Por Hermes C. Fernandes
Chegamos a
mais um ano novo. Depois das fartas
vendas de final de ano, chega a época em que muitas lojas fecham para balanço.
É hora de calcular os lucros ou eventuais perdas. Depois do balanço, as lojas
costumam reabrir com grandes liquidações de estoque.
E quanto à
vida que temos
levado? Não haveria também um momento em que precisamos fazer um balanço?
Há três tipos de avaliação às quais devemos nos
submeter.
O primeiro
deles é a autoavaliação.
O apóstolo Paulo admoesta à todos os que participam da mesa
do Senhor: “Examine-se o homem a si mesmo antes de comer deste pão e
beber deste cálice” (1 Coríntios 11:28).
Este autoexame deve ser, ao mesmo tempo, introspectivo e retrospectivo. Devemos
avaliar nosso estado atual, e verificar se estamos numa carreira ascendente ou
descendente, isto é, se estamos progredindo ou regredindo espiritualmente. Para
isso, teremos que fazer um balanço que inclua deste do início de nossa
caminhada com Deus até o momento presente. Paulo exorta os Coríntios: “Examinai-vos
a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto
a vós mesmos que Jesus Cristo está em vós? Se
não é que já estais reprovados” (2
Coríntios 13:5).
Às vezes não nos damos conta de que nossa vida espiritual
se esfriou. Somos como aquela rã colocada numa panela de água fria, que não
percebe que aos poucos a água está esquentando, e acaba cozida na água
fervendo. Por isso, precisamos de uma referência em nossa própria caminhada,
que é chamada nas Escrituras de “primeiro amor”(Ap.2:4). Se neste
balanço descobrirmos que já estivemos numa situação espiritual melhor que a
atual, temos que dar meia volta, e atender à recomendação de Cristo à igreja de
Éfeso: “Lembra-te de onde caíste! Arrepende-te,
e pratica as primeiras obras” (Ap.2:5a).
Repare num detalhe: Não é lembrar
“onde caiu”, mas “de onde caiu”. A caminhada cristã deve ser sempre ascendente.
Temos a garantia de que seríamos guiados pelo Espírito Santo de “glória em glória”(2 Co.3:18). E se
recuarmos, Deus não terá prazer em nós! A cada nova glória galgada, devemos
parecer mais com Jesus.
Escrevendo a uma igreja que havia retrocedido, Paulo deixou
escapar: “Corríeis bem. Quem
vos impediu de obedecer à verdade?” (Gl.5:7).
Paulo compara nossa jornada cristã à
uma modalidade esportiva muito popular em sua época: o atletismo. Os cristãos
da Galácia deixaram a raia, caíram da graça, abandonaram a santa ambição de um
dia subir ao pódio celestial.
Usando a mesma analogia do atletismo, Paulo escreve em
outra epístola:
“Todo aquele
que luta, em tudo se domina. Eles para alcançar uma coroa corruptível, nós,
porém, a incorruptível. Portanto corro, não como indeciso; combato, não como
batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que,
pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.” 1 Coríntios 9:25-27
Se
almejamos, de fato, a
coroa da vida, temos que ser fiéis até a morte! Temos que concluir nossa
carreira, e para isso, subjugar o nosso corpo, mantê-lo sob disciplina.
Muito perto de cruzar a linha de chegada, o apóstolo
declarou:
“Combati o
bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça
me está guardada...” 2 Timóteo
4:7-8a
As pessoas estão tão preocupadas em acumular bens, e serem
bem-sucedidas, que perdem o foco da caminhada cristã, que nada mais é do que
nos tornarmos semelhantes Àquele que nos chamou.
A coroa da
vida, ou coroa da justiça, será o
prêmio da soberana vocação, entregue àqueles que se mantiverem fiéis até
cruzarem a linha de chegada. Portanto, a ordem é avançar! Esquecendo-nos das
coisas que para trás ficam, e avançando para as que estão diante de nós,
prossigamos para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo
Jesus (Fp.3:13-14).
E para tal, há um custo. Não há balanço sem que se calcule
os custos. E o custo para que alcancemos o alvo é a nossa vida. Por isso, não
podemos amar nossas próprias vidas. Esta corrida é ganha por aqueles que “não
amaram as suas vidas até a morte”(Ap.12:11b). Paulo sabia muito bem disso.
Para manter seu corpo em disciplina e manter o foco no alvo, ele tinha que
abrir mão da própria vida. Veja o que ele diz: “Mas em nada tenho a
minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira...”(At.20:24a).
Alguém poderá objetar: Mas não pela graça? Sim! Mas não se trata de uma graça
barata, aí não seria salvação, mas promoção, ou ainda, liquidação! A graça que
se manifestou salvadora é a mesma que nos ensina a renunciar as paixões desta
vida (Tt.2:11-12).
Quanto mais avançamos nesta corrida, mas nos
desapegamos das coisas desta vida e nos voltamos para Aquele que é a própria
Vida. Ele é a nossa Coroa! Nada mais nos interessa senão Ele!
