dada a sua condição de descendente direto de Saul, Davi o acolheu em seu palácio. E isso por conta da aliança que Davi fizera com o pai de Mefibosete, Jônatas. Foi por amor a ele, que Davi resolveu correr todos os riscos, trazendo Mefibosete para debaixo do seu teto. Ele agora perdera tudo. Por causa de uma calúnia, Davi transferira para Ziba todos os seus bens. Mas mesmo assim, Mefibosete não se vê no direito de reclamar. Para ele, já era um privilégio sentar-se entre os príncipes, mesmo sendo neto do maior inimigo de Davi. Bastava-lhe a satisfação de reencontrar o rei em seu retorno a Jerusalém. Com a cabeça mais fria, sem estar debaixo da mesma pressão que estava naquele dia, Davi responde: “Por que falas ainda de teus negócios? Já decidi: Tu e Ziba repartireis as terras” (v.29). Foi esta a maneira que Davi arrumou para tentar consertar as coisas. Metade para um, metade pro outro. Estando bom para ambas as partes... De repente, Mefibosete o interrompe e diz: “Que ele fique com tudo, uma vez que o rei meu senhor já voltou em paz a sua casa” (v.30).

Ainda existem homens como Mefibosete entre nós. São poucos. Na verdade, são raríssimos. Mas são frutos de uma consciência tomada pela Graça. Homens que não fazem questão de nada, cujo coração está inteiramente no Rei, e não nas benesses que possam receber.

Barzilai, o prazer de servir por servir 

Embora já tenhamos falado de sete homens que se revelaram durante o tempo de crise no reino de Davi, gostaria de fazer um acréscimo, um oitavo tipo representado por Barzilai. O texto diz:
“Também Barzilai, o gileadita, desceu de Rogelim, e passou com o rei o Jordão, para acompanhá-lo ao outro lado do rio. Ora, Barzilai era muito velho, da idade de oitenta anos. Ele tinha sustentado o rei, quando este estava em Maanaim, pois era homem muito rico. Disse o rei a Barzilai: Passa tu comigo e eu te sustentarei em Jerusalém. Porém Barzilai disse ao rei: Quantos serão os dias dos anos da minha vida, para que suba com o rei a Jerusalém? Da idade de oitenta anos sou eu hoje. Poderia eu discernir entre o bom e o mau? Poderia o teu servo ter gosto no que come e no que bebe? Poderia eu ainda ouvir a voz dos cantores e das cantoras? Por que seria o teu servo ainda pesado ao rei meu senhor? Com o rei irá teu servo ainda um pouco mais além do Jordão. Por que o rei me daria tal recompensa? Deixa voltar o teu servo, para que eu morra na minha cidade junto à sepultura de meu pai e de minha mãe. Mas aqui está o teu servo Quimã. Passe ele com o rei meu senhor, e faze-lhe o que bem parecer aos teus olhos” (2 Sm.19:32-37). 
Mesmo avançado em idade, Barzilai poderia ter-se aproveitado da situação para desfrutar a reta final de sua vida em grande estilo, transitando pelos corredores do poder, comendo à mesa com o rei. Mas em vez disso, preferiu ceder seu lugar a outro. Sua postura nos remete à recomendação de Paulo: "Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros" (Rm.12:10).

Barzilai representa aqueles que servem pelo prazer de servir, sem esperar nada em troca. Aqueles que, como Jesus ensinou, não deixam que a mão esquerda saiba o que fez a direita. Tudo o que fazem, fazem-no por amor, e amor totalmente despretensioso, sem interesses ocultos. Davi ficou profundamente sensibilizado com a atitude de Barzilai. De maneira que respondeu: “Quimã passará comigo, e eu lhe farei como bem parecer aos teus olhos. E tudo o que me pedires te farei. Havendo todo o povo passado o Jordão, e passando também o rei, beijou o rei a Barzilai, e o abençoou, e Barzilai voltou para o seu lugar. Dali passou o rei a Gilgal, e Quimã passou com ele” (vv.38-40a). Davi jamais se esqueceria do bem que aquele ancião lhe fizera no momento mais crítico de sua vida (2 Sm.17:27-29). Uma vez que ele se recusava a ser recompensado, transferindo esta honra a outro, Davi prontamente o atendeu. E não apenas acolheu a Quimã, mas tratou de estender o benefício a todos os filhos de Barzilai. Em seu leito de morte, enquanto se despedia de Salomão, Davi recomendou: “Porém com os filhos de Barzilai, o gileadita, usarás de benevolência e estarão entre os que comem à tua mesa, porque assim se houveram comigo, quando eu fugia por causa de teu irmão Absalão” (1 Reis 2:7). Mesmo que Berzilai não fizesse questão de nada, Davi soube preservar sua gratidão. Berzilai era um homem voltado para o futuro. Não propriamente o seu futuro, uma vez que estava velho e prestes a partir, mas o futuro de sua descendência. Recusar-se a receber aquela honra foi fator decisivo para que sua descendência fosse preservada no futuro.

Não devemos ser imediatistas, pensando apenas em nos aproveitarmos da situação atual sem considerar quem vai pagar esta conta mais tarde: nossos filhos e netos. Os heróis de hoje poderão ser os vilões de amanhã e vice-versa. Portanto, nada melhor do que nos manter fiéis à nossa consciência, recusando-nos a sacrificar o futuro no altar da conveniência. 

terça-feira, maio 24, 2016

9

Para Silas Malafaia, Romero Jucá defende ideais e princípios cristãos



Por Hermes C. Fernandes

Aprendi desde cedo a não colocar a mão no fogo por ninguém. Não há ser humano que esteja acima de qualquer suspeita, ou mesmo acima do bem e do mal. Todos estamos suscetíveis ao erro. Portanto, prudência nunca é demais.

Devemos, sim, nos posicionar pela verdade, ainda que sejamos por ela expostos; pela justiça, mesmo que nos seja prejudicial. 

Posicionar-se pelo estado democrático de direito não significa ser fiador moral de quem quer que seja. Se alguém cometeu delito, que seja devidamente punido. Seja Chico, seja Francisco. Seja Aécio, seja Dilma. Seja Temer, seja Lula. Seja quem for!

Não pode haver "malvados favoritos", nem bandidos de estimação. Errou, pague por seu erro.

Tão logo estourou a bomba envolvendo o ministro Romero Jucá, um vídeo  em que o pastor Silas Malafaia aparece defendendo o político acabou viralizando. Obviamente que o tal vídeo não é recente. Todavia, sua fala não tem prazo de validade. Silas diz com todas as letras: "Jucá é um amigo da comunidade evangélica. É um homem que defende ideais e princípios cristãos. Então, ele tem o nosso apoio (...) como eu sou um pastor, eu desejo que Deus o ilumine e lhe dê sabedoria para continuar esta jornada."

Agora, o homem que defende "ideais e princípios cristãos" se vê no olho do furacão, conspirando para derrubar uma presidente democraticamente eleita para sabotar a Lava-jato, impedindo que ele mesmo e seus pares sejam pegos. Ele pode até ser "amigo da comunidade evangélica", mas revelou-se um inimigo do povo brasileiro. 

Percebendo a enrascada na qual se meteu, Silas recorreu ao twitter para postar sua "santa indignação".



Mas já era tarde. Como diz o sábio Salomão, "você caiu na armadilha das palavras que você mesmo disse, está prisioneiro do que falou" (Provérbios 6:2).

Com a experiência que tem, Silas já deveria ter aprendido a se conter, evitando vexames como este. E por ser reconhecido como um líder proeminente dentro da comunidade evangélica, deveria saber que suas palavras e atitudes repercutem e expõem os evangélicos desnecessariamente. Não é a primeira vez que isso acontece. 

Ele já havia hipotecado seu apoio a Eduardo Cunha, vindo a negar publicamente depois que o ex-presidente da Câmara foi afastado do cargo por seu envolvimento em escândalo de corrupção.

Salomão segue sendo atual, e manda mais dois recados para Silas e cia:
"O homem sem juízo, com um aperto de mãos se compromete e se torna fiador do seu próximo" (Provérbios 17:18).
"Decerto sofrerá prejuízo aquele que fica por fiador do estranho" (Provérbios 11:15a).
O mais delicado e perigoso tipo de fiança não é o financeiro, mas o moral. Ser fiador moral de alguém é atrelar sua própria honra à honra alheia. Quem assim age, mostra não ter juízo. E quem não tem juízo, sofre o prejuízo. Simples assim. Pode até não doer no bolso, mas vai macular sua honra e sua imagem, minando sua credibilidade. 

Seguem abaixo, dois vídeos em que Malafaia incorre no erro exposto acima:








quinta-feira, maio 12, 2016

12

Celebrando a vitória do golpe



Por Hermes C. Fernandes

Quero parabenizar ao excelentíssimo Sr. Presidente em exercício Michel Temer pela proeza de chegar ao poder tendo aglutinado ao seu redor tanta gente de bem. Parabéns pelo ministério exemplar. Acertou em cheio na escolha, demonstrando que, de fato, seu programa de governo é uma ponte para o futuro (e quê futuro!). Parabéns pelos sete ministros investigados pela Lava-Jato e que passam a ter foro privilegiado (esteja preparado para enfrentar as ruas amanhã! O MBL já está mobilizando a coxinhada para lotar a Paulista! Se não aceitaram Lula, por que aceitariam esses sete?).

Parabéns por uma equipe formada exclusivamente de homens brancos, sem qualquer representação feminina ou de minorias étnicas. E que ministro de justiça é aquele, hein? O ex-advogado do PCC, é isso mesmo? Que orgulho de ser brasileiro...

Também quero parabenizar à Rede Globo de Televisão, bem como as demais redes de TV que rezam em sua cartilha (até a Record se dobrou! Vivi pra ver isso). Vocês conseguiram mais uma vez! Merecem pedir música no Fantástico. Mais uma vez terão um fantoche bem ao estilo de Herodes no Palácio do Planalto. Preparem-se para uma enxurrada de verbas federais...

Parabenizo também aos pastores Silas Malafaia (agora sai a tão sonhada concessão de TV!), Marco Feliciano (e aí, vai acabar com a Parada Gay quando for prefeito de SP?), e ao discretíssimo Edir Macedo que troca de lado sem o menor constrangimento. O importante é estar próximo do poder. Conseguiu até mais um ministério. E desta vez não será o da pesca (vamos combinar? aquilo era vergonhoso!), mas o de ciência e tecnologia. A comunidade científica mundial está soltando fogos! Quem diria, em pleno século XXI, um criacionista à frente da ciência (se é que ele sabe o que é criacionismo... esses bispos da IURD costumam ser analfabetos em matéria de teologia). Que upgrade, hein?

Parabenizo a todos os pastores que usaram seus púlpitos para demonizar o Lula e o PT e divinizar o Bolsonaro. A propósito, parabéns pelo batismo, Mito! Você agora é um dos nossos! São só quarenta milhões de evangélicos capazes de garantir a eleição de qualquer presidente. Tomara que o Pr. Everaldo tenha lhe feito mergulhar ao menos sete vezes para ver se consegue limpá-lo desta lepra fascista.

Parabenizo ao Sr. Eduardo Cunha, que entra para a história como o mais inescrupuloso parlamentar que este país já produziu (merece série na Netflix bem ao estilo de Escobar). Acho até graça quando me recordo de seu bordão: "Porque o nosso povo mereeeeece respeitÔ!" O que o nosso povo não merecia era ter alguém de sua laia presidindo aquela vergonha em que se tornou nosso parlamento.

