Por Hermes C. Fernandes
Nos dois textos anteriores
defendemos a dança como expressão de louvor e interação social. Demonstramos
através de diversas passagens bíblicas que nada há que desabone sua prática.
Entretanto, não podemos ignorar o estado pecaminoso em que se encontra a
humanidade, corrompendo tudo à sua volta. Somos uma espécie de rei Midas ao
inverso [1], tudo o que tocamos se
deteriora, perdendo seu valor original. Nenhuma
manifestação cultural está imune à contaminação do pecado, e isso,
naturalmente, inclui a dança.
A mesma faca usada para fatiar
um pão pode ser usada para cometer um homicídio. Isso não a torna intrinsecamente
má. Assim se dá com relação à dança e qualquer outra manifestação cultural. Cabe
aqui a argumentação de Paulo de que “todas
as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados e infiéis; antes o seu entendimento
e consciência estão contaminados” (Tt. 1:15).
Temos exemplos bíblicos de
como a dança pode ser mal utilizada em propósitos funestos e destrutivos. Por
exemplo, no episódio em que a enteada de Herodes, orientada por sua própria
mãe, o seduz com sua dança sensual, a ponto do rei babão dizer: “Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja a metade do meu reino” (Mc.
6:23). Aliás, esta é uma das raras vezes em que encontramos nas
páginas das Escrituras um exemplo de dança performática. Nas demais vezes, a
dança é apenas uma manifestação espontânea de alegria de um povo. Isso, de
maneira alguma, desabona as danças performáticas como, por exemplo, o ballet clássico ou o street dance. O problema não está na performance em si, mas no propósito por
trás dela.
A filha de Herodias sabia o potencial sedutor de seus
movimentos corporais. Provavelmente estava vestindo roupas sumárias, provocando
a imaginação do rei. No final das contas, o rei perdeu a cabeça em seus devaneios,
enquanto o maior dos profetas perdeu-a literalmente numa bandeja de prata.
Quantos chefes de família têm perdido a cabeça em boates de strip-tease! Quantas meninas estão se
perdendo nas mãos desta famigerada indústria de entretenimento! Menores são
aliciadas. Mulheres contrabandeadas pelo mundo afora. Tudo para o aprazimento
de homens desprovidos de qualquer escrúpulo.
O cristão que aprecia a dança artística deve cuidar para que
seu corpo não se torne num instrumento de sedução barata, lembrando sempre que
ele é templo do Espírito Santo (1 Co.6:19). Nosso lema deve ser “não pecar e não fazer ninguém pecar”. Somos carne e, portanto, vulneráveis
ao assédio de nossos apetites carnais. Então, para quê cutucar a onça com vara
curta?
Quem está envolvido com dança, quer seja na igreja ou como
profissional, deve pautar pelo equilíbrio, evitando a vulgarização de algo tão
precioso.
A sensualidade também não é algo ruim em si mesmo. Todos
temos uma medida de sensualidade. O que precisa ser evitado é a vulgarização.
Não vejo qualquer erro numa mulher seduzir seu marido com uma dança
provocativa. Aos olhos de Deus eles são uma só carne. Um relacionamento
conjugal desprovido do elemento sedução está fadado ao naufrágio. O próprio
intercurso sexual tem seu ritmo e movimento, análogo à dança. Errado seria usar seu poder de sedução para arrancar do outro o que quiser,
como fez a enteada de Herodes.
O outro exemplo de dança performática encontrado nas
Escrituras é a protagonizada por Sansão no templo de Dagom. O texto diz que os
filisteus que o haviam prendido estavam tão eufóricos que exclamaram: “Mandai vir
Sansão para nos divertir! Tiraram-no da prisão, e Sansão teve que dançar diante
deles. Tendo sido colocado entre as colunas” (Jz. 16:25). Lemos ainda que “o templo estava repleto de homens e mulheres, e estavam ali todos os
príncipes dos filisteus; havia cerca de três mil pessoas, homens e mulheres,
que do teto olhavam o prisioneiro dançar” (v.27).