Pergunto: Estamos hoje mais parecidos com Ele do que há dez
anos? Como está o processo de transformação conduzido pelo Espírito Santo em
nossa vida? Examine-se. Abra-se para este balanço.
Abertos à
avaliação de outros
O
segundo tipo de
avaliação é a feita pelos outros. Quem disse que não devemos nos submeter a
ela?
Temos que estar abertos constantemente à avaliação dos
que nos cercam. E isto inclui, principalmente, aqueles que nos precederam na fé,
ou que exercem autoridade espiritual sobre nós. Às vezes precisamos até de um
avalista que dê testemunho de nossa transformação diante dos demais.
Confira comigo o episódio que narra a primeira viagem de
Paulo a Jerusalém para encontrar-se com os apóstolos, três anos depois de sua
conversão:
“Quando
Saulo chegou a Jerusalém, procurava juntar-se aos discípulos, mas todos o
temiam, não acreditando que fosse discípulo. Então Barnabé, tomando-o consigo,
levou-o aos apóstolos e contou-lhes como no caminho ele vira o Senhor, e que
este lhe falara, e como em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus. Andava
com eles em Jerusalém, entrando e saindo, e pregando ousadamente em nome do
Senhor...” Atos
9:26-29a
Barnabé foi o avalista de Paulo perante
os apóstolos veteranos. Ninguém se sentia confortável diante de um homem que
fora cúmplice no assassinato do primeiro mártir da igreja. As pessoas o olhavam
com desconfiança. Mas quando Barnabé prestou testemunho de sua conversão, Paulo
foi convidado a acompanhar os apóstolos por algum tempo. Isso lhe rendeu
credibilidade diante dos demais cristãos. Não é em vão que a sabedoria popular
diz: Diga-me com quem tu andas, e direi quem tu és. Os apóstolos fizeram
questão que todos vissem Paulo caminhando ao lado deles, e desta maneira,
abonaram sua conduta.
Quatorze anos se passaram. Paulo já desfrutava de total
credibilidade entre as igrejas. Mas mesmo assim, voltou a Jerusalém para
prestar contas aos demais apóstolos. Confira:
“Depois,
passados quatorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também
comigo a Tito. E subi por causa de uma revelação, e lhes expus o evangelho que
prego entre os gentios. Mas particularmente aos que pareciam ter maior
destaque, para que de maneira alguma não corresse, ou não tivesse corrido em
vão.” Gálatas 2:1-2
Repare que a preocupação do apóstolo era não ter
corrido em vão. Uma vida ministerial, ou mesmo uma vida cristã regular, poderá
ser um completo desperdício de tempo e de energias, se não estivermos dispostos
a prestar contas com outros.
Paulo já não era um novato. Pelo contrário. Sozinho já
havia feito mais do que todos os apóstolos juntos. Mas isso não lhe dava o
direito de levar uma vida autônoma, fazendo o que lhe desse na gana.
Líderes também devem prestar contas a outros líderes.
Ninguém pode isolar-se dos demais. Nossa experiência não nos isenta da
prestação de contas.
Lucas nos oferece outra narrativa desta segunda prestação
de contas de Paulo: “Quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela
igreja, pelos apóstolos e pelos anciãos, e lhes anunciaram quão grandes coisas
Deus tinha feito com eles.” (Atos 15:4).
Se não quisermos desperdiçar uma etapa inteira de nossa vida,
estejamos prontos para prestar contas, expondo-nos à avaliação de nossos
líderes e companheiros de jornada. Lembremo-nos que, enquanto estamos na pista,
estamos cercados por uma nuvem de testemunhas. Portanto,“deixemos todo
embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com perseverança a
carreira que nos está proposta, olhando firmemente para Jesus” (Hb.12:1-2).
Abertos à avaliação de Cristo
Até que ponto nossa avaliação é confiável? Ou ainda: até
que ponto a avaliação de outros é honesta? Haveria alguma outra instância a
qual deveríamos nos submeter à constante avaliação? É claro que sim! Temos que
estar abertos à avaliação de Deus.
O fato
é que não
poucas vezes somos enganados por nossa própria avaliação, e tornamo-nos
insensíveis ao escrutínio do Espírito Santo. Nem sempre nossa avaliação
coincide com a de Cristo.
Veja, por exemplo, a diferença entre a avaliação que
os cristãos laodicenses faziam de si mesmos e a feita por Cristo.
“Dizes: Rico
sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta. Mas não sabes que és um
coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu.” Apocalipse 3:17
Enquanto os cristãos de Laodiceia declaravam ser ricos,
Jesus diz que eram coitados. Enquanto se diziam enriquecidos, Jesus os chamava
de miseráveis. Enquanto afirmavam não terem falta de nada, Jesus os chamava de
pobres, cegos e nus. Eles estavam cegos ao seu próprio estado de lástima e
miséria. A soberba os cegou. Portanto, sua autoavaliação estava comprometida.