Parabenizo a FIESP. Vocês são demais! Que demonstração de força foi essa? Como disse um amigo meu, o pato pagou o golpe, resta saber quem vai pagar o pato. Adivinha...

Parabenizo ao povo brasileiro, em especial, os que engrossaram o coro regido pelos que citei acima. Vocês deram um show de cidadania e patriotismo. Derrubaram no grito um governo legitimamente eleito por 54 milhões de votos. Que orgulho das cores de nossa bandeira! Finalmente, o PT perdeu a boquinha. A corrupção foi varrida (pra debaixo do tapete, é claro!). Só falta prender o Lula para garantir que ele não venha candidato em 2018. Por que, se vier...

Bem, a mesma Escritura que diz que devemos nos alegrar com os que se alegram, também diz que devemos chorar com os que choram. Então, peço licença para prestar minhas condolências a quem perdeu.

Minhas condolências à excelentíssima presidenta (primeira vez que a chamo assim!) Dilma Rousseff. A senhora bem que tentou. Mas como poderia governar sendo sabotada pelo congresso desde o primeiro dia de seu segundo mandato? A história saberá julgá-la. Se depender de muitos, não será um "tchau, querida", mas apenas um "até mais, presidenta!" Infelizmente, depende de quem já está decidido a sepultar de vez sua trajetória política. Sinceramente, em seu lugar, eu deixava tudo isso de lado para me dedicar a criar meus netos. Mas como você não é de fugir da luta...

Minhas condolências a todos os artistas da TV, do Teatro, do Cinema, do Circo e até das ruas, pelo encerramento das atividades do Ministério da Cultura. Vamos voltar a nos contentar com os blockbusters enlatados americanos, com a doutrinação ideológica do Tio Sam.

Minhas condolências aos movimentos sociais que já não terão nem vez, nem voz neste governo postiço. Como se não bastasse a extinção do Ministério da Cultura, o novo governo extinguiu também os Ministérios das Mulheres, da Igualdade Racial e Direitos Humanos. Em menos de 5 horas o governo promoveu um retrocesso de 30 anos.

Minhas condolências às minorias, incluindo mulheres, negros, índios, LGBT's, imigrantes, aos beneficiários dos programas sociais do governo, aos estudantes de universidades federais (entre eles, meus filhos), etc.

Minhas condolências a você que como eu não perdeu a esperança de um Brasil verdadeiramente democrático. Que insistiu até o último momento em acreditar nas instituições. Torçamos para que a Lava-jato deixe de ser apenas uma ducha na lataria desta Brasília velha e se torne verdadeiramente numa faxina profunda que inclua todas as suas engrenagens carcomidas pela corrupção. Que estes que agora riem e zombam do povo brasileiro, possam chorar amargamente ao serem pegos pelas malhas da justiça. Se é que existe justiça abaixo da linha do Equador... A esperança ainda pulsa.


quinta-feira, abril 14, 2016

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Seus pobrema acabaram! Vem aí o impeachment tabajara!


Por Hermes C. Fernandes

"Seus pobrema acabaram!" Com este bordão, a turma do Casseta & Planeta fazia paródias muito bem humoradas de produtos que ofereciam verdadeiros milagres.  Seu Creysson, garoto propaganda das Organizações Tabajara, dava o arremate na peça publicitária dizendo: "Eçe eu agarantiu!!!" 

Tenho a impressão de que a vida resolveu imitar a arte mais uma vez. Cada vez que vejo manifestações favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, percebo um misto de esperança e ingenuidade. A maioria parece acreditar que tão logo a presidente seja deposta, a crise terá fim. Será? Ou estaríamos diante de um impeachment com o selo de qualidade "Seu Creysson"?

Sem querer cortar o barato de quem quer que seja, será que ninguém se deu conta do que está por vir? Todos estão tão distraídos com a possibilidade de impeachment, que nem notaram, ou ao menos, fingem não notar que quem vai sucedê-la é ninguém menos que Michel Temer. E pelo jeito, temos muito, mas muito mesmo a temer... Trocadilhos à parte, o atual vice-presidente já sinalizou para alguns dos setores mais reacionários do cenário político brasileiro para a composição de um eventual governo. Com uma postura bem diferente a de Itamar Franco que sucedeu Collor após seu impeachment, Temer é um falastrão. Sua fome pelo poder é incontestável. Covardemente ordenou que os membros de seu partido pulassem fora do governo, enquanto ele mesmo se manteve na esperança de ocupar a cadeira presidencial. Abaixo dele, deparamos com a controversa figura de Eduardo Cunha, o mais ilibado presidente da Câmara de Deputados de todos os tempos. SNQ. 

Brasil, onde você está se metendo? 

Não é preciso gostar de Dilma, nem defender seu governo para perceber o que está acontecendo, de fato. Estamos numa emboscada. Será que ninguém vê?

Dilma está servindo de boi-de-piranha para distrair nossas atenções para o que se passa bem debaixo de nosso nariz.

No pantanal mato-grossense, quando um boiadeiro tem que atravessar um rio enfestado de piranhas com sua boiada, ele escolhe um dos bois, faz um talho em uma de suas patas e o faz atravessar sozinho. Enquanto as piranhas se distraem com aquele boi, a boiada inteira passa incólume do outro lado.

Quem imagina que o problema do país é a presidente pode estar passando um atestado de ingenuidade (me recuso a usar palavras chulas, embora me sinta tentado a isso).

Ou alguém acredita que a Lava-jato vai prosseguir até derrubar o último dos corruptos? Ou que o pacote anticorrupção enviado pela presidente ao congresso vai finalmente ser votado? Ou que a tão sonhada reforma política vai sair?

