quinta-feira, setembro 10, 2020

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ANIMAIS TAMBÉM TÊM ALMA E SENTIMENTOS



Por Hermes C. Fernandes

O Senado aprovou nesta quarta-feira em votação simbólica um projeto que estabelece pena de dois a cinco anos de reclusão para quem praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar cão ou gato. O projeto também prevê multa e proibição da guarda para quem praticar crimes desse tipo contra os animais.
“Ao aumentar as penas, a proposição desestimula violações aos direitos dos animais, para que a crueldade contra esses seres vivos deixe de ser considerada banal ou corriqueira”, afirmou o relator.
Considerando que 28,5 milhões de lares brasileiros têm cachorros e 12,5 milhões têm gatos, pode-se dizer que a aprovação deste projeto atende a um clamor popular.
O único a manifestar voto contrário ao projeto foi o senador Telmário Mota (PROS-RR), alegando que a sensibilidade em torno da causa animal está “ultrapassando o limite da razão”.
“Uma relação entre homem e animais tem que ser de amor, tem que ser de carinho, nada diferente disso. Eu penso dessa forma, mas o animal tem que ser tratado como animal, não como gente”, justificou o senador..
O que, afinal, nos distingue dos animais? Deveríamos atribuir menor valor aos direitos dos animais do que aos direitos humanos? Seriam eles dotados de consciência e sentimentos? Se sim, isso lhes atribuiria dignidade e valor semelhantes aos humanos?
Por muito tempo, a suposição de que determinadas emoções fossem restritas aos humanos fez com que os cientistas deixassem de questionar e pesquisar sobre o assunto. Mas, de acordo com recentes pesquisas, os animais não apenas são dotados de sentimentos, como também podem ter sentimentos mais complexos que os humanos.
Quem convive com pets reconhecem o quanto eles são capazes de perceber quando estamos tristes ou felizes. E esse tipo de percepção não se restringe a cães e gatos: estudos apontam que os cavalos conseguem entender algumas emoções dos humanos e que os corvos conseguem "ler os pensamentos" de outros animais da espécie.
Carl Safina, professor da Universidade de Stony Brook, nos Estados Unidos, autor do livro "Beyond Words: What Animals Think and Feel" lançado em julho de 2015 pondera:
"Acho importante sabermos com quem estamos na Terra. Nós discutimos a conservação de animais em números, mas eles não são só números", disse o pesquisador em entrevista à National Geographic. "Tenho observado animais durante toda a minha vida e sempre fico impressionado com as semelhanças entre eles e os humanos." De acordo com o professor, o debate em relação à possibilidade de os animais terem sentimentos ou não nem deveria existir. "Se você observar mamíferos ou até mesmo aves, verá como eles respondem ao mundo. Eles brincam. Eles ficam com medo quando estão em perigo, relaxam quando as coisas estão bem", diz. "Não parece lógico pensar que os animais não estejam experenciando emoções como o medo e a o amor."
Assim como os humanos, os animais têm personalidades diferentes. De acordo com o professor, alguns são tímidos, outros agressivos ou tranquilos.
Para alguns, trata-se de uma questão descabida, sem qualquer pertinência. Mas para quem já teve ou tem um animal doméstico quase membro da família, o assunto é de extrema importância. Creio que se dependesse de muitos dentre nós, os animais compartilhariam conosco o mesmo destino eterno. Porém, como cristãos, sugiro que examinemos o que dizem as Escrituras.
Definitivamente, não somos melhores do que os bichos!
E não sou eu quem diz isso, mas o sábio rei Salomão:
“Disse eu no meu coração: Isso é por causa dos filhos dos homens, para que Deus possa prová-los, e eles possam ver que são em si mesmos como os animais. Porque o que acontece aos filhos dos homens, isso mesmo também acontece aos animais; a mesma coisa lhes acontece. Como morre um, assim morre o outro. Todos têm o mesmo fôlego, e nenhuma vantagem têm os homens sobre os animais…” Eclesiastes 3:18-19
Alguém poderá objetar: Os seres humanos têm espírito, os animais não. Será? Então, por que Salomão afirma que não temos qualquer vantagem sobre eles? Confira o que ele diz mais:
“Todos vão para o mesmo lugar; todos são pó, e todos ao pó tornarão. Quem sabe se o espírito dos filhos dos homens vai para cima, e se o espírito dos animais desce pra terra?” (vv.20-21).