Só lhes havia uma esperança: abrirem-se para um balanço
feito por Cristo.
“Eis que
estou à porta, e bato. Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei
em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.” Apocalipse 3:20
Quando abrimos a porta para Ele, somos convidados a uma ceia
de mão-dupla. Repare no que Jesus diz: Com ele cearei, e ele comigo. Pode até
parecer redundante, mas não é. Cear com Ele é permitir que Ele perscrute as
entranhas do nosso ser, numa comunhão íntima e profunda. Cear com Ele é
submeter-nos inteiramente à sua avaliação. Mas quando Ele diz que irá cear
conosco, está dizendo que Ele mesmo endossará nossa auto-avaliação, pois esta
condirá com a Sua. Poderemos examinar-nos a nós mesmos sem medo de errar, pois
este autoexame será conduzido pela luz do Espírito Santo em nós.
Às vezes as pessoas que nos avaliam também não o fazem
com justiça. Julgam-nos segundo seus interesses e não com retidão. Mesmo
sujeitos a isso, não podemos nos fechar. Temos que estar sempre abertos à
avaliação de outros. Porém, se formos injustiçados, Deus sempre sairá em nossa
defesa.
A antítese da igreja de Laodiceia é a igreja de Esmirna.
Veja o que Jesus diz a esta igreja em Apocalipse:
“Conheço a
tua tribulação e a tua pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem
judeus, e não o são, mas são da sinagoga de Satanás. Não temas as coisas que
estás para sofrer. Escutai: o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que
sejais provados, e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e
dar-te-ei a coroa da vida.” Apocalipse
2:9-10
Aos olhos humanos, aquela era uma igreja pobre, desprovida
de qualquer ostentação. Porém, na avaliação de Cristo, ela era rica. Não
importava as blasfêmias com as quais os falsos judeus a atacavam. Deus comprara
sua briga. Mesmo que fossem provados por uma tribulação aguda, o que os
esperava do outro lado era a coroa da vida.
Jamais se esqueça que a corrida se dá aqui, na pista da
vida, mas o pódio é na eternidade. É lá que receberemos o
grande prêmio, o galardão eterno. Deixe que digam o que quiserem. Deixe que te
julguem e até te sentenciem. Mas jamais te esqueças de que tens um advogado no
céu. É Ele quem pleiteia nossas causas, e que por fim, nos fará justiça. A
morte não tem a última palavra. Ela é apenas a linha de chegada que separa a
pista do pódio. O que nos espera não pode ser comparado a nada que
soframos nesta vida. O que representa uma década em comparação à eternidade?
Deixe ecoar em seu peito a garantia encontra na
Palavra:
“Pois a
nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima
de toda comparação.” 2
Coríntios 4:17
Um dia todos devemos comparecer perante o tribunal de Cristo
para o balanço final, “para que cada um receba segundo o
que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou o mal” (2 Co.5:10). Não
há o que temer! Se Aquele que em nós houver começado a boa obra, enfim a tiver
terminado, poderemos então fitar n’Ele nossos olhos em plena confiança. O mesmo
Cristo que nos justificou pelo Seu sangue, também nos transformou pelo Seu
Espírito. E foi este Espírito que derramou em nós o Amor de Deus (Rm.5:5),
fazendo-nos amados, e fazendo-nos amar. Como diz João: “Nisto é
aperfeiçoado em nós o amor, para que no dia do juízo tenhamos confiança;
porque, qual ele é, somos nós também neste mundo” (1 Jo.4:17).
A obra finalmente terá sido concluída. Estaremos
aperfeiçoados no amor. O Espírito Santo terá cumprido Sua missão em nós,
transformando-nos segundo a imagem de Cristo. No balanço final, só haverá
prejuízo para aqueles que insistiram em viver para si mesmos, gastando todos os
recursos para seu aprazimento. Os que amaram sua própria vida, perdê-la-ão, mas
os que a desprezaram por amor de Cristo, a receberão com juros e correção
monetária, para gastá-la por toda a eternidade (Jo.12:25). Numa total subversão
da contabilidade humana, no balanço de Deus quem gasta aqui, poupa lá. Quem se
poupa aqui, desperdiça para sempre. Foi sabendo disso que Paulo declarou aos
Coríntios: "Eu de muita boa vontade gastarei, e me deixarei gastar
pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos
amado" (2 Co.12:15).
Nos
balancetes de
Deus em nossa vida, o que importa não é sair ganhando, ficar no lucro, levar
vantagem. Prejuízos momentâneos podem representar ganhos eternos. Há uma total
inversão dos valores impostos pelo mundo. Daí Paulo ser enfático ao dizer: "Mas
o que para mim era lucro, considerei-o perda por causa de Cristo" (Fp.3:7).
Portanto, deixe-se gastar. Não poupe energias! Ame
intensamente a todos ao seu redor sem esperar qualquer retorno. Viva por eles e
para eles. Que eles reconheçam Cristo transpirando por seus poros.
Assista ao vídeo com esta mensagem gravado na Flórida, EUA.
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