domingo, julho 07, 2013

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Um cristão pode ser cremado?




Por Hermes C. Fernandes

Em vinte e seis anos de ministério, esta semana foi a primeira vez que conduzi uma cerimônia fúnebre em que a pessoa falecida foi cremada. Domingo, depois do culto da manhã, eu e minha família, juntamente com com a família de nossa amada Terezinha Santana, fomos lançar suas cinzas ao mar, atendendo o pedido que fizera.  Jamais esquecerei dos momentos de emoção que vivemos na Escola Naval, atrás da pista de pouso e decolagem do Aeroporto Santos Dumont, de frente para o Pão de Açúcar. 

Pouco antes da breve cerimônia de despedida, chamei a atenção de todos para a cicatriz geológica que há na montanha do Pão de Açúcar em forma de fênix, o pássaro mitológico que ressurge das cinzas. Eles não poderiam ter escolhido lugar melhor para depositar as cinzas de nossa amada e inesquecível irmã.

Lembro-me que anos atrás, perto de completar oitenta anos, Terezinha me procurou em meu gabinete para perguntar sobre a possibilidade de ser cremada. Segunda ela, este era um desejo que nutria desde a sua mocidade, mas que nunca tivera coragem de expressá-lo a ninguém, receosa de que fosse recriminada.  

Orientei-a de acordo com a minha consciência em Cristo, afiançando-lhe de que não havia qualquer problema em optar pela cremação em vez de pelo sepultamento.

Ainda há muita resistência por parte dos cristãos e judeus com relação a esta prática considerada pagã. Quando morei nos Estados Unidos, conheci um advogado judeu muito rico que pediu para ser cremado. Depois de falecer, seu rabino tentou em vão dissuadir a família a atender o seu pedido. 

Desde os primórdios, os judeus enterravam seus mortos diretamente na terra ou em túmulos de pedra. Alguns veem na palavra dada por Deus a Abraão uma espécie de mandamento para todos os que dele descendem: "E tu irás a teus pais em paz: em boa velhice será sepultado" (Gn.15:15). O próprio patriarca sepultou a Sara, sua mulher (Gn.23:19-20).

Ainda hoje, quando um judeu morre numa explosão de bomba, religiosos judeus ortodoxos reúnem cada pedaço encontrado para que seja sepultado.

De fato, não era costume entre os judeus cremar os corpos de seus familiares. Aliás, tal prática era vista com horror. Em Amós lemos que uma das transgressões cometidas pelos moabitas foi queimar os ossos do rei de Edom (Am.2:1). Convém lembrar, todavia, que o pecado não foi simplesmente o fato de queimar, mas de profanar seus restos mortais. Para aquela cultura, sepultar era sinônimo de honrar a memória. Queimar o cadáver era desonrar a sua memória. Trata-se, portanto, de uma questão cultural, semelhante à relacionada ao tamanho dos cabelos do homem e da mulher.

Há quem creia que para que a pessoa seja ressuscitada no último dia, ela terá que ter sido sepultada. Dá-se a impressão de que Deus dependa da preservação do DNA dos mortos para poder trazê-los de volta à vida. O que dizer dos que foram vítimas de explosões, de incêndio, de naufrágio? 

Lemos em Apocalipse 20:13 que no último dia, o Dia do Juízo Final, o mar terá que devolver os mortos que nele foram lançados. Ora, se Deus é poderoso para extrair do mar corpos que se dissolveram, por que não seria capaz de trazer de volta os que foram consumidos pelo fogo? Ademais, muitos cristãos primitivos foram queimados vivos e suas cinzas espalhadas pelo vento.

Se você deseja ser cremado, sinta-se livre para isso. Não será isso que comprometerá o seu testemunho diante dos homens, tampouco a sua comunhão com Aquele que lhe criou. Seu corpo é templo do Espírito Santo enquanto está vivo. Depois de morto, para nada mais serve, a não ser esperar pela ressurreição, quando o receberemos glorificado e incorruptível.


4 comentários:

  1. Anônimo7:05 PM

    Quando os filisteus derrotaram o Rei Saul de Israel em batalha, eles de modo irreverente prenderam o corpo dele e os de seus três filhos junto à muralha de Bete-Sã. Mas quando os israelitas que moravam em Jabes-Gileade souberam desse tratamento desrespeitoso, retiraram os cadáveres e os queimaram, e depois disso enterraram seus ossos. (1 Samuel 31:2, 8-13) À primeira vista, esse relato dá uma conotação negativa à cremação. Afinal, Saul também havia sido mau; ele lutou contra Davi, o ungido de Jeová, e morreu no desfavor divino.
    Note, porém, que ao lado de Saul morreu também seu filho Jonatã, cujo cadáver recebeu o mesmo tratamento. Ele não era uma pessoa má, mas um amigo querido e um aliado de Davi. Sobre Jonatã, os israelitas reconheceram: “Foi com Deus que ele trabalhou.” (1 Samuel 14:45) E quando Davi ficou sabendo o que os homens de Jabes-Gileade haviam feito, ele os elogiou e lhes agradeceu por isso: “Benditos de Jeová sejais vós, porque usastes desta benevolência para com o vosso senhor, para com Saul.” Tudo indica que Davi não ficou incomodado com a cremação de Saul e Jonatã. — 2 Samuel 2:4-6.

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  2. Muito bom texto, Hermes, ao qual só acrescento:

    José, governador do Egito, era inquestionavelmente um servo de Deus, mas quando seu pai, o patriarca Jacó, faleceu, ele ordenou aos médicos do Egito que o embalsamassem segundo o costume pagão dos egípcios (Gn 50:2-3). O próprio Jacó bem podia ter previsto esta intenção de seu filho, e previamente proibi-lo de submeter seus restos mortais a cerimônias e costumes pagãos ― afinal, antes de morrer deixou ordens expressas e detalhadas sobre o seu sepultamento (Gn 49:29-33) ― mas não o fez. Mais tarde, o próprio José foi embalsamado (Gn 50:26), e deixou somente instruções de que deveria ter seu corpo levado para a terra da promessa. Nenhum de seus irmãos ou descendentes questionaram seu embalsamamento, nenhum profeta posterior reprovou sua atitude pagã, mesmo considerando que esta prática contraria vários costumes judaicos relacionados ao sepultamento, como [1] a prática de enterrar o corpo, ou colocá-lo em um sepulcro, para ser decomposto em contato com a terra, [2] costume de sepultamento rápido (que até os dias de hoje vigora entre as culturas do Oriente Médio, onde os corpos são sepultados o mais imediatamente possível após a morte) e [3] a existência de rituais no processo de embalsamamento egípcio, que apontam para a sua religião e os seus deuses. Considerando estes fatos, será que houve pecado, pelo fato de José ter seguido os costumes de um povo pagão, idólatra e politeísta? Hoje, muitos líderes evangélicos se levantam até contra a cremação por se tratar também de cultura pagã (hindu), mas esquecem que José não menosprezou a cultura egípcia.

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  3. Anônimo9:06 AM

    O corpo humano tem alma, espírito, e corpo, quando a pessoa morre, o corpo volta para o pó da terra, o espírito que habitava nele volta para Deus, e a alma tem dois destino, ou a eternidade com Jesus, ou o lago de fogo e enxofre.
    Concordo com vc Hermes, o nosso corpo é o templo do espírito enquanto estamos vivos, depois que morrer vai para o pó da terra e nada serve.

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  4. Anônimo7:12 PM

    Salmos 139:16 Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais iam sendo dia-a-dia formadas, quando nem ainda uma delas havia.

    PAIXÃO, Edson.

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