Todos se divertiam à custa de
Sansão até que este faz um pedido inusitado ao seu Deus. Com as forças
devolvidas, Sansão derruba as colunas do templo, matando de uma vez maior
número de inimigos do que durante toda a sua trajetória.
Definitivamente aquele não era
o lugar de Sansão. Seus cabelos haviam sido raspados, seus olhos vazados, sua
honra ultrajada. Suas energias agora eram despendidas no trabalho forçada no
moinho de Dagom. Como se não bastasse, o herói dos hebreus se transformara no
bobo da corte.
O que estava sendo celebrado
ali? A suposta vitória de Dagom, divindade filisteia sobre Iavé, Deus dos
hebreus.
Não é por gostarmos de dançar
que devemos frequentar certos lugares, onde o que se celebra é contrário a tudo
em que cremos. Como um cristão poderia
participar de um desfile de escola de samba que estivesse promovendo o culto a outras divindades? Ainda que respeitemos a religiosidade alheia, não devemos violar nossa consciência. Nosso culto é direcionado exclusivamente ao Deus revelado em Jesus Cristo. Como um cristão se sentiria dentro de um baile funk onde os
valores morais são pisoteados e o sexo é cultuado como se fosse um deus? Se somos
habitados pelo Espírito Santo, sentiremos um enorme desconforto por estarmos
sendo cúmplices das obras infrutuosas das trevas (Ef.5:11).
O povo de Israel achou que
Moisés já estava morto depois de uma ausência de quarenta dias no monte.
Pressionando Arão, fizeram um bezerro de ouro e festejaram-no como se fosse o
deus que os tirara do Egito. Quando Moisés vinha descendo, encontrou-se com
Josué que o esperava no pé da montanha, e disse: “"Há
gritos de guerra no acampamento!" "Não, respondeu Moisés, não são gritos de
vitória, nem gritos de derrota: o que ouço são cantos." Aproximando-se do acampamento, viu o bezerro e as
danças. Sua cólera se inflamou, arrojou de suas mãos as tábuas e quebrou-as ao
pé da montanha. Em seguida,
tomando o bezerro que tinham feito, queimou-o e esmagou-o até reduzi-lo a pó,
que lançou na água e a deu de beber aos israelitas” (Êx. 32:17-20).
Suponho que muitos dos que ali dançavam em torno do bezerro
não tinham a menor ideia do que estivesse acontecendo. Eram “Maria vai com as outras”. Apenas se deixaram
embalar pela música e começaram a dançar alheios aos fatos. Que decepção para
Moisés! Depois de tudo o que aquela gente assistira, como a abertura do Mar
Vermelho e as pragas no Egito, bastaram alguns acordes para que se esquecessem
de tudo e celebrassem perante o deus errado.
A
música e a dança têm potencial entorpecente, capaz de fazer com que o cérebro
produza efeitos semelhantes aos das drogas. Neste estado de consciência as pessoas podem fazer coisas de que se arrependerão pelo resto de suas vidas.
Preciso
salientar que o problema não é a comida, mas a glutonaria. Nem a bebida, mas o
alcoolismo. Nem o sono, mas a preguiça. Nem o sexo, mas a promiscuidade. Assim
também, o problema não é a dança, mas seu uso desprovido de senso crítico.
* Caso não tenha lido os dois posts anteriores, recomendo que o faça para uma compreensão mais abrangente do tema.
Pastor, eu acho dança legal mas do jeito que fazem... sem cmentarios.
ResponderExcluirBispo hermes, hoje as danças viraram sexualidade, sendo convite ao sexo.
ResponderExcluirE pior que as igrejas estão copiando isto; que mundo estamos vivendo? O mundo de sacanagem geral.
Digo igual o anônimo aí em cima é lamentável e sem mais comentários.