segunda-feira, abril 04, 2016

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Não se trata de ideologia de gênero, mas de educação para a diversidade


Por Hermes C. Fernandes

A primeira vez que me deparei com a questão da homossexualidade eu tinha por volta de 8 ou 9 anos e estudava na Escola Municipal Haiti, uma escola pública no bairro de Quintino, zona norte do Rio. Havia um casal de gêmeos em minha classe. O menino era o que costumávamos chamar de afeminado. Devido a seus trejeitos, sofria todo tipo de bullying. Houve um dia em que várias garotos correram atrás dele para espancá-lo. Apesar de não participar das brincadeiras cruéis de que ele era vítima, confesso que não me importava. Como cristão, havia aprendido que aquilo era uma abominação. Se não quisesse sofrer, ele que mudasse sua maneira de ser e virasse homem. Era exatamente assim que eu pensava. Até que um dia, os mesmos garotos que correram atrás dele para espancá-lo, correram atrás de mim para me espancar. Ele sofria por sua orientação sexual e eu por causa da fé intransigente que professava. Após a aula, juntaram-se nove garotos para me bater. Saí disparado rua afora e consegui me esconder atrás do balcão de uma farmácia próxima da praça e da estação ferroviária. Naquele dia, eu e aquele garoto de trejeitos femininos tínhamos algo em comum. Ambos sabíamos o que era sofrer por causa do preconceito. Desde então, comecei a olhá-lo com outros olhos, e algumas vezes, pelo que me lembro, saí em sua defesa. 

O ambiente escolar costuma ser cruel com os diferentes. Por isso, acredito que cabe aos professores trabalhar para atenuar este tipo de comportamento. 

Recentemente, um menino de apenas doze anos, amiguinho de algumas crianças que frequentam nossa igreja, suicidou-se tomando chumbinho e sufocando-se com um saco plástico, por não suportar o bullying sofrido na escola. 

Nem sempre os pais sabem o que acontece na escola. E às vezes, mesmo sabendo, não tomam qualquer providência, seja por sentirem-se impotentes, ou simplesmente por não se importarem. Por estas e outras, sou 100% a favor da proposta da educação para a diversidade.

Leia abaixo uma matéria que considerei muito pertinente acerca deste delicado e controverso assunto:

Não é 'ideologia de gênero', é educação e deve ser discutido nas escolas

Pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo, mostrou que 32% dos homossexuais entrevistados afirmaram sofrer preconceito dentro das salas de aula e também que os educadores ainda não sabem reagir apropriadamente diante das agressões, que podem ser físicas ou verbais, no ambiente escolar.

Os dados, segundo os pesquisadores, convergem com aqueles apresentados em pesquisa do Ministério da Educação que ouviu 8.283 estudantes na faixa etária de 15 a 29 anos, no ano letivo de 2013, em todo o país, e constatou que 20% dos alunos não quer colega de classe homossexual ou transexual.

A professora do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE) da Ufscar, que é uma das autoras do estudo, Viviane Melo de Mendonça, afirma que o entendimento desse cenário e a busca por estratégias capazes de revertê-lo não são questões do movimento LGBT, mas sim uma questão da educação que deve ser defendida e compreendida por todos os educadores.

“A educação para a diversidade não é uma doutrinação capaz de converter as pessoas à homossexualidade, como se isso fosse possível. O objetivo é criarmos condições dentro das escolas para que professores e alunos possam aprender e ensinar o convívio com as diferenças que naturalmente existem entre todos”, disse a pesquisadora.

Segundo ela, este e outros estudos de gênero e sexualidade “contribuem para levantar questões e pensar em ações na escola em uma perspectiva da educação para diversidade e, desse modo, para uma educação que combata a discriminação e preconceitos, as violências de gênero, violência contra mulher e a violência homo, lesbo e transfóbica”.

Para a pesquisadora, a escola tem que ser um espaço aberto à reflexão e de acolhimento aos alunos em sua individualidade e liberdade de expressão.

