Mensagem na garrafa

Sri Lanca é uma ilha mágica chamada por isso de “pequeno paraíso”. Creio que muitos de nós já sonharam estar num lugar assim, deitado numa rede, à sombra de coqueiros, sorvendo água de coco... Sem fazer nada, simplesmente desfrutando da quietude do lugar na companhia de alguém que se ama, não é mesmo?

Esta é exatamente a imagem que nos passam os agentes de viagens e também o motivo que traz muita gente ao país. Mas as ilhas também nos lembram aquelas terríveis estórias de náufragos, que por força de circunstâncias, aportaram em terras estranhas, onde sobreviver é a palavra de ordem.

Sri Lanka é uma ilha perdida no Oceano Índico, repleta de náufragos, na verdade mais de dezoito milhões, que apesar do tempo, ainda não pereceram. Insistem em sobreviver; em mandar as suas mensagens de SOS em garrafas lançadas ao mar, à espera que alguém as encontre e envie o tão esperado socorro. Seus gritos já não são ouvidos mais. Há muito se perderam ao vento, ou pelo menos se misturaram ao som ensurdecedor que as ondas produzem, batendo nos rochedos. Ninguém vai ouvi-los. As garrafas são a última esperança.

Enquanto isso, do outro lado do oceano, uma multidão de veranistas disputa alegremente os melhores lugares na praia. Querem aproveitar ao máximo aquele lindo e ensolarado dia. Estendem as suas toalhas; espalham uniformemente pelo corpo o protetor solar de boa qualidade, relaxam em confortáveis cadeiras de lona listrada, respiram fundo: Ah! Isto é que é viver! Pensam.

Uma daquelas garrafas se aproxima lançada pela onda revolta, rola pela areia de um lado para o outro, num último esforço. O casco arranhado e vencida pela longa viagem e cansaço, fica ali pelo caminho. É recolhida por uma criança que alegremente a conduz até o pai, interrompendo assim, o jogo de futebol. “Veja papai, é uma garrafa; e parece que tem algo dentro. Acho que é um papel. Quem sabe não é uma mensagem de alguém, um pedido de socorro” – Diz a criança, lembrando-se assim das histórias e filmes sobre o tema. O pai sorri meio impaciente; retira o papel de dentro dela. Depois diz taxativo que aquilo não passa de uma brincadeira. ”Peripécia de alguém que não tem algo mais importante para fazer” – explica rapidamente, na ânsia de se ver logo livre do garoto e poder voltar ao jogo. Lança a garrafa de volta ao mar. “Náufragos! Era só o que me faltava!” Como dizia o poeta: “Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego”. (Extraído de Sri Lanka, Uma Gota no Oceano)

Em nossa jornada diária encontramos muitas garrafas pelo caminho vindas dos escombros de Porto Príncipe, das ruas atormentadas de Bagdá ou Cabul, das igrejas cristãs subterrâneas do mundo Islâmico, das favelas de Nova Iorque ou do Rio de Janeiro, das crianças exploradas de Calcutá ou Bangcoc, entre muitas outras. Todas elas trazem uma mensagem dentro. O problema é que muitas vezes não temos tempo para abri-las e ler seu conteúdo, prestando o devido socorro. A correria do dia a dia, as muitas ocupações, a falta de interesse, o individualismo, os nossos próprios problemas, que já são muitos, nos impedem de exercer esse precioso ministério: Decifrador de Mensagens de Garrafas.

Lembro-me da história de um garoto caminhando na praia. Encontrando centenas de estrelas do mar morrendo sob o calor do sol causticante, ele começou a lançá-las de volta ao mar. Um transeunte perguntou, “O que você está fazendo?” “Salvando as suas vidas” respondeu o garoto. “Esqueça isso,” disse o homem ”Você não poderá salvar todas essas estrelas do mar.” “Certo” respondeu o garoto, “mas isso faz uma grande diferença para cada uma que eu salvo.” (Extraído de Nosso Pão Diário).

A tarefa missionária é tão grande que corremos o risco de desanimar diante do desafio. Quase sempre pensamos: “Eu não posso fazer tudo”. É verdade, certamente você não pode, mas também não pode não fazer nada. FAÇA!

Marcio Amorim (Enviado por Raniere, via e-mail)