sexta-feira, setembro 15, 2006

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Viagem no Tempo
Por Hermes C. Fernandes


Alan Lightman é um conceituado astrofísico teórico. Em seu livro “Sonhos de Einstein”, ele levanta a questão: Afinal, seria possível “viajar no tempo”?

Se o tempo e o espaço estão tão intimamente ligados, por que podemos viajar no espaço, e não podemos viajar no tempo? Num certo sentido, podemos dizer que somos viajantes do tempo. Somos peregrinos, viemos do passado, passamos rapidamente pelo presente em direção ao futuro. Entretanto, não nos parece razoável a possibilidade de fazermos essa viagem de maneira inversa. Seria possível avançar em direção a um futuro distante, como no filme “De volta pro futuro”, de Spielberg? Ou ainda, seria possível retornar ao passado? Com relação ao espaço, podemos percorrer um caminho, e em seguida retornar a ele. Mas com o tempo é diferente. Por quê?

Imagine a possibilidade de voltar ao passado, e consertar alguns dos erros que cometemos. Mas a verdade é que nada no passado pode ser alterado. Jamais teremos a oportunidade de viver os mesmos papéis novamente. Entretanto, poderemos ser espectadores do passado. Nossa consciência, uma vez libertada no cativeiro da corruptibilidade, poderá viajar no tempo para revisitar nossas experiências, a fim de que adquiramos uma compreensão maior do propósito de nossa existência terrena.

Somente aí entenderemos a conexão oculta que há entre a vontade soberana de Deus e a livre agência do homem.

Nossa consciência será capaz de produzir a síntese perfeita. Não haverá mais contradições, paradoxos, mistérios.

Não precisaremos de uma máquina pra nos locomover no tempo e no espaço. Viajaremos à velocidade do pensamento.

Na Eternidade, ainda teremos uma percepção seqüencial do tempo. Nosso padrão de pensamento ainda será analítico. Passado, presente e futuro serão categorias que nos acompanharão para sempre. Só Deus transcende tais categorias do tempo. Para nós, portanto, haverá, naturalmente, sucessão de eventos. Porém, os compreenderemos num contexto mais abrangente. Em vez de linear, compreenderemos o tempo de modo espiralado. Em vez de horizontal, vertical.

Hugh Ross, cristão evangélico, com PhD em astronomia, defende que “os eventos da nossa vida ocorrem na ordem temporal normal (“horizontal”), em que as causas precedem os efeitos. Mas a dimensão de tempo de Deus é perpendicular à nossa (“vertical”) e intercepta toda a nossa série de eventos temporais simultaneamente. Para Ross, isso resolve o antigo paradoxo do livre-arbítrio e da predestinação. Fazemos livremente nossas escolhas, dentro do nosso sistema de tempo, mas todas elas estão incluídas, conjuntamente, no conhecimento e na ação unificados de Deus”.[1]

Se no mundo quântico, causas e efeitos seguem ordens aleatórias, no âmbito da Eternidade, compreenderemos que o alvo (propósito) é que provoca os acontecimentos, e não apenas as causas. O futuro é que define o presente, e não o passado.

No atual momento, estamos estagiando para Eternidade. Devemos, desde já, esquecer das coisas que para trás ficam, e avançar para as que estão diante de nós, prosseguindo para o alvo, a fim de alcançar aquilo para o qual fomos alcançados. É o futuro que deve determinar o presente, e não o passado (Fp.3:12-13).

Em Cristo é feita a síntese perfeita do tempo. Paulo diz que d’Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas. São d’Ele, porque Ele é sua proveniência, sua origem, seu passado. São por Ele, porque Ele é seu mantenedor, seu presente. São para Ele, porque Ele é o seu destino, seu futuro.

[1] Ross, Hugh, Beyond the Cosmos, p.233, citado por Barbour, Ian G., em Quando a Ciência encontra a Religião, São Paulo, Cultrix, p.66

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