Sem a oração, nossa exegese pode ser impecável, nossa retórica pode ser magnética, mas ficaremos secos, vazios, ocos.
Qual a ligação entre a oração e a pregação? Por que uma pessoa como Martinho Lutero expressa como um axioma espiritual que “aquele que ora bem, aprendeu bem”? Por que E. M. Bounds, um grande pregador metodista e orador de um século atrás, disse: “O caráter da nossa oração determinará o caráter da nossa pregação. Orações simples geram pregações simples... Falar dos homens para Deus é algo incrível, mas falar de Deus para os homens é algo maior ainda?”
Em contato com Deus
A oração nos faz entrar em contato com Deus, o que causa a nossa aproximação com o Espírito. Proporciona-nos foco, unidade e propósito. Descobrimos serenidade, a firmeza inabalável de orientação da vida. A oração nos abre para o santuário subterrâneo da alma onde ouvimos a Kol Yahweh, a voz de Deus. Injeta fogo em nossas palavras e compaixão em nossos espíritos.
Preenche nossa caminhada e nossa fala com nova vida e luz. Começamos a viver as demandas do nosso dia-a-dia prostrados, em louvor e adoração.
Pessoas podem sentir esta vida do Espírito, mesmo sem saber exatamente o que sentem. Isto afeta o sentimento embutido nas nossas pregações. Pessoas podem discernir que nossa pregação não é um desempenho de trinta minutos, mas o resultado de uma vida. Sem a oração, nossa exegese pode ser impecável, nossa retórica pode ser magnética, mas ficaremos secos, vazios, ocos.
A Palavra nos diz que quando viram a pregação corajosa de Pedro e João, perceberam que eram homens que haviam estado com Jesus. Por quê? Porque tinham um sotaque da Galiléia? Talvez.
Mas provavelmente, porque agiam com um espírito novo de vida e autoridade que até seus inimigos percebiam. Da mesma forma acontece conosco. Se tivermos este espírito, as pessoas saberão. Se não temos, não há homilética que preencha este vazio.
Como é este tipo de oração? O que fazemos? Intercedemos por outros?
Talvez, mas primeiramente queremos desfrutar de sua presença. Estamos relaxando à luz de Cristo. Estamos adorando, louvando. Mais do que isso, estamos ouvindo. François Fenelon disse: “Cale-se e ouça a Deus. Permita que seu coração permaneça em um estado de preparação para que seu espírito imprima em você virtudes que irão agradar a Ele. Que tudo dentro de você ouça a Ele. Este silêncio, do mundo exterior, os afetos terrenos e os pensamentos humanos em nós são essenciais, se queremos ouvir sua voz”.
Some a estas palavras a observação sensível de Soren Kierkegaard: “Um homem orou e em princípio, pensou que a oração era falar. Mas ficou mais e mais calado, até no final compreender que a oração era ouvir”.
A oração envolve concentração, estar genuinamente presentes onde estamos, o que os mestres devocionais chamaram de “escuta centrada”.
Cultiva a gentil receptividade para o sopro divino. Não violentamos nossas faculdades mentais e racionais, mas ouvimos com mais do que apenas a mente, ouvimos com o espírito, o coração, todo o nosso ser. Como Maria, ponderamos estas questões em nosso coração. Talvez um exercício de meditação ilustre como praticarmos esta escuta centrada. Chamo de apenas “palmas acima, palmas abaixo”. Comece colocando as palmas para baixo como uma indicação simbólica de seu desejo de entregar todas as preocupações a Deus. Internamente, você pode orar: “Senhor, entrego a Ti a raiva que sinto pelo John. Entrego o medo que sinto de ir à consulta do dentista nesta manhã. Entrego minha ansiedade de não ter dinheiro suficiente para pagar as contas neste mês. Entrego minha frustração por não conseguir encontrar uma babá para as crianças nesta noite”. Qualquer que seja o peso que está em sua mente, diga apenas “palmas para baixo”.
Libere estas questões. Você pode até sentir uma sensação de alívio ao liberar estas coisas de suas mãos.
Após diversos momentos de entrega, vire as palmas para cima como símbolo do seu desejo de receber de Deus. Talvez você vá orar em silêncio: “Deus, gostaria de receber seu amor divino pelo John, sua paz acerca da consulta do dentista, paciência, alegria”. Diga o que precisa: “palmas acima”. Após estar centrado, gaste os próximos momentos em completo silêncio.
Não há necessidade de pressa. Não há necessidade de palavras, pois como você e Deus são bons amigos, estão felizes só de estarem um com o outro, aproveitando a presença e companhia. Conforme nos acostumamos com sua companhia, aos poucos, quase de forma imperceptível, milagres acontecem dentro de nós. A confusão que caracterizava nossa vida é substituída pela serenidade e vigor. Sem qualquer indício de contradição, nos tornamos fortes com nossas questões e sensíveis com as pessoas. Autoridade e compaixão tornam-se gêmeas e se infiltram em nossa pregação. A oração permeia tudo em nós. Traz vida, força e as pessoas perceberão.
