O êxito, afinal, faz a História, e por cima das cabeças dos homens que fazem a História o Dirigente da História transforma sempre o mal em bem.
Não passa de um curto-circuito de certos fanáticos de princípios sem senso histórico algum e, por isso irresponsáveis em suas idéias, querer ignorar totalmente a importância ética do êxito.
É oportuno que uma vez sejamos obrigados a discutir seriamente o problema ético do êxito.
Enquanto o êxito coincidir com o bem, podemos ter o luxo de considerar o êxito como eticamente irrelevante. No momento, entretanto, em que maus meios levarem ao êxito, surgirá o problema.
Diante de tal situação reconhecemos que nem a crítica teórica do mero observador nem a simples mania de querer ter razão, isto é, a recusa de se adaptar à realidade, nem o oportunismo, isto é, a renúncia de si mesmo e a capitulação perante o êxito farão justiça à tarefa. Nós não queremos e tampouco devemos ser nem críticos que se julgam ofendidos nem oportunistas.
Teremos de nos considerar co-responsáveis na formação histórica, de caso em caso e em cada momento, tanto como vencedores quanto como derrotados.
Quem por nada que acontecer, permitir que lhe seja tirada a co-responsabilidade no decurso da História, porque sabe que esta lhe é outorgada por Deus, este achará além de toda a crítica estéril assim como de todo o improdutivo oportunismo, uma relação fecunda para os eventos históricos.
A fala de um declínio heróico diante da derrota inevitável não apresenta em princípio nada de heróico, porque não arrisca um olhar para o futuro.
A questão última não é como eu de modo heróico posso escapar da situação, mas como a geração vindoura deve continuar a existir.
Soluções produtivas, mesmo que temporariamente humilhantes, só podem resultar desta interrogação historicamente responsável. Em poucas palavras, é muito mais fácil manter-se fiel a uma causa por princípio do que por responsabilidade correta.
A geração jovem terá o mais seguro instinto para distinguir se a ação está obedecendo a um mero princípio ou a uma responsabilidade viva: pois nisso está em jogo seu próprio futuro.
Texto de Bonhoeffer, teólogo alemão morto pelo regime nazista
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