terça-feira, outubro 04, 2016

0

Sua vida sem cortes ou censura




Por Hermes C. Fernandes

Gosto de imaginar que ao adentrarmos a eternidade teremos acesso aos nossos arquivos existenciais. Poderemos até assistir in loco a cada episódio de nossa jornada, porém, sem poder interferir em nada. Quem sabe haja lições preciosas que nos foram ministradas durantes tais episódios, mas que não foram apreendidas completamente. Daí a necessidade de se fazer uma espécie de revisão. Talvez tenhamos aprendido apenas o superficial, conquanto haja camadas mais profundas que careçam de ser investigadas. 

Também acredito que aferiremos o alcance e a repercussão que nossas obras tiveram, bem como tomaremos conhecimento de vidas que foram afetadas direta ou indiretamente por elas. Não ouso dogmatizar sobre isso. Trata-se apenas daquilo que considero estar no campo da “ficção teológica”.

Porém, há passagens bíblicas que parecem indicar tal possibilidade. Apocalipse diz que bem-aventurados são os que agora dormem no Senhor, pois suas obras os acompanharão. Portanto, em nossa viagem rumo à glória final, carregamos uma bagagem existencial. A cada escala desta viagem, acrescentamos novos itens a ela. Quando lá chegarmos, abriremos a mala e verificaremos item por item. Roupas amarrotadas terão que ser passadas e colocadas no cabide. O que estiver no fundo da mala, de que até houvermos esquecido, será trago à tona, porém, já não nos trará qualquer tristeza, porque nos será revelado o propósito por trás dos fatos.

Comparando a um filme: a hora de partirmos deste mundo, será o momento em que a fita será rebobinada. Seremos, então, convidados a assistir numa sessão especial e privada, ao filme de nossa vida, sem cortes, sem censura, sem efeitos especiais, sem edições posteriores, digamos, a versão do supremo Diretor. Será uma experiência bem diferente daquela que envolve apenas nossa memória. Ainda que não percebamos, nossa memória costuma ser seletiva. Somos responsáveis por fazer nossas edições particulares. Conectamos imagens e fatos que não têm qualquer relação entre si, simplesmente para ver se encontramos algo que nos faça sentido e que nos dê esperança de um final feliz. Porém, naquela sessão especial, a caixa preta da nossa vida será exposta cruamente ante nossos olhos. Não para nos constranger, mas para nos colocar à par do quanto estávamos sob os cuidados carinhosos do nosso Pai Celestial. Assistiremos, por assim dizer, ao making of de nossa jornada terrena. Descobriremos, entre outras coisas, quantas vezes recebemos livramentos, sem que houvéssemos dado conta deles. Saberemos, finalmente, onde, quando e como todas as coisas cooperaram em conjunto para o nosso bem, e para a glória d’Aquele que nos amou.

Assim como atualmente, muitos filmes estão sendo relançados numa versão 3D, veremos nossa vida numa versão amplificada, envolvendo todas as dimensões da existência, bem como suas interações e implicações.

Não creio que nos esqueceremos dos fatos em si, mas das dores que eles provocaram. Deus não precisa queimar arquivos, simplesmente, porque hão há o que esconder. Tudo, finalmente, será revelado e fará sentido. O mosaico que compõe nossa existência estará completo, peça por peça. E a imagem que dele emergir será a que carregaremos por toda a eternidade. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário