sexta-feira, julho 17, 2015

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Fim da linha para quem se vende



Por Hermes C. Fernandes

Quem nunca foi tomado por um forte sentimento de culpa? Quem jamais desejou voltar no tempo para consertar as coisas? Mesmo Judas, o apóstolo traidor, sentiu-se profundamente arrependido do que fizera ao seu Mestre. Lembro-me de quando me emprestaram um livro chamado “Eu, Judas”, onde o autor tentava redimir a figura do apóstolo traidor. Entre suas teorias, talvez a mais contundente era a que dizia que Judas fora movido por um propósito altruísta. Ele achava que se “cutucasse a onça com vara curta”, Jesus se levantaria, assumindo Seu papel messiânico, arregimentando Seu povo para uma tomada de poder. A traição seria apenas um empurrãozinho. Mas as coisas não aconteceram como planejadas.

Quando Judas ouviu de Jesus que os discípulos deveriam se armar para acompanhá-lo até o Getsêmane, ele imaginou que finalmente a revolução ocorreria. Porém, Jesus jogou um balde de d’água fria em seus planos quando não apenas reprovou a atitude violenta de Pedro ao desembainhar sua espada para defendê-lo, como também colocou no lugar a orelha decepada de um dos soldados do Sinédrio que vieram prendê-lo.

Amargurado com os rumos dos últimos acontecimentos, Judas dirigiu-se aos principais sacerdotes e anciãos para devolver-lhes o dinheiro que recebera para trair seu Senhor. Tudo deu errado! Jesus fora condenado, preso, e em mais algumas horas seria crucificado. A conclusão a que Judas chegara foi expressa na frase: “Pequei, traindo o sangue inocente”. Já que não dava pra voltar atrás, pelo menos o dinheiro que recebera deveria ser devolvido. Mas para sua surpresa, os sacerdotes recusaram recebê-lo de volta.  E olha que trinta moedas de prata eram uma quantia considerável.  Como os sacerdotes recusaram-se a recebê-la, Judas atirou-a para dentro do santuário e retirou-se já resolvido a suicidar-se.

Que destino deveriam tomar aquelas moedas?

Por mais sórdidos que fossem aqueles sacerdotes, ainda lhes restara certo senso de ética. Em conselho convocado de última hora, concluíram: “Não é lícito metê-las no cofre das ofertas, porque é preço de sangue.”

Como alguém que foi capaz de subornar um dos apóstolos de Jesus para traí-lo, ainda seria capaz de posicionar-se eticamente? Por incrível que pareça, tal senso ético não tem sido facilmente encontrado em muitas lideranças cristãs. Ouvem-se rumores de líderes que aceitaram dinheiro do tráfico para financiar a construção de seus templos ou a aquisição de canais de TV. Soube do caso de uma igreja que apoiou a candidatura de um governador, e que após as eleições bem-sucedidas, veio cobrar-lhe uma secretaria, como havia sido prometido. O governador alegou que todas as secretarias já estavam ocupadas, e que só sobrara a Loteria do Estado (achando que certamente a igreja não aceitaria). Para a surpresa do governador (evangélico, diga-se de passagem), os dirigentes da igreja aceitaram de bom grado a direção do jogo no Estado.  Imagine: como uma igreja poderia pregar contra o jogo, se ela mesma é quem está à frente dele?

A conclusão a que chego é que os principais sacerdotes que condenaram Jesus eram mais éticos que muitos líderes evangélicos de nosso tempo. Que vergonha! Quantos ministérios edificados sobre "Campos de Sangue"? Quantas ofertas recebidas que foram fruto de extorsão, venda de drogas, vidas arruinadas, dinheiro público desviado que deveria ser usado na compra de ambulâncias, merenda escolar, segurança, etc.?

Como eu poderia subir ao púlpito com a consciência tranquila sabendo que o dinheiro que mantém meu ministério vem de fontes erradas? Como eu poderia pregar honestidade vendendo os votos do meu rebanho para um político inescrupuloso? Será que os fins justificam os meios? Será que Maquiavel tinha razão? Já que não somos católicos romanos, em vez de canonizá-lo, que tal elegê-lo como patrono de nossa causa? Há que se ter redobrados cuidados com ministérios que explodem de uma hora pra outra, comprando tudo que vê pela frente... Quem trabalha duro à frente de um ministério sabe que dinheiro não cai do céu...

Já que aquele dinheiro sujo não deveria ser depositado no cofre do templo, algo precisaria ser feito. Alguém teve uma “brilhante” ideia: Vamos utilizá-lo na aquisição de um campo para servir de cemitério para os estrangeiros. O conselho prontamente votou e aceitou.

O dinheiro foi considerado tão sujo, que mesmo que fosse usado na construção de um cemitério, este deveria ser destinado unicamente aos estrangeiros. Nenhum judeu poderia ser enterrado nele. A propriedade adquirida recebeu o nome de “Campo de Sangue”.

Interessante notar que o relato feito por Lucas difere um pouco de Mateus, que é o que temos considerado até agora. Segundo Lucas em seu relatório conhecido como Livro de Atos dos Apóstolos, o próprio Judas teria adquirido aquele campo com o “salário da sua iniquidade”.

