sábado, janeiro 12, 2013

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Já deu sua espiadinha hoje? Parte 2
















Por Hermes C. Fernandes


Nunca gostei de muros! Quando criança, pulava o muro de minha casa em Quintino para fugir pra igreja. Na adolescência, pulava o muro da escola para ir pra praia. Recebi uma criação muito rígida e presa. E isso me instigava a querer espiar o mundo lá fora. Vislumbrar realidades até então desconhecidas.

Muros cerceiam a liberdade. O que fora feito para nos proteger do mundo, acaba nos aprisionando em nosso mundinho particular.

Uma das coisas que mais me agradam aqui nos Estados Unidos é justamente a ausência de muros nas casas. Pena que as pessoas fiquem tão presas em sua privacidade doméstica, que não desfrutam muito de seus quintais.

Não fui feito para o clausuro. Gosto do vento em meu rosto e da sensação de liberdade. Liberdade de ir e vir, de expressar o que pensa, de escolher o que quer ler, comer, onde morar, estudar, etc.

Mas os muros existem... Alguns de concreto, outros bem sutis. Muitas vezes nós mesmos assentamos seus tijolos. Construímos muros para nos esconder, como também para esconder a realidade que nos circunda. Preferimos fingir que nosso mundo se restringe ao espaço guardado por entre os muros. Não há nada lá fora com que devamos nos importar.

Entretanto, os mesmos muros atiçam nossa curiosidade, e de quando em vez, espiamos por entre as suas frestas para saber o que se passa lá fora.

Moradores dos condomínios luxuosos ficam a imaginar o que significa viver em condições precárias numa favela. Já há até agências turísticas que oferecem pacotes em que seus clientes são levados pra conhecer a realidade nua e crua dos guetos cariocas. Os 'favelados' fantasiam sobre o estilo de vida dos ricos enquanto assistem às novelas globais.

Somos todos voyeurs sociais. Não é à toa que o Big Brother Brasil já está em sua décima primeira edição. Em nenhum lugar do mundo este tipo de programa alcançou sucesso tão duradouro.

No artigo anterior, tomei dois personagens bíblicos para falar sobre o muro que separa as classes sociais. Bartimeu e Zaqueu viviam muito próximos geograficamente, porém socialmente bem distantes. Havia dois muros entre eles, um literal e outro social.

Estes dois personagens são arquetípicos. Nossa sociedade está cheia de Bartimeus e Zaqueus.

Bartimeu representa os excluídos, as classes menos favorecidas, que cegas pela ignorância, são obrigadas a viver "à margem do caminho", na dependência da misericórdia de quem passe. O mendigo cego de Jericó tinha que usar uma capa, que lhe fora dada pelas autoridades romanas como uma espécie de licença para esmolar. Bartimeu era o efeito colateral de uma máquina social cujas engrenagens trabalham sem estarem devidamente lubrificadas pelo óleo do amor. Não haverá justiça social onde não houver amor. O que os mais pobres necessitam não é de uma capa, de uma licença pra pedir esmola, nem mesmo de misericórdia dos que passam, e sim de solidariedade. Não confunda filantropia com solidariedade. Ao passar por ele, Jesus não lhe deu esmola, mas restituiu-lhe a visão. Mesmo antes de receber a palavra que o curaria, Bartimeu, cheio de esperança e fé, abandonou sua capa e saiu tateando ao encontro do Mestre Galileu.

O Estado não cumpre o seu papel apenas distribuindo bolsa-família, o que poderia perpetuar na população mais carente a mentalidade de pedinte. Solidário não é quem dá o peixe apenas, mas quem também ensina a pescar.  O mecanismo da esmola apenas apazigua a consciência dos mais favorecidos e alimenta um filantropismo estéril. Programas governamentais que estimulem a educação são imprescindíveis. 

As igrejas deveriam estimular as pessoas a dependerem cada vez menos da caridade do Estado ou de outras instituições, e a buscarem uma vida produtiva para a sociedade. Para isso, Bartimeu tem que voltar a enxergar! As pessoas precisam se preparar para a vida, estudando, buscando aprimorar seus conhecimentos. A educação é libertadora.

