quinta-feira, janeiro 01, 2009

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Janelas indiscretas II

No último ano, duas janelas ficaram gravadas na lembrança dos brasileiros, ambas por causa de tragédias.

A primeira foi de onde os pais da menina Isabela a teriam jogado. E a segunda de onde Eloá, vítima do seqüestro do namorado, clamava por socorro, até ser barbaramente assassinada, graças à atuação desastrosa da polícia.

Mas deixe-me falar de outra janela, que por pouco também não serv iu de cenário pra mais uma tragédia.

Eu estava apresentando um programa de rádio em uma das emissoras mais populares do Rio de Janeiro. Recebíamos telefonemas no ar, e respondíamos a dúvidas apresentadas pelos ouvintes, dávamos conselhos, e, por fim, orávamos pela situação apresentada.

Faço programas de rádio há cerca de 28 anos. Apesar da larga experiência com rádio, nunca havia me deparado com uma situação semelhante àquela que me foi apresentada por uma jovem.

Com a voz trêmula, ela contou que estava diante da janela do seu apartamento em Copacabana, disposta a atirar-se. Sobre mim pesava a responsabilidade de dissuadí-la a cometer suicídio. E o pior que tudo isso acontecia enquanto o programa era veiculado. Milhares de ouvintes ficaram em suspense.

Como evitar aquela tragédia? E se ela pulasse? E se fôssemos responsabilizadas por isso?

Tentei acalmá-la, mas ela soluçava muito, e dizia estar decidida a cometer a loucura.

Depois de acalmar-se um pouco, contou-nos que ela era garota de programa e atriz de filmes pornôs. Disse que ganhava muito dinheiro com isso, pois só fazia programas com executivos e empresários, e que havia viajado pela Europa fazendo filmes. Por um descuido, engravidou-se de um dos seus clientes, mas não tinha a menor idéia de quem era.

Se ela não pulasse daquela janela, ela teria que tirar a criança. De duas, uma: suicídio ou aborto.

Comecei a lhe falar de Jesus e de Seu amor. Ela começou a chorar ainda mais, e disse: - As igrejas não me querem. Eu já tentei ir, mas quando chego, todos olham para mim com discriminação e preconceito. Eu já fui crente! Nascida e criada na igreja. Quando cresci, larguei tudo para experimentar os prazeres do mundo. Minha igreja era muito rígida, e eu não suportei o peso das doutrinas. Hoje, toda a minha famíla tem vergonha de mim. Com o que ganho, ajudo a todos na minha família, principalmente a minha mãe. Mesmo assim, eles não me aceitam.

Percebi que sua situação era mais grave do que imaginava.

De fato, as igrejas não estão preparadas para receber pessoas egressas desse tipo de vida. Prostitutas, gays, drogados, são vítimas de olhares preconceituosos daqueles que se dizem representantes de Deus na Terra.

Como acolher alguém como aquela ouvinte desesperada?

Mesmo lamentando a postura discriminatória de algumas igrejas, insisti em falar-lhe do amor de Deus, que a aceitava, apesar de tudo. Falei-lhe do quão preciosa era sua vida aos olhos de Deus, bem como a vida que ela carregava em seu ventre.

Perguntei se ela estaria disposta a render-se ao amor de Deus naquele momento, e recomeçar uma nova vida. Ela me respondeu: - Eu quero largar isso, mas o problema é que tenho contratos firmados para fazer mais alguns filmes. Se cancelá-los, terei que pagar uma multa milionária.

Tive que mostrar a ela que o valor de sua vida excedia em muito o valor de qualquer multa contratual. E que não lhe adiantava ganhar tanto dinheiro e perder a vida.

Finalmente, ela se rendeu, caiu de joelhos de fronte àquela janela de onde ela pularia, e entregou sua vida nas mãos amorosas de Deus.

Espero que ela seja uma das muitas pessoas que dão boas vindas não apenas ao ano novo, mas também à vida nova com Cristo.
E que a igreja cristã tome Cristo como referência, lembrando-se que Ele se fazia acompanhar por quem era considerado a pária da sociedade, meretrizes e publicanos, sem jamais Se preocupar com a opinião dos religiosos puritanos.

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