O problema não é Dilma. O problema é a composição atual de nosso congresso. Homens desprovidos de honra e caráter. E que deram prova disso pulando fora do navio ao vê-lo afundar. Tal qual fazem os ratos...

Dos 38 que votaram a favor do processo de impeachment, 35 estão implicados na Lava-jato. 

Se a coisa fosse séria, Eduardo Cunha não presidiria o processo que visa derrubar uma mulher que, até se prove ao contrário, não teve seu nome envolvido em nenhum escândalo de corrupção. Enquanto ele responde por corrupção já devidamente comprovada. 

As famigeradas piranhas do congresso estão loucas para devorar a carne da primeira mulher eleita presidente deste país. Enquanto as bancadas do boi, da bíblia e da bala saem ilesas. 

Não preciso ser uma árvore para defender o meio-ambiente, nem homossexual para defender os direitos LGBT. Da mesma forma, não preciso ser petista, tampouco eleitor de Dilma ou Lula, para me sentir ultrajado com a injustiça que se comete em plena luz do dia em nosso país. 

Se é para derrubar o que está aí, a primeira peça do dominó a cair tinha quer Eduardo Cunha, seguido de Renan Calheiros, e boa parte dos deputados e senadores que etiquetaram suas almas. Os que trocam de lado, fazem-no como quem investe no mercado futuro. Não se enganem! Não há ali idealismo, altruísmo, mas tão-somente interesses, jogo de poder. As exceções são raríssimas. E posso garantir que não se encontram na cambada, ops, bancada evangélica. 

Minha oração é que a vontade soberana de Deus prevaleça. Se Ele quiser agir com juízo sobre nós, dele ninguém escapará. Se quiser agir com misericórdia, dela ninguém prescindirá. 

quinta-feira, março 31, 2016

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O ato patético do Malafaia e o comunismo mequetrefe do PT



Por Hermes C. Fernandes

Isenção. Parece que esta palavra não anda muito em alta ultimamente. Todos requerem que saiamos de cima do muro, escolhendo um dos lados. Porém, quando falo de isenção profética, refiro-me a olhar para além do muro, posicionando-se de maneira tal a tornar possível uma avaliação desprovida de paixão.

Tomo como parâmetro as cartas de Jesus registradas no livro de Apocalipse endereçadas às igrejas da Ásia Menor. Nelas, Jesus elogia o que podia ser elogiado, critica o que devia ser criticado, encoraja o que precisava ser encorajado, adverte no que tinham de ser advertidas. À igreja em Éfeso, por exemplo, Ele diz:

“Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Apocalipse 2:2-4

Quando pendemos para um lado, fazemo-nos cegos ante os equívocos, enfocando apenas os acertos, ou vice-versa. Tal dicotomia é falaciosa e, pelo bem da verdade, deve ser evitada e denunciada.

Permita-me expor um pouco do que penso sobre o atual governo e o partido que está no poder a 13 anos.

O Partido dos Trabalhadores me proporcionou duas grandes surpresas. Primeiro, positiva. Depois, negativa.  A positiva se deve ao fato de haver crescido ouvindo horrores acerca dos “comunistas”.  Cresci durante o regime militar. Fui doutrinado em sala de aula por matérias como OSPB (Organização Social e Política Brasileira) e “Moral e Cívica”. Na escola pública onde estudava, tínhamos que nos formar no pátio e jurar a bandeira embalados pelo Hino Nacional todos os dias. 

Diferentemente das crianças dos anos 80 e 90 que cresceram aos cuidados de Xuxa e Cia, eu cresci assistindo ao Capitão Aza, programa infantil comandado por um personagem militar que usava um capacete com o símbolo do Capitão América. Minha visão de mundo foi diretamente influenciada pelos enlatados Made in USA transmitidos na sessão da tarde, em que o homem branco era sempre o mocinho e o índio, também chamado de pele vermelha era sempre o bandido.

Meu pai, filho do seu próprio tempo, nos advertia que se um dia os comunas chegassem ao poder, teríamos que dividir nossa casa com outras famílias e estar dispostos a morrer por nossa fé. Foi para frear a ascensão comunista que ele apoiou Moreira Franco para o governo do Rio em oposição a Leonel Brizola. Mais tarde, ele foi o orador do lançamento da candidatura de Fernando Collor de Mello, o caçador de marajás, num restaurante do Rio de Janeiro. Portanto, posso assegurar que nasci e cresci num lar tipicamente cristão e conservador. Infelizmente, meu pai não viveu o suficiente para ver seus temores ruírem com a eleição de um metalúrgico ao mais importante posto político do país.

Assim que Lula assumiu o poder, uma das primeiras medidas que tomou foi convidar líderes evangélicos para um encontro no Palácio do Planalto. Ainda desfrutando do prestígio alcançado pelo meu pai no cenário político-religioso, fui convidado com outros 39 líderes de várias denominações para nos reunir com aquele a quem por anos chamávamos de “sapo barbudo”.  Alguns dos que hoje vociferam em seus programas de TV contra o governo também estavam lá, faceiros, orgulhosos por entrarem pela primeira vez no centro do poder para uma audiência com ninguém menos que o presidente da república (o mesmo que eles duramente criticaram durante a campanha). Nunca antes na história de nosso país, pastores haviam sido convidados para participar de políticas sociais que pretendiam tirar milhões de pessoas da mais absoluta miséria. Em vez de nos enviar para o temido paredão (houve quem pensasse que aquela reunião fosse uma armadilha), Lula nos pediu que o ajudasse, mas não nos prometeu nada. Soava-me ingênuo de sua parte acreditar que alguns daqueles homens se engajariam numa luta contra a miséria sem esperar algo em troca. Assim que cheguei a Brasília, pensei com os meus botões: com o que será que nossos pastores estão se metendo? Mas depois de ouvir os comentários dos mesmos nos bastidores, pensei: Este presidente é que não sabe onde está se metendo...