Então, os animais também possuem espírito, certo? Corretíssimo!
E mais: O amor de Deus não se limita ao ser humano. Deus ama a todas as Suas criaturas. Ele é quem “dá mantimento a toda a criatura, porque o seu amor dura para sempre” (Salmos 136:25).
Davi entendia isso perfeitamente, e declara de maneira poética em seu salmo de número 104: “Ó Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das tuas riquezas. Há o mar, vasto e espaçoso, onde se movem seres inumeráveis, animais pequenos e grandes (…) Todos esperam de ti que lhe dê o seu sustento em tempo oportuno” (v.24-25,27). Até os leõezinhos “de Deus buscam o seu sustento” (v.21). Era como se Davi mergulhasse no fundo do oceano e se maravilhasse com o que visse ali.
Que destino terão as inúmeras espécies animais e vegetais, frutos do gênio divino? Terá Deus criado todas elas apenas como figurantes da trama cujo protagonista é o ser humano? Recuso-me a crer nesta hipótese.
Se Deus não se importasse com os animais, por que os teria poupado no dilúvio descrito na Bíblia? Se Deus somente se importasse com a preservação dos seres humanos, Ele teria pedido que Noé construísse uma canoa, não uma arca daquelas dimensões.
Seria um desperdício enorme de espaço se somente nós, humanos, habitássemos o Novo Céu e a Nova Terra prometidos por Deus. Engana-se quem pensa que nosso destino final será vivermos num céu etéreo, como fantasminhas angelicais tocando suas harpas. Não! Seremos seres humanos completos, dotados de todas as nossas faculdades originais.
A hostilidade que o reino animal nutre contra o homem se deve ao seu estado de rebelião contra o Criador. Deixamos de ser os guardiões do jardim de Deus para sermos sua maior ameaça. Por isso, o apóstolo Paulo diz que toda a natureza geme na expectativa de ser libertada do cativeiro imposto pela vaidade humana. Quando os filhos de Deus se manifestarem, a natureza será finalmente livre (Rom. 8 ). A Terra não caminha para uma catástrofe final, como muitos insistem em dizer, mas para a libertação de toda a criatura. Quando isso ocorrer, a hostilidade terminará, e o homem voltará a integrar-se harmoniosamente à criação.
Enquanto não chega o grande dia, devemos zelar pela vida de todos os seres com os quais compartilhamos este planeta. Deus no-los confiou, tanto os selvagens quanto os domésticos.
O chamado do evangelho à conversão inclui o ser humano em todas as suas relações, inclusive com os demais seres vivos. Por isso, Salomão declara: “O justo olha pela vida dos seus animais” (Provérbios 12:10a).
Uma das mais impressionantes imagens pintadas no livro de Apocalipse está registrada no capítulo 5, do verso 11 ao 14:
“Então olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos seres viventes, e dos anciãos; e o número deles era milhões de milhões e milhares de milhares, proclamando com grande voz: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Então ouvi a TODA CRIATURA QUE ESTÁ NO CÉU, E NA TERRA, E DEBAIXO DA TERRA, E NO MAR, e a todas as coisas que neles há, dizerem: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o poder para todo sempre. E os quatro seres viventes diziam: Amém. E os anciãos prostraram-se e adoraram.”
Repare como o céu e a terra são apresentados unindo-se para formar um enorme coral em adoração ao Cordeiro, Cristo, o Deus encarnado. Gradativamente, todas as coisas vão sujeitando-se a Cristo, não só as invisíveis, mas também as visíveis, não só as pertencentes ao mundo espiritual (anjos e cia), mas também as do mundo animal.
Aos poucos o caos vai se tornando em harmonia; o barulho se transforma numa fenomenal orquestra. Cada evento vai encontrando o seu lugar na majestosa sinfonia composta pelo Cordeiro. Nada fica de fora de escopo desta restauração! O reino animal, o reino vegetal, e o reino mineral se unem para saudar o Rei dos Reis.
