Por Hermes C. Fernandes
No ano passado (2015), iniciou-se no país uma onda de
ocupação de escolas. Estudantes paulistas lideraram o movimento, ocupando
escolas estaduais em protesto contra a reorganização das unidades da rede de
ensino, que pretendia garantir que cada escola fosse responsável por apenas um
nível de ensino. O movimento conquistou considerável apoio da população, do
Ministério Público e da Defensoria Pública, e a reformulação proposta pelo
governador Geraldo Alckmin foi duramente criticada por especialistas, que afirmavam
que os benefícios prometidos não poderiam ser comprovados. Para evitar o
desgaste político, principalmente depois de tentar conter o movimento com ações
brutais por parte do aparato policial contra os adolescentes, o governador
voltou atrás, anunciando a suspensão, por um ano, do projeto de reorganização
da rede estadual de ensino. Não foi necessário muito tempo para que o governo
descumprisse a promessa, violando mais uma vez a garantia do direito à
educação. De acordo com um levantamento feito pela Rede Escola Pública e
Universidade, já foram fechadas 2800 salas em todo o estado. O funesto plano do
governo de implementar silenciosamente a reorganização despertou novamente os
estudantes para que retomassem o movimento de ocupação das escolas. E desta
vez, os secundaristas mobilizaram-se também em torno das escolas técnicas
estaduais, trazendo à pauta a precarização dessas escolas e o desvio da
verba destinada para a compra de merenda.
Ao questionar o desvio de verbas, os alunos estão se apropriando do debate
sobre políticas públicas e recursos para a educação.
A ocupação das escolas tornou-se num mecanismo de luta.
Os alunos se apropriam das escolas no afã de fazerem ouvir suas vozes, antes
completamente desconsideradas na discussão sobre políticas públicas
educacionais. Com isso, eles inauguram uma nova era de convivência na escola,
vislumbrando novas possibilidades educativas, reinventando a relação
política-escola, repensando o papel da escola como lugar em que os estudantes
participem de sua gestão e se apropriem, como de direito, dos recursos a eles
destinados, tais como livros, espaços, merenda, etc.
Como seguidores de Cristo, penso que deveríamos apoiar
esta onda de ocupação que agora se espalha por todo o Brasil, engrossando o
coro de estudantes que não se conformam com os rumos que têm sido dados à
educação no país.
Quem se refere a eles como baderneiros e vagabundos, como
tenho visto nas redes sociais, certamente se referiria a Jesus se o visse
invadir e ocupar o templo em Jerusalém, expulsando os cambistas e permitindo às
crianças transitarem livremente. Segundo o mestre nazareno, era delas que Ele
recebia o genuíno louvor.
Ver os estudantes exercendo sua cidadania enquanto
protestam contra os desmandos do governo me enche de esperança. Estamos
assistindo ao emergir de uma geração que redescobriu o idealismo abandonado pela
geração de seus pais, voltando a acreditar que um mundo mais justo não apenas é
possível, mas absolutamente necessário.
Por essas e outras, meu total apoio ao movimento de
ocupação das escolas, torcendo para que um dia tenhamos um movimento análogo de
ocupação das igrejas.
Assista abaixo a fala emocionante da aluna Ana Júlia em favor da ocupação das escolas.
Assista abaixo a fala emocionante da aluna Ana Júlia em favor da ocupação das escolas.