
O que mais causa admiração em Oscar Niemeyer é que sua obra tem um tom futurístico, dando a impressão de que ele tenha vindo do futuro. Suas obras continuam sendo consideradas arrojadas, pertencentes a um filme de ficção científica.
O poeta e crítico de artes Ferreira Gullar, declarou acerca dele: "Se é certo - como acredito - que nós, homens, inventamos a vida, o mundo imaginário em que habitamos, Oscar Niemeyer é um dos que mais contribuíram para isso, inventando uma arquitetura que parece nascida do sonho e, com isso, nos ajuda a viver"
Uma das grandes inovações arquitetônicas dele foi o uso do cimento armado para elaboração de curvas. Ele se justifica, dizendo: "Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein."
Sem dúvida, sua obra ficará para a posteridade. O antropólogo Darcy Ribeiro prognostica: “A gente imagina que daqui a 300 anos ainda vão falar de nós, mas é ilusão. Vão lembrar só do Oscar. Sempre haverá alguém estudando a obra dele.”
Estou tomando Oscar Niemeyer como exemplo para introduzir um insight que tem ocupado minha mente ultimamente. Está baseado em uma profecia bíblica: "E depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões” (Joel 2:28).
Para alguns, esta profecia ainda vai se cumprir. Entretanto, no dia de Pentecoste, Pedro deixa claro que o fenômeno ocorrido no cenáculo em Jerusalém era o seu cumprimento. O Espírito Santo já foi derramado. E o maior dos sinais provocado por Sua efusão não são as línguas (glossolalia). De acordo com esta profecia, os velhos teriam sonhos e os jovens teriam visões.
Em outras palavras, o derramamento do Espírito transformaria os velhos nos arquitetos do amanhã. Sonhar, neste sentido, nada mais é do que projetar-se para o futuro, enxergar possibilidades, diagnosticar potenciais latentes.
Para a sociedade impregnada de preconceito, o velho pra nada serve. Seu discurso soa ultrapassado, anacrônico, cheirando a naftalina. Ninguém tem paciência de ouvi-lo.
Porém, na perspectiva do Espírito, o velho tem muito a contribuir para o futuro. Talvez não lhe reste força física para trabalhar como dantes, todavia lhe restam forças para sonhar. Sua experiência o habilita como um consultor para as novas gerações.
Emociono-me quando me lembro do meu velho pai, pouco antes de partir, me dizendo: - Meu filho, o problema é que minha mente alcança as estrelas, mas meu corpo se recusa a obedecê-la.
Meu pai sabia que chegara a hora de ceder lugar aos mais jovens, porém sua mente se negava a envelhecer. No dizer de Paulo, o apóstolo, seu homem exterior se desgastara com o tempo, mas seu homem interior se renovava dia após dia.
Davi, o grande monarca de Israel, já tinha em mãos a planta e a maquete para o Templo de Jerusalém, uma das maravilhas do mundo antigo. Bastava dar o start, e o templo seria concluído antes de sua partida. Porém, Deus lhe enviou o profeta Natã para informar-lhe que seu papel foi desenhar, projetar, idealizar, sonhar, mas a seu filho Salomão caberia a construção daquela obra monumental (Leia I Crônicas 28).
O problema é que às vezes os velhos não sabem a hora de sair de cena, de ceder lugar aos que estão chegando. Não se contentam apenas em projetar, querem também os créditos pela a execução da obra. Temos que aprender com Salomão, que pediu ao Senhor que lhe desse espírito de sabedoria para que soubesse como entrar e como sair. Ele mesmo constatou que “uma geração vai, e outra geração vem, mas a terra permanece para sempre” (Ecl.1:4).
Há que se respeitar o momento de transição, de passagem de bastão entre a geração que sai, e a geração que vem. Uma espécie de “gabinete de transição”, como aquele que o novo presidente dos Estados Unidos instalou em Washington. Deve ser um momento de transição, não de crise ou ruptura.
A geração que vai não precisa sair totalmente de cena. Ela pode continuar trabalhando atrás dos bastidores, desenhando, esboçando o futuro.
E quanto à geração que vem?
Se os velhos sonharem, os jovens terão visão. O que era apenas um sonho, tornar-se-á realidade sob a batuta da nova geração.
Mas se os velhos se entregarem ao ostracismo, deixarem de sonhar, os jovens perderão a esperança e deixarão de produzir. Jovens visionários são resultado de uma geração sonhadora que os antecedeu.
Há que se acrescentar que os jovens precisam aprender a dar os devidos créditos aos que os antecederam. Eles não têm que reinventar a roda, só pra ficar com todos os créditos. Basta-lhes o privilégio de tornar real o que foi sonhado e planejado antes deles.
E quando estiverem velhos, serão igualmente honrados por aqueles que os sucederem.
Quando lhes faltar forças pra continuar no front de batalha, lhes terá chegado a hora de serem promovidos a sonhadores, arquitetos para as gerações que lhes sucederão.
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