terça-feira, outubro 12, 2010

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A Padroeira e os Desapadronados



Julio Zamparetti



Eram aproximadamente seis horas da manhã quando fui acordado por estouros de foguete que partiram da casa de um de meus vizinhos que duvido veementemente que o infeliz já tenha ido a alguma missa nesse horário. Aliás, é bem possível que ele só compareça à igreja por ocasião de casamentos e funerais. Me pergunto, então: o que faz um sujeito se fazer tão “fervoroso” no dia da padroeira?


Como estudioso do assunto, reservo-me o direito de responder a essa indagação. A falta de conhecimento é o que leva as pessoas a essa fé estranha ao cristianismo autêntico.

Desconhecem o sentido da palavra ‘padroeiro’. Embora a igreja romana tenha atribuído seu significado aos santos escolhidos para intercessores de uma comunidade, classe operária, grupo étnico ou religioso, o sentido etimológico nada tem a ver com isso. Etimologicamente, a palavra ‘padroeiro’ (conjunção de padro(m) = padrão, mais eiro = fazedor) significa fazedor de padrão, assim como ‘padeiro’ significa fazedor de pão. 




Conhecer a padroeira é fácil, mas onde estão os apadronados? 

Teoricamente, Nossa Senhora Aparecida é uma das representações da Virgem Maria, mãe de Jesus. Isso faz de Maria o padrão, modelo de vida, para o Brasil. Honestamente, posso dizer que conheço muito bem Maria pelo que leio da Bíblia e por tudo que li em livros sobre Maria e a cultura judaica. Por isso eu disse que é fácil conhecer Maria, a padroeira, mas é impossível reconhecer o padrão da verdadeira Maria naqueles que a conclamam padroeira, nem mesmo entre os romeiros pode-se identificar a mãe de Jesus. Tudo o que é possível ser identificado na fé mariana popular é uma Maria idealizada que está muito longe de ser a verdadeira Maria que a Bíblia relata.

A Bíblia relata uma Maria serva, o povo idealiza Maria senhora; a Bíblia relata uma Maria salva pelo favor de Deus, o povo idealiza uma Maria salvadora; A Bíblia relata uma Maria bem-aventurada por conceber Jesus; o povo idealiza uma Maria que fez Jesus bem-aventurado por ter nascido dela; a Bíblia relata uma Maria remida pelo sangue de Cristo, o povo idealiza uma Maria concebida sem pecado.

Maria foi modelo de mãe, filha, mulher, serva, exemplo de obediência, santidade, fidelidade a Deus, amor a Jesus, e seu desejo era que todos ouvissem e seguissem o Mestre. Entretanto, a fé mariana popular simplesmente ignora a verdadeira Maria e ofusca a imagem de Cristo. Basta assistir na TV, ou verificar na cidade onde você mora, as aberrações que se faz em nome da fé, para perceber que Maria jamais se encaixaria nesse padrão de religiosidade, quanto mais Jesus!

Desculpem, meus amigos, mas, na realidade, Maria jamais foi padroeira desse Brasil. Os fazedores de padrão do Brasil são o carnaval e o sincretismo religioso. O resultado disso é um povo de vida desregrada nos âmbitos social, sexual, religioso, político, sentimental, familiar, trabalhista, onde tudo que vale é se dar bem sem mudar de vida.

Nesse ínterim, Maria, a verdadeira santa, foi excluída da própria religiosidade que carrega seu nome, e substituída por outra Maria, a padroeira, muito mais rentável, sincrética e que não exige esforço moral algum para seguir seu padrão, basta lhe pagar as promessas e tudo fica certo. E a vida... continua como ela é: bebedeiras, traições, falcatruas, prostituição, carnaval e bundas à mostra. E vai me dizer que não é este o padrão brasileiro?

Se Maria é padroeira do Brasil, cabe-me dizer que a padroeira não tem apadronados. Pois a vida que se vive aqui está longe de se parecer com o modelo de Maria.

Enquanto isso, a Igreja Católica fecha os olhos e abraça os lucros. É o padrão... é o padrão.

Depois de refletir isso, lavei a alma e quero agradecer ao meu vizinho.


Julio Zamparetti (recomendo seu ótimo blog)

5 comentários:

  1. A Maria cultuada no catolicismo vem desse sincretismo, mas lá de trás, da "conversão" dos povos pagãos, como os celtas e muitos outros. Assim, ela assume o papel da deusa-mãe daqueles povos, figura central daqueles cultos, presente na Biblia na figura de Astarte, pra citar um exemplo. Assim, dá pra ter essa noção do porquê ela acaba sendo uma figura mais relevante que o próprio Filho de Deus (quiçá do próprio Deus). O catolicismo simplesmente transformou aquela deusa em Maria. Conversão de fachada.

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  2. Muito boa a reflexão! :D

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  3. Caríssimos, devemos resgatar a verdadeira imagem de Maria segundo nos ensina a Bíblia Sagrada! Sim, porque a original foi embaçada, ofuscada, adulterada, por tantos outros nomes falsos, idolátricos e sincréticos, por aqueles que tiveram interesses, que não a glória de Deus! Maria também é a imagem e semelhança de Deus, outras senhoras, não!

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  4. Olá Hermes! Bom. Até que enfim voltei a escrever e postar e vi seu comentário no meu blog rennoricardo.blogspot.com. Senti-me honrado! Muito obrigado mesmo! Gostei muito de seus textos, agora quero me aventurar no vídeos. Obrigado de novo! Deus o abençoe!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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