Não creio que haja contradição entre Mateus e Lucas. O fato é que Lucas intencionalmente atribuiu a Judas a compra daquele campo para enfatizar o seu terrível destino. Como que por coincidência, Judas sai em busca de um lugar ermo para dar cabo de sua vida, avista uma árvore à beira de um precipício, pendura-se nela, com o peso do seu corpo, o galho se quebra, e ele se precipita no abismo, tendo suas entranhas espalhadas pelo campo. Era uma imagem horrível de ser ver. O que ele jamais poderia supor é que aquele lugar escolhido para ser cenário de seu suicídio era justamente o campo comprado com dinheiro que recebera pela traição.

Judas bem que tentou livrar-se daquelas moedas, mas elas o perseguiram até o fim.

Em contraste com Jeremias, que mesmo preso adquiriu, por ordem do Senhor, um campo em Anatote (que quer dizer “Resposta à oração”), o campo adquirido com o dinheiro da traição foi chamado de Acéldama, que significa “Campo de Sangue”.

Acéldama representa o fim da linha, o precipício do qual a alma humana se lança quando trai a si mesma. Toda traição é auto-traição. Ninguém trai alguém se trair a si mesmo. E toda a traição tem um salário e um custo. O custo jamais compensa o salário que se recebe dela.  E não adianta tentar fugir, lançar as moedas de volta ao seu lugar de origem. Elas nos acharão!

O precipício é o preço da precipitação. Precipitamo-nos sempre que sacrificamos nossos princípios  e valores no altar do imediatismo. Traímos nossas convicções por conveniência. Somos iludidos pela ideia de que é possível apressar o processo.

Um dia o que estava oculto vem à tona. As entranhas de Judas são expostas. E aí... será tarde demais.

Mateus 27:3-8 e Atos 1:15-19

4 comentários:

  1. Texto forte, verdadeiro e corajoso como deve ser. O que tenho visto na maioria das igrejas não é brincadeira. A orgia com o nome de Deus vai acabar. Abc, Fabio

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  2. Missionário Luiz9:20 AM

    Hermes um recado de Deus para o seu povo.
    Está no livro de Mateus 18.7 que fala: Aí do mundo, por causa dos escândalos. Porque é mister que venham escândalos, mas aí daquele homem por quem o escândalo vem!
    Jesus Cristo o Nazareno adverte que aqueles que servem de
    instrumento para pôr coisas pecaminosas diante dos outros e, especialmente, diante de crianças, receberão a extrema condenação; veja em Mateus 18.2,5-7. Pôr " escândalos " tais como diversões
    mundanas, ensinamentos humanistas, filmes imorais, literatura pornográfica, drogas, bebidas alcoólicas, maus exemplos, falsas doutrinas bíblicas e companheiros iníquos no caminho dos outros, é
    ajuntar-se a Satanás, o grande tentador; veja Mateus 4.1; Gêneses 3.1-6; João 8.44; Tiago 1.12.
    O procedimento Santo dos cristãos fiéis é remover da vida da nossa
    família, nosso lar, nossas igrejas e da nossa própria pessoa, tudo que possa levar os outros à tentação e ao pecado; veja Mateus 18.7-9.
    E sejais santo, porque Jesus Cristo é Santo, assim diz a Palavra de Deus.

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  3. Anônimo9:28 AM

    Ok concordo com o texto acima mas quero aqui engatar uma questão, já que todos se converterao sem excessao se apos a cruz toda a humanidade sera restaurada ainda que de forma gradual, mas o resultado final sera a restauraçao da humanidade. Então qual o propósito da segunda morte, descrito em ap 20-15 aonde os que nao foram encontrados no livro da vida foram lançado na segunda morte descrito como lago de fogo e enxofre. nao se refere ao inferno ou sepultura no original sheol, pois todós nos do inferno ou sepultura ressucitaremos com Cristo mas o que vem após isso que é a segunda morte. e que necessidade haveria de se ter um juiz para apartar os bodes das ovelhas no ultimo dia em que toda a humanidade estará no mesmo tempo no dia do Senhor. ora só existe juiz aonde se tem reu. Jesus foi bem claro que este lugar que não é o inferno mas o lago de fogo e enxofre que é a segunda morte cujo foi preparado para o diabo e seus anjos Temos que levar em consideraçao que o lago de fogo e enxofre sera o destino final do inferno, da morte, e de satanas com seus mensageiros cujo aqueles que nao estiveram escritos no livro da vida ap 20:14-15. se dissermos que esse lugar é apenas uma quarentena e que tudo o que de la está seria restaurado diremos também que satanas,e a morte também seria restaurados pois ambos foram lançados no mesmo lugar que ao meu ver é o esquecimento total. talvez nao o tormento eterno mas sim o fato da nao existencia de tudo aquilo que nao foi do agrado de Deus. e se apenas os que nao foram salvos serao restaurados desse lugar e porque satanas tambem não. pois ambos estão no mesmo lugar. e ae bispo como conciliar essa palavra com a sua visão?? pregar so a beleza da salvaçao é mais importante sem dúvida mas se essas questões nao fossem de valor algum. Deus não teria a necessidade de nos revelar.

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