Por Hermes C. Fernandes
É preferível enfiar a cara no vaso sanitário e dar descarga, deixando afogar suas mágoas e ódio a ser batizado em um batistério luxuoso que mais parece uma jacuzzi de motel e continuar odiando e nutrindo todo tipo de preconceito, e ainda ter a audácia de justificar sua perversidade em seu fundamentalismo religioso. Precisamos de um batismo de consciência!
É preferível vociferar palavrões com sinceridade a destilar o veneno da falsidade com palavras bajuladoras ou ficar repetindo jargões religiosos como se fossem palavras de ordem capazes de forçar Deus a fazer o que não quer.
É preferível cantarolar canções seculares que falem de amor a arrotar uma santidade arrogante e discriminatória, entoando louvores que estimulem revanche e ostentação em nome da fé ou mantras gospel repetidos à exaustão que nos privam de qualquer senso crítico, colocando nossa inteligência em suspensão. Não precisamos de algo que nos instigue os sentidos, mas que dê sentido à nossa existência. Não algo que nos embale, mas que nos desperte.
Há mais comunhão em uma mesa de bar do que numa roda de fofoca, mesmo quando esta é chamada de círculo de oração. Sob o sagrado manto de "pedido de oração" reputações são destruídas, relacionamentos arruinados, sonhos ridicularizados.
Há mais dignidade numa casa noturna que entrega o que anuncia do que numa igreja hipster descolada, que esconde por trás de seu invólucro moderninho recheado de gírias o mesmo discurso fétido que em vez de espalhar o perfume de Cristo, infesta o mundo com o odor da naftalina de tradições e crendices há muito superadas. É mais honroso as irmãzinhas de coque e os varões de ternos surrados do que a galera dos piercings e das calças rasgadas nos joelhos, mas com o coração empedernido.
A liturgia que agrada a Deus é a que inclui o excluído, que empodera os explorados e oprimidos, que dá voz aos sufocados, que abate os poderosos e os faz suplicar pela misericórdia divina reconhecendo seus descaminhos.
A vida do outro é o altar onde oferecemos a Deus os únicos sacrifícios que o agradam. Partilhar experiências, repartir nosso próprio pão, oferecer nossos dons ao serviço do bem comum é a eucaristia que mantém coeso e saudável todo o corpo.
Não se atreva a colocar palavras em minha boca. Em momento algum estou defendendo um estilo de vida contrário ao proposto por Jesus, e sim, denunciando nossas idiossincrasias e mania de julgar o mundo como se a ele fôssemos superiores. Que Deus aja conosco com o mesmo rigor com que queremos que aja com o mundo.
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