Aos 18 anos de idade, o jovem Jason Garver entrou em crise. Era um dia de verão quando sua comida acabou e o aluguel de sua casa estava prestes a vencer. Ele já perdera as esperanças de conseguir um emprego estável. Quase todas as empresas onde Garver havia se aplicado telefonaram para dizer que ele não conseguira a vaga. O rapaz chegou a pensar: "Por que Deus me odeia tanto?" Resolveu, então, mandar uma mensagem de texto com essa pergunta ao seu então pastor. Só que Garver sequer tinha certeza da existência de Deus. Se ele existisse, pensou, talvez tivesse desistido dele durante o ensino médio, quando era um "bad boy", que bebia e usava drogas. Seu pai havia se mudado para outro Estado a trabalho, e Garver teve de viver da boa vontade dos amigos, que ocasionalmente deixavam algumas compras de mercado para ele.
"Senti o desespero de não ter comida, não conseguir um emprego, não encontrar as pessoas", lembra. "Eu não estava na escola; meus amigos não vinham me ver com frequência e eu não podia sair. E sentia tanta fome que não queria fazer nada". Depois de receber a mensagem, o pastor de Garver, Corey Magstadt, pediu para se encontrar com ele. Magstadt disse à jovem ovelha que não tinha todas as respostas. Mas ele o ajudou a se recompor e o convidou para o novo Launch Ministry, ministério voltado para jovens adultos, perto de Chaska, ao sudoeste de Minneapolis (Estados Unidos).
Garver, agora com 22 anos, pertence à chamada geração do milênio. São pessoas nascidas entre 1980 e 2000, e pesquisas mostram que essa geração está fora do alcance de muitas igrejas – ao menos, as que atuam no formato convencional. De acordo com uma recente pesquisa do Pew Forum (instituto que estuda a religião e suas conexões sociais), esse segmento soma cerca de 80 milhões de pessoas nos EUA, e eles têm menos filiação religiosa em comparação com todas as outras gerações anteriores. Jovens adultos que saem da escola para uma faculdade de quatro anos de duração ou para o serviço militar encontram ministérios feitos sob medida para eles; no entanto, existem poucos ministérios que atendam às necessidades específicas e às questões espirituais de jovens da geração do milênio que largaram a escola e foram direto para o mercado de trabalho, parando de estudar ou fazendo apenas cursos profissionalizantes.
"Existe uma expectativa cultural sobre o estudante universitário", afirma Magstadt, diretor executivo do Launch Ministry. "Mas, se uma pessoa tem determinada idade e não está na faculdade, então ela se encaixa em outra categoria – e a Igreja não sabe o que fazer com ela". Launch é um dos poucos ministérios nos EUA voltados para jovens de 18 a 25 anos que não estão matriculados em uma universidade. O próprio Garver testemunha que, sem esse ministério, ele poderia ter caído em um poço espiritual e financeiro muito mais profundo. Quando o rapaz precisou de moradia de curto prazo, Magstadt o convidou para ficar em sua casa, e deixou com ele o seu antigo carro, para que pudesse ir ao trabalho. E, mais que tudo, o líder incentivou Garver a consultar as Escrituras em meio a suas lutas espirituais.
Desde então, o jovem obteve seu GED (General Educational Development, uma espécie de certificado dos requisitos necessários para o nível acadêmico de alunos formados no ensino médio) e uma licença de assistente de enfermagem. Com as esperanças renovadas, ele pretende se formar em Física. Agora, ele não acha mais que Deus o odeia ou se esqueceu dele. "Agora, que sou cristão, posso dizer que é dessa forma que Deus nos ajuda. Ele não estende sua mão brilhante dos céus; o Senhor vem a nós através de pessoas como o pastor Corey".
PROGRAMAS PRÁTICOS
Desde o lançamento do seu livro Souls in transition ("Almas em transição"), em 2009, o sociólogo Christian Smith tem estudado a vida religiosa da geração do milênio e sua transição para a vida adulta. A pesquisa revelou que os jovens dessa geração que não fazem faculdade tendem a ser ainda menos religiosos do que seus amigos que estão na academia. Isso configura uma inversão da tendência que vinha desde os anos 1990. "Antes, dizia-se que a faculdade corroía a fé religiosa do estudante crente. Isso mudou", afirma Smith. "Existe algum tipo de relação entre não frequentar uma faculdade depois do ensino médio e entrar direto no mercado de trabalho com a falta de fé e um menor envolvimento com a igreja".