Em contato com as pessoas
Alguns dos momentos mais ricos do meu ministério pastoral aconteceram quando eu adentrava o santuário durante a semana e andava por entre os bancos, orando pelas pessoas que se assentavam lá a cada domingo. As pessoas tendem a se assentar nos mesmos bancos semana após semana, portanto eu os visualizava e os entregava à luz de Cristo. Orava pelos sermões na sexta, aqueles que eu pregaria no domingo.
Orar pelas pessoas, por suas dores, medos e ansiedades faz algo dentro de você. Isto o coloca próximo das pessoas, de uma forma profunda e íntima. Através da oração, as pessoas tornam-se nossas amigas em uma nova dimensão.
Em nossa congregação no Oregon, havia um garoto que foi submetido a duas cirurgias no cérebro. Os períodos de oração que dividimos durante aquelas seis semanas, criaram entre nós um vínculo de aço. Duas vezes fiquei no hospital com seus pais durante um dia inteiro, esperando para saber se Davey viveria ou não. Davey tinha apenas cinco anos e era portador da Síndrome de Down, mas o valorizava como um de meus amigos mais próximos. E ele me ouvia pregar. Não ficava na escola dominical com as crianças, sentava-se no banco da igreja, atento e faminto por me ouvir pregar. Não sei se ele entendeu alguma palavra do que eu disse, mas eu pregava com o coração alegre por saber que Davey estava ali ouvindo. Se orarmos com as pessoas, realmente orarmos com eles, eles ouvirão nossos sermões porque sabem que nós os amamos.
Pessoas podem nos tocar
A oração nos coloca em contato com as pessoas. Quero que as pessoas saibam que elas precisam orar por mim. Quero que as pessoas entrem em minha sala e orem por mim. Não quero que sintam que a única vez em que devem me procurar é quando têm uma necessidade, um problema. Quero que venham quando as coisas estão bem. Digo a eles que amo quando eles se aproximam e oram por mim. São necessários apenas alguns minutos, mas isto permite que eles sintam que podem contar comigo e que eu necessito da ajuda deles.
Obviamente, em alguns momentos não devemos ser interrompidos, mas existem outros momentos em que as pessoas precisam saber que nos alegramos com sua presença e oração.
Pessoas precisam perceber nossa confiança e espírito de autoridade, mas também precisam nos conhecer em nossos medos e fragilidades. Precisam saber que também sentimos dor. Que precisamos de sua ajuda. A religião do “nariz empinado” não é o caminho de Cristo. Nosso Senhor sabia como chorar. Em seu momento de maior luta, buscou conforto e apoio dos três e só então foi para a noite de agonia. Muitas vezes nossa religião do “nariz empinado” não é sinal de piedade e sim de arrogância.
Além disso, é importante ajudar as pessoas a compreender o ministério de oração por nós e nossos cultos. Eu me encontrava todos os domingos às oito da manhã com todos que ministrariam o culto e dizia a eles que talvez a maior ministração que eles realizariam naquela manhã, seria orar pelas pessoas. Eles estavam em posição privilegiada e de destaque: podiam enxergar aqueles que pareciam estar sobrecarregados, machucados ou nervosos. Poderiam orar por eles, poderiam orar por mim.
Muitas vezes pedi a pessoas que ficassem sentadas no púlpito apenas para orar. Um querido irmão se assentava no púlpito durante ambos os cultos, todos os domingos, cobrindo as pessoas em oração, orando para que o poder de Cristo os conquistasse, orando para que a verdade prevalecesse. Quando você sabe que alguém está fazendo isso, você pode pregar com tranqüilidade.
A oração é uma disciplina essencial para a pregação, pois nos coloca em contato com Deus, com as pessoas e ajuda que estas pessoas entrem em contato conosco. Como disse John Wesley: “Dai-me cem pregadores que nada temam senão o pecado, e nada desejem senão a Deus, e não me importaria se fossem clérigos ou leigos. Com eles, eu sacudiria as portas do inferno e estabeleceria o Reino de Deus na terra”. Deus faz, responde as orações.
Por Richard Foster, via Cristianismo Hoje
Infelizmente existem tantos Pastores preocupados com a obra, que se esquecem de falar com o Dono da obra.
ResponderExcluirObrigado.
ResponderExcluirPrecisava ler e ouvir isto.
Matias, pastor.
verade eu ja imaginava o poder da oração mais me deu um novo , uma nova visão a cerca desse negócio.
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