Zaqueu aponta para os que vivem do outro lado do muro social. São as classes abastadas, que colhem os dividendos da injustiça social, dos lucros abusivos do comércio e da indústria, dos famigerados juros bancários, e da máquina pública. Muitos indivíduos desta classe sofrem de um tipo de nanismo espiritual. Como Zaqueu, tendem a travar suas próprias buscas espirituais, valendo-se de frondosas árvores como a Ciência, a Filosofia e o Misticismo. Como Zaqueu, primam pela privacidade, seu maior temor é a exposição. Escondem-se por trás da folhagem provida pelo arbusto do conhecimento humano. Esses talvez até consigam vislumbrar algo, mas são incapazes de alcançá-lo dada a sua estatura. Almejam ver Deus, mas de camarote. Não é a Deus que procuram, e sim um sentido para tudo. Por isso, preferem o deus de Spinoza, de Einstein, dos deístas, que passa por eles, mas não interfere em seu cotidiano. Um deus que respeita sua privacidade. Querem ver, porém, sem serem vistos.

Jesus corta o barato de Zaqueu. Ele o chama pelo nome, e diz: Desce depressa! Se quisermos que nossa mensagem ecoe tanto nas palafitas quanto nos palácios, não podemos fazer média com ninguém. Pau que dá em Bartimeu, também dá em Zaqueu!

Só teremos condição moral de fitar Zaqueu e dizer que desça de seu pedestal, depois que acudirmos Bartimeu do lado de fora dos muros. Uma igreja sem responsabilidade social não está qualificada para atender às demandas espirituais das classes abastadas.

E se Zaqueu quiser mais do que simplesmente um vislumbre do Criador, terá que descer... terá que aceitar suas limitações e atender ao convite de hospedar em sua vida o Filho de Deus. Cristo jamais Se prestou a matar a curiosidade de quem quer que fosse. Ele busca relacionamentos, intimidade, interatividade.

Por não entendermos isso, achamos que devemos manter cada macaco em seu galho, isto é, deixar as coisas como estão, sem ferir o interesse de ninguém. Fica aí escondidinho, Zaqueu, que a gente vai ao seu encontro. Pode deixar que a gente vai preservar sua identidade. Apenas contente-se em ler nossos artigos e estudos em nosso blog e já está de bom tamanho. Só não esquece de depositar uma generosa oferta em nossa conta bancária...

Passando por Bartimeu, a gente pensa que basta lhe dar uma esmolinha, fazer-lhe uma oração, e pronto... cumprimos nosso papel.

Bartimeu foi reintegrado à sociedade. Entrou com Jesus na cidade. Abandonou sua capa, pois já não precisava de licença do Estado para esmolar. Zaqueu se arrependeu das mutretas que o fizeram rico, e chegou ao ponto de devolver o produto de suas extorsões. Isso sim é conversão. O pobre se livra da capa e da cegueira, o rico desce da árvore e abre sua casa para receber o Deus-Homem. A partir daquele fatídico dia, nunca mais Jericó foi a mesma.

Publicado pela primeira vez em 25/02/2010

6 comentários:

  1. Excelente texto,há muito venho questionando o assistencialismo do governo, que ao invés de mudar a realidade das pessoas menos favorecidas, estimulam a ociosidade.
    Que ao ter um encontro com Cristo, pessoas, cidades e países inteiros nunca mais sejam os mesmos. A paz de Cristo Jesus.

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  2. Missionário Barbosa8:56 AM

