domingo, fevereiro 06, 2011

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Sem motivos para amar?



Por Pablo Massolar
Existe amor que dure a vida toda, que a tudo perdoe e não se desanime? Existe amor que se renova todos os dias porque tudo sofre, tudo espera, tudo crê?
Minha ingênua e sincera fé diz que sim, mas muitas vezes [às vezes a maioria das vezes] o meu coração/razão/vontade não encontra tal amor... ou, se ele está lá... se cansa de tentar procurá-lo e fazer reviver um sentimento assim. Não por falta de forças ou de coragem, mas por falta de motivos.
Onde encontrar motivos para amar, então? É possível encontrá-los quando já não queremos ou temos medo de nos machucarmos de novo?
Talvez as perguntas estejam sendo feitas da maneira errada, mas não sem verdade existencial... Todo mundo procura por estes motivos de vez em quando... Eu gostaria que minha resposta fosse tão simples quanto procurar no “Google”, mas eu não tenho boas notícias sobre encontrar motivos para amar, geralmente nunca se acha um bom motivo para se fazer isto. É mais fácil não ter motivo para amar. Recusar-se a amar e trancafiar-se solitariamente dentro de uma torre alta ou mosteiro celibatário talvez seja a solução menos dolorosa.
Não amar evitaria comprometer o amor e a vida de mais algum inocente, quando, por exemplo, duas pessoas se amam e se deixam ser amadas, mas logo no início de suas caminhadas descobrem que é perigoso demais abrir o coração não só ao amor, mas às frustrações e confrontos que a vida a dois sempre causa. Ou, quem sabe, depois de muitos anos de caminhada juntos, descobrem que o motivo para se amar acabou faz tempo ou nunca, de fato, existiu. Donzelas amáveis e príncipes heróis encantados, cavalos brancos e o salvamento da princesa da torre são divertidos e empolgantes nas primeiras vezes, mas se torna enfadonho ter que se trancar na torre de novo para se proteger de uma dor ou de escalá-la perigosamente a fim de encontrar aventuras e motivações para amar todos os dias.
Não amar certamente anularia as dores e desilusões destes momentos, mas não é a decisão mais completa a ser tomada. Particularmente não creio que exista gente que foi feita para não amar; e também não creio em amor que vai e vem, que sobe e desce. Acredito no amor que fica, mesmo amassado, ferido, sozinho e nos faz ter esperança de ver hoje, no nosso agora dolorido, um horizonte amanhã, doce e ensolarado, talvez distante, mas alcançável de dias melhores, mais fáceis para se amar. Dificilmente encontra-se um bom motivo para amar persistentemente, mas quem disse que o verdadeiro amor precisa de motivos para ser amor?
O que me faz amar com vontade de amar não é o motivo, mas a consciência da existência inequívoca deste amor que está aqui dentro sem saber como. Não sei explicar, muito provavelmente ninguém conseguirá explicar, porque o amor é assim, mais forte que a morte, dolorosamente persistente, irrevogavelmente amante, paciente e benigno mesmo sem motivos. Já tentei entendê-lo, mas eu sei que só posso sentí-lo.
O bom e verdadeiro amor não precisa saber dos motivos, jamais os procura ou avalia se é possível ou não amar, só sabe que sente amor e pronto. Vai lá de peito e vida abertos. Ele lança fora todo o medo, ainda que se tenha de matar um leão por dia e a gente vá deitar cansado todas as noites.
O amor sobrevive mesmo é de mãos dadas com a fé e a esperança. O abraço dado, o beijo paciente, a presença carinhosa certamente são expressões do amor, são veículos para nos sinalizar que ele existe e nos dar novo ânimo, mas quando não os encontramos não significa que não podemos amar ou que nos faltam motivos. Dificilmente entenderemos ou reconheceremos o verdadeiro amor somente nos atos e gestos físicos. O amor manifesta-se em dom/dádiva, no que é dado sem buscar interesses próprios, nem mesmo os interesses de atender às nossas carências afetivas são válidos para buscar amar. O amor manifesta-se sem motivo aparente, até sem condições, vem como um rolo compressor ou uma simples brisa, mas vem.
É possível negligenciar o amor, fazer de conta que não existe ou abafá-lo. É possível ficar tão duro ao amor que, mesmo ele existindo, não se queria mais senti-lo. O medo da dor pode causar tudo isso, mas podemos escolher viver por medo e não deixar o amor em paz ou por fé e esperança e fazê-lo brilhar como um sol.
Amar é a capacidade de doar-se sem querer nada em troca, talvez por isso o Senhor tenha dito que, no final dos tempos, o amor se esfriaria de quase todos. Uma sociedade que luta por poder e prestígio, que compra todas as coisas, admiração e domínio, que concorre traiçoeiramente pelos melhores lugares e pisa em cima de qualquer ameaça não entende nem aceita dar sem querer qualquer coisa como pagamento. Pessoas que se amam, mas se interessam mais por disputar quem ama mais do que simplesmente amar, gente que não sabe amar só por amar corre o sério risco de ver esfriar a sensibilidade ao amor.
Logo, não existe pagamento para quem ama de verdade. E quem assim ama, não aceita tais trocas e barganhas. Continua dando, amando, crendo e alimentando a esperança não do fim, mas do recomeço pleno e movido pela alegria de simplesmente amar todos os dias, tudo sofrendo, tudo crendo e tudo esperando, até mesmo o ressurgir da sensibilidade de amar.
 O Deus que assim ama te abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!
Pablo Massolar (Via Ovelha Magra)

6 comentários:

  1. Obrigado por seguir meu singelo blog!

    Outrossim, ótimo texto, muito edificante!

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  2. Muito bom! Mas existem sim pessoas que foram preparadas por Deus pra serem sozinhas. O apóstolo Paulo foi um desses, nunca teve esposa e foi um grande homem de Deus. Há um plano de Deus pra cada pessoa. Pra alguns é amar alguém, casar e ter uma família. Pra outros é simplesmente viver sem nada disso, mas viver pra Deus.

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  3. Oi amigo, muito obrigada por seguir meu blog e já estou seguindo o seu, que por sinal é muito bom. Aliás o tema em questão é bem reflexivo, e o amor se manifesta, em cada pessoa, de forma diferente, menos o amor de Deus por nós

    Com carinho
    Isa
    http://sabedorias-isa.blogspot.com

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  4. A verdade é que não temos motivos sentimentais para amar.

    O amor é pregado por Jesus como um mandamento, não um desejo. É diferente de gostar.

    Então por que amar?

    Amamos porque fomos amados um dia por Deus.

    Amamos porque o outro é feito à imagem e semelhança do Criador, bem como de nós mesmos.

    Amamos porque a vida não faz sentido sem o amor e nem tão pouco poderá haver futuro para a humanidade se não tomarmos a atitude amorosa.

    Como disse o porta anglo-americano Auden, "amem-se uns aos outros, ou pereçam".

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  5. Em tempo!

    No meu texto "A Regra de Ouro em meio ao caos ambiental" concluo falando sorbe a necessidade do amor:

    http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/2011/01/regra-de-ouro-em-meio-ao-caos-ambiental.html

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  6. Oi, Fabíola.

    Eu não disse, no texto, que não existam pessoas celibatárias. O próprio Senhor Jesus disse que existem pessoas que se fazem eunucos por amor a Deus. Eu disse que eu não creio que existam pessoas que não amem ou não possam amar. Este amor, necessariamente, não se trata do amor/eros entre um homem e uma mulher especificamente.
    Eu sei que o apóstolo Paulo era celibatário, mas isto não significa que ele não amasse a igreja e os gentios que ele considerava como filhos na fé.
    Espero ter ajudado com sua questão.
    Beijo no coração!

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