domingo, dezembro 27, 2015

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Abertos para balanço - Para quem não quer desperdiçar mais um ano de sua vida




Por Hermes C. Fernandes

Chegamos a mais um ano novo. Depois das fartas vendas de final de ano, chega a época em que muitas lojas fecham para balanço. É hora de calcular os lucros ou eventuais perdas. Depois do balanço, as lojas costumam reabrir com grandes liquidações de estoque.

E quanto à vida que temos levado? Não haveria também um momento em que precisamos fazer um balanço?

Há três tipos de avaliação às quais devemos nos submeter.

O primeiro deles é a autoavaliação.

O apóstolo Paulo admoesta à todos os que participam da mesa do Senhor: “Examine-se o homem a si mesmo antes de comer deste pão e beber deste cálice” (1 Coríntios 11:28).

Este autoexame deve ser, ao mesmo tempo, introspectivo retrospectivo. Devemos avaliar nosso estado atual, e verificar se estamos numa carreira ascendente ou descendente, isto é, se estamos progredindo ou regredindo espiritualmente. Para isso, teremos que fazer um balanço que inclua deste do início de nossa caminhada com Deus até o momento presente. Paulo exorta os Coríntios: “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados” (2 Coríntios 13:5).

Às vezes não nos damos conta de que nossa vida espiritual se esfriou. Somos como aquela rã colocada numa panela de água fria, que não percebe que aos poucos a água está esquentando, e acaba cozida na água fervendo. Por isso, precisamos de uma referência em nossa própria caminhada, que é chamada nas Escrituras de “primeiro amor”(Ap.2:4). Se neste balanço descobrirmos que já estivemos numa situação espiritual melhor que a atual, temos que dar meia volta, e atender à recomendação de Cristo à igreja de Éfeso: “Lembra-te de onde caíste! Arrepende-te, e pratica as primeiras obras” (Ap.2:5a). Repare num detalhe: Não é lembrar “onde caiu”, mas “de onde caiu”. A caminhada cristã deve ser sempre ascendente. Temos a garantia de que seríamos guiados pelo Espírito Santo de “glória em glória”(2 Co.3:18). E se recuarmos, Deus não terá prazer em nós! A cada nova glória galgada, devemos parecer mais com Jesus.

Escrevendo a uma igreja que havia retrocedido, Paulo deixou escapar: “Corríeis bem. Quem vos impediu de obedecer à verdade?” (Gl.5:7). Paulo compara nossa jornada cristã à uma modalidade esportiva muito popular em sua época: o atletismo. Os cristãos da Galácia deixaram a raia, caíram da graça, abandonaram a santa ambição de um dia subir ao pódio celestial.

Usando a mesma analogia do atletismo, Paulo escreve em outra epístola:

“Todo aquele que luta, em tudo se domina. Eles para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, a incorruptível. Portanto corro, não como indeciso; combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.” 1 Coríntios 9:25-27

Se almejamos, de fato, a coroa da vida, temos que ser fiéis até a morte! Temos que concluir nossa carreira, e para isso, subjugar o nosso corpo, mantê-lo sob disciplina.

Muito perto de cruzar a linha de chegada, o apóstolo declarou:

“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada...” 2 Timóteo 4:7-8a

As pessoas estão tão preocupadas em acumular bens, e serem bem-sucedidas, que perdem o foco da caminhada cristã, que nada mais é do que nos tornarmos semelhantes Àquele que nos chamou.

A coroa da vida, ou coroa da justiça, será o prêmio da soberana vocação, entregue àqueles que se mantiverem fiéis até cruzarem a linha de chegada. Portanto, a ordem é avançar! Esquecendo-nos das coisas que para trás ficam, e avançando para as que estão diante de nós, prossigamos para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Fp.3:13-14).

E para tal, há um custo. Não há balanço sem que se calcule os custos. E o custo para que alcancemos o alvo é a nossa vida. Por isso, não podemos amar nossas próprias vidas. Esta corrida é ganha por aqueles que “não amaram as suas vidas até a morte”(Ap.12:11b). Paulo sabia muito bem disso. Para manter seu corpo em disciplina e manter o foco no alvo, ele tinha que abrir mão da própria vida. Veja o que ele diz: “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira...”(At.20:24a). Alguém poderá objetar: Mas não pela graça? Sim! Mas não se trata de uma graça barata, aí não seria salvação, mas promoção, ou ainda, liquidação! A graça que se manifestou salvadora é a mesma que nos ensina a renunciar as paixões desta vida (Tt.2:11-12).

Quanto mais avançamos nesta corrida, mas nos desapegamos das coisas desta vida e nos voltamos para Aquele que é a própria Vida. Ele é a nossa Coroa! Nada mais nos interessa senão Ele!