    IRMÃO HERMES, GRAÇA E PAZ. "SEM JESUS CRISTO DE NAZARÉ NÃO DÁ PARA SER FELIZ!
    BISPO HERMES VOI COMENTAR EM 2 DUAS PARTES OK?
    Gostaria de comentar sobre Riqueza e pobreza, a desiqualdade deste mundo cruel!
    " PARTE 1
    Uma das declarações mais surpreendentes feitas por Jesus o nosso Senhor é que é muito difícil um rico entrar no reino de DEUS. Ler
    Lucas 18.24,25.
    "RIQUEZAS" 1- Predominava entre os judeus daqueles tempos a idéia de que as riquezas eram um sinal do favor especial de DEUS, e que a pobreza era um sinal de falta de fé e do desagrado de DEUS. Os fariseus, por exemplo, adoravam essa crença e escaneciam de Jesus por causa da sua pobreza; ler Lucas 16.14. Essa idéia falsa é firmemente repelida por Jesus Cristo; ler Lucas 6.20; 16.13; 18.24,25.
    2- A Bíblia identifica a busca insaciável e avareza pelas riquezas como idolatria, a qual é demoníaca; ler I Coríntios 10.19,20; Colossenses 3.5. Por causa da influência demoníaca associada à riqueza, a ambição por ela e a sua busca frequentemente escravizam as pessoas; ler Mateus 6.24.
    3- O amor as riquezas são na perspectiva de Jesus, um obstáculo, tanto à salvação como ao discipulado; ler Mateus 19.24; 13.22, e geralmente os ricos exploram os pobres; ler Tiago 2.5,6. Amontoar egoísta de bens materiais é uma indicaçao de que a vida já não é considerada do ponto de vista da eternidade; ler Colossenses 3.1. O egoísta avarento e cobiçoso já não centraliza em DEUS o seu alvo e a sua realização, mas, sim, em si mesmo e nas sua possessões.
    CONCLUINDO: JESUS CRISTO NÃO REFERE QUE O CRISTÃO NÃO POSSA SER RICO, MAS CONDENA QUE ELE TENHA O AMOR AO DINHEIRO, QUE É A RAIZ DE TODOS MALES. O cristão não deve apegar-se às riquezas como um tesouro ou garantia pessoal; pelo contrário, deve abrir mão delas, colocando-as nas mãos de DEUS para uso no seu reino, promoção da causa de Jesus na terra, salvação dos homens perdidos e atendimento de necessidades do próximo. Portanto, quem possui riquezas e bens não deve julgar-se rico em si, e sim administrador dos bens de DEUS; ler Lucas 12.31,48. Os tais devem ser generosos, prontos a ajudar o carente, e serem ricos em boas obras; ler Efésios 4.28; I Timóteo 6.17,19.
    Cda cristão deva examinar seu próprio coração e desejos: Sou uma pessoa cobiçosa? Sou egoísta? Será que estou pronto para ser rico e não ter amor ao dinheiro? Tenho forte desejo de honrarias, prestígio, poder e posição, o que muitas vezes depende da posse de muita riqueza?
    IRMÃO AMADO EM CRISTO "BISPO HERMES", VOU CONTINUAR CONCLUIR O MEU COMENTÁRIO EM SEGUIDA.
    À PARTE 2, SOBRE POBREZA SE O IRMÃO ASSIM PERMITIR ÁMEM?

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  3. Missionário Barbosa9:28 AM

    BISPO HERMES, VOU COMENTAR A PARTE 2, SE O IRMÃO PERMITIR OK?
    "PARTE 2- POBREZA".
    Uma das atividades que Jesus Cristo de Nazaré avoucou na sua missão dirigida pelo Espírito Santo foi "EVANGELIZAR OS POBRES"; ler
    Lucas 4.18; Isáias 61.1. Noutras palavras, o evangelho de Cristo pode ser defenido como um evangelho dos pobres; ler Mateus 5.3; 11.5; Lucas 7.22; Tiago 2.5.
    Os "pobres" no grego(ptochos) são os humildes e aflitos deste mundo cruel de densas trevas, os quais clamaram a DEUS em grande necessidade, buscando socorro. Ao mesmo tempo, são fiéis a DEUS e aguardam a plena redenção do povo de DEUS, do pecado, sofrimento, fome e ódio, que prevalecem aqui no mundo. Sua riqueza e sua vida não consistem em coisas deste mundo; ler Salmos 22.26; 72.2,12,13; 147.6; Isáias 11.4; 29.19; Lucas 6.20; João 14.3.
    A libertação do sofrimento, da injustiça e da pobreza, com certeza virá aos pobres de DEUS.
    Lucas 6.20,21,22,25 fala claramente, e diz: E, levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus.
    Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir.
    Bem-aventurados sereis quando os homens vos aborrecerem, e vos injuriarem, e reijeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do Homem.
    ASSIM DIZ DEUS O TODO-PODEROSO!
    Aí de vós, os que estais fartos, porque tereis fome! Aí de vós, os que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis!
    NÃO TEMAIS POVO SANTO E FÍES DE DEUS!
    JESUS CRISTO DE NAZARÉ DISSE: EIS QUE ESTOU CONVOSCO TODOS OS DIAS, ATÉ À CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS AMÉM! Mateus 28.20.

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  4. Obrigado seu tempo e dedicação, irmão Hermes. Este texto respondeu várias das questões que vinha fazendo a Deus pai nas duas últimas três semanas.

    Abraços.

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  5. Obrigado seu tempo e dedicação, irmão Hermes. Este texto respondeu várias das questões que vinha fazendo a Deus pai nas duas últimas três semanas.

    Abraços.

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  6. Anônimo1:50 PM

    Legal! Pastor, eu gosto de muros, dá uma sensação de proteção. Eu sinto necessidade dessa proteção.

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