quinta-feira, fevereiro 18, 2010

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Hoje completamos 25 anos de namoro

Um culto nada convencional. Depois de ler um livro de autoria do Rev. Caio Fábio, meu pai resolveu convocar todas as congregações de seu ministério para falar sobre aborto. Sinceramente, não imaginei que o assunto despertasse tanto interesse. A igreja ficou superlotada. Algo em torno de mil e quinhentas pessoas. Difícil foi encontrar canções que combinassem com o assunto em questão. Em vez de liderar o vocal, naquele dia preferi alternar entre a guitarra e a bateria. Meu pai, como sempre muito inspirado, pregou usando recursos cênicos, como pequenos caixões que representavam as milhares de crianças vítimas de aborto a cada ano no Brasil.

De repente, enquanto tocava bateria, notei um olhar em minha direção. No meio da multidão, destacava-se uma linda morena, vestida com uma blusa verde água, de olhos graúdos e nariz arrebitado, que assentada ao lado de sua mãe, conseguiu roubar minha atenção. Sua beleza ímpar e natural me deixou atordoado.

Notei que outros rapazes do grupo de louvor também ficaram interessados. Por isso, tão logo terminou o culto, tratei de avançar multidão a dentro e me aproximar antes que chegassem os 'gaviões'.

Lembrei que tinha acabado de receber da gráfico meus cartões de apresentação. Não titubeei. Tirei um do bolso e lhe ofereci dizendo: Meu nome é Hermes, de onde você é?
Meio sem graça, ela respondeu: Sou Tânia e moro em Paciência. No cartão de papel madeira vinha escrito: "Mais triste que um sorriso triste é a tristeza de não poder sorrir". Fiquei imaginando: - Será que consegui impressioná-la? Perguntei-a: Você volta semana que vem? Ela olhou pra sua mãe, sem saber que resposta dar. Só faltei implorar: Volta sim! Quero falar com você.

Saí dali pensando: Onde fica Paciência? Como faço pra chegar lá?

Uma semana depois, estava impaciente. O culto já havia começado a quase meia-hora, e nada da linda morena chegar. De repente, lá vem ela, mais uma vez ao lado de sua mãe.

Não consegui tirar os olhos dela uma única vez. Durante o ofertório, sinalizei com os olhos para que ela viesse à cantina da igreja me encontrar.

Pela primeira vez peguei em sua mão. Pedi seu endereço e prometi que a visitaria ainda aquela semana. Dois dias depois, lá fui eu para um lugar do qual jamais ouvira falar. Ironicamente, ambos morávamos em lugares que tinham nomes de virtudes. Eu morava em Piedade, ela em Paciência. Entre esses bairros há uma distância de quase 50 quilômetros, e para chegar lá tinha que tomar dois trens.

Lá chegando, ela foi ao meu encontro na estação. Meu coração quase saiu pela boca quando a vi. Quis roubar-lhe um beijo, tão logo a vi, mas ela me deteve. No meio do caminho pra sua casa, encontramos sua mãe. Num rompante, irmã Delza me perguntou: - O que está fazendo por aqui, garoto? Procurando manter a compostura, respondi elegantemente: Desculpe-me, mas não sou um garoto. Vim pedir para namorar sua filha. Ela ficou tão nervosa por ver o filho de seu líder ali, que ao chegarmos em casa, ofereceu-me uma vitamina de mamão. Quando perguntou-me se havia gostado da vitamina, respondi que sim, mas que era a primeira vez que tomava com água, em vez de leite.

Quando eu e Tânia os vimos sós no terraço de sua casa, arrisquei novamente uma beijo, e desta vez consegui. Além de um pouco desencontrado, nosso primeiro beijo ainda me rendeu a perda de um ósculo escuro, que pressionado contra a parede, quebrou dentro da minha mochila.

Vinte cinco anos se passaram desde então, e nunca a amei tanto quanto agora. Tânia é minha eterna namorada, companheira idônea, amante, amiga, esposa e mãe.

Se pudesse voltar no tempo só corrigiria uma coisa: Teria caprichado mais naquele primeiro beijo.

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