terça-feira, abril 28, 2009

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Entre protestos e jejuns

Abaixo, destaquei duas iniciativas recentes por parte de pessoas ou ONG's ligadas à igreja evangélica, com o propósito de transformação do mundo.

Jamais pretenderei julgar a intenção dos idealizadores desses movimentos. Porém, pretendo avaliá-los à luz da minha compreensão das Escrituras Sagradas, e dos eventuais resultados.

No primeiro, um jovem pastor presbiteriano, filho da classe média alta do Rio de Janeiro, resolve dar voz aos anseios populares por paz e justiça social. Acho sua iniciativa louvável, digna de aplausos. Embora o movimento não seja creditado à igreja, e sim à sua ONG, pelo fato de ter um pastor à sua frente, contribuiu para que se resgate a credibilidade da igreja junto à sociedade. Que bom saber que alguns segmentos da igreja evangélica/protestante ainda se preocupam com questões sociais. Alegro-me de ver que não se trata de uma iniciativa proselitista.

Quiçá, tal iniciativa inspire outros líderes a colocarem seus 'blocos' na rua, não para ostentar um capital político, como tem sido feito em algumas 'marchas' por aí, mas simplesmente para denunciar o erro, o pecado social de nossa gente.

Portanto, vejo nesse movimento o exercício do papel profético da igreja. Lemos em Isaías 58:1: "Clama em alta voz, não te detenhas. Levanta a tua voz como a trombeta, e anuncia ao meu povo a sua transgressão".

Porém, creio que não podemos parar aí. Denunciar é apenas uma parte da função profética da igreja. Não basta apontar o erro, é necessário apontar um caminho a seguir.

Denunciar o erro, sem anunciar o certo não vai resolver o problema da violência, da justiça social, da corrupção, etc.

Sei que a igreja pastoreada pelo idealizador do movimento tem prestado ótimos serviços à sociedade, principalmente às camadas mais pobres.

Lembro de tê-lo ouvido dizer que sua igreja era a de maior renda percapta do Rio de Janeiro, tendo empresários, funcionários públicos, profissionais liberais bem sucedidos, militares, formadores de opinião de um modo geral em sua membresia. Espero que este povo esteja sendo ensinado acerca da justiça do Reino de Deus, pagando bem seus empregados, votando contra a distinção entre elevador social e de serviço em seus condomínios de luxo, não sonegando impostos, nem liberando cafezinho para o servidor públicos, nem cervejinha para o guarda que multou seu carro por excesso de velocidade.

Não estou dizendo que isso não tem sido feito. Apenas afirmo que não basta denunciar a violência e a corrupção, enquanto do outro lado, nada é feito para atenuá-las.


Haja jejum...


Na outra reportagem, também publicada no site http://www.cristianismohoje.com.br/ , encontramos uma iniciativa que certamente deve receber muito apoio, apesar de que sua eficiência é questionável.

Será que mobilizar milhares de crentes no País para um jejum de quarenta dias resolverá nossas mazelas sociais?

Particularmente, não consigo acreditar nisso.

Pelo menos vai estimular muitos à oração. Porém, não basta orar, com ou sem barriga vazia. É necessário encarnar a mensagem do Evangelho, e vivê-la às últimas consequências.

Quanto ao jejum, não seria mais recomendável que se praticasse o jejum prescrito em Isaías 58?

Em vez de guardar o pão para ser consumido depois de meio-dia, deveríamos repartí-lo com o que nada tem para comer. Este é o verdadeiro jejum!

As pessoas acham que podem usar o jejum como uma espécie de moeda de troca. Jejuam em busca de resultados. Veja o que Deus diz sobre isso: "Dizem: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas, e tu não o sabes?" (Is.58:3a).

A diferença entre a primeira iniciativa (os protestos contra a violência), e a segunda (o jejum de 40 dias), é que o primeiro tem como objetivo chamar a atenção do Mundo, e o segundo tem como objeito chamar a atenção de Deus.

Imaginam que se ficarem sem comer por algumas horas, conseguirão chamar a atenção de Deus, obrigando-O a atender às suas demandas.

Deus denuncia a incoerência de alguns, dizendo: "Contudo no dia em que jejuais, prosseguis nas vossas empresas, e explorais todos os vossos trabalhadores" (v.3b).

"Não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no alto" (v.4b). Não consigo digerir esta história de jejum anunciado. Jesus disse que quando jejuássemos, deveríamos ser discretos, não alardando, não chamando a atenção de ninguém. Mas hoje em dia, quem jejua, faz questão de alardar, colocar faixas, outdoors, vinheta nas rádios, pra que todos saibam que estão jejuando.

O jejum escolhido por Deus não consiste em que o homem aflija a sua alma, abstendo-se de comida por algumas horas. E sim que repartamos o nosso pão com o faminto, recolhamos em casa os pobres desterrados, cubramos o nu, e não nos escondamos do nosso próximo cercados de nossos luxos desprezíveis.

Somente quando praticarmos tal jejum, a sociedade será radicalmente transformada. A promessa encontrada nesse mesmo texto diz: "Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente, e se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escurião será como o meio-dia" (vv.8-10).

Um comentário:

  1. Jônatas Rocha10:48 AM

    Ótima reflexão!
    Gostaria que meus irmãos Pentecostais entendessem isso.

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