No capítulo anterior, João diz que viu um trono, e Alguém assentado sobre ele, e “ao redor do trono havia um arco-íris” (4:3). Este arco-íris nos remete ao episódio em que Deus fez uma aliança com Noé, e estabeleceu o arco-íris como símbolo dessa aliança. O que poucos observam é que aquela aliança de preservação não se limita ao ser humano, mas abrange toda a criação. Assim afirmou o Senhor: “Agora estabeleço a minha aliança convosco e com a vossa descendência depois de vós, e com TODOS OS SERES VIVENTES que convosco estão; assim as aves, os animais domésticos e os animais selvagens que saíram da arca, como todos os animais da terra (...) Este é o sinal da aliança que ponho entre mim e vós e entre todos os seres viventes que estão convosco, POR GERAÇÕES PERPÉTUAS; O meu arco tenho posto nas nuvens, e ele será por sinal de haver uma aliança entre mim e a terra (...) O arco estará nas nuvens, e eu o verei, para me lembrar da ALIANÇA ETERNA entre Deus e todos os seres viventes de todas as espécies, que estão sobre a terra” (Gênesis 9:9-10,12-13,16).
Esta aliança jamais vai caducar, visto não ter prazo de validade a ser vencido. Por ser eterna, ela não perdeu a validade com o lançamento da Nova Aliança, antes foi confirmada. Oseias, profetizando acerca da Nova Aliança, disse: “Naquele dia farei por eles aliança com os animais do campo, com as aves do céu e com os répteis da terra” (Oseias 2:18). A Nova Aliança diz respeito à salvação do homem, e, por conseguinte, à restauração da ordem criada. O coral só estará completo quando as vozes angelicais, e as vozes humanas se unirem às vozes de toda criatura, incluindo os pássaros, os répteis, os mamíferos e os peixes."Tudo o que tem fôlego louve ao Senhor!" (Salmos 150:6).
Se os animais são dotados de alma/espírito como lemos em Eclesiastes, seriam eles igualmente dotados de consciência? Se a resposta for sim, teremos que repensar muita coisa do ponto de vista ético, principalmente no que diz respeito ao trato dispensado a eles, no uso deles como cobaias, no comércio de pele, na maneira como são mortos nos abatedouros, etc.
Se perguntarmos a um cientista que tortura animais em experimentos porque ele faz isso, ele prontamente responderá: "porque os animais são como nós". Eles respondem aos mesmos estímulos. Seu organismo tem a mesma reação que o nosso. Pergunte ao mesmo cientista porque é moralmente aceitável fazer isso com um animal e não com um humano e a resposta será: "porque eles são diferentes de nós." Não haveria aqui uma contradição? Afinal, eles são iguais ou diferentes de nós? Obviamente que tais questões só são relevantes se comprovarmos que os animais possuem alguma consciência.
O que é consciência, afinal? A consciência é, entre outras definições, a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente. O que a Bíblia nos diz acerca disso? Teriam eles alguma consciência? Ou seriam movidos unicamente por instinto?
Deus dá testemunho de que o animal é um ser consciente: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende” (Isaías 1:3).
Para que o boi reconheça seu dono, ele deve ter algum tipo de consciência. O mesmo se dá com qualquer animal de estimação. Alguns, como por exemplo, os cães, além de consciência, parecem dotados de um sexto sentido, capaz de prever a chegada do seu dono muito antes de atravessar a porta de casa.
Talvez seja por ter a capacidade de reconhecer seu dono que o boi deve ser responsabilizado caso venha tirar a vida de alguém.
“Se um boi ferir um homem ou mulher e lhe causar a morte, o boi será apedrejado, e ninguém comerá da sua carne; o dono do boi será absolvido.” Êxodo 21:28
Vale lembrar que isso fora dito durante a regência da Antiga Aliança, quando vigorava a lei de talião: olho por olhos, dente por dente. A mesma Lei ordenava o apedrejamento de alguém flagrado em adultério. Não seria razoável executar um animal que não tivesse qualquer noção do que havia feito. Punição requer reconhecimento do erro. Concluímos, então, que este animal é dotado de alguma consciência. Ora, se a Lei era aplicada a um animal considerado de estimação (os bois eram considerados assim), por que a graça não seria igualmente aplicada? Ou será apenas o homem alvo da graça divina?
Os animais sentem dor, como nós. Ficam tristes, alegres, perdem o apetite, se apaixonam, se solidarizam, se apegam ao dono, e alguns até morrem deprimidos quando perdem a parceira. Que mais seria necessário a fim de comprovar serem dotados de consciência? Será necessário que falem? Pois a Bíblia narra um curioso episódio em que Deus permitiu a uma jumenta que falasse e argumentasse com um profeta rebelde que a espancava sem razão. Confira:
“Então o SENHOR abriu a boca da jumenta, a qual disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste estas três vezes? E Balaão disse à jumenta: Por que zombaste de mim; quem dera tivesse eu uma espada na mão, porque agora te mataria. E a jumenta disse a Balaão: Porventura não sou a tua jumenta, em que cavalgaste desde o tempo em que me tornei tua até hoje? Acaso tem sido o meu costume fazer assim contigo? E ele respondeu: Não.”
