quarta-feira, março 16, 2011

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O resto não tem pressa! Quando a igreja se torna academia


















Por Hermes C. Fernandes



Na academia que tenho freqüentado ultimamente, as esteiras ficam de frente para as vidraças, de onde se pode observar a rua, os carros, os pedestres, enquanto nos exercitamos. Dá uma sensação estranha, como de um carro atolado na lama patinando. A vida acontece lá fora, e a gente ali, sem sair do lugar. É claro que caminhar na esteira oferece algumas vantagens. A gente pode monitorar as batidas do coração, o tempo da caminhada, a inclinação da esteira, e até o número de calorias que se queima. Mas mesmo assim, a gente não sai do lugar.


Só inventaram as esteiras por causa dos carros. Antes que houvesse carros, as pessoas eram obrigadas a caminhar por horas. Mas agora, elas passam horas sentadas diante do volante, num estressante engarrafamento. Quando chegam ao trabalho, tomam um elevador em vez de usarem escadas. Depois passam horas diante da tela de um computador. Ao chegarem em casa, mais algumas horas diante do televisor. Daí a importância das esteiras. Elas vieram preencher um espaço provocado pelo avanço tecnológico. Da mesma maneira, as denominações surgiram a partir do momento em que a igreja voltou-se para dentro de si mesma. Trocamos o reinismo pelo igrejismo.*


Sinceramente, prefiro caminhar ao ar livre. Nada como inflar os pulmões de ar puro e sentir o pulsar da vida enquanto exploramos o cenário.


Isso me remete à passagem em que Paulo compara a atuação da igreja à uma modalidade esportiva: o atletismo. Ele termina seu argumento dizendo: “Portanto, corro, não como indeciso; combato, não como batendo no ar” (1 Co.9:26). Sabemos aonde queremos chegar. Sabemos pelo que lutamos. Nosso alvo não é apenas a queima de calorias, ou a perda de peso; nosso alvo é manifestar Cristo ao Mundo.


Deus criou a Igreja. Nós inventamos a denominação. O nome “igreja” pode ser traduzido como “voltados para fora”. Essa era a idéia original. Quanto mais caminhássemos nas estradas empoeiradas do mundo, mais fortes e robustos nos tornaríamos. Mas preferimos nos enclausurar em nossas academias denominacionais, não nos importando com o que acontece lá fora. Quando muito, assistimos pela vidraça, e comentamos com o colega na esteira ao lado: - É... a coisa tá feia lá fora! O mundo vai mesmo de mal a pior!


De que adianta constatar, sem não estivermos prontos a contestar? Quando Deus levou Ezequiel em visão àquele vale de ossos secos, a primeira coisa que lhe ordenou foi que caminhasse ao redor dele (Ez.37:2), e só depois perguntou-lhe: Porventura poderão reviver esses ossos?


É muito fácil emitir qualquer opinião sobre a situação estando seguros em nosso conforto denominacional. Porém Deus nos desafia a caminhar ao redor do vale, a checar de perto a situação em que nossa sociedade se encontra. E por pior que esteja o quadro, Ele é poderoso para revertê-lo.


Exercícios Espirituais


Numa academia há exercícios aeróbicos que ajudam a queimar calorias, e há exercícios que ajudam a tonificar os músculos. Boa parte deles envolve levantamento de peso.




Não basta perder peso, reduzir medidas, é importante ganhar força, resistência. Ninguém vai pra academia ganhar músculos. Aquele halterofilista cuja foto decora a sala de musculação da academia tem exatamente o mesmo número de músculos que um bebê recém-nascido. Desde o dia em que nascemos, até o dia de nossa morte, temos o mesmo número de músculos (a menos que tenhamos sofrido alguma amputação!). Porém, esses músculos precisam ser exercitados para que fiquem rígidos, tonificados e hábeis a suportar pesos.

A academia denominacional nos oferece programas e regulamentos que nos servem de peso. Jesus os chamou de fardos, e acusou os religiosos de Sua época de exigir que seus seguidores os carregassem. Segundo o Mestre, os fariseus “atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem nos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los. Tudo o que fazem é a fim de serem vistos pelos homens” (Mt.23:4-5a). Quem suporta o peso das tradições? Quem agüenta carregar um fardo que nem os veteranos conseguiram levar?

Paulo denuncia tais práticas: “Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, e segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo (...) Se estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos sujeitais ainda a ordenanças, como se vivêsseis no mundo, como: não toques, não proves, não manuseies? Todas estas coisas estão fadadas ao desaparecimento pelo uso, porque são baseadas em preceitos e ensinamentos do homens. Têm, na verdade, APARÊNCIA de sabedoria, em culto voluntário, humildade fingida, e severidade para com o corpo, mas não têm valor algum contra a satisfação da carne” (Cl.2:8,20-23).

Quando uma pessoa entra para uma academia, geralmente sua preocupação é com a aparência, não com a saúde (há exceções, é claro!). A academia denominacional provê um ambiente onde as pessoas possam buscar a boa forma, porém, única e exclusivamente por vaidade. Como os crentes de Corinto, cuja espiritualidade era medida entre eles pelo número de dons.

Muitos se submetem a todo tipo de disciplina, de regulamento, porque almejam elogios de seus líderes e pares. Querem ser reconhecidos como os mais santos, os mais espirituais. Não é deste tipo de disciplina que a igreja necessita. Não é de ascetismo, tampouco legalismo, mas de outro tipo de disciplina. Em vez de carregar os halteres da tradição religiosa, dos dogmas estéreis, ou mesmo das novas metodologias oferecidas pelo mercado religioso, carreguemos outro tipo de peso:

“Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gl.6:2).