Devo confessar que não saí dali convencido. Cheguei a imaginar que tudo aquilo poderia ser uma manobra de alguém que quisesse implantar um regime totalitário no país. Verdade é que alguns daqueles líderes acabaram se envolvendo em tais políticas sociais; eu preferi manter distância. Não apenas por não estar convencido da sinceridade do presidente, mas por haver decidido manter nossa igreja distante de qualquer envolvimento político-partidário.

Os anos se passaram. Lula foi reeleito e terminou seu governo com o maior índice de popularidade entre todos os presidentes. Pela primeira vez, ao apresentar-me no exterior como pastor brasileiro, perguntavam-me por Lula e não mais por Pelé. Percebi em minhas viagens aos EUA que o fluxo migratório havia se revertido. Havia mais brasileiros voltando para o Brasil cheio de esperanças, do que o abandonando e trocando-o pelo american dream. O brasileiro passou a ser tão cobiçado pela indústria turística, que alguns países deixaram de exigir dele um visto de entrada. Até os EUA passaram a estudar a possibilidade de suspender a dura política de vistos para brasileiros. Mesmo que não tenha suspendido, é muito mais fácil conseguir um visto hoje em dia do que há quinze anos. Tudo graças ao período de prosperidade que vivemos nos últimos anos.  Sem contar que o país deixou de ser mero coadjuvante para tornar-se num poderoso e respeitado protagonista no tabuleiro da política internacional. Deixamos de ser vistos como república das bananas para ser visto como uma potência em ascensão.

Trinta e seis milhões de cidadãos brasileiros foram içados de sua condição de miséria absoluta. Outros tantos milhões foram introduzidos à nova classe média.

Visitando os membros de nossa igreja que moram em comunidades carentes, pude observar quantos tiveram acesso a bens de consumo. A velha geladeira com a porta pendurada com arame cedeu a um refrigerador duplex. Aparelhos de ar condicionado nos quartos. TVs de tela fina. Celulares. Internet e TV por assinatura. E não raras vezes, um carro estacionado no pé do morro. Vibrei cada vez que celebrei o aniversário de quinze anos da filha de uma família pobre ou o casamento dos sonhos de um casal de origem humilde.

Comemorei cada vez que um irmão de comunidade vinha me contar que seu filho ou filha havia entrado para uma universidade pública.

Se por um lado, vibrava com as conquistas sociais, por outro, preocupava ver as alianças que o governo fazia em nome da governabilidade. Constrangia-me ver Lula posando ao lado dos caciques da política, gente do quilate ético de José Sarney e Paulo Maluf. Também ficava constrangido cada vez que lia a notícia de que “nunca na história do país” os bancos haviam lucrado tanto. Temia que o PT houvesse vendido sua alma ao diabo e que, eventualmente, ele viria cobrar. E veio.

Detestei ver Dilma desfilando nos púlpitos de igrejas evangélicas durante sua campanha presidencial (ela não foi a única!). Não gostei de vê-la na inauguração do Templo de Salomão. Durante todo o seu governo, a IURD colou feito um carrapato. Jamais gostei de vê-la falar em público. Uma lástima. Falta-lhe o traquejo e o carisma de seu mentor. Mas, sinceramente, não consigo ver nela uma pessoa de má fé. Mesmo não me passando confiança em seu discurso, respeito sua história de luta contra o regime militar, o que lhe rendeu prisões e torturas.

Sem dúvida, minha maior decepção se deu quando começaram a estourar os escândalos de corrupção. Parafraseando Jesus aos Efésios, parece que o PT deixou o seu primeiro amor. Todo o discurso ético que marcou sua trajetória foi lançado na lata do lixo.

Posso dizer, sem medo de errar, que o PT traiu o seu povo e a sua própria história, e, certamente pagará um alto preço por isso. Seria tolice acreditar que ele esteja só nesta lama. Quase todos os partidos estão atolados até o pescoço. Porém, nenhum deles tem o histórico do PT. Que todos errassem, mas ele não tinha o direito de errar. Pelo menos, não no que tange à corrupção. Que fosse por gestão incompetente, mas nunca por corrupção.

Como todo brasileiro que se preze, estou farto de corrupção. O país precisa ser passado a limpo. Todo este mar de lama tem que ser varrido de uma vez por todas.

O Brasil precisa de muito mais que um “lava-jato”. Ele precisa de uma faxina completa, e não apenas de uma ducha rápida na carroceria para inglês ver. Nossas instituições precisam ser aspiradas do lado de dentro, e ter suas rodas devidamente calibradas e balanceadas. O país precisa de um pitstop para trocar o óleo do motor que a esta altura já virou uma gosma queimada que perdeu sua viscosidade. E isso, antes que o motor entre em pane.

Pelo jeito, teremos que cortar na própria pele. Deixar de lado as paixões ideológicas e partidárias. Admitir que fracassamos como sociedade, a que instituiu o jeitinho e despudoradamente se orgulha disso como se fosse um patrimônio tombado.

Isso não significa que vale tudo para destituir uma presidente democraticamente eleita. Sim, eu disse “democraticamente eleita”, porque não acredito em teorias da conspiração em torno das urnas eletrônicas. Se isso fosse verdade, por que o PSDB conquistou o governo do mais importante estado da federação? E os outros estados onde o PT perdeu? Se houvesse fraude, por que permitir um segundo turno tão conturbado? Quem frauda no segundo turno, poderia ter fraudado ainda no primeiro, evitando tanto desgaste e uma vitória tão apertada.

Não vale tudo para reverter o que está aí. Devemos pautar pela ética, pelo estado de direito, pelo o que é justo e verdadeiro. Infelizmente, boa parte das lideranças evangélicas há muito trocou a Bíblia por Maquiavel. Paulo, o apóstolo, nos adverte a que não usemos armas carnais em nossa militância contra o mal (2 Coríntios 10:4). Dentre tais armas está a mentira, as meias-verdades, as insinuações, as calúnias.