Para a promoção da diversidade e dos direitos humanos nas escolas, de acordo com a pesquisadora, é necessária a formação de educadores para a questão.

“É necessário que a formação de professoras e professores tenham um debate mais aprofundado sobre as questões de gênero e sexualidade, com disciplinas obrigatórias que tratem do tema. É fundamental também que se desconstruam as resistências para se falar da diversidade sexual e das diferenças, bem como das desigualdades persistentes e estruturais em nossa sociedade que são, sim, produtoras das violências”, disse.

Plano Municipal de Educação

O tema da educação para a diversidade foi bastante debatido no ano passado durante a formulação dos Planos Municipais de Educação (PME), projeto que tem o objetivo de nortear o planejamento da educação para a cidade nos próximos 10 anos. Na capital paulista, após muitas discussões e protestos favoráveis e contrários, o projeto de lei que trata do PME foi aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo, em agosto de 2015, mas o texto não incluiu questões de gênero e sexualidade.

Na época, o vereador Ricardo Nunes se referiu ao assunto como “ideologia de gênero” e justificou a retirada do tema do PME com referências a Deus e à religiosidade. Ele acredita que a educação relacionada à sexualidade cabe à família.

Já a vereadora Juliana Cardoso ressaltou os diferentes modelos de família que existem hoje. Algumas têm mulheres como chefes de família, pais homossexuais ou heterossexuais, somente pai ou somente a mãe, avós como referência materna e paterna, entre outros casos. “Essas famílias precisam ser visibilizadas na escola, porque refletem a realidade brasileira”, disse na ocasião.

Ela elencou ainda algumas mentiras, que estariam sendo disseminadas sobre a inclusão de gênero no PME, e disse que a exclusão de banheiros separados, os professores ensinando os alunos a serem transexuais e a destruição da família não correspondem à realidade: “queremos discutir gênero nas escolas para garantir respeito à diversidade.”

A pesquisa da Ufscar apontou ainda que os ambientes familiar e religioso também são locais predominantemente de discriminação devido à orientação sexual. Com isso, os pesquisadores acreditam que a análise das questões familiares e religiosas como causadoras da violência homofóbica deve estar na agenda de proposições e ações para que haja superação desses problemas no cotidiano escolar.

“Apenas aceitando o desafio de um debate mais aprofundado sobre as questões de gênero e diversidade sexual é que se torna possível superar as dificuldades de se implantar uma perspectiva de gênero nas escolas e, assim, trazer para a cena a família e a comunidade de seu entorno”, disse Mendonça.

Camila Boehm em Agência Brasil

***

Para saber o que penso sobre a tal "ideologia de gênero", leia aqui.

Nada como sentir na pele o que o outro sente para mudar um pouco nossa visão. Assista abaixo a um vídeo que nos conclama à empatia com um dos segmentos sociais mais vitimados pelo nosso preconceito:


3 comentários:

  1. Parabéns pastor. A família tem reger os modos morais, mas precisa ser fiscalizada, para não ultrapassar os seus limites...
    Paz!!!

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  2. Anônimo2:36 PM

    Ótimo texto bispo Hermes. Quando é que todos vão entender que em Cristo não há homossexuais e heterossexual, macho ou fêmea, pois todos são alvos do Seu amor? Quando vão entender que a homossexualidade é uma condição, uma identidade sexual?, Quando vão entender que anormal e antinatural é o homossexual querer ser hétero?, quando vão entender que a homossexualidade na sua essência nada tem a ver com prática pecaminosa assim a como prática heterossexual? Na verdade o mal que nos atinge a todos sem exceção é o egoísmo, a falta de sensibilidade com a dor do próximo, a maledicência etc .......... nós esquecemos que o dom supremo do AMOR é capaz de cobrir uma multidão de pecados. O AMOR de Deus cobre os nossos pecados, o nosso AMOR pelo próximo cobre os pecados do próximo, o que nos humaniza.



    Mauro

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  3. Anônimo12:16 AM

    E o Papai Noel comentou por aqui, acredite ... rs

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