Por J.L.Tejo
Em outra postagem tenho falado da necessidade de como, se quisermos chegar à verdade, ou ao mais próximo possível dela, devemos passar por cima de subjetivismos. Deixar que preconceitos pessoais ofusquem o raciocínio é andar em círculos. Não se avança. Nesse sentido, acho muito oportuna a frase de Nietzsche, sobre as convicções serem mais inimigas da verdade que a mentira. Pois o "convicto" não se preocupa com a verdade, tão-somente com a verdade dele. O método dialético, que como marxista eu professo, é radicalmente diferente disso. Analisamos o todo para chegar às partes e vice-versa, cônscios das contradições que permeiam toda estrutura social, toda relação humana, toda atividade humana, que permeiam, enfim, o próprio homem enquanto ser histórico, social e espiritual.
Causa-me estranheza intelectuais negarem, por exemplo, o aspecto revolucionário do cristianismo em seu nascedouro. Partem para o arrolamento dos crimes da Inquisição, da pedofilia da Igreja, da perversão dos Bórgias etc etc. E ficam nisso. Ora, não há organização humana que seja isenta de desvios, por melhor intencionada que seja sua filosofia. Homens estão situados num contexto histórico-material, e como tal fazem sua História, não livremente (e sim sob as circunstâncias legadas e transmitidas do passado, diz Marx no 18 Brumário), mas fazem. No erro e no acerto. Em qualquer caso, o cristianismo não se reduz à Igreja Católica.
Negar o aspecto revolucionário do cristianismo em seus primórdios é negar a História.
Uma religião que, sob os Césares, apresentava o "Rei dos Judeus" (-tu o disseste, Caifás). "A César o que é de César....", negando o próprio caráter divino do imperador. Uma religião que nos colocava a todos como filhos do mesmo Deus, seja gentio, judeu, escravo ou livre, e que horrorizava o sacerdote e fariseus do Templo. Que blasfêmia, milagres aos sábados! Como, comer com prostitutas e gentios?! Este filho de carpinteiro está possesso: vamos apedrejá-lo.
Uma religião que, sob os Césares, apresentava o "Rei dos Judeus" (-tu o disseste, Caifás). "A César o que é de César....", negando o próprio caráter divino do imperador. Uma religião que nos colocava a todos como filhos do mesmo Deus, seja gentio, judeu, escravo ou livre, e que horrorizava o sacerdote e fariseus do Templo. Que blasfêmia, milagres aos sábados! Como, comer com prostitutas e gentios?! Este filho de carpinteiro está possesso: vamos apedrejá-lo.
É compreensível que tal "heresia" passe a ser vista, gradualmente, como um perigo ao próprio status quo.
Como diz Mario Curtis Giordani, apud "História de Roma":
De Khalil Gibran, "Areia e Espuma".
Ou o da imagem do post, o "Cristo Guerrilheiro" do cubano Alfredo Roostgard.
Dedico esta postagem ao amigo Velho Marujo, que, cristão, está atento às questões sociais.
Como diz Mario Curtis Giordani, apud "História de Roma":
"Tácito em seus Anais menciona a atitude tomada por Nero contra os cristãos para fazer cessar o rumor popular que o acusava de haver incendiado Roma. O historiador informa-nos sobre o fundador da seita. 'O fundador da seita, Cristo, fora condenado à morte pelo procurador Pôncio Pilatos no reinado de Tibério. Essa perigosa superstição, um momento detida, em seguida se espalhou, não só na Judeia, origem desse mal, mas também em Roma para onde confluem de toda a parte e encontram acolhida todas as coisas as mais grosseiras e vergonhosas'".
Um "mal", uma "perigosa superstição"...Como negar o caráter subversivo do cristianismo?
Em outra passagem:
Em outra passagem:
"A pregação do cristianismo nas comunidades judaicas, difundidas pelo Império, provocou, em breve, sérias dissensões entre os que permaneciam fieis à sinagoga e os neoconvertidos à nova religião. Essas dissensões acabaram por envolver a própria autoridade romana".
O pano de fundo é sempre material, como nos ensinou Marx. O cristianismo, ao subverter conceitos do Império, ameaçava as próprias instituições. Daí a perseguição, em uma cultura tão tolerante para as demais religiões como a romana. O cristianismo não podia ser tolerado porque subvertia.