Como cantava Cazuza, “eu vejo o futuro repetir o passado, um museu de grandes novidades.” Ou como disse o sábio Salomão, “não há nada novo debaixo do sol. O que é, já foi um dia.”

Os mesmos argumentos usados em 1964 pelos que participaram da “marcha pela família com Deus pela liberdade”, são exaustivamente repetidos nos púlpitos e programas evangélicos televisivos. Aceitamos a oferta de Saul e vestimos sua armadura.

Como se não bastasse a mentira de afirmar que o atual governo é comunista, conclama-se o povo evangélico para um “ato profético” na esplanada do planalto, no afã de dar uma aura espiritual àquilo que esconde pretensões políticas e econômicas inconfessáveis.  Quando aprenderemos, afinal?

A manifestação de demonstração de poder (não passa disso!) está prevista para coincidir com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso e deve mobilizar caravanas de todo o país. Malafaia disse em entrevista que o evento tem o objetivo de profetizar o fim da corrupção e da crise econômica no Brasil. Chega ser cômico, não fosse trágico. Como o mundo poderia nos levar a sério com um mico desses?

Será que o Eduardo Cunha, paladino da transparência e da honestidade, estará no palco com a dupla dinâmica, Malafaia e Feliciano, como esteve tantas outras vezes? Será que basta meia dúzia de palavras mágicas “em nome de Jesus” e tudo se reverterá? É este o tipo de espiritualidade ensinada por Jesus? Ou será que o objetivo seria mandar um recado ao próximo mandatário do país?


Por que um governo que fosse uma ameaça comunista, como alega Malafaia, isentaria as igrejas de IPTU? Se houvesse pretensão de instalar uma ditadura, por que ainda não o fez, mesmo tendo aparelhado o estado? O que é que estão esperando? Que comunismo mais mequetrefe, que nem sequer cassou concessões de TV que lhe fazem oposição aberta diuturnamente!

Que governo totalitário permite que a polícia federal e o judiciário façam o que estão fazendo? O que, aliás, outros governos considerados conservadores nem de longe permitiram.

De acordo com Renato Janine, professor de Ciências Políticas da USP, “o princípio de todo partido ou militante comunista é a abolição da propriedade privada dos meios de produção. Quer dizer que só a sociedade pode ser dona de fábricas, fazendas, empresas. Já residências, carros, roupas e hortas para uso pessoal ou familiar não precisariam ser expropriadas de seus proprietários privados. A casa em que eu moro não é ‘meio de produção’. Menos ainda, minha roupa. Mesmo a horta, em vários países comunistas, ficou em mãos particulares. Seja como for, o ponto de partida do comunismo é: a propriedade privada dos meios de produção — fazendas, fábricas — é injusta e, também, ineficiente. Deve ser suprimida. Sem essa tese, não há comunismo.”

Ora, até o presente momento, não se ouve falar de latifúndios que teriam sido desapropriados pelo governo em benefício do MST, por exemplo. A tão esperada reforma agrária nunca saiu do papel. E por que as estatais privatizadas pelos tucanos a preço de banana não foram ainda retomadas?  Que comunismozinho mais sem vergonha!

Outra coisa: os Malafaias e Felicianos da vida seguem aterrorizando os crentes dizendo que o comunismo trabalha para destruir o conceito de família tradicional, com sua agenda LGBT e sua ideologia de gênero. Ora, ora, quem introduziu a equivocadamente chamada “ideologia de gênero” não foi algum país comunista, mas a maior potência capitalista do mundo, os Estados Unidos. Países considerados comunistas como a China punem severamente a prática homossexual.

A que conclusão podemos chegar com o que expus até aqui? Há muito que criticar o atual governo, mas será um baita equívoco criticá-lo por ser comunista. Por trás da falsa e alardeada conexão entre o PT e o comunismo está uma visão de mundo reducionista, fruto de um raciocínio raso e primitivo, que atrela qualquer grupo ou ato da esquerda política ao bolchevismo ou ao bolivarismo.

Definitivamente, 1964 é um filme que não vale a pena ver de novo. Os argumentos são os mesmos. As mentiras, idem. Alegavam que João Goulart pretendia dar um golpe comunista e que a única maneira de evitá-lo seria um contragolpe. Deu no que deu.  Que não se repita nunca mais. No que depender de mim, a menos que se comprove o envolvimento da presidente na corrupção, NÃO VAI TER GOLPE. Até o momento, o nome de vários de seus detratores conta na lista do Lava-Jato, exceto. O dela, não. 

Se quisermos limpar o país, comecemos pelos nossos púlpitos. Que nunca mais políticos transitem por eles. Que nunca mais líderes negociem os votos de seu rebanho. Que nunca mais usem o prestígio advindo de sua posição para pressionar governos a atenderem suas solicitações nem sempre louváveis. 

segunda-feira, março 21, 2016

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O dia em que Jesus frustou a expectativa de um golpe



Hermes C. Fernandes


Havia uma expectativa no ar. Todos comentavam entre si que finalmente chegara o dia em que o Messias tão esperado adentraria triunfantemente em Jerusalém; dirigindo-se ao palácio, deporia Herodes, o rei fajuto, marionete do império romano. Um tal galileu surgira na periferia, fazendo milagres, exorcizando demônios, alimentando multidões. Além de tudo, tinha pedigree. Só poderia ser Ele, o filho de Davi, que libertaria Seu povo do domínio romano, e assumiria o trono do qual era herdeiro.

A cidade estava em polvorosa. Munidos de ramos, todos dirigiram-se ao portão principal para dar boas vindas ao que vinha em nome do Senhor. HOSANA! Os tempos áureos voltaram! Viva o Filho de Davi!

