sábado, janeiro 03, 2009

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Sexo demais e satisfação de menos!!!

Vivemos numa época em que tudo que se refere à vida sexual é ventilado de forma clara e explícita, pelo menos nas grandes e médias cidades.

O relacionamento sexual é mostrado em todos os seus detalhes em filmes e novelas, principalmente nas preliminares e durante o ato, de tal forma que a mãe natureza nem precisa mais de esforço para que um adolescente aprenda a praticar uma relação sexual. É a qualquer hora do dia ou da noite. As crianças de cinco anos, ou até menos, já são estimuladas a conquistarem alguém para namorar e beijar na boca. Os pais cooperam comprando presentes no Dia dos Namorados para que seus filhos ainda tão pequenos presenteiem os seus namorados. Tudo é válido para a descarga da energia sexual. Basta estar a fim. Pode ser a namorada do amigo, a mulher do vizinho, o colega da escola, o companheiro de trabalho ou qualquer pessoa encontrada nas baladas e que tenha “rolado o clima”. E hoje, não sei se Freud poderia concluir que uma das causas, ou a principal causa das neuroses seria a repressão sexual, que era abrangente e real no seu tempo. Há o esforço de uma boa parte dos meios de comunicação – escrita, falada, televisionada e virtual – para que se aceite e até legalize, os relacionamentos homossexuais. E isto sem mencionar outros tipos de busca de envolvimento sexual, como a pedofilia, que felizmente é reconhecido pela lei como crime, e há o empenho da população em denunciar este tipo de crime e das autoridades em punir os adultos envolvidos.

Pode-se supor que por causa de tanta liberdade sexual haja mais satisfação fisiológica e contentamento na vida entre os parceiros sexuais. Puro engano. Pelo menos não é o que ouço e nem o que vejo na maioria das pessoas com quem tenho algum contato. Pelo visto, a matemática neste campo não é lógica: sexo demais, prazer de menos! Isto me lembra o filme sobre o livro O Amor nos Tempos do Cólera, no qual o ator principal Javier Bardem, interpretando o personagem Florentino Ariza, esperava ano após ano a possibilidade de se casar com sua amada, a Fermina Daza, interpretada por Giovanna Mezzogiorno. Enquanto esperava praticava sexo, intensa e diversamente, ia contando cada parceira, até que chegou a 622 mulheres.

Quando, finalmente, com mais de 70 anos, conseguiu se relacionar sexualmente com a sua eleita que enviuvara, experimentou uma satisfação que jamais havia sentido em todos os seus relacionamentos vividos.

Honestamente, não estou preocupada com os aspectos legais de uma parceria. Até porque, para as leis brasileiras, parceiros que provarem que vivem uma união estável por determinado número de anos são considerados casados da mesma forma como os que estão legalmente. Mas quero levantar a questão do “tem clima então vamos em frente”. Penso que isto é coisa de “cio” e portanto pertence ao mundo dos animais. Se agirmos instintivamente, como agem os animais, também teremos apenas a satisfação instintiva: apenas fisiológica. Então, é claro, que algum prazer há. E quem sabe até haja muito prazer, mas poderia haver junto com o prazer do corpo, também, um contentamento na vida, a meu ver misterioso e inexplicável, quando o envolvimento sexual acontece dentro de um relacionamento onde exista o amor genuíno e comprometido pelo outro. Onde há a conquista e quem sabe até uma boa dose de sedução; a intenção, o preparo e a disposição de entrega do corpo ao outro. Relação sexual dentro de um relacionamento assim vai além da simples penetração. Inclui o interesse pela pessoa, o respeito pelos seus gostos e suas opiniões, a promoção para que o outro se realize; o apoio para que o mútuo entre os dois seja bem-sucedido. Inclui o acordar na mesma cama, o café juntos, pelo menos uma vez ou outra quando os compromissos permitem; enfim, inclui o caminhar pela vida, às vezes cuidando do “meu”, mas às vezes cuidando do nosso!

Para viver algo assim é preciso a conscientização de que há prazeres na vida além dos já mencionados que envolvam os órgãos genitais e o relacionamento sexual. Por alguma razão, talvez a educação recebida ou vícios adquiridos, muita gente foca todo e qualquer prazer na vida sexual. Então toda a energia é canalizada para buscar satisfação nesta área em detrimento de todas as outras áreas que também trazem prazer e satisfação ao ser humano. E nesta busca se sacrifica os próprios valores, se ignora a variedade de satisfação disponível ao ser humano e a vida passa a ser uma eterna necessidade de buscar preencher a lacuna do contentamento e da satisfação mais plena, apenas com o prazer experimentado no campo sexual que pode ser agradável, mas de curta duração.

Ainda quero mencionar os casos chamados de “compulsivos”, que são viciados em sexo e se relacionam sexualmente com qualquer pessoa, em qualquer lugar buscando alívio nos relacionamentos genitais, algumas angústias e ansiedades que não foram resolvidas na vida. Nestes casos, nem há o prazer sexual; o que acontece é apenas o alívio da sensação de angústia que é adiada por algum tempo até aparecer novamente como sinal de que algo precisa ser visto e tratado na vida, e jamais será resolvido pela busca desenfreada por sexo.

Na carta que Paulo mandou para os cristãos de Éfeso, ele se refere ao prazer sexual entre um homem e uma mulher como o mesmo mistério que existe entre Deus e seus seguidores. Só aqui já temos garantido que além do prazer sexual existe também o prazer da aventura e da experiência na fé. Mas, para o prazer da prática da espiritualidade é preciso disponibilidade e desejo de buscar o que está além da compreensão humana e atinar com a presença do Sagrado disponível para os que quiserem. Para os demais prazeres da vida é preciso o aprendizado e o despertar de todos os órgãos do sentido para perceber as sensações amorosas no cotidiano da vida. E quem quiser experimentar toda a intensidade do prazer misterioso de se relacionar sexualmente, tem que sobrepujar também o comportamento dos animais, e antes de qualquer coisa, aprender a amar genuinamente a pessoa escolhida como parceiro ou parceira, ao mesmo tempo em que se interessa pelo corpo do outro e se entrega por inteiro ao prazer que a interação sexual pode dar.

Por Esther Carrenho em "Cristianismo Hoje".

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