Smith afirma que há algumas possíveis razões para essa tendência. Em primeiro lugar, a classe social: americanos com diploma universitário e, portanto, pertencentes à classe média são mais propensos a frequentar igreja. Em segundo lugar, jovens adultos que apenas trabalham tendem a ser mais isolados socialmente e menos ligados a qualquer tipo de comunidade, incluindo a da fé. E, por último, observou-se que as organizações religiosas costumam negligenciar grupos de jovens em idade universitária que não fazem parte de instituições de ensino superior.
"Quando se está tentando montar um ministério para jovens, considerar as faculdades faz todo sentido", diz Smith. "Eles são acessíveis nesses ambientes. Os alunos estão mais distantes do convívio familiar e são mais suscetíveis a serem transformados por uma mensagem". Segundo o pesquisador, os ministérios veem jovens universitários como mais atraentes – isso porque, na ótica dos líderes, eles podem ser mais influentes na sociedade conforme forem ficando mais velhos, continua o sociólogo.
Porém, os jovens que optam por não se matricular em uma faculdade constituem um grupo bastante considerável para serem ignorados. Dos cerca de quatro milhões de formandos em 2011, nos EUA, cerca de 70 por cento tinham se matriculado em alguma faculdade, de acordo com o Bureau of Labor Statistics. Desses estudantes matriculados, apenas cerca de 60 por cento estavam em instituições regulares, cujo curso dura quatro anos. É que, devido à crise econômica, muitos jovens da geração do milênio preferem os cursos de dois anos, mais acessíveis – mas estes recebem menos atenção dos ministérios cristãos especializados em evangelizar universitários. O problema é maior em relação aos jovens que vão trabalhar logo depois do ensino médio. Isso porque são mais vulneráveis à pobreza e ao desemprego, e, segundo Smith, enfrentam alguns dos obstáculos mais difíceis em sua transição para a vida adulta.
Ao se dar conta disso, Corey Magstadt começou o Launch Ministry. Ele era pastor de uma igreja e via que muitos jovens recém-formados da mocidade haviam parado de frequentar os cultos da igreja. Depois de deixar o ministério ali, logo descobriu como eram sérios alguns dos problemas desses jovens. Cerca de 20 deles apareceram ao primeiro estudo bíblico do Launch, em fevereiro de 2009. Conforme eles foram se apresentando, Magstadt viu que muitos estavam lidando com crises. A primeira pessoa a falar havia perdido a mãe na noite anterior; uma moça tinha acabado de descobrir que estava grávida e seu namorado, o terceiro a falar, era viciado em metanfetamina. Com um público desses, o pastor percebeu o tamanho do problema que tinha em mãos. "Nós rapidamente percebemos que estávamos no limite", diz Magstadt. Ele havia planejado que o estudo bíblico fosse uma espécie de grupo de jovens – porém, a necessidade por uma comunidade de apoio era mais urgente.
O ministério começou, então, a desenvolver programas práticos para atender às necessidades básicas daqueles jovens meio perdidos ao ingressar na idade adulta, como aconselhamento individual e aulas para ensiná-los, por exemplo, a montar bons currículos para tentar uma carreira profissional – além de se aplicar para aproveitar as oportunidades de emprego. Os programas de tutoria unem cerca de 20 jovens com voluntários de igrejas locais. Os orientadores os ajudam a definir e alcançar seus objetivos, tanto na esfera espiritual quanto nas áreas práticas da vida. Segundo Magstadt, é essa atenção personalizada que traz a mudança. "Esses jovens estão clamando por alguém disposto a investir em suas vidas, principalmente aqueles que não têm muito apoio dos pais", diz Magstadt. "Eles precisam de uma orientação muito mais direta e pessoal".
"FAÇO PARTE DE ALGO"
Mais recentemente, o Launch Ministry abriu uma casa transitória, chamada Launch Pad, onde oito rapazes moram pagando um aluguel mensal de 150 dólares (cerca de R$ 300). Em breve, deve ser aberta também uma hospedaria para moças. Segundo Magstadt, a iniciativa era necessária porque a falta de moradia entre os jovens estava em ascensão naquela área. "As necessidades básicas estavam tomando tanto o tempo desse pessoal que eles não conseguiam se concentrar em outras coisas, como a escola e o desenvolvimento de sua fé", comenta. Pesquisas nacionais recentes mostram que dois milhões de pessoas com idade entre 18 e 24 anos haviam ficado sem moradia durante o ano anterior. Garver estava nesse grupo de risco até encontrar o ministério. Agora, mais estável em sua espiritualidade e vendo melhores perspectivas de futuro, o rapaz ajuda a gerenciar a Launch Pad.