Pergunto: Estamos hoje mais parecidos com Ele do que há dez anos? Como está o processo de transformação conduzido pelo Espírito Santo em nossa vida? Examine-se. Abra-se para este balanço.

Abertos à avaliação de outros

O segundo tipo de avaliação é a feita pelos outros. Quem disse que não devemos nos submeter a ela?

Temos que estar abertos constantemente à avaliação dos que nos cercam. E isto inclui, principalmente, aqueles que nos precederam na fé, ou que exercem autoridade espiritual sobre nós. Às vezes precisamos até de um avalista que dê testemunho de nossa transformação diante dos demais.

Confira comigo o episódio que narra a primeira viagem de Paulo a Jerusalém para encontrar-se com os apóstolos, três anos depois de sua conversão:

“Quando Saulo chegou a Jerusalém, procurava juntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não acreditando que fosse discípulo. Então Barnabé, tomando-o consigo, levou-o aos apóstolos e contou-lhes como no caminho ele vira o Senhor, e que este lhe falara, e como em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus. Andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo, e pregando ousadamente em nome do Senhor...” Atos 9:26-29a

Barnabé foi o avalista de Paulo perante os apóstolos veteranos. Ninguém se sentia confortável diante de um homem que fora cúmplice no assassinato do primeiro mártir da igreja. As pessoas o olhavam com desconfiança. Mas quando Barnabé prestou testemunho de sua conversão, Paulo foi convidado a acompanhar os apóstolos por algum tempo. Isso lhe rendeu credibilidade diante dos demais cristãos. Não é em vão que a sabedoria popular diz: Diga-me com quem tu andas, e direi quem tu és. Os apóstolos fizeram questão que todos vissem Paulo caminhando ao lado deles, e desta maneira, abonaram sua conduta.

Quatorze anos se passaram. Paulo já desfrutava de total credibilidade entre as igrejas. Mas mesmo assim, voltou a Jerusalém para prestar contas aos demais apóstolos. Confira:

“Depois, passados quatorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também comigo a Tito. E subi por causa de uma revelação, e lhes expus o evangelho que prego entre os gentios. Mas particularmente aos que pareciam ter maior destaque, para que de maneira alguma não corresse, ou não tivesse corrido em vão.” Gálatas 2:1-2

Repare que a preocupação do apóstolo era não ter corrido em vão. Uma vida ministerial, ou mesmo uma vida cristã regular, poderá ser um completo desperdício de tempo e de energias, se não estivermos dispostos a prestar contas com outros.

Paulo já não era um novato. Pelo contrário. Sozinho já havia feito mais do que todos os apóstolos juntos. Mas isso não lhe dava o direito de levar uma vida autônoma, fazendo o que lhe desse na gana.
Líderes também devem prestar contas a outros líderes. Ninguém pode isolar-se dos demais. Nossa experiência não nos isenta da prestação de contas.

Lucas nos oferece outra narrativa desta segunda prestação de contas de Paulo: “Quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja, pelos apóstolos e pelos anciãos, e lhes anunciaram quão grandes coisas Deus tinha feito com eles.” (Atos 15:4).

Se não quisermos desperdiçar uma etapa inteira de nossa vida, estejamos prontos para prestar contas, expondo-nos à avaliação de nossos líderes e companheiros de jornada. Lembremo-nos que, enquanto estamos na pista, estamos cercados por uma nuvem de testemunhas. Portanto,“deixemos todo embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para Jesus” (Hb.12:1-2).

Abertos à avaliação de Cristo

Até que ponto nossa avaliação é confiável? Ou ainda: até que ponto a avaliação de outros é honesta? Haveria alguma outra instância a qual deveríamos nos submeter à constante avaliação? É claro que sim! Temos que estar abertos à avaliação de Deus.

O fato é que não poucas vezes somos enganados por nossa própria avaliação, e tornamo-nos insensíveis ao escrutínio do Espírito Santo. Nem sempre nossa avaliação coincide com a de Cristo.

Veja, por exemplo, a diferença entre a avaliação que os cristãos laodicenses faziam de si mesmos e a feita por Cristo.

“Dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta. Mas não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu.” Apocalipse 3:17

Enquanto os cristãos de Laodiceia declaravam ser ricos, Jesus diz que eram coitados. Enquanto se diziam enriquecidos, Jesus os chamava de miseráveis. Enquanto afirmavam não terem falta de nada, Jesus os chamava de pobres, cegos e nus. Eles estavam cegos ao seu próprio estado de lástima e miséria. A soberba os cegou. Portanto, sua autoavaliação estava comprometida.