Números 22:28-30
Imagine se Deus concedesse a todos os animais maltratados pelo homem o mesmo dom? Tal permissão foi dada àquele animal de carga para que se defendesse. Alguém ainda ousa dizer que eles não têm consciência? Ainda que não falem a nossa língua, eles têm sua maneira de se comunicar, tanto com os de sua própria espécie, quanto conosco. Cientistas tentam decifrar a linguagem altamente sofisticada usada pelos golfinhos. Até abelhas e formigas comunicam intensamente entre si. Graças a esta capacidade, colmeias e formigueiros formam duas das sociedades mais complexas encontradas na natureza.
Surge, então, uma nova questão: Se tais seres têm alma e consciência, seriam eles alvo da graça divina para a salvação? O conceito de salvação é muito amplo, e abrange, entre outras coisas, a preservação. Assim como no episódio do dilúvio, Deus preservou as espécies, cremos que Ele as preservará na Nova Terra, que nada mais é do que esta Terra inteiramente restaurada.
E qual seria o escopo desta preservação? No caso dos humanos, Deus salva a indivíduos. E no caso dos animais, Ele preservaria indivíduos ou espécies? A resposta a esta pergunta fica no campo da especulação. Não há base bíblica para que afirmemos categoricamente, tampouco que neguemos tal possibilidade. Por isso, não ouso dogmatizar.
Nosso planeta já passou por várias extinções em massa, algumas de proporções devastadoras, levando ao desaparecimento completo de inúmeras espécies. Tais extinções serviram a um propósito divino, pois eliminou o antigo grupo dominante, abrindo espaço para o surgimento e hegemonia de um novo grupo. Se os dinossauros não houvessem sido extintos, os mamíferos (dentre os quais somos incluídos) não se tornariam dominantes na Terra.
Sinceramente, não me parece plausível supor que a raça humana tenha convivido com eles, e nem que teremos que conviver com os dinossauros na eternidade. Se Deus salvasse a todas as espécies que já passaram pela Terra, precisaríamos de um espaço muito maior que possibilitasse o convívio entre elas. Quem sabe Ele esteja preparando algum lugar neste vasto Universo para elas? Em se tratando do Criador, não há o que duvidar. Poder não lhe falta. Gosto de considerar esta possibilidade.
Porém, creio que haja certo número de espécies destinadas a compartilhar do mesmo espaço que o ser humano. São nossas companheiras de jornada. Estas serão preservadas e desfrutarão da nova terra em nossa companhia.
Haveria salvação individual para os animais?
Talvez o termo "salvação" não deva ser aplicado neste caso, haja vista que quem pecou e que, portanto, carece de salvação somos nós, humanos, não eles, os animais. Porém, acredito que a morte não é o ponto final nem para nós, nem para eles. Gosto de acreditar na possibilidade de rever alguns dos animais de estimação com os quais convivi ao longo da minha vida.
Talvez Elias, o profeta, reveja os corvos usados por Deus para alimentá-lo durante a seca em Israel. Talvez Jesus reveja o jumento sobre o qual montou em Sua entrada triunfal em Jerusalém.
Na parábola contada por Natã a Davi, um homem criou uma cordeira como se fosse sua filha. “Ele a criou, e ela cresceu com ele e com seus filhos. Ela comia junto dele, bebia do seu copo e até dormia em seus braços. Era como uma filha para ele” (2 Samuel 12:3).
Parece-me justo que um animal criado com tanto amor, seja restituído àquela família na restauração de todas as coisas. Penso que isso oferece um enorme consolo, principalmente às crianças, quando perdem um animalzinho de estimação. E não encontro razão bíblica para que isso não aconteça.
Se o Senhor os ama a ponto de dar-lhes o sustento, por que não os traria de volta para a alegria daqueles que igualmente os amava?
Não se trata, portanto, de "salvação" no mesmo sentido aplicado aos homens, pois estes pecaram e foram destituídos da glória de Deus. Trata-se, porém, de restauração à sua condição original.
Embora não ouse dogmatizar, celebro com alegria e esperança esta possibilidade.
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