Como cristãos, qual deveria ser nossa reação diante de uma tragédia desta magnitude?
Alguns preferem buscar explicações teológicas. Alguns crêem que tenha sido juízo de Deus, por causa de um pacto feito entre aquela nação e o diabo, quando lutava por sua independência da França no século XVIII. Outros atribuem ao próprio diabo, como se este tivesse poder sobre as forças naturais. Há também a turma do Open Theism, que aproveita a situação para reafirmar e propagar sua crença de que Deus não interfira na história, e nem ao menos conhece o seu desfecho. Tem também os que aproveitam para linkar o acontecimento à proximidade da volta de Jesus, catalogando-o como sinal dos tempos.
Enquanto os teólogos de plantão discutem, cristãos comuns arregaçam as mangas no afã de minimizar o sofrimento das vítimas.
O livro de Atos registra um terremoto ocorrido na cidade de Filipos, onde Paulo e Silas estavam encerrados na prisão. O abalo foi de tal magnitude que rompeu as grades, deixando todos os presos potencialmente livres. O carcereiro, desesperado, quis suicidar-se, mas foi impedido por Paulo, que garantiu-lhe que nenhum dos presos fugiria. Para a surpresa deles, o suicida perguntou-lhes: Que farei para ser salvo?
Ora, Paulo poderia ter entendido que aquele terremoto era juízo de Deus sobre os que o haviam preso injustamente. Ou poderia acreditar que tudo tinha acontecido para que ele fosse livre daqueles grilhões. Porém, Paulo não entendia os acontecimento partindo de seu próprio umbigo. É claro que ele não acreditava em acidentes. Havia um propósito naquilo tudo.
Em vez de aproveitar para fugir, Paulo se volta para aquele homem desesperado, e lhe diz: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo tu e a tua casa.
Que bom seria se a igreja contemporânea deixasse de discutir a razão das tragédias naturais, e aproveitasse o ensejo para levar uma palavra de conforto e salvação às vítimas. E não só palavras, mas também ações.
Não nos compete julgar, nem atribuir culpa a quem quer que seja. Nossa única atribuição é revelar a face amorosa do nosso Deus, que Se importa com a dor de suas criaturas.
Imagine se Paulo tivesse a postura de muitos cristãos de hoje em dia. Ele certamente deixaria que o carcereiro cumprisse seu intento, e ainda chegaria na igreja dando testemunho da vitória. Que vergonha! A mensagem pregada em nossos púlpitos tem produzido gente assim, que em vez de encarar a realidade, prefere fugir dela, com explicações mirabolantes que apaziguem suas consciências, em vez de aguçá-las em favor do seu semelhante.
Deus está dispensando advogados! Mas também não Se importa com Seus detratores.
Voltemos-nos para a realidade, e trabalhemos para transformá-la.
Ironicamente, o mesmo carcereiro que lhe fizera as feridas nas costas, levou-o para sua casa e as tratou. Daquele terremoto nasceu a igreja para a qual Paulo destinou uma de suas mais brilhantes epístolas: Aos Filipenses.
Que dos escombros deste terremoto no Haiti surja uma igreja vibrante, cheia de vida e desejosa de mudar o mundo. Dos escombros de nossas certezas teológicas, possa emergir uma igreja voltada para fora em busca de soluções, em vez de explicações.
Graça e Paz!
ResponderExcluirNão comentei nada, até agora sobre esta tragédia no Haiti. Justamente por não querer ser um caco de vaso que dá ordens ao oleiro. Infelizmente muitos tentam julgar e/ou explicar o que aconteceu de seu pequeno ponto de vista humano.
Até agora, sua matéria foi a melhor que li sobre este assunto, querido irmão.
Que o Haiti possa se reconstruir em paz, e que a igreja de Cristo possa se re-construir em Cristo.
Que Deus o abençoe em tudo!
Vinicius Morais
----
Visite: Refletindo a Graça
http://refletindoagraca.blogspot.com/
Paz Hermes,
ResponderExcluirMenos "severidade" e mais amor. Menos especulação e mais ação! É disso que o Haiti precisa.
Parabéns pelo ensaio. Com a sua permissão, quero postá-lo no Púlpito Cristão.
Grande abraço!
Leonardo.
Fique a vontade, Leonardo. Estamos nesta luta juntos.
ResponderExcluirA falta de ação tem gerado crentes sentimentais demais..., sentem, acham triste, mas vamos tocando a vida, afinal, ema ema, cada um com seus problemas neh??
ResponderExcluirMuitas vezes não sabemos colocar os sentimentos no lugar certo e aí não conseguimos discernir o tempo da reflexão racional e da ação prática..., infelizmente! Coisas pregadas nas igrejas por aí...
Muito bom ler o que você escreveu. Muito bom ter gente propondo a prática do amor ao invés do sentimento do amor...
Abraço!
Parabens, Hermes, pela exposição feita no texto.
ResponderExcluirEstou reproduzindo-o no umadf.blogspot.com, OK?