Só lhes havia uma esperança: abrirem-se para um balanço feito por Cristo.

“Eis que estou à porta, e bato. Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.” Apocalipse 3:20

Quando abrimos a porta para Ele, somos convidados a uma ceia de mão-dupla. Repare no que Jesus diz: Com ele cearei, e ele comigo. Pode até parecer redundante, mas não é. Cear com Ele é permitir que Ele perscrute as entranhas do nosso ser, numa comunhão íntima e profunda. Cear com Ele é submeter-nos inteiramente à sua avaliação. Mas quando Ele diz que irá cear conosco, está dizendo que Ele mesmo endossará nossa auto-avaliação, pois esta condirá com a Sua. Poderemos examinar-nos a nós mesmos sem medo de errar, pois este autoexame será conduzido pela luz do Espírito Santo em nós.

Às vezes as pessoas que nos avaliam também não o fazem com justiça. Julgam-nos segundo seus interesses e não com retidão. Mesmo sujeitos a isso, não podemos nos fechar. Temos que estar sempre abertos à avaliação de outros. Porém, se formos injustiçados, Deus sempre sairá em nossa defesa.

A antítese da igreja de Laodiceia é a igreja de Esmirna. Veja o que Jesus diz a esta igreja em Apocalipse:

“Conheço a tua tribulação e a tua pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus, e não o são, mas são da sinagoga de Satanás. Não temas as coisas que estás para sofrer. Escutai: o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais provados, e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” Apocalipse 2:9-10

Aos olhos humanos, aquela era uma igreja pobre, desprovida de qualquer ostentação. Porém, na avaliação de Cristo, ela era rica. Não importava as blasfêmias com as quais os falsos judeus a atacavam. Deus comprara sua briga. Mesmo que fossem provados por uma tribulação aguda, o que os esperava do outro lado era a coroa da vida.

Jamais se esqueça que a corrida se dá aqui, na pista da vida, mas o pódio é na eternidade. É lá que receberemos o grande prêmio, o galardão eterno. Deixe que digam o que quiserem. Deixe que te julguem e até te sentenciem. Mas jamais te esqueças de que tens um advogado no céu. É Ele quem pleiteia nossas causas, e que por fim, nos fará justiça. A morte não tem a última palavra. Ela é apenas a linha de chegada que separa a pista do pódio. O que nos espera não pode ser comparado a nada que soframos nesta vida. O que representa uma década em comparação à eternidade?

Deixe ecoar em seu peito a garantia encontra na Palavra:

“Pois a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação.” 2 Coríntios 4:17

Um dia todos devemos comparecer perante o tribunal de Cristo para o balanço final, “para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou o mal” (2 Co.5:10). Não há o que temer! Se Aquele que em nós houver começado a boa obra, enfim a tiver terminado, poderemos então fitar n’Ele nossos olhos em plena confiança. O mesmo Cristo que nos justificou pelo Seu sangue, também nos transformou pelo Seu Espírito. E foi este Espírito que derramou em nós o Amor de Deus (Rm.5:5), fazendo-nos amados, e fazendo-nos amar. Como diz João: “Nisto é aperfeiçoado em nós o amor, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos nós também neste mundo” (1 Jo.4:17).

A obra finalmente terá sido concluída. Estaremos aperfeiçoados no amor. O Espírito Santo terá cumprido Sua missão em nós, transformando-nos segundo a imagem de Cristo. No balanço final, só haverá prejuízo para aqueles que insistiram em viver para si mesmos, gastando todos os recursos para seu aprazimento. Os que amaram sua própria vida, perdê-la-ão, mas os que a desprezaram por amor de Cristo, a receberão com juros e correção monetária, para gastá-la por toda a eternidade (Jo.12:25). Numa total subversão da contabilidade humana, no balanço de Deus quem gasta aqui, poupa lá. Quem se poupa aqui, desperdiça para sempre. Foi sabendo disso que Paulo declarou aos Coríntios: "Eu de muita boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado" (2 Co.12:15).

Nos balancetes de Deus em nossa vida, o que importa não é sair ganhando, ficar no lucro, levar vantagem. Prejuízos momentâneos podem representar ganhos eternos. Há uma total inversão dos valores impostos pelo mundo. Daí Paulo ser enfático ao dizer: "Mas o que para mim era lucro, considerei-o perda por causa de Cristo" (Fp.3:7).


Portanto, deixe-se gastar. Não poupe energias! Ame intensamente a todos ao seu redor sem esperar qualquer retorno. Viva por eles e para eles. Que eles reconheçam Cristo transpirando por seus poros.

Assista ao vídeo com esta mensagem gravado na Flórida, EUA.


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