Em outra passagem, Paulo diz: “Suportai-vos uns aos outros” (Cl.3:13a). Os halteres de que precisamos para tonificar nossos músculos espirituais é o amor.

É o amor que a tudo suporta, que nos habilita a carregar nossa cruz e seguir ao Crucificado, sem nos preocupar em provar nada pra ninguém.

Ah quando a Igreja redescobrir isso! Ela revolucionará o Mundo. Deixará de ser ensimesmada, para voltar-se para o Mundo à sua volta.

Hoje em dia há líderes denominacionais ou pára-eclesiásticos que se apresentam como gestores eclesiásticos, ou como uma espécie de personal trainer, verdadeiros gurus, experts em crescimento de igreja. Apresentam gráficos, métodos, estratégias, novos modelos eclesiásticos, enfim, uma gama de técnicas capazes de provocar um crescimento rápido e milagroso. Daí surgem os modismos: G12, igreja com propósito, grupos familiares, etc. Alguns desses gurus já não pastoream a tempo, dedicando-se integralmente à palestras, onde se cobra um alto cachê para ouvi-los. Trata-se, a meu juízo, de uma nova modalidade de farisaísmo. Infelizmente, sempre haverá clientela pra isso. Gostaria de saber se esses tecnocratas da fé estariam dispostos a sair em campo, adentrando os guetos, subindo os morros e favelas, a fim de levar Jesus aos excluídos, aos considerados párias da sociedade.

O que precisamos não é de marketing, nem de preocupar-nos com nossa imagem, ou mesmo em tornar mais palatável o produto que oferecemos ao mundo. O que precisamos é restaurar nossa saúde espiritual, e isso só será possível quando deixarmos o sedentarismo, e buscarmos nos alimentar mais da Palavra de Deus.

É claro que à medida que nossa saúde é restaurada, nossa aparência melhora. Mas esse não deve ser o objetivo principal. Quando nos voltarmos para o Mundo num gesto de amor e misericórdia, o Mundo nos verá com outros olhos. Experimentaremos o que a igreja primitiva vivenciou, ao cair “na graça de todo o povo” (At.2:47). Nos preocuparemos mais com a expansão do Reino, em vez de com a nossa manutenção. Anunciaremos ao Mundo um reino que “não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”, e o resultado disso é que seremos agradáveis a Deus e aprovados pelos homens (Rm.14:17-18).


* Reinismo – Neologismo que propõe um paradigma eclesiástico voltado para a expansão do Reino de Deus para além dos limites da igreja. Igrejismo – Neologismo que pretende denunciar o paradigma eclesiástico em que a igreja se vê voltada para a manutenção de si mesma, sem preocupar-se com o que acontece fora de suas fronteiras.


Originalmente postado em 22/03/10

Um comentário:

  1. Missionário Barbosa12:05 PM

    Irmão Hermes, Breve estaremos com Jesus amém?
    Meu irmão esta passagem do ossos secos é muito interessante de Ez 37.
    Se o irmão permitir, gostaria de falar sobre este tema, amém? É minha opinião ok?
    " MÃO DO SENHOR...OSSOS."
    Por meio do Espírito Santo, Ezequiel vê uma visão um vale cheio de ossos secos. Os ossos representam "toda a casa de Israel" leiam
    Ez 37.11, e, tanto Israel como Judá, no exílio, cuja esperança pareceu na dispersão entre os pagãos.
    Deus mandou Ezequiel profetizar para os ossos; leiam Ez 37.4,6.
    Os ossos, então reviveram em duas etapas:
    1- Uma restauração nacional, ligada à terra;
    leiam Ez 37.7,8.
    2- Uma restauração espiritual, ligada a fé;
    leiam Ez 37.9,10.
    Essa visão objetivou garantir aos exilados a sua restauração pelo poder de Deus e o restabelecimento como nação na terra prometida, apesasr das circunstâncias crítica de então; leiam Ez 37.11,14.
    Não há menção da duração do tempo entre essas duas etapas.
    "O ESPÍRITO ENTROU NELES E REVIVERAM."
    A restauração de Israel à vida nos faz lembrar a criação do homem conforme relata em Gn 2.7.
    Adão foi primeiro formado fisicamente, e a seguir, Deus lhe deu "o fôlego da vida". Semelhantemente, a nação morta de Israel deveria primeiramente ser restaurada fisicamente, e depois, Deus daria aos israelitas o fôlego de vida e, derramaria sobre eles o seu Espírito.
    "À TERRA DE ISRAEL." leiam Ezequiel 37.12,14.
    A visão dos ossos vivificados teria seu cumprimento na restauração de Israel, não somente material, mas também espiritual.
    Essa restauração teve seu ínico no tempo de Ciro está em Esdras 1, mas só terá pleno cumprimento quando Deus congregar os israelitas na sua terra, nos tempos do fim, numa ocasião de grande despertamento espiritual.
    Muitos judeus crerão em Jesus Cristo e o aceitarão como Messias antes de Jesus voltar para estabelcer o seu reino; leiam Rm 11,15,25,26.
    Bispo Hermes, outro versículo que me chamou atenção que o irmão mencionou, foi o que está em
    Gálatas 6.2.
    "LEVAI AS CARGAS UNS DO OUTROS."
    Como é importante na caminhada do evangelho.
    Levar as cargas uns dos outros inclui ajudar os necessitados em tempos de enfermidade, tribulação e aperto finaceiros.
    É possível que o apóstolo Paulo tivesse em mente o sustento de missionários e mestres; leiam Gl 6.6; Rm 15.1; I Co 9.14.
    Carregar o fardo doutra pessoa é um trabalho de ordem divina; leiam I Pe 5.7.
    Deus te abençõe Hermes, meu companheiro de evangelização da Palavra de Cristo.

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