Fico a pensar. E quanto aos mortos nos protestos em favor da independência do Tibet do domínio chinês? Será que o presidente chinês se esqueceu do “espírito olímpico”?
Afinal, o que seria esse tal “espírito olímpico”?
Confesso que fiquei emocionado ao assistir à entrada das comitivas de mais de 200 países no show de abertura dos Jogos. É bonito de se ver. Seria isso o “espírito olímpico”? A união das nações em torno de um ideal? Mas, quê ideal?
Para muitos, a Pira Olímpica representa o tal “espírito olímpico”. Foi nos Jogos de 1936, sediados em Berlim, que a primeira pira olímpica foi acesa. Foi também lá que Hitler intentou provar para o mundo inteiro a superioridade da raça ariana (branca) e a supremacia dos alemães sobre todos os povos. Para sua decepção, os negros foram os vencedores na maioria das provas. O americano Jesse Owens, o exemplo mais famoso, conquistou quatro títulos no atletismo. Hitler, contrariado, se negou a entregar as medalhas. Aonde foi parar seu “espírito olímpico”?
Se traduzirmos o termo “espírito” por “propósito”, então, ficará mais fácil decifrar o seu sentido.
Todos os atletas estão ali em busca de algo: medalhas. Essas representam a superação dos limites, e a prova da superioridade de uns sobre os outros. A comemoração dos vencedores se dá simultaneamente ao choro dos perdedores. Portanto, podemos supor que a única palavra que traduz perfeitamente o tal “espírito” seja competitividade.
Esse tem sido o paradigma que tem guiado as nações ao longo dos séculos.
Ninguém aceita perder. Todos querem ganhar. E é assim desde sempre.
É desse “espírito olímpico” que Paulo fala em sua epístola aos Coríntios:
“Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade correm, mas um só leva o prêmio?” (1 Co. 9:24).
O que Paulo usa como analogia para a vida cristã não é o espírito competitivo verificado nos Jogos da Grécia antiga, e sim a determinação que leva os atletas a superarem seus limites. Por isso, o apóstolo admoesta a seus leitores: “Correi de tal maneira que o alcanceis. Todo aquele que luta, em tudo se domina. Eles para alcançar uma coroa incorruptível, nós, porém, uma incorruptível” (vv.24b-25).
Se o atleta for indisciplinado, dificilmente alcançará seu objetivo. Seu maior oponente não é o atleta que corre na raia ao lado, e sim sua própria natureza indisciplinada.
Naquela época, o atleta vencedor era coroado com um arco de louros verdes, recém colhidos das cercanias do Monte Olimpo. Dias depois, as folhas se amarelavam, e, finalmente, se secavam e se desfaziam. Por isso Paulo chama a coroa de louros de “corruptível”.
Para dar um aspecto menos fugaz às premiações, os louros foram substituídos por medalhas, umas de ouro, e outras de prata e bronze. Embora não sejam tão desvanescentes como os louros, elas também não são eternas. Até a taça de ouro recebida pela Seleção Brasileira na Copa de 70 foi derretida! Imagine medalhas!
Paulo diz que ao contrário dos atletas olímpicos, nós corremos por uma coroa incorruptível. Porém, não estamos numa disputa. O paradigma do Reino de Deus é o da cooperação, e não o da competição. Nossa prova está mais para uma corrida de revezamento, do que para uma corrida solo. O importante não é o lugar do podium que conquistaremos, ou com que medalha seremos condecorados. O importante é concluirmos a corrida. Não importa quem chega primeiro. O que importa é chegarmos, e podermos dizer como Paulo:
“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a TODOS os que amarem a sua vinda” (2 Tm. 4:7-8).
Tem “medalha” pra todo mundo! Todos os que houver acabado a carreira (corrida), sem abandonar sua raia, serão plenamente premiados.
Para entendermos melhor o “espírito do Reino”em detrimento do “espírito olímpico”, temos que investigar em que consiste a coroa incorruptível que receberemos ao fim da corrida.
É claro que não se trata de uma coroa literal, cravada de pedras preciosas, como imaginam alguns.
Também não se trata de receber uma cobertura triplex na Nova Jerusalém, com vista para o palácio do Rei dos Reis. Tudo isso é muito romântico, mas não tem qualquer suporte bíblico.
Então, o que seria tal coroa?
Deixemos que o apóstolo Paulo, o autor da alegoria, nos dê a resposta:
“Pois qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória na presença de nosso Senhor Jesus na sua vinda? Não sois vós? Na verdade vós sois a nossa glória e o nosso gozo” (1 Ts.2:19-20).
Epa! Foi isso mesmo que você leu? Leia de novo. Confira.
Paulo está dizendo que as pessoas com quem se relacionava, sendo-lhes canal do amor de Deus, eram a sua coroa de glória.
Aos Filipenses ele também se dirigiu nesses termos:
“Portanto, meus amados e mui saudosos irmãos, minha alegria e coroa, estais assim firmes no Senhor, amados” (Fp.4:1).
Veja: elas não são “pedras preciosas” em nossas coroas. Elas são nossas coroas. E mais: elas não devem ser disputadas, como as coroas incorruptíveis. Elas podem ser nossas coroas, ao mesmo tempo em que são coroas de todos aqueles que conosco e com elas cooperaram.
Na seqüência do texto aos Filipenses, Paulo escreve:
“E peço-te também a ti, meu leal companheiro de jugo, que ajudes a essas mulheres que trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros COOPERADORES, cujos nomes estão no livro da vida” (Fp.4:3).
Quem corre conosco na raia ao lado é nosso companheiro e cooperador, e não nosso oponente e concorrente.
Estamos no negócio de conquistar vidas para o Reino de Deus. E não estou falando de fazer proselitismo, e sim de promover conexões entre as pessoas, a fim de que essas se beneficiem umas as outras, vivenciando assim a justiça do Reino.
E quanto ao fato de Paulo afirmar que essas coroas serão recebidas por nós na vinda do Senhor em glória? Pedro corrobora com a alegoria paulina, ao afirmar: “E, quando se manifestar o sumo Pastor, recebereis a imarcescível coroa de glória” (1 Pe. 5:4).
Ora, se essa “coroa de glória” são as próprias pessoas de nosso círculo, de que maneira elas nos serão dadas no último dia?
Jesus nos responde essa importante questão em sua parábola do mordomo infiel. Ele salienta que aqueles a quem beneficiarmos neste mundo serão os mesmos que nos receberão “nos tabernáculos eternos” (Lc.16:9).
Quando chegarmos à Glória Definitiva seremos recepcionados por aqueles a quem servimos neste mundo. Portanto, recepcionaremos uns aos outros. Seremos a coroa de glória uns dos outros. Foi nesse “espírito olímpico do reino” que Paulo declarou: “Embora eu seja livre para com todos, fiz-me servo de todos, para ganhar ainda mais” (1 Co.9:19).
Fazer de todos nossos amigos, e nós mesmos servos de todos é a única maneira de sermos plenamente premiados ao atravessarmos a linha de chegada e subirmos ao podium da glória eterna.
A Tocha Olímpica do Reino é acesa pelo calor da Fraternidade!
ResponderExcluir