Embora não tenham ministérios tão específicos voltados à geração milênio, algumas igrejas têm alcançado sucessos com esse público. Nos últimos anos, a Sunrise Community Church, de Austin (Texas), tem visto jovens entre os 18 e os 25 anos serem atraídos pelo Evangelho. O pastor Mark Hilbelink estima que metade da congregação esteja abaixo dos 40 anos de idade. O detalhe é que ele mesmo foi para a Sunrise em maio de 2009, aos 26 anos de idade, sucedendo um pastor de 65 anos. A identificação foi imediata. Hilbelink pastoreia um rebanho jovem que enfrenta lutas, como filhos fora do casamento, alcoolismo e uso de drogas. Segundo ele, essas questões exigem uma atmosfera muito honesta dentro da igreja, onde esses jovens adultos possam assumir suas falhas, ao invés de escondê-las. "Queremos que eles exponham seus problemas, ao invés de guardá-los, para que possamos ajudá-los a lidar com eles", enfatiza Mark Hilbelink.
A Sunrise valoriza a importância dos pequenos grupos para a criação dessa atmosfera íntima. O pastor costuma dizer que, se os frequentadores tiverem de escolher, é preferível que faltem à igreja e compareçam à reunião da célula. Chad Valls, 28 anos, nunca tinha ido a um pequeno grupo antes de Sunrise. Porém, ao começar a frequentar os encontros, ele começou a se abrir sobre seu medo de não estar presente na vida das filhas, de cinco e sete anos de idade, da mesma maneira que seu pai não esteve presente na sua. Ele contou tudo aos companheiros do grupo, antes mesmo de buscar aconselhamento com o pastor. "É difícil conversar com o pastor, porque normalmente achamos que ele é um cara muito correto diante de Deus", admite. "A gente fica pensando se ele vai nos julgar se a gente contar alguma coisa. Mas, depois que fui a um pequeno grupo, percebi que não tinha problema."
"Se quiser alcançar o coração desses jovens, a Igreja terá que rever seu discurso, tornando-o menos moralista e religioso e mais ético e idealista", aponta o bispo Hermes Fernandes, da Igreja Reina, no Rio de Janeiro. "A geração do milênio, também conhecida como geração Y, adota uma cosmovisão distinta das gerações que a antecederam, resultando em expectativas, posturas e comportamentos igualmente distintos". Na sua avaliação, embora muitos deles cresçam dentro das instituições religiosas, acabam deixando a igreja por causa dos modelos de perfeição que são cobrados ali. "Eles abominam o rótulo de religiosos e passam a fazer parte de grupos não oficiais. Por outro lado, os que permanecem dentro de igrejas desafiam as lideranças e os formatos, causando desconforto ao propor novidades". Por isso, prossegue Hermes Fernandes, esse grupo se constitui em um desafio missionário. "Se os negligenciamos, dificilmente obteremos êxito na evangelização dos que virão depois deles."
Outros jovens da geração do milênio chegaram a posições de liderança dentro dos ministérios existentes. A Sunrise tem vários líderes de louvor jovens, incluindo Ashley Rico, que canta e toca teclado. Quando a igreja a convidou para se juntar ao grupo de música, ela hesitou. É que precisava se dividir entre criar seu filho, então com dois anos, e trabalhar. Ela também não tinha certeza se estava pronta para a responsabilidade espiritual de conduzir o louvor e representar a igreja. "Tive que tomar uma decisão de que estaria cem por cento comprometida com a minha fé", diz. "Eu sabia que não poderia subir ao altar de outro jeito."
Depois de muita oração, Ashley decidiu aceitar. Logo depois, ela começou a ler mais a Palavra e começou a procurar as origens bíblicas dos louvores. No início, ficava nervosa para falar na frente da congregação, mas seu antecessor na função a tranquilizou, lembrando que, desde que seu coração estivesse focado na adoração a Deus, tudo daria certo. "Toda vez que ministro o louvor, me sinto mais tranquila, sabendo que é ali que devo estar", diz a obreira. "Eu me sinto uma pessoa melhor, não por causa do que estou fazendo, mas porque faço parte de algo".
Fonte: Cristianismo Hoje
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