terça-feira, março 17, 2009

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Morre Clodovil Hernandes


"Deus habita onde está a Luz. E a luz é a beleza". Clodovil Hernandes (1937-2009).

Médicos da equipe do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, anunciaram na tarde desta terça-feira que o deputado Clodovil Hernandes (PR-SP) apresenta quadro de morte cerebral. A confirmação foi feita depois de uma série de exames realizados ao longo do dia.

Clodovil deu entrada no Hospital Santa Lúcia às 8h17 de segunda-feira, após ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral. À tarde, Clodovil teve uma parada cardiorrespiratória de cerca de cinco minutos por volta das 14h15, mas foi reanimado pela equipe médica.

Um dos exames foi o "doppler transcraniano", feito para medir o fluxo de sangue no cérebro do paciente. Segundo a equipe médica, não vai ser feito mais nenhum exame no deputado.

Atendendo a um antigo desejo do deputado, seus órgãos serão doados e as autoridades de saúde do Distrito Federal vão avaliar a viabilidade deles para transplante. Como ele não tem parentes próximos para decretar a doação de órgãos, a doação foi autorizada mediante autorização judicial, já que os amigos do parlamentar falaram da vontade de Clodovil. Serão doados os rins, o coração, o fígado e a córnea.

Das passarelas ao Congresso

Estilista famoso, professor e comunicador, Clodovil Hernandes ficou conhecido por polemizar tanto na televisão, onde foi apresentador por mais de 40 anos, quanto no Congresso, onde exercia mandato de deputado federal desde 2007. Nascido em 17 de junho de 1937 em Elisiário, interior de São Paulo, Clodovil foi criado por pais adotivos.

Clô, como era chamado, nunca escondeu a imensa admiração que sentia pela mãe adotiva, Isabel. Ela também foi sua grande incentivadora para a costura. Clodovil se transformou no costureiro predileto de estrelas como a atriz Cacilda Becker e a cantora Elis Regina. O estilista ficou conhecido do grande público nos anos 70 quando foi vencedor do programa 8 ou 800?, apresentado por Paulo Gracindo, ao responder perguntas sobre Dona Beja. Clô deixou as agulhas de lado para se dedicar à televisão.

Na TV, Clodovil conduziu vários programas em diferentes emissoras. Na década de 1980, obteve sucesso na Rede Globo apresentando o programa TV Mulher, ao lado da sexóloga e futura prefeita de São Paulo Marta Suplicy. Na extinta Rede Manchete, conduziu o talk show Clodovil Abre o Jogo, no qual, ao fazer uma pergunta polêmica, apontava para a câmera e dizia ao convidado: "olhe para a lente da verdade e responda...", bordão que levou para programas em outras emissoras.

Parlamentar

Clodovil foi o quarto deputado federal mais votado nas eleições de 2006, com 493.951 de votos, pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC). Deixou a sigla e ingressou no Partido da República (PR) em 2007. Em março deste ano, a Justiça eleitoral decidiu manter o mandato do deputado. Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entenderam que a mudança de partido foi justificada por uma grave discriminação pessoal ao parlamentar e, portanto, não se enquadrava na classificação de infidelidade partidária alegada pelo PTC.

Entre os projetos apresentados por Clodovil durante os pouco mais de dois anos em que exerceu o mandato, está o que dispõe sobre restrições à exibição de imagens e notícias violentas pelas emissoras de televisão durante os horários das refeições, o que substitui o ramo de fumo pela cana-de-açúcar na representação das Armas Nacionais e o que incluindo entre os exames que devem ser oferecidos ao trabalhador, por conta do empregador, o exame de próstata para homens a partir dos 40 anos. Segundo a proposta, caso o exame apresente resultado positivo, o trabalhador deverá receber o tratamento psicológico necessário.

Em julho de 2008, o parlamentar apresentou à Mesa da Câmara proposta de emenda à Constituição (PEC) que visava a reduzir o número de deputados federais dos atuais 513 para 250. No entanto, a Secretaria-Geral da Mesa devolveu ao deputado a proposta porque o número de assinaturas necessárias para a apresentação da PEC foi insuficiente.

Polêmico

O histórico de polêmicas protagonizadas por Clodovil é longo e inclui acusações de racismo e de anti-semitismo. Após seu primeiro discurso em Plenário como deputado, em fevereiro de 2007, ele chamou então o presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), de "mal-educado". Clodovil não gostou de ter sido interrompido pelo petista, que queria iniciar a sessão plenária.

Quando eleito, Clodovil declarou que Brasília não seria mais a mesma. Ao assumir o mandato, gastou cerca de R$ 200 mil na reforma de seu gabinete, que foi decorado com sofás brancos forrados em seda rústica e estampados com o brasão da República de linho bordado em ponto cheio. Um dos quadros retrata o próprio deputado com seus cães. Entre os objetos que decoram o lugar está uma cobra esculpida, que foi batizada por Clodovil com o nome Marta. O deputado afirmava, no entanto, não se tratar de nenhuma referência à ex-prefeita da capital paulista Marta Suplicy.

Na cerimônia de posse, o deputado compareceu com um traje inusitado: terno creme, sapato marrom e branco, chapéu e bengala. Segundo ele, o traje representava uma "saudade" que ele sentia do passado do País.

Apesar de ser assumidamente homossexual, tinha posições consideradas conservadoras pelas entidades de defesa da diversidade sexual. Em 2007, foi vaiado ao discursar no lançamento da Frente Parlamentar pela Livre Expressão Sexual, no Congresso Nacional. Na ocasião, ele declarou: "Não tenho orgulho nenhum de ser gay." No mesmo discurso, criticou os travestis que se prostituem e se posicionou contra o casamento entre homossexuais.

Em abril de 2008, o deputado afirmou que as mulheres se tornaram "vulgares e siliconadas", razão pela qual ele não estaria mais costurando para elas. A declaração foi dada momentos antes de ele se encontrar com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que ele entrevistou para seu programa na TV JB, emissora na qual teve uma rápida passagem. Na seqüência, a deputada Cida Diogo (PT-RJ) pediu uma retratação ao parlamentar.

No mês seguinte, Clodovil teve um bate-boca com Cida em plena sessão na Câmara. Segundo testemunhas, ele teria dito que ela era "tão feia que não poderia nem ser prostituta". Ele admitiu ter sido "cruel" durante a discussão, mas disse que não pediria desculpas pelos termos utilizados. No entanto, acabou pedindo desculpas às mulheres.

Marina Mello - Fonte: Redação Terra




Infelizmente, Clodovil era uma pessoa solitária, de maneira que mesmo que quiséssemos, não teríamos a quem prestar condolência. Mas não poderíamos deixar de expressar nossos pêsames por seu falecimento. Ainda que discordemos de muitos dos seus posicionamentos, admirávamos sua autenticidade e seu talento artístico. Embora assumisse publicamente sua homossexualidade, jamais deixou de expressar seu repúdio à promiscuidade, e de expor a tristeza que sentia por sua condição. Quem somos nós para julgá-lo? Em vez de julgar, que tal proceder de acordo com a recomendação bíblica de "chorar com os que choram"?

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