Por várias vezes, Jesus afirmou que no reino de Deus “os últimos serão os primeiros, e os primeiros, os últimos” (Mt.19:30; 20:16; Mc.10:31; Lc.13:30).
Em outras palavras, quem quiser seguir os passos de Jesus, deve colocar-se como o último na fila de prioridades, deixando que todos estejam à sua frente. Quem assim faz, é visto por Deus como Sua prioridade. Porém, aquele que se acha mais importante que todos, colocando-se como o primeiro da fila, Deus o coloca por último.
Paulo repete o mesmo princípio em sua epístola aos Filipenses: “Cada um considere os outros superiores a si mesmo” (2:3b). E em Romanos: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (12:10).
Jesus viveu tal princípio intensamente, fazendo-Se servo de todos à Sua volta. Mas é durante Seu suplício que esse princípio é colocado à prova.
Quem não priorizaria Sua própria vida em face da morte?
Vejamos como Jesus agiu, lembrando que Ele deixou-nos exemplo, para que sigamos Suas pisadas (1 Pe.2:21).
Quais foram Suas prioridades naqueles momentos de profundo sofrimento?
1 – Gerações Futuras
Enquanto caminhava em Sua via-dolorosa, Jesus avistou um grupo de mulheres comovidas pelo Seu sofrimento. Veja Sua reação:
“Seguia-o grande multidão, e também mulheres que batiam no peito e o lamentavam. Porém Jesus, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos” (Lc.23:27-28).
Não significa que Jesus não Se importasse com aquele gesto de carinho. Ele apenas quis realinhar o foco daquelas mulheres, projetando-o para as gerações futuras.
Era por tais gerações que Ele estava padecendo, a fim de garantir-lhes um futuro.
Precisamos aprender com Jesus a priorizar o futuro. Em vez de focarmos nas tribulações presentes, devemos focar no testemunho que deixaremos para as gerações que nos sucederem. Este será o nosso legado.
2 – Seus inimigos
Durante o auge de Seu sofrimento, Jesus priorizou o bem de Seus inimigos, suplicando ao Pai que os perdoasse.
“Quando chegaram ao lugar chamado Caveira, ali crucificaram Jesus e com ele os dois criminosos, um à direita e outro à esquerda. Jesus disse: Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc.23:33-34a).
Jesus sabia que muitos daqueles inimigos eram seguidores em potencial. E a prova de que estava certo é que ao dar o último suspiro, o centurião responsável pela crucificação exclamou: “Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus!” (Mc.15:39).
3 – Seu próximo
Quem é nosso próximo? Foi esta a pergunta que um doutor da Lei fez a Jesus. Com uma parábola, conhecida como “O Bom Samaritano”, Jesus revelou que nosso próximo é aquele com quem nos deparamos na jornada da vida, independente de que as circunstâncias sejam boas ou más.
Durante Seu suplício, ninguém estava tão próximo de Jesus do que aqueles ladrões que morriam ao Seu lado.
Mesmo esvaindo em sangue, Jesus ainda encontrou forças para expressar Seu amor pelo moribundo que suplicou: “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino.” Aquele clamor não podia ficar sem resposta. Por isso, Jesus ignorou Suas dores, buscou as últimas forças que Lhe restavam, e respondeu: “Em verdade te digo que hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc.23:42-43).
Não temos o direito de achar que o mundo nos orbita. Embora Jesus fosse o centro de toda a Criação, naquele momento Ele voltou toda a Sua atenção para um homem considerado refugo da sociedade.
Jesus poderia ter repreendido aquele homem, dizendo: - Você não está vendo a minha situação? Quando as coisas melhorarem para mim, quem sabe eu encontre um tempo para me preocupar com você?
Temos a tendência de valorizar nosso sofrimento, esquecendo daqueles que sofrem à nossa volta.
Não deixe pra lembrar-se deles quando as coisas melhorarem. Lembre-se deles agora, enquanto as dores transpassam sua alma.
4 – Sua família
Já quase expirando, Jesus volta Sua atenção para a pessoa mais importante de Sua vida terrena: Sua mãe, que a esta altura, estava viúva, e necessitaria de alguém que cuidasse dela em sua velhice.
“Vendo Jesus ali a sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis a tua mãe. Dessa hora em diante o discípulo a recebeu em sua casa” (Jo.19:26-27).
Jesus destaca o discípulo em quem mais confiava, para amparar Sua velha mãe.
Interessante que Sua primeira prioridade são as gerações futuras, mas isso não ofusca Sua responsabilidade com a geração que O antecedeu.
Infelizmente, nossa sociedade hedonista e consumista não dá a mínima para os anciãos. Esses são considerados pessoas inúteis, um espécie de “mal necessário”, e acabam abandonados em asilos ou em quartinhos cheirando a mofo nos fundos de casa.
Temos uma dívida de gratidão com quem nos gerou, criou e educou. Nossos filhos estão assistindo à maneira como tratamos nossos pais, e certamente, reproduzirão em nós o mesmo tratamento. Se plantarmos amor e cuidado, colheremos o mesmo.
5 – A Si mesmo
Cada prioridade equivale a um círculo. Somos o círculo do meio, o menor, e o último, contando de fora pra dentro.
Jesus deixou-Se por último.
“Mais tarde, sabendo Jesus que tudo estava consumado, e para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede!” (Jo.19:28).
Repare nisso: “Mais tarde”. Será que aquela sede surgiu de repente? Ou será que Ele já a sentia mesmo antes de ser levado à cruz? Por que não a expressou antes? Pelo simples fato de que esta não era Sua prioridade.
Para o ladrão penitente, Jesus disse "Hoje mesmo!". Mas para a Sua própria necessidade, Ele disse: "Mais tarde!"
Embora colocando-Se por último, o Pai O exaltou soberanamente, dando-Lhe um nome sobre todos os nome (Fp.2:9).
Estaríamos prontos para cultivarmos o mesmo sentimento que houve em Cristo? Estaríamos dispostos a levar isso às últimas conseqüências, como fez Jesus?
Estou certo de que a mensagem da Cruz é muito mais ampla e profunda do que temos imaginado. Basta prestarmos um pouco mais de atenção. Ela é um atentado ao orgulho humano, e por isso mesmo, é a única mensagem capaz de transformar o Mundo, tornando-o um lugar mais justo e digno de se viver.
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