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Sobre a importâcia do cristianismo nos costumes romanos, sugiro o "Curso de Direito Romano" de Abelardo Lobo- mostra como institutos como a escravidão, família, propriedade e a situação das mulheres foram influenciados:
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Sobre a importâcia do cristianismo nos costumes romanos, sugiro o "Curso de Direito Romano" de Abelardo Lobo- mostra como institutos como a escravidão, família, propriedade e a situação das mulheres foram influenciados:
"As ideias cristãs chegaram a Roma exatamente quando se operava a fusão do Direito com a Filosofia, mas, em vez de impedir esta fusão, ajudou-a para abrandar mais ainda suas regras, invocando para este fim, não a natureza física e sim a natureza humana. Foi devido a essa participação das ideias cristãs na evolução do Direito, participação verificada indiretamente por efeito da reação sobre os costumes e, depois, por uma espécie de espiritualização dos grandes dogmas da doutrina, que os imperadores nas suas constituições e os pretores nos seus editos, deixavam a natureza abstrata do homem, para atender, preferentemente, a natureza concreta da sociedade".
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Não se pode negar o caráter revolucionário do cristianismo em seus primeiros séculos, portanto. Não quero dizer, contudo, que o cristianismo seja revolucionário, ou que seja contrarrevolucionário; ele pode ser um ou outro, conforme os homens assim ajam, assim o interpretem, assim o apliquem.
Por um motivo simples: ao cristianismo, como qualquer outro fenômeno de superestrutura, não pode ser dado um caráter eterno, antes, é condicionado pelas relações de base existentes. Dessa forma, repito a fala de Garaudy, sobre a religião poder ser ópio, ou fermento, conforme assim a façam os homens.
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Não sou cristão. Mas, caso fosse, meu Cristo seria este:
Não se pode negar o caráter revolucionário do cristianismo em seus primeiros séculos, portanto. Não quero dizer, contudo, que o cristianismo seja revolucionário, ou que seja contrarrevolucionário; ele pode ser um ou outro, conforme os homens assim ajam, assim o interpretem, assim o apliquem.
Por um motivo simples: ao cristianismo, como qualquer outro fenômeno de superestrutura, não pode ser dado um caráter eterno, antes, é condicionado pelas relações de base existentes. Dessa forma, repito a fala de Garaudy, sobre a religião poder ser ópio, ou fermento, conforme assim a façam os homens.
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Não sou cristão. Mas, caso fosse, meu Cristo seria este:
"Há muito tempo, viveu um Homem que foi crucificado por ter muito amado e ser muito digno de amor.
E é estranho relatar que o encontrei ontem três vezes.
Na primeira vez, estava pedindo a um policial que não levasse uma prostituta à prisão; na segunda, estava bebendo vinho com um fora-da-lei; e na terceira vez, estava lutando aos murros com um vendedor, dentro de uma igreja".
De Khalil Gibran, "Areia e Espuma".
Ou o da imagem do post, o "Cristo Guerrilheiro" do cubano Alfredo Roostgard.
Dedico esta postagem ao amigo Velho Marujo, que, cristão, está atento às questões sociais.
Texto de J.L.Tejo (Via Elogio da Dialética)
Comentário de Hermes Fernandes: Resolvi publicar este artigo por um motivo simples: Alguém que não professa a fé cristã conseguiu enxergar o que muitos crentes ainda não perceberam. É triste, pra não dizer, trágico. Click em "leia mais" e saboreie o resto do texto. Vale a pena.
Muito bom o texto HF! Obrigado por compartilhar!
ResponderExcluirAbraço!
Muito bom o texto Hermes!!
ResponderExcluirVou te recomendar, caso você já não tenha lido é claro, o livro "Anarquia e Cristianismo" do Jacques Ellul.. acho que você vai gostar, fala muito desse assunto!
Caso você não ache o livro entra em contato comigo lá no blog que eu te passo o E-book.. o livro é muito bom mesmo sério!
Uma abração do seu parceiro aqui!!
Parabéns por repassar o texto, Bispo!
ResponderExcluirNa igreja brasileira vivemos em um mundinho tão limitado, tão separado das dificuldades que irmãos em outros países enfrentam para cultuar em paz que acabamos por esquecer que o caráter subversivo do evangelho ainda é necessário no mundo. Pena que no Brasil,muitos "irmãos" preferem tomar o caminho da pretensa representação política para acomodar os interesses dos "cristãos" aos interesses da nação. Não se promove mudança de mentalidade com imposição de leis, no máximo promovemos mudanças de comportamento. Se a igreja brasileira ainda pretende mudar algo na sociedade deve fazê-lo pelos meios que foram usados pelos primeiros cristãos: testemunho de vida, convicção de fé, sacrifício pessoal, e consciência de coletividade. Se isso não é subversão de um sistema, não sei classificar o que seja.