De repente, desponta no horizonte um figura doce, serena, montada num jumentinho. Seus discípulos O precediam e engrossavam os brados de hosana.

Acostumados em assistir às paradas triunfais, em que reis e generais se apresentavam montados em extravagantes corcéis, a imagem d’Aquele galileu montado num jumento era, no mínimo, frustrante. Mesmo sem entender direito o que acontecia, os brados de hosana se intensificavam. Talvez aquilo fosse um recurso cênico, visando identificá-lO com as camadas mais pobres e oprimidas da sociedade. Ninguém podia supor que o jumentinho era emprestado.

Ao atravessar o portão da cidade, todos imaginavam que Ele Se dirigiria ao palácio, liderando o povo para um golpe de estado, mas em vez disso, Ele toma o lado oposto, e Se dirige ao Templo.

Possivelmente muitos pensaram que Ele faria uma breve escala no templo, a fim de legitimar Seu motim, buscando apoio da casta sacerdotal.

Inusitadamente, Sua feição é transformada. O galileu humilde montado num burrinho, agora improvisa um chicote, adentra os pátios do templo, e de lá expulsa os cambistas e mercadores.

Confusão geral! Os brados de hosana foram substituídos por burburinhos. Todos estavam enganados em suas expectativas. Ele não estava interessado em ser unanimidade. Não buscava apoio dos sacerdotes, nem dos dos principais partidos religiosos.

O reino que Ele representava não propunha mudanças que começassem pelo palácio, mas pelo templo. A Casa de Seu Pai estava sendo profanada, transformada num mercadão a céu aberto. Antes de instaurar a ordem do reino, aquela “ordem” teria que ser subvertida. Mesas de pernas pro ar! Gaiolas abertas! Cambistas expulsos!

O mesmo Cristo do jumentinho é o Cristo do chicote. Não confunda Sua humildade com passividade. Ele jamais fez vista grossa às injustiças dos homens.

Depois de limpar o terreno, cegos e coxos Lhes são trazidos, e Ele os cura ali mesmo. De repente, o silêncio é quebrado por brados de hosana, que desta vez vinham dos lábios de crianças.

Os sacerdotes, indignados, perguntam se Ele não se incomoda com aquilo. Jesus responde: Vocês jamais leram? Da boca das crianças é que sai o mais puro louvor.

Repare nisso: Os hosanas bradados à entrada de Jerusalém não mereceram qualquer comentário de Jesus. Entretanto, Ele sai em defesa das crianças que O louvavam com a mesma expressão. Por quê? Porque estes eram legítimos, desprovidos de interesses. Os hosanas de quem O recepcionou à porta da cidade foram interrompidos, tão logo Jesus feriu seus interesses. Os mesmos lábios que O enalteciam, dias depois clamavam por sua crucificação. Quão volúveis somos nós, humanos. Num dia aplaudimos, noutro vaiamos. Quem hoje é unanimidade, amanhã é execrado. 

Aqueles O louvavam por imaginarem que Jesus planejava um golpe político, e que, em posse do trono, romperia relações com Roma, reduziria a carga tributária, e restabeleceria a monarquia de Davi. Mas Jesus tinha em mente outro tipo de revolução. Somente as crianças estavam prontas para isso. Naquele momento, Jesus Se tornou no super-herói da meninada.

Só Ele teve a coragem de desafiar o status quo. Só Ele ousou enfrentar os que detinham o monopólio religioso.

Enquanto as crianças O louvavam, os adultos, indignados, já pensavam em como detê-lO. Foi esta postura subversiva que Lhe custou a vida. Começava ali a contagem regressiva para que o Cristo subversivo fosse morto, não por defender uma ideologia, mas um ideal, o ideal do Reino de Deus.

Desde então, o grito de “hosana” deveria ter conotação subversiva, e não ser mais um jargão religioso. Que seja o hosana das crianças, dos representantes do futuro, aqueles para os quais é o reino dos céus, e não o hosana dos interesses inconfessáveis, do monopólio, da religiosidade insípida, do jogo político. É triste e revoltante ver tantos cristãos deixando seus cultos dominicais portando ramos nas mãos, sem com isso serem cúmplices de Deus na instauração do Seu reino.

Que a religião instituída desista de tentar domesticar Jesus. Que ninguém se atreva a reduzir Sua agenda às nossas expectativas e paixões ideológicas.

Aos líderes evangélicos que fazem coro com o que há de mais reacionário no atual cenário brasileiro, antes de saírem às ruas, promovendo seus 'atos proféticos' para amarrar o principado da corrupção, com seus comícios travestidos de cruzadas evangelísticas, preparem-se para receber uma visita relâmpago de Jesus em suas próprias igrejas. Assim como os cambistas transformaram o pátio do templo num mercadão a céu aberto, muitos estão transformando a igreja em curral eleitoral. O Cristo que derruba mesas, também derruba púlpitos. Então, antes de apontar seus dedos inquisidores para os de fora, tratem de parar de negociar os votos de suas ovelhas ou induzi-las com seu discurso de ódio a se posicionarem contra outros segmentos. Lembrem-se de que o juízo de Deus sempre começa pela Sua própria casa, e ele será sem misericórdia com os que não usaram de misericórdia com os seus semelhantes. 

sexta-feira, março 18, 2016

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URGENTE! LEIA ANTES DE SAIR ÀS RUAS



“As pessoas que querem fazer deste mundo um lugar pior 
não descansam, por que eu vou descansar?" Bob Marley


A queda do muro de Berlim marcou o fim de uma era caracterizada pela polarização entre duas super potências: os EUA e  a União Soviética. Lançava-se uma pá de cal na guerra fria que assombrou a civilização por décadas. Há fortes indícios de que o mundo esteja caminhando para uma nova polarização. Basta verificar as novas produções hollywoodianas que refletem bem o espírito desta época. “Batman vs Superman”, “Guerra Civil” (Capitão América vs Homem de Ferro), e tantas outras. Nem produções cristãs escapam deste espírito. Observando o cartaz do filme “Deus não está morto 2”, encontrei no subtítulo a provocante pergunta “De que lado você está?” e a imagem de uma mulher caminhando em direção a uma Corte, cercada por dois grupos:  o da esquerda (tinha que ser!) exibindo cartazes que dizem: “Deus está morto!”, “Jesus é um mito”, “Para um mundo sem atraso”, etc.; o da direita com cartazes que dizem: “Deus está vivo!”, “Deus é amor”, “Eu acredito na cruz”, etc.

De fato, Deus não está morto. Mas o que está moribundo é o bom-senso.

Se a polarização ficasse só nas telas, tudo bem. O problema é quando ela vem para as ruas, dividindo povos, provocando hostilidade entre grupos de matizes ideológicos diferentes, arruinando assim, qualquer projeto de nação. Afinal, o que seria mesmo uma nação, senão um povo reunido em torno de um propósito? Ainda que não estejam 100% de acordo, decidiram caminhar juntos, transpondo abismos, superando diferenças étnicas, religiosas, culturais, a fim de possibilitar um futuro promissor às próximas gerações. Sem que haja isso, podemos até ser um país, mas não uma nação.

A polarização só serve aos interesses de quem pretende nos enfraquecer para nos dominar ou de quem trabalhe na indústria armamentista. 

Num momento de ânimos acirrados como o que estávamos vivendo agora, precisamos de gente que leve a paz à sério, caso contrário, corremos o risco de ter nossas ruas banhadas de sangue.

Jamais me opus à liberdade de expressão. Está insatisfeito? Põe pra fora! Achou que alguma medida foi arbitrária? Exponha sua decepção. Esta é a vantagem de se viver numa democracia. Mas daí, sair ofendendo a todos os que pensam diferentemente...

No mesmo sermão em que Jesus diz ser bem-aventurado os que têm fome e sede de justiça, também diz ser bem-aventurados os pacificadores. Será que dá para ter fome e sede de justiça e ainda assim ser um pacificador? Estou convencido de que não são coisas excludentes. Por isso lemos que "o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz" (Tiago 3:18). Mas devemos redobrar os cuidados com os que preferem atear fogo! Não é à toa que entre as coisas abominadas por Deus está "o que semeia contenda entre irmãos" (Provérbios 6:19). Não importa o quão ortodoxo seja a sua teologia, se não prega a verdade em amor, não serve. 

Há coisas que precisam ser ditas, porém, na hora certa. O mesmo álcool usado para desinfetar algo, pode ser usado para provocar um incêndio. Então, nada de pôr álcool próximo de fogo!

Alguns, não satisfeitos com tal postura pacificadora, vão nos chamar de isentões. Talvez chamassem Jesus assim por não instigar os judeus contra os romanos. Talvez até desconfiassem que Ele fosse um partidário de Roma devido aos rasgados elogios feitos a um centurião por sua fé. Mas o Príncipe da Paz não estava nem aí para os comentários maliciosos.

Antes de ser recebido em Jerusalém aos brados de “hosanas”, “quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela, dizendo: Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos” (Lucas 19:41-42). Em outra ocasião exclamou: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!”(Lucas 13:34).

Quão frustrante é não conseguir fazer as pessoas verem o que se está aproximando. Quanta desgraça poderia ser evitada! Mas os que deveriam pregar a reconciliação, preferem emprestar os lábios ao ódio.

Peço a Deus que levante nesses dias pessoas com a envergadura moral de Nelson Mandela e de Desmond Tutu que se deixaram usar pelo Espírito da Graça para promover a reconciliação de uma sociedade profundamente dividida pelas feridas causadas pelo Apartheid. Que Deus levante homens como Gandhi e Luther King para conduzir nosso povo pelas trilhas da paz e não do ódio. 

Sabe aquele ser humano vestido de verde amarelo? Ele não é um coxinha, mas um brasileiro que almeja um lugar melhor para criar seus filhos. Em suas veias corre um sangue tão vermelho quanto o seu.

Sabe aquele ser humano de camiseta vermelha? Ele não é um petralha, mas um brasileiro tão patriota quanto você, cujo coração é tão verde e amarelo quanto o seu.

Lembre-se de que nossa luta não é contra carne ou sangue, mas contra principados e potestades nos lugares celestiais (Efésios 6:12). Traduzindo: Jamais leve o embate para o lado pessoal. Mantenha-o no campo das ideias. Os gregos para os quais Paulo escrevia acreditavam que toda estrutura de poder estava baseada num protótipo nos lugares celestiais (eufemismo platônico para o mundo das ideias). Enquanto certas ideias não forem desarticuladas, tais estruturas se perpetuarão. No nosso caso, há uma verdadeira fortaleza de ideias que mantém nosso país refém. A corrupção que nos assola é endêmica, semelhante a um câncer cuja metástase já espalhou por todo o tecido social. Não adianta mudar os atores, porém, manter o enredo da peça. Logo, não faz sentido ficar trocando farpas entre nós. Todos almejamos mudança, mas cada um tem sua opinião sobre como ela será promovida.

Sem querer dar spoiler, tomara que este filme termine como os dois primeiros que citei acima, em que Batman e Superman se unirão para fundar a Liga da Justiça e somarão esforços para combater um inimigo em comum, e o Capitão América e o Homem de Ferro se reconciliarão para o bem de todos. Se não, o que é mesmo que vai sobrar de tudo isso?

"Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e,
derrubando o muro de separação que estava no meio, na sua
 carne desfez a inimizade." S. Paulo em